Diferente da dissertação, a narrativa é um texto que trata de acontecimentos e ações realizadas por personagens fictícios ou reais. Na Literatura, ela aparece principalmente em romances, novelas, fábulas, contos e crônicas. Ela também é a base de muitas peças de teatro e dos filmes produzidos pelo cinema.
Mas, para que o leitor ou ouvinte se sinta atraído e até mesmo entenda toda a situação, ela precisa ter uma estrutura e elementos essenciais ao desenvolvimento da história.
A narrativa começa com a introdução, que é seguida pelo desenvolvimento e o clímax. Finalmente, a história termina com uma conclusão ou desfecho, que coloca um ponto final nas aventuras do personagem e nas expectativas do leitor. Vamos falar de cada uma delas a seguir.
É a parte do texto que apresenta as personagens e mostra ao leitor onde elas se localizam em relação ao tempo e espaço.
Nesse trecho, o autor conta as ações da personagem. A ideia é formar uma trama com os acontecimentos, mostrar a ocorrência de um problema ou complicação com objetivo de criar algum tipo de suspense que vai conduzir ao clímax da história.
Trata-se do final da história. Na maioria das vezes, os autores concluem encerrando a trama com um desfecho favorável ou não para o problema.
No entanto, essa é apenas uma forma de fazer a conclusão. A criatividade pode levar a outros caminhos e até mesmo criar um suspense ainda maior.
Depois de conhecer essa estrutura, é importante entender quais são os elementos que não podem faltar em uma narrativa.
O enredo é um elemento fundamental para a narrativa. Trata-se do conjunto de fatos que acontecem, ligados entre si, e que contam as ações dos personagens. Ele é dividido em algumas partes:
Situação inicial: é quando o autor apresenta os personagens e mostra o tempo e o espaço em que estão inseridos, geralmente logo na introdução;
Estabelecimento de um conflito: um acontecimento é responsável por modificar a situação inicial dos personagens, exigindo algum tipo de ação;
Desenvolvimento: ao longo desta seção, o autor conta o que os personagens fizeram para tentar solucionar o conflito;
Clímax: depois de diversas ações dos personagens, a narrativa é levada a um ponto de alta tensão ou emoção, uma espécie de “encruzilhada literária” que exige uma decisão ou desfecho;
Desfecho: é a parte da narrativa que mostra a solução para o conflito.
Espaço é o lugar em que a narrativa acontece. Ele é importante não só para situar o leitor quanto ao local, mas principalmente porque contribui para a elaboração dos personagens.
Afinal, o espaço onde as pessoas (mesmo que fictícias) vivem interfere na sua aparência, vestimenta, costumes, oportunidades, atividades e até mesmo sua personalidade.
O tempo da narrativa diz respeito ao desencadear das ações, e pode ser dividido em:
Cronológico
Está relacionado a passagem das horas, dos dias, meses, anos etc.
Psicológico
Está relacionado às lembranças da personagem e aos sentimentos vivenciados por ele.
Assim como espaço, ele é muito importante para definir características das personagens, principalmente as psicológicas. Afinal, pessoas que vivem em épocas diferentes costumam ter visões de mundo, atitudes, pensamentos e situações também diferentes.
Envolve tudo que as personagens fazem na narrativa. Inclui não só os movimentos, mas também aquilo que falam e pensam no decorrer da história.
Sempre que existe uma narrativa, a história é contada por alguém. Esse é o papel do narrador. Ele pode relatar os fatos a partir de perspectivas diferentes, o que pode transformá-lo em um personagem, um observador ou um ser onisciente. Entenda as diferenças:
Neste caso, o narrador participa da história, e por isso o texto é escrito em primeira pessoa do singular ou plural (eu, nós).
Também existe a possibilidade de o narrador não participar da história. Ele observa a situação de fora, o que faz o texto ser escrito em terceira pessoa (ele, ela, eles, elas).
É aquele que sabe de todos os fatos, mesmo que não participe da história. Sua compreensão costuma ir além dos acontecimentos. Ele consegue narrar até mesmo os pensamentos e sentimentos dos personagens, como se tivesse um conhecimento sobrenatural.
Pelo falo desse narrador conhecer muito os personagens, bem como seus pensamentos, sentimentos, ideias, atitudes, etc, ele pode opinar sobre tais comportamentos ao longo da narrativa.
Finalmente, vamos falar das estrelas da narrativa: os personagens. São os seres reais ou fictícios que participam da história. Como a Literatura é criativa, pode ser uma pessoa, um animal, um ser mitológico ou fantástico, um objeto personificado ou até mesmo um sentimento.
