max wíllà morais

27 anos convivo com essa pedra, e foi a primeira vez que a conheci assim, descoberta. Antes havia uma camada grossa de cimento fazendo dela uma mesa improvisada. Agora ela está partida, virou aterro na entrada de casa. E resta ainda uma protuberância escura saindo da parede.


Nesse mesmo dia recebi uma notícia sobre meu avô Jorge Guarani, desaparecido por anos. Na foto ele está de branco, ao meu lado. Eu o conheci na semana que antecedeu meu aniversário. E foi a primeira vez que vi minha vó sorrindo numa foto - ela tá de azul. Minha mãe tá de dourado. Meu pai me abraçando. Minha irmã falando com a Jennifer? O Manel Cachimbo com uma cruz. Meu avô também tem uma cruz impercetível.


Depois do dia do meu aniversário não o vi mais, não lembro. Ele tinha ido embora de novo. Até que descobri, no mesmo dia de enterrar a pedra, que meu avô morava num bairro vizinho do meu, em Bangu, e que está morto desde 2014.


Assim, durante os dias 22 e 23 decidi fazer desenhos sobre as lascas que guardei, nos fundos da minha casa, dessa pedra escura.