Quando: Quarta-feira, 5/11 — 13h-15h
Onde: Sala 24 da Sociais
Mediação: Acauam Oliveira (UPE/UERJ)
A pesquisa procura analisar os livros The Limits of Critique, de Rita Felski, e Literary Criticism: A concise political history, de Joseph North, no contexto do debate americano sobre a pós-crítica, ou seja, abordagens teóricas que visam superar o paradigma da crítica materialista e dialética. A partir das reações que cada livro gerou, é possível tirar lições sobre os possíveis caminhos para uma reformulação dessa tradição. Se a obra de Felski se insere em uma trilogia pós-crítica que foi duramente atacada por autores que se associam à tradição que ela procura superar (Anna Kornbluh, Bruce Robbins, Robert Tally), o livro de North, mais alinhado com essa tradição, gerou um debate intenso dentro desse campo, e fez com que surgissem diversas ideias novas sobre o futuro da crítica materialista e dialética. Essas ideias não necessariamente resolvem os problemas colocados, mas indicam que existe um movimento de potencial reformulação dessa tradição, mesclando textos e conceitos clássicos com contribuições e problemas contemporâneos.
Palavras-chave: Crítica literária americana; EUA; Pós-crítica; Rita Felski; Joseph North.
Em entrevista, o professor de filosofia e escritor Jérôme Ferrari diz que pensa por conceitos, mas que se expressa por imagens. Como se sabe, não é uma clivagem muito recente. Conceitos são universais e apontam, no passado, para o momento da superação, quando as impressões, instáveis no seu entrelaçamento junto ao sensível, cedem à clareza do entendimento. Imagens apontam para a antecâmara confusa — a infância do pensamento — que deixa entrever, em meio às fantasias nascidas naquele imenso desvão do espírito de que falava o Bruxo, a explicitação vindoura: o conceito. Seriam duas mônadas sem janelas? Uma clara, outra obscura? Vico colocava em termos não tão diferentes ao fazer de toda metáfora uma pequena fábula. Os poetas animam, os filósofos explicam. Encontramo-nos, assim, perante dois sistemas. Pascal Quignard denomina antifilosófico o das imagens, dos schemas; e são, no vocabulário do escritor, os literatos ou retóricos especulativos seus produtores. O outro é o metafísico, o da análise; e são filósofos aqueles que o reivindicam. Partindo dessa clivagem, o que buscaremos nesta apresentação é pensar, a partir de Deleuze e outros, não a convergência dos dois sistemas, mas certos aspectos diferenciais deles. Como salientou Wolfgang Iser, a literatura pode surgir na margem de determinado sistema filosófico enquanto contraponto de exceção, excessivo. O fazer-mundo da literatura — no sentido de Nelson Goodman — pode se apresentar tanto como composição quanto como decomposição, organização ou deformação do fazer-mundo da filosofia. São muitos os modos dessa perversão: sátira, crítica, incorporação de tais sistemas em personagens, situações, acontecimentos, esvaziamento de sentido etc. Os exemplos não são menos numerosos. Para ficarmos em apenas alguns, tomados ao acaso: Platão e o Sócrates de Aristófanes; Leibniz e o Dr. Pangloss, de Voltaire; o Empirismo e o Tio Toby, de Sterne; o aparelho para sustentar meias de Kant, em Thomas de Quincey; Schopenhauer e Quincas Borba, de Machado; a vaca heideggeriana, em Bernhard; Deleuze e Guattari como arranjadores de música italiana para casamentos, em Pynchon.
Palavras chave: Teoria Literária; Filosofia; Deleuze; Schema; Fazer-mundo.
Ano passado estive aqui neste Seminário para expor algumas análises e interpretações que não haviam entrado em minha então recém-entregue dissertação. Pode ser que os presentes tenham me ouvido lamentar, num exercício inadequado de sinceridade… Agora, na função de doutorando, assumindo o ar de maturidade que a patente empresta à jaqueta, transformo o que era motivo de lamentação em fundamento. Esta fala será uma coleção – quiçá meramente paratática – de notas: reflexões que tenho tido desde que me matriculei no doutorado neste Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP. Desde o prazer que (estudar) a literatura oferece, passando pelas angústias epistêmicas e repertoriais (aparentemente) inerentes ao métier, à decisão (ainda hesitante) por uma metodologia específica para dar conta de meu objeto (a Morte de Crianças representada pela literatura), explorarei alguns caminhos que minha mente percorre quando saio para caminhar com o cachorro (não tenho cachorro). Espero que minhas reflexões encontrem eco e/ou interlocução nas e nos colegas que, como eu, são gente, e, como gente, resultam vítimas da mistura de que são feitos os dias.
Palavras-chave: Reflexões; Epistemologia; Teoria Literária; Vida de Doutorando.