Alice Yura

Às vezes acho curioso os movimentos do acaso em como o próprio inesperado não se faz separado de tantos outros movimentos e fluxos que está no encontro da minha vida com tantas outras vidas e, quase sempre transborda as minhas próprias condições de significar. De repente me chega um convite para participar da exposição efêmera AO AR, LIVRE do curador Tiago de Abreu Pinto e quase que instantaneamente o meu projeto “Um projeto s/ títulos” de publicações em um jornal local (Aparecida do Taboado - MS) ganha um impulso para que eu iniciasse.

A tal da arte contemporânea, seu sistema, repertório e vocabulário por muitos anos não estiveram presentes e construindo comigo a minha formação ou um espaço e, nem mesmo a possibilidade de uma atuação de trabalho ou uma carreira profissional. Viver numa cidade do interior do centro-oeste no Mato Grosso do Sul com divisa com estado de São Paulo me ensinou algo fundamental para me constituir enquanto pessoa (e também como artista): nós estamos vivendo sempre em limites de realidades.

Executar esse projeto neste momento me trouxe algo muito substancial, as minha vivências e relação com minha cidade natal fora quase sempre a minha relação com a minha casa; já que as violências se faziam cotidianamente nas ruas, espaços públicos e tantos outros espaços privados. De algum modo contra atacar a essas violências do passado e que estão ainda no presente e que também estarão no futuro por meio e através da arte faz total sentido para mim; invadir os espaços públicos e privados com um trabalho de arte contemporânea em uma cidade do interior não se finda na própria invasão mas, possibilita ampliar o repertório cultural local e criar novas referências artísticas e culturais para cá (que muito me interessa). E, também, criar um espaço em que a experiência com a cidade eu possa chamar de minha e ter um silêncio que não pertence -exatamente- nem a mim e nem à cidade.