Os personagens podem ser divididos entre:
Protagonistas: são destaques da narrativa, ocupam o lugar principal da história;
Antagonistas: são os adversários dos protagonistas, aqueles que vão criar ou alimentar o conflito, dificultando a vida dos principais;
Secundários: são personagens menos importantes na história, mas que de alguma forma contribuem para a sequência de fatos do enredo.
Se você acha difícil entender o conceito e as diferenças, basta pensar no enredo de um filme ou novela conhecidos. Apenas como exemplo, pense na seguinte possibilidade:
Um rapaz e sua namorada estão apaixonados (situação inicial);
Um dia, ela desaparece e todas as evidências apontam para ele (conflito);
Ele precisa fugir da polícia e começa a investigar o desaparecimento por conta própria, coletando provas de que houve uma armação (desenvolvimento);
Ele confronta o verdadeiro vilão em um encontro eletrizante (clímax);
O rapaz consegue provar sua inocência e recuperar a namorada mantida em cativeiro (desfecho).
Parece dramático? Pois esse é um enredo básico. Aliás, um ótimo exercício é começar a analisar alguns dos últimos filmes que assistiu e identificar essas etapas da narrativa.
Ainda podemos destacar que nesse caso, teríamos vários personagens: o rapaz, a namorada (protagonistas), o vilão (antagonista) e outros secundários (policiais, familiares, amigos etc).
Entre as ações, podemos destacar a fuga, a investigação, os perigos que ele tenha passado, os diálogos e até mesmo os pensamentos de todos os envolvidos.
O espaço e tempo ficam por conta da sua imaginação: a história pode se passar tanto na Inglaterra do século XVII quanto no Rio de Janeiro do século XXI, mas isso alteraria uma série de situações.
O gênero narrativo é extremamente importante, tanto para a Literatura quanto para o cinema. Por isso, compreendê-lo é essencial para se preparar para o Enem e outros vestibulares. Veja um exemplo:
(UNIFENAS)
Com base no texto abaixo, indique a alternativa cujo elemento estruturador da narrativa não foi interposto no episódio:
“Porque não quis pagar uma garrafa de cerveja, Pedro da Silva, pedreiro, de trinta anos, residente na rua Xavier, 25, Penha, matou ontem em Vigário Geral, o seu colega Joaquim de Oliveira.”
a) Lugar
b) Época
c) Personagens
d) Fato
e) Modo
Resposta: E
(UFV) Considere o texto:
“O incidente que se vai narrar, e de que Antares foi teatro na sexta-feira 13 de dezembro do ano de 1963, tornou essa localidade conhecida e de certo modo famosa da noite para o dia. (…) Bem, mas não convém antecipar fatos nem ditos. Melhor será contar primeiro, de maneira tão sucinta e imparcial quanto possível, a história de Antares e de seus habitantes, para que se possa ter uma ideia mais clara do palco, do cenário e principalmente da personagens principais, bem como da comparsaria, desse drama talvez inédito nos anais da espécie humana.” (Érico Veríssimo)
Assinale a alternativa que evidencia o papel do narrador no fragmento acima:
a) O narrador tem senso prático, utilitário e quer transmitir uma experiência pessoal.
b) É um narrador introspectivo, que relata experiências que aconteceram no passado, em 1963.
c) Em atitude semelhante à de um jornalista ou de um espectador, escreve para narrar o que aconteceu com x ou y em tal lugar ou tal hora.
d) Fala de maneira exemplar ao leitor, porque considera sua visão a mais correta.
e) É um narrador neutro, que não deixa o leitor perceber sua presença.
Resposta: C
Vejam:
Atividades sobre elementos da narrativa
Aproveitando o mês do FOLCLORE, vamos contar e explorar um CAUSO? Essa história é bem engraçada, dizem que aconteceu mesmo, lá nas bandas das Minas Gerais...
CAUSOS são histórias contadas, representando fatos verídicos ou não, podem ser
engraçadas, fantásticas ou com um toque de sobrenatural (representando fatos verídicos ou não), passadas de geração em geração e fazem parte do folclore brasileiro.
O defunto vivo
Em alguns arraiais do interior mineiro, quando morria alguém, costumavam buscar o caixão na cidade vizinha, de caminhão. Certa feita, vinha pela estrada um caminhão com sua lúgubre encomenda, quando alguém fez sinal, pedindo carona. O motorista parou.
- Se você não se incomodar de ir na carroceria, junto ao caixão, pode subir.
O homem disse que não tinha importância, que estava com pressa. Agradeceu e subiu. E a viagem prosseguiu.
Nisto começa a chover. O homem, não tendo onde se esconder da chuva, vendo o caixão vazio, achou melhor deitar-se dentro dele, fechando a tampa, para melhor abrigar-se. Com o balanço da viagem, logo pegou no sono.
