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O Parvo não representa qualquer classe social ou atividade profissional; a personagem foi inserida na peça vicentina com o intuito de auxiliar na condenação das restantes personagens que se apresentam a julgamento. Na verdade, o Parvo tem como função dominante emprestar o ridículo a situações alheias a si mesmo. Não existe referência ao passado do Parvo, porque este não agiu com maldade.
Adereço /símbolo cénico a caracterizá-lo:
Não traz adereços, pois estes, na obra em estudo, estão relacionados com o estatuto social / atividade profissional das personagens e, como tal, o Parvo, pelas suas limitações mentais, não pode ser responsabilizado em nenhum destes aspetos.
O Parvo entra em cena, sem quaisquer símbolos cénicos, dirigindo-se, primeiro, à barca do Diabo. Este convida-o a entrar, mas, quando lhe diz para onde irá a barca, o Parvo insulta-o.
Seguidamente, dirige-se ao Anjo, perguntando-lhe se ele o quer “passar além”. O Anjo autoriza-o a embarcar, pois considera que ele não errou por “malícia”, mas sim por ser um pobre de espírito, sem responsabilidade pelos seus atos. O Parvo não entra, porém, imediatamente na barca, pois o Anjo convida-o a aguardar, no cais, os outros passageiros.
O Parvo não representa nenhuma classe social, grupo profissional ou vício. Contudo, ele desempenha duas funções importantes na peça: denunciar os “pecados” alheios e provocar o riso com a sua linguagem desbocada.
1. Principais características da personagem:
Simples (”Eu sou”)
Ingénuo (“É esta a naviarra nossa? (...) Dos tolos.”
Inconsciente (“De pulo ou de voo?”)
2. Argumentos de acusação:
Joane não é acusado.
3. Argumentos de defesa:
O Parvo, que se apresenta ao Anjo como “samica alguém” (talvez alguém), não usa qualquer argumento para convencê-lo. Nem chega a ter tempo para isso, pois o Anjo não lhe recusa a entrada devido:
· à sua simplicidade (“Tua simpreza t’abaste / pera gozar dos prazeres”);
· à sua pobreza de espírito (“porque em todos teus fazeres / per malícia nom erraste”);
· à ausência de maldade (“per malicia non erraste”).
4. Movimentação cénica
A movimentação da personagem em cena (percurso cénico) é:
Cais -> Barca do Inferno -> Barca da Glória (obtém permissão para entrar nesta barca, mas não assistimos à sua entrada. Permanece no cais a aguardar outros passageiros).
Crítica de Gil Vicente:
Quebrar a monotonia da peça, elogio dos simples de alma, divertir com o discurso ilógico da personagem.
Recursos expressivos:
Cómico de linguagem: por ser toda a linguagem desconexa. O Parvo injuria e usa palavrões.
Cómico de carácter: Revelado pelas atitudes da personagem “De pulo ou de voo?”