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O Frade (Frei Babriel) é uma personagem tipo, que representa o clero.
Tem os seguintes adereços /símbolos cénicos a caracterizá-lo:
· Moça (Florença);
· Um broquel (escudo);
· Uma espada
· Um casco (capacete)
· Capelo (capuz)
A moça simboliza a corrupção moral, pois foi através dela que o Frade quebrou o voto de castidade, o celibato. Além disso, simboliza a sua ligação aos pecados carnais (vida de prazeres mundanos);
O broquel, a espada e o casco mostram este elemento do clero a comportar-se como se fosse da nobreza. Também ele teve lições de esgrima e compara-se com Rolando (guerreiro que foi companheiro de Carlos Magno). Note-se que ele próprio se apresenta como cortesão (alguém que frequenta a corte): “Som cortesão”.
O capelo permite identificar a personagem como sendo um elemento do clero, por baixo do qual esconde o seu carácter imoral.
1. Principais características da personagem:
· Alegre (“Tai-rai-rai-ra-rão; ta-ri-ri-rão”);
· Folião (“Vem um Frade (...) começou de dançar”);
· Bom dançarino (“Sabês também o tordião?/Porque não? Como ora sei!);
· Mau carácter (“E este hábito nom me val?”);
· Hipócrita (“E este hábito nom me val?”).
2. Argumentos de defesa:
Apresenta o uso do hábito, símbolo da sua condição de frade, pois está convencido que, por ser membro da Igreja, tem entrada direta no Paraíso (“E este hábito nom me val?”);
Alega a sua prática religiosa, dizendo que rezou muitos salmos (“Como? (...) / se há um frade de perder / com tanto salmo rezado?”).
3. Fatores de condenação
· Violação dos votos religiosos de castidade, de pobreza e de obediência;
· Imoralidade (ligação a uma vida mundana e de prazeres / ligação aos pecados carnais);
· Por ter hábitos de nobre.
Movimentação cénica:
Cais -> Barca do Inferno -> Barca da Glória* -> Barca do Inferno -> Embarca - condenação eterna (Inferno)
*Nota: O Anjo nem dirige a palavra ao Frade, tal é a vergonha que sente por ver um elemento do Clero com comportamentos tão desajustados. É o Parvo quem lhe responde.
Crítica de Gil Vicente:
através desta cena, verifica-se que a quebra do voto de castidade era comum entre os clérigos, alargando-se a crítica a toda a classe social (o clero):
Diabo: (...) E não vos punham lá grosa
No vosso convento santo?
Frade: E eles faziam outro tanto!
Recursos expressivos:
Cómico de linguagem: o Diabo chama-lhe “Devoto padre marido”. Também é percetível no vocabulário utilizado pelo Parvo.
Cómico de situação: a entrada do Frade em cena com a moça pela mão e a cantar.
Cómico de carácter: o facto de o Frade pensar que a relação proibida com a moça seria perdoada pelas muitas rezas e também por se considerar um cortesão dado os hábitos que adquiriu, o que contraria a sua função de clérigo.
Ironia: nas falas do Diabo: “Fezeste bem, que é fermosa”, “Devoto padre” e “Dê lição d’esgrima / que é cousa boa!”
Eufemismo: “Pera aquele fogo ardente...”.
Antítese: “padre mundanal” ou “padre marido”.