Olá, estudante! Nesta lição, vou lhe apresentar um assunto bastante delicado, que é a gestão de custos. Se analisarmos as empresas, será possível perceber que todas elas, independentemente do ramo de atividade ou porte, estão vulneráveis à variação de custos, o que, por sua vez, pode gerar o chamado prejuízo.
Conforme apresentado em aulas anteriores, a controladoria tem o papel fundamental de orientar as atividades operacionais para que as ações sejam realizadas de acordo com o que foi planejado, evitando, assim, surpresas desagradáveis com resultados indesejáveis no final do período. Para acompanhar as operações e corrigir distorções ocorridas, uma técnica bastante simples e de fácil aplicação, é o controle de custos através do custeio-padrão.
É isso que você encontrará nesta lição. Ao final dela, estará preparado(a) para desenvolver tabelas com informações de custos esperados e custos realizados, bem como para elaborar análises sobre as variações de custos encontradas, que forneçam subsídios para as decisões empresariais no que diz respeito à gestão de custos e resultados. Vamos lá?
Ao compreender e apreciar os benefícios de acompanhar e comparar os custos realizados com os custos planejados, as empresas empregam uma técnica estratégica chamada de custo-padrão com o objetivo de mapear e implementar planos para otimizar os resultados, visando aumentar sua competitividade em relação aos concorrentes.
Para avaliar se os custos incorridos estão de acordo com os custos planejados, os analistas necessitam de informações, técnicas de análise de custeio (como a que vamos estudar nesta lição) e relatórios detalhados, que apresentem valores e quantidades relacionados ao processo produtivo. Esses dados auxiliam os gestores a tomarem decisões no momento adequado.
Nesse processo de análise, um profissional muito importante é o(a) Técnico(a) em Administração, que participa ativamente no momento de realizar as comparações de custos, utilizando as técnicas científicas.
Acredito que você esteja compreendendo que a gestão de custo desempenha um papel fundamental no sucesso de uma empresa, não é mesmo? Reconhecendo essa importância, hoje, você conseguiria apresentar um relatório sobre as variações de custos ocorridas em um processo de produção com o propósito de fornecer informações confiáveis aos gestores para a tomada de decisão?
É esperado que sem o devido conhecimento e entendimento do sistema de custeio-padrão, isso seja difícil. Mas, fique tranquilo(a)! Neste momento, não saber como apresentar esse relatório é esperado, pois trata-se do assunto que estudaremos nesta lição!
Para ilustrar o conteúdo desta lição, demonstrarei uma aplicação do sistema de custeio-padrão, em que a diretoria da indústria CSP Ltda., produtora de suplemento alimentar para cães, solicita que seja apresentada uma comparação entre os custos de produção planejados e os custos de produção realizados no período de janeiro a março de 2023 (1º trimestre), no que diz respeito ao consumo de matéria-prima e mão de obra.
A Tabela 1 exibe os dados iniciais extraídos do planejamento estratégico da produção:
Além dos dados extraídos do planejamento estratégico da produção, a controladoria forneceu as seguintes informações:
Foram comprados 5.500 quilos de materiais, ao custo de R$ 2,15 o quilo.
Todo o material comprado foi utilizado na produção de 6.000 unidades do suplemento.
Foram registradas 780 horas de trabalho de mão de obra direta, ao custo total de R$ 7.410,00.
Com os dados em mãos, o profissional responsável pela comparação passa a analisá-los. Para tanto, realiza alguns cálculos e apresenta o seguinte relatório:
Em relação à matéria-prima:
○ A quantidade esperada a ser consumida em cada unidade produzida era de 0,8 quilo e, na realidade, foi consumido 0,92 quilo.
○ O valor esperado a ser pago pelo quilo de matéria-prima era de R$ 2,00 e, na realidade, foram pagos R$ 2,15.
○ Somente no insumo matéria-prima, houve uma variação positiva de custos de R$ 0,38 centavos.
Em relação à mão de obra:
○ O tempo esperado a ser utilizado em cada unidade produzida era de 0,1 hora e, na realidade, foi utilizada 0,13 hora.
○ O valor esperado a ser pago pela hora era de R$ 9,00 e, na realidade, foram pagos R$ 9,50.
○ Somente no insumo mão de obra, houve uma variação positiva de custos de R$ 0,34 centavos.
