SLOW READING

18.01 | 20h00 - 22h00 | Teatro Carlos Galvão (TCG)

Como temos consumido e produzido literatura no Brasil? Qual a relação entre o assim chamado “ritmo de vida” - cheio de urgências, demandas imediatas e recursos tecnológicos - e seu mais marcante aspecto: a ansiedade?

Rubem Alves define agenda como aquele bloco de papel no qual anotamos os compromissos aos quais não queremos ir, porque aos que queremos, esses, sabemos de cor (de coração). Terá a agenda moderna deixado espaço para a memória literária? Ou estaremos experimentando um processo de degradação de nossa memória afetiva relativamente às nossas experiências literárias?

O fenômeno é observável na Literatura Brasileira moderna, mas também em outros campos. De modo geral o inesquecível perdeu espaço: A primeira bicicleta, o cheiro do videogame ao ser d esembrulhad o, o toca-d iscos d a família, aquela música, aquele livro. Lembranças que acompanharão as gerações que as vivenciaram, mas que, foram substituídas pela ansiedade do que está “por vir”. A velocidade tornou-se inimiga do afeto. Como sentir saudade do obsoleto? Do ultrapassado? Daquilo que todos já possuem?

A literatura contemporânea é fast, como a comida da lanchonete e as receitas para emagrecer, sendo todo seu processo de consumo marcado pela ansiedade: Em quanto tempo conseguirei concluir este livro? Quando será lançada a continuação? E a versão cinematográfica?

A produção literária, por sua vez, segue (ou dita?) tal ritmo. A pressa é sua Musa. A pressa é inimiga da perfeição. E da memória também. Eis o “gênero” literário mais marcante em nossa era: a literatura amnésica. Feita para ser esquecida.

ALESSANDRO MENDONÇA

Alessandro Alcantara de Mendonça é romancista, autor de "Era Uma Vez 86"; "Missi Dominici" e "O Gadareno", entre outros. Também é Chefe de Secretaria da Escola de Música de Brasília desde 2016, tendo apresentado as oficinas literárias de "Detox Literário", "Slow Reading" e "Literatura Amnésica" em diversos eventos como a Bienal Internacional de Brasília, a Feira do Livro de Brasília e o Seminário de Literatura Lusófona da York University, em Toronto - Canadá.