A PAIXÃO
(de Durval Filho)
Força avassaladora,
Traz feito furacão
Emoções incontidas.
Ela pode ser útil
(E por isso ela existe)
Mas pode provocar
Um grande estrago...
A paixão
É um cavalo bravo
Que precisa ser domado.
Pois quem a sente
Precisa comandar os seus passos
E não por ela ser comandado.
Precisa beber a energia,
Combustível que impulsiona,
Traz à tona
O que há de bom no íntimo.
Precisa domar a fera
(Dos nossos pensamentos)
Para, na hora de agir,
Fazer o bem coletivo.
Fazer, enfim, da paixão
(Que é um tanto egoísta)
Um instrumento do progresso
Na escalada do sucesso
De uma longa subida.
E, mesmo quando se perde
A batalha,
Fica sempre a vitória
Pelo amor que se sente...
Então, não importa
O sim ou o não...
Só a certeza delirante
De que foi útil a paixão.
GOL DE LETRAS
(de Durval Filho)
Copa de um novo milênio
Em que a taça se ergueu,
Os corações emocionaram-se
E o mundo se rendeu
Ao gingado do samba
Ao talento, aos nossos rrrreis.
O rato roeu a roupa do rei de Roma,
Os erres do Brasil rolaram a bola
E driblaram o mundo...
Roeram a prepotência dos adversários.
Quanto encanto,
Quanta garra...
Garra com dois erres:
Ronaldo e Rivaldo.
Quantos guerreiros,
Roberto Carlos e Ronaldinho Gaúcho.
Brrrrrasillllll com erres multiplicados.
B no início: o bom
L no fim: o líder
Cinco vezes campeão,
O Brasil é penta
E vai ser muito mais.
Podem vir todas as consoantes
E ainda as vogais.
O nome de todos os habitantes
De A a Z,
De todos os jogadores,
De cada um de nós,
Mais de 170 milhões,
Afinal, o mundo, uma bola de Deus
A rolar nos pés dos brasileiros.
Toda uma nação comandando
A bola redonda e azul,
Gira, gira em torno de sol,
Gira, gira em torno de si,
Gira, gira mundo meu
Gira que o Brasil venceu.
EDUCAÇÃO – BANDEIRA DE LUTA
(de Durval Filho)
Num País como o nosso
Educar é preciso.
Viver logrado e escondido
É desejo imposto, sacrifício
A um povo pacífico e amigo.
É o quadro do Brasil:
“O seu verde, ainda verde, enfeita,
Seu ouro amarelo e branco
Enriquece uns tantos...
O azul, meio fosco, poluído
Contracena com a esperança
De um povo iludível”.
Educar é preciso,
Mas faltam-nos escolas,
Instruções adequadas, reais,
Valorizar nossos mestres.
Somos criaturas humanas, meu Deus!
Não animais!
Não adianta concordar com a discrepância
De ser um País subdesenvolvido,
Aceitar o título e, sorridente, conformar
Com o marasmo calmo e ignorante:
Mulas das classes dominantes?
Educar é preciso,
Todos nós sabemos; a maioria,
Alguns “vivos cegos” também...
De quem é o maior interesse
Em usar e abusar dos nossos defeitos?
Dão-nos a pena e dizem: Amém.
Para sempre continuarmos no erro
E nunca percebermos a maior conquista
Pela qual mais deveríamos lutar:
Educação... A todos ansiar.
O ancião educado anseia o saber.
E os que o impedem?
...Dão ânsia!..
NOVO D. QUIXOTE
(de Durval Filho)
O professor
Deve ser um D. Quixote
Dos tempos modernos
Que arremessa a lança do saber
Contra os velhos e os mesmos
Moinhos de hipocrisia
Dos que lucram com o não saber
Da massa que sobrevive inconsciente,
Apesar da aparente consciência
Artificial vendidas nos canudos
Pelo curso educacional
Que, verdadeiramente, não informa,
Apenas forma o estereotipo
Do cidadão que é fantoche
E não reage ante a opressão.
O professor
Deve ser esse D. Quixote
Que luta contra as mazelas.
E, apesar da aparente dificuldade,
Continua a cavalgar com sua lança.
Não fere mortalmente os “ tubarões”,
Mas pode espetá-los, irritando-os,
Até vencê-los pela persistência
De um “louco” professor
Que não desistiu simplesmente,
Sempre lutou pelo saber
E com certeza vai mudar esse mundo.
ASTRO REI
(de Durval Filho)
Cintila no horizonte
Longínquo
Uma bola de fogo:
Luz
E obscuridade
(Quando a lua o apaga);
Explosões
E calmarias
(Quando cansado ele está);
De vida...
Que ilumina os montes,
Os seios,
O lado escuro do pecado,
Matando a escuridão...
Ferindo de morte a noite
Onde mora a iniqüidade.
Iluminando os seres
Que vivem divididos
Entre o bem e o mal.
O que seria de nós
Sem o Astro rei,
Um mínimo brilho,
Ponto de referência
Dos olhos de Deus.
DISFARCE TENTADOR
(de Durval Filho)
Com uma bela e fogosa
Saia curta, olhar penetrante,
Tentação disfarçada, mulher,
Sorria para o jovem moribundo,
Feio de aparência, coitado,
Sorria também, por decência,
Não entendia o motivo...
– Mulher tão bela, o que teria?
Desengonçado, acanhado e feio;
Mas a mulher o fitava!
Por mais que ele disfarçasse
Apaixonava-se por ela...
Não entendia o motivo,
Suplício o incomodava;
Mas as pernas roliças
Seu cérebro enrolava...
Enleado pela paixão repentina
Arriscou um olhar mais profundo.
Felizmente, para o moço taciturno,
Observou que a mulher disfarçada
Era de outro mundo...
Tinha acessório demais, a mais;
Sobrava-lhe um grande infortúnio,
Supérfluo ao uso noturno
Dos amantes normais.
MÚSICA QUENTE
(de Durval Filho)
Num dia de tristeza
Consegui esboçar
Um meio torto
Sorriso,
Contaminado pela
Magia do ritmo
Da música quente,
Samba e mulatas.
No relógio da vida, fico
Destilando o sofrer das horas,
Meio alegre à meia-noite.
A FOTO
(de Durval Filho)
A luz forma
Ao pintar do negativo
As imagens do mundo.
A sensível película
Violentada pela luz
Pari a imagem do tempo
Que fica ali sempre...
A foto, invenção genial,
Registra os momentos
Sem preocupações subjetivas.
Deixa apenas a realidade,
A imagem da vida.
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