Mais na frente, outra pessoa pediu carona. O motorista falou:
- Se você não se importa de viajar com o outro que está lá em cima, pode subir.
O segundo homem subiu no caminhão. Embora achasse desagradável viajar com um defunto num caixão, era melhor que ir a pé para o povoado.
De tempos em tempos, novos caronas subiam na carroceria, sentavam-se respeitosos em silêncio, em volta do caixão, enquanto seguiam viagem.
Avizinhando-se o arraial, ao passar num buraco da estrada, um tremendo solavanco sacode o caixão e desperta o dorminhoco que se escondera da chuva dentro dele.
Levantando devagarinho a tampa do caixão e pondo a palma da mão para fora, fala em voz alta:
- Será que já passou a chuva?
Foi um corre-corre dos diabos. Não ficou um em cima do caminhão. Dizem que tem gente correndo até hoje.
(Weitzel, Antônio Henrique. Folclore literário e linguístico. Juiz de Fora, MG. EDUFJF, 1995)
Após ler este causo, e tendo em mente a estrutura e os elementos da narrativa, responda:
1.O narrador participa ou não da história? Justifique sua resposta com um trecho do texto.
2.Em “Se você não se importa de viajar com o outro que está lá em cima, pode subir”,
a)quem é o outro a quem o motorista se refere?
b)e como entenderam as demais pessoas?
3. Onde se passa a história?
4. Identifique no texto:
Situação inicial
Conflito
Clímax
Desfecho
5. Houve uma interpretação equivocada da fala do motorista e das pessoas que pediram carona? Que efeito esse fato traz para a história?
6.Você tem coragem de entrar ou ficar dentro de um caixão?Por quê?
7. Se você fosse um dos caronas em cima do caminhão e se ouvisse, de repente, alguém falando ou saindo de dentro de um caixão, o que faria?
Fonte:http://textoemmovimento.blogspot.com/2013/08/o-defunto-vivo-interpretacao-de-texto.html#more
Leia os trechos a seguir, observando as características dos três tipos de narrador (personagem, observador e onisciente).
Texto 1
Abriu a janela no exato momento em que a garrafa com a mensagem passava, levada pelo vento. Pegou-a pelo gargalo e, sem tirar a rolha, examinou-a cuidadosamente. Não tinha endereço, não tinha remetente.
Certamente, pensou, não era para ele. Fonte: Colasanti (1986).
Texto 2
Quando Ana me deixou, eu fiquei muito tempo parado na sala do apartamento, cerca de oito horas da noite, com o bilhete dela nas mãos. No horário de verão, pela janela aberta da sala, à luz das oito horas da noite podiam-se ainda ver uns restos de dourado e vermelho deixados pelo sol atrás dos edifícios, nos lados de Pinheiros. Eu fiquei muito tempo parado no meio da sala do apartamento, o último bilhete de Ana nas mãos, olhando pela janela os vermelhos e os dourados do céu. E lembro que pensei agora o telefone vai tocar, e o telefone não tocou, e depois de algum tempo em que o telefone não tocou, e podia ser Lucinha da agência ou Paulo do cineclube ou Nelson de Paris ou minha mãe do Sul, [...] então pensei agora a campainha vai tocar. Podia ser o porteiro entregando alguma correspondência, a vizinha de cima à procura da gata persa que costumava fugir pela escada, ou mesmo alguma dessas criancinhas meio monstros de edifício, que adoram apertar as campainhas alheias, depois sair correndo. Ou simples engano, podia ser. Mas a campainha também não tocou, e eu continuei por muito tempo sem salvação parado ali no centro da sala que começava a ficar azulada pela noite, feito o interior de um aquário, o bilhete de Ana nas mãos, sem fazer absolutamente nada além de respirar. Fonte: Abreu (2005).
Atividades:
1. Após a leitura dos trechos citados, responda ao que se pede.
Texto 1
a. Você acha que a personagem devolveu a garrafa ao vento?
b. Invente uma continuação para a narrativa.
Texto 2
a. Imagine o que Ana teria escrito no bilhete.
b. O personagem permaneceu estático na sala, com o bilhete de Ana em suas mãos. O que você acha que aconteceu depois?
c. Procure manter o tom do texto e finalize a história.
2. Imagine o seguinte enredo:
Dois jovens, viciados em computador, conhecem-se numa sala de bate-papo da internet. Durante meses, eles conversam, trocam ideias, compartilham problemas e sentimentos.