Somando a variação de custos da matéria-prima com a variação de custos da mão de obra, a empresa incorreu em uma variação total de R$ 0,72 centavos por unidade produzida. Como a produção foi de 6.000 unidades, a variação de custos onera o resultado da empresa em R$ 4.320,00.
Se você é um aluno(a) curioso(a), deve estar se perguntando: quais cálculos foram realizados para se chegar a esses números? Como interpretar o resultado? Mas, fique tranquilo(a)! Você compreenderá tudo isso na próxima etapa desta lição. Vamos lá?
A empresa utiliza o custo-padrão por ser uma ferramenta eficaz para avaliar sua produção e estoques, fornecendo uma base sólida para fins gerenciais. Sua aplicação segue os mesmos princípios do sistema por absorção, que leva em consideração todos os elementos de custo. Alternativamente, é possível utilizar a fórmula do sistema de custeio variável, que não inclui os custos fixos. No entanto, é importante ressaltar que esse procedimento não é amplamente aceito como princípio contábil.
Martins (2003) apresenta que o custo-padrão vem de uma técnica de custeio em que os valores são pré-definidos pela contabilidade da empresa, considerando ainda a quantidade utilizada. Esse método é mais utilizado por empresas que possuem uma produção padronizável, com custos e quantidades habituais, ou seja, seu uso é comum em organizações que produzem em massa e em linha de montagem.
A principal finalidade dessa ferramenta é o planejamento e controle dos custos por meio do orçamento elaborado. Com a sua utilização ao longo do período, é possível comparar com o seu custo real, analisando as suas variações e buscando correções que possam estar onerando os custos de produção.
É importante ressaltar que o custo-padrão apresenta uma desvantagem, pois os elementos são apurados por predefinição (custo pré-determinado) e, como visto em lições anteriores, a avaliação dos estoques deve ser feita pelo custo real (por absorção), seja em face dos princípios contábeis, ou em função da legislação tributária.
O custo-padrão pode ser adotado na própria contabilidade, desde que sejam feitos os ajustes do custo real por absorção.
Podemos dizer que o custo-padrão é estabelecido pela empresa como meta para os produtos de sua linha de fabricação, levando em consideração as características tecnológicas do processo produtivo de cada um, a quantidade e os preços dos insumos necessários para a produção e o seu respectivo volume.
De acordo com Martins (2003), existem três tipos de custo-padrão, sendo eles: ideal, estimado e corrente. Vejamos com mais detalhes cada um deles:
É um custo determinado de forma mais científica possível pela engenharia de produção da empresa, dentro de condições ideais de qualidade dos materiais, de eficiência da mão de obra, com o mínimo de desperdício de todos os insumos envolvidos. Pode ser considerado como uma meta de longo prazo da empresa. Entretanto, em curto prazo, por existirem na prática deficiências no uso e na qualidade dos insumos, apresenta muita dificuldade de ser alcançado – é quase impossível atingi-lo.
É aquele determinado através de uma projeção para o futuro, de uma média dos custos observados no passado, sem qualquer preocupação de avaliar se ocorreram ineficiências na produção, por exemplo, se o nível de desperdício dos materiais poderia ser diminuído, se a produtividade da mão de obra poderia ser melhorada, se os preços pagos pelos insumos poderiam ser menores.
Para fixar o custo-padrão corrente, a empresa deve proceder a estudos para uma avaliação da eficiência da produção. Ao contrário do custo-padrão ideal, ele leva em consideração as deficiências que reconhecidamente existem, mas que não podem ser sanadas pela empresa, pelo menos a curto prazo, tais como as relativas a materiais comprados de terceiros e inexistência de mão de obra especializada. O custo-padrão corrente pode ser considerado como um objetivo de médio prazo da empresa, e é o mais adequado para fins de controle.
A finalidade do custo-padrão é o controle efetivo dos custos. Nesse sentido, o custo-padrão corrente se destaca como sendo uma abordagem mais eficiente. Isso ocorre, porque ele requer levantamentos periódicos que, quando comparados à realidade, revelam ineficiências e falhas na linha de produção.
O principal objetivo do custo-padrão é estabelecer uma base – uma referência – para comparar o que ocorreu de custo (custo real) com o custo que deveria ter ocorrido (custo ideal).
