Maria Laet


O trabalho trata da passagem do tempo, de um tempo sentimental, aonde o presente acontece na promessa de que vai passar. A afirmação (o instante presente) se repete a cada página, e se projeta na página de dentro, que se transforma num lugar de acumulo de instantes passados, como uma espécie de arquivo inconsciente, de memória que se sobrepõe e se perde da leitura inicial. 


Todo dia desde o início da quarenta, religiosamente as 8:30 da noite, boa parte da vizinhança vai a janela gritar contra o governo Bolsonaro. É um momento em que essa relação de vizinhos fica extremamente próxima, os gritos, os desabafos, se tornam uma espécie de costura entre cada isolamento, como um chamado, uma insistência diária, pontual e exaustiva, que, muito lentamente, vai perdendo vozes. Meu desejo foi de dialogar com esse fenômeno (que tem sido muito marcante desse período em casa), deixar que ele dialogue com a imagem do vídeo, que seja ele o áudio do vídeo durante aqueles minutos. E que o vídeo por sua vez ganhe um novo contexto, leitura e público.


Ao contrário das manifestações, Vai passar é um trabalho que se manifesta de forma silenciosa, contida e íntima. Mas existe nos dois algumas características muito semelhantes como a insistência, a repetição, o ritmo constante, o cansaço e o apagamento.