Um dia, a garota recebe a seguinte mensagem:
Heloísa,
As coisas estão se tornando difíceis para mim. Não vou escrever de novo para você. Nosso relacionamento está ficando intenso demais, real demais, e acho que você não existe. Eu inventei você, nossas conversas, seu endereço. Eu me sentia só, queria ardentemente uma amiga, mas perdi o controle. Acho que estou apaixonado por você. Antes que essa loucura acabe comigo, adeus.
Abelardo
Prontamente, a garota responde:
Abelardo, tolinho
Você não pode me transformar num fantasma porque está com medo. Um poeta não dispensa sua musa por capricho. Se você não vier me encontrar, eu irei até você.
Heloísa
Fonte: Cereja e Magalhães (2000, p. 50).
Com base no enredo das personagens acima e considerando as características do gênero narrativo, crie um texto narrativo tematizando o encontro ou o desencontro entre as personagens. Construa o tempo e o espaço em que os fatos ocorrem. Não se esqueça de construir o tempo e o lugar em que os fatos ocorrem. Se quiser, introduza novas personagens. O narrador pode ser observador ou personagem. Se adotar o narrador-personagem, escolha o ponto de vista: narre sua história sob a ótica de Abelardo ou sob a de Heloísa.
Fonte: http://www.metropoledigital.ufrn.br/aulas/disciplinas/ce/aula_03.html
Leia o texto:
O verde
(Inácio de Loyola Brandão)
Estranha é a cabeça das pessoas.
Uma vez, em São Paulo, morei numa rua que era dominada por uma árvore incrível. Na época da floração, ela enchia a calçada de cores. Para usar um lugar-comum, ficava sobre o passeio um verdadeiro tapete de flores; esquecíamos o cinza que nos envolvia e vinha do asfalto, do concreto, do cimento, os elementos característicos desta cidade. Percebi certo dia que a árvore começava a morrer. Secava lentamente, até que amanheceu inerte, sem folha. É um ciclo, ela renascerá, comentávamos no bar ou na padaria. Não voltou. Pedi ao Instituto Botânico que analisasse a árvore, e o técnico concluiu: fora envenenada. Surpresos, nós, os moradores da rua, que tínhamos na árvore um verdadeiro símbolo, começamos a nos lembrar de uma vizinha de meia-idade que todas as manhãs estava ao pé da árvore com um regador. Cheios de suspeitas, fomos até ela, indagamos, e ela respondeu com calma, os olhos brilhando, agressivos e irritados:
— Matei mesmo essa maldita árvore.
— Por quê?
— Porque na época da flor ela sujava minha calçada, eu vivia varrendo essas flores desgraçadas.
Exercícios.
1) Por que, no começo do texto, o narrador afirma que "Estranha é a cabeça das pessoas."?
2) Observe a frase: "Na época da floração, ela enchia a calçada de cores." (2º parágrafo).
a) Qual é a época da floração?
b) O que significa a expressão "enchia a calçada de cores"?
3) Observe a frase: “... esquecíamos o cinza que nos envolvia ..." (2º parágrafo). Que cinza era esse ao qual o autor se referia?
4) Por que a árvore parou de florescer?
5) Releia atentamente a seguinte frase e responda às questões:
"Surpresos, nós, os moradores da rua, que tínhamos na árvore um verdadeiro símbolo, começamos a nos lembrar de uma vizinha de meia-idade que todas as manhãs estava ao pé da árvore com um regador." (2º parágrafo).
a) Qual é a primeira impressão que temos ao ler que a vizinha regava a árvore todos os dias?
b) Essa impressão se confirma no final do texto? Por quê?
6) Por qual motivo a árvore foi morta?
7) Identifique, no texto , os elementos da narrativa abaixo:
a) Narrador:
b) Espaço:
c) Enredo:
d) Clímax:
e) Desfecho:
FONTE: http://diogoprofessor.blogspot.com.br/2015/08/atividades-sobre-elementos-da-narrativa.html.
GABARITO
1. É estranha a cabeça das pessoas porque parece que elas nunca estão satisfeitas. Ora querem mais árvores nas ruas, ora não querem árvores nas ruas.
2.
a) Tem início no outono.
b) Enchia a calçada de vida.
3. Era o cinza do concreto das casas, do asfalto das ruas.
4. Uma vizinha de meia-idade resolveu jogar veneno na árvore porque, segunda ela, estava sujando a calçada com flores.
5.
a) Que ela havia feito algo para matar a árvore
b) Sim. Confirmou-se.
6. Possivelmente por envenenamento.
7.
a) narrador-personagem
b) rua, calçada
c) Uma árvore que enchia a rua de vida, mas que, de repente, parou de florescer.
d) Os vizinhos foram atrás de uma senhora suspeita de envenenar a árvore.
e) A senhora matou a árvore por motivo fútil.