Conforme apontado por Martins (2003), o custo-padrão não se trata de uma forma alternativa de contabilizar custos – como os métodos de absorção e variável. Pelo contrário, ele desempenha um papel complementar. A implementação do custo-padrão não implica na eliminação dos custos reais incorridos (custo real); pelo contrário, sua eficácia depende da existência desses custos reais, pois é a partir da comparação entre os dois – custo ideal e custo real – que se identificam as divergências. Dessa forma, podemos dizer que o custo-padrão serve como uma base de comparação em relação ao custo real.
Assim, fica claro que o custo-padrão não elimina o custo real, nem diminui sua tarefa – de demonstrar o valor que realmente foi gasto em uma determinada atividade. Aliás, a implantação do custo-padrão somente poderá ser bem-sucedida em empresas onde já exista um bom sistema de custo real (quer seja por absorção, quer seja por variável ou qualquer combinação entre eles).
Uma outra finalidade importante do custo-padrão é estimular o cumprimento das metas do padrão corrente. Nesse sentido, é crucial contar com a participação dos responsáveis pela produção na definição dessas metas. Ao envolver esses profissionais na definição, evita-se o estabelecimento de metas baseadas no padrão ideal, uma vez que se saberá de antemão que o valor é inatingível a curto prazo e que todo e qualquer esforço jamais culminará na satisfação máxima dos objetivos alcançados. Evita-se, inclusive, a criação de um ambiente psicológico prejudicial, tanto de maneira individual quanto coletivamente.
Para que possamos analisar as variações em relação aos custos, precisamos saber os custos reais de um período determinado para, então, realizar comparações com o custo-padrão. Os resultados dessas comparações serão úteis para que a empresa corrija falhas – caso existam – ou continuem seguindo com a produção da forma como está sendo realizada – caso não sejam identificadas falhas. As análises de variações entre o padrão e o real são decompostas em variações de preço, de quantidade e conjunta, conforme as equações a seguir:
O Gráfico 1 representa as regiões de variações – de preço e de quantidade – mostrando claramente que há uma diferença entre o real “r” e o padrão “p”, e também a junção entre as variações, caracterizando a variação conjunta.
Nesta seção, apresentarei, de forma detalhada, o passo a passo para o desenvolvimento da comparação entre os custos planejados e os custos realizados através do método de custeio-padrão. Aproveitando o demonstrativo apresentado no Case, temos:
Além dos dados extraídos do planejamento estratégico da produção, você se lembra que a controladoria forneceu algumas informações? Vamos relembrá-las:
Foram comprados 5.500 quilos de materiais, ao custo de R$ 2,15 o quilo.
Todo o material comprado foi utilizado na produção de 6.000 unidades do suplemento.
Foram registradas 780 horas de trabalho de mão de obra direta, ao custo total de R$ 7.410,00.
Para realizar os cálculos e chegar nos resultados apresentados no case – que iremos relembrar logo a seguir – primeiramente, é necessário calcular a quantidade real consumida de matéria-prima e de mão de obra por unidade produzida, bem como o valor real da hora de mão de obra e elaborar uma segunda tabela com os dados referentes ao que realmente foi consumido.
Quantidade real consumida de matéria-prima por unidade produzida:
Quantidade real consumida de mão de obra por unidade produzida:
Valor real da hora de mão de obra:
Os cálculos realizados apresentam as quantidades reais em quilos, o tempo utilizado para a produção – através da quantidade de horas – e os custos reais de toda a produção (de 6.000 unidades, conforme apresentado anteriormente). Com base nesses resultados, podemos apresentar uma tabela com os valores atuais:
Com os dados detalhados, basta aplicar as Equações 1, 2 e 3 das variações, descritas no item Conceituação. Vejamos:
Matéria-Prima
Mão de Obra
Somando as variações positivas de custos ocorridas na matéria-prima com as variações positivas de custos ocorridas na mão de obra, a empresa incorreu em uma variação positiva onerosa total de R$ 0,72 centavos por unidade produzida. Como a produção foi de 6.000 unidades, a variação de custos reduziu o resultado da empresa em R$ 4.320,00.
De posse desse relatório, a empresa consegue verificar em qual insumo e em qual variável (preço ou quantidade) ocorreram variações significativas, podendo, assim, corrigir falhas no processo produtivo com o objetivo de atingir maior eficiência nos custos de produção.
MARTINS, E. Contabilidade de custos. São Paulo: Atlas, 2003.