Olá, estudante! Seja bem-vindo à nossa Lição 14. Nesta lição, considerando a grande importância das técnicas de análise de balanço patrimonial, apresentaremos mais alguns índices de interpretação e análise dos dados fornecidos pelo Balanço Patrimonial. Observa-se ainda que se trata, também, de uma metodologia simples, porém muito eficaz para avaliações de decisões que envolvam o endividamento e a composição de capitais das empresas.
Conhecer o endividamento de uma empresa é fundamental para decisões de investimentos, assim como é importante conhecer o quanto a empresa está vulnerável ao montante de capitais de terceiros em relação ao montante de capitais dos proprietários ou acionistas.
Após esta lição, você estará apto(a) a elaborar e discutir relatórios e indicadores que apresentam como está o endividamento empresarial no curto prazo, relacionando seu passivo circulante com seu passivo não circulante, além de apresentar o percentual de investimentos em ativo imobilizado com a utilização de capital próprio.
Conhecendo a vantagem de acompanhar e comparar as informações do balanço patrimonial periodicamente, as empresas se valem desta estratégia com o objetivo de elaborar e implementar planejamentos de otimização de resultados visando serem mais competitivas no mercado em que atuam.
Para que seja possível avaliar se os resultados obtidos com os planejamentos implementados foram otimizados, é necessário que as empresas tenham relatórios detalhados e explicativos acerca de sua real situação econômica e patrimonial, podendo, assim, tomar decisão no momento adequado. Sendo assim, é possível perceber que saber analisar e interpretar os dados do balanço patrimonial é, realmente, uma condição indispensável ao(à) profissional Técnico(a) em Administração.
De acordo com os conteúdos apresentados até aqui, você acha que seria possível apresentar um relatório sobre as dívidas contraídas pela empresa e verificar como está a participação de capitais de terceiros sem o devido conhecimento e entendimento dos indicadores de endividamento e composição de capitais, com o objetivo de suprir os gestores de informações confiáveis?
Para ilustrar o conteúdo nesta lição, abordaremos, de forma clara e de fácil entendimento, uma análise em que a diretoria de uma empresa do Sul do país solicita que sejam apresentados os dois últimos Balanços Patrimoniais contendo os indicadores de endividamento e composição de capitais com um parecer explicativo, com o objetivo de verificar a evolução ou involução desses índices de um ano para outro. Imediatamente, o analista busca o Balanço Patrimonial e apresenta as análises solicitadas pela diretoria conforme a Tabela 1, a seguir.
Com o demonstrativo incluindo os cálculos necessários, o analista interpretou os números, explicando a leitura do documento.
Em relação à participação de capitais de terceiros, a empresa passou de 2,31, no ano de 2021, para 1,90, no ano de 2022, o que demonstra uma melhora na sua dependência de capitais de terceiros, sinalizando um crescimento do negócio acompanhado de investimento próprio ou geração de resultado positivo.
Em se tratando da relação capital de terceiros, a empresa passou de 69,82%, no ano de 2021, para 65,57%, no ano de 2022, o que demonstra, também, uma melhora na necessidade de recursos de terceiros para financiar seus investimentos em ativos.
Em relação à composição do endividamento, a empresa passou de 63,56%, no ano de 2021, para 53,75%, no ano de 2022, demonstrando uma redução nas suas dívidas de curto prazo, reforçando a redução da necessidade de capital de terceiros no curto prazo.
Em relação à imobilização do patrimônio líquido, a empresa passou de 117,65%, no ano de 2021, para 100%, no ano de 2022, o que demonstra um investimento menor em ativo permanente no ano de 2022, utilizando todo e somente o capital próprio. Dessa forma reduziu a dependência de capital de terceiros para investimento no ativo permanente.
No que diz respeito à imobilização de recursos não correntes, a empresa passou de 63,83%, no ano de 2021, para 53,16%, no ano de 2022, o que representa uma redução na imobilização de recursos de longo prazo.
Na seção seguinte, você encontrará a descrição desses indicadores e as equações que devem ser utilizadas para realizar as interpretações.
Matarazzo (1997) ressalta que os índices, ou indicadores, se assim você preferir chamar, são utilizados, basicamente, para medir a composição/estrutura das fontes passivas de recursos de uma empresa. Ao serem analisados, possibilitam a verificação de como a empresa está se financiando, como são utilizados os recursos de terceiros e qual a relação desse capital frente aos capitais próprios. Além disso, fornecem, ainda, elementos para avaliação do grau de comprometimento financeiro perante os credores. Esse grupo de índices revela as grandes linhas de decisões financeiras, no que tange à obtenção e à aplicação de recursos na empresa.
Para demonstrar a importância desse grupo, apresentaremos cinco indicadores:
Participação de capitais de terceiros.
Relação capital de terceiros.
Composição do endividamento.
Imobilização do patrimônio líquido.
Imobilização dos recursos não correntes.
O índice de Participação de Capitais de Terceiros mede quanto a empresa tomou de Capitais de Terceiros para cada $1,00 de Capital Próprio investido. Em outras palavras, esse indicador aponta quanto a empresa possui de capital próprio para garantir as dívidas contratadas com terceiros, para giro e/ou financiamentos. Nesse sentido, o interessante para a empresa é que, quanto menor for seu resultado, melhor.
A soma do Passivo Circulante e do Passivo Exigível a Longo Prazo, também, é conhecida como o Exigível Total da empresa, uma vez que totaliza o valor dos Capitais de Terceiros que a financiam. O índice PCT retrata o grau de endividamento da empresa, uma vez que relaciona as duas principais fontes de recursos dela: Capital Próprio e Capital de Terceiros. Por meio dele, o analista consegue mensurar o grau de risco e a dependência do capital de terceiros que a empresa tem.
Quando analisamos pela ótica financeira, que é o que esse indicador se propõe a fazer, dizemos que, quanto menor for o PCT, melhor, tendo em vista que, quanto menor for o indicador, menor é o grau de dependência a capitais de terceiros da empresa.
Não é interessante para uma empresa trabalhar com grau elevado de capital de terceiros?
Do ponto de vista dos lucros, é interessante que uma empresa trabalhe com capitais de terceiros, desde que a remuneração paga a esses capitais sejam inferiores ao lucro obtido em sua operação. Ou seja, sempre que uma empresa conseguir trabalhar com outros capitais, fazendo com que ele renda acima do custo de sua obtenção, ela estará alavancando sua operação e gerando riqueza. Entretanto existe o risco da dependência elevada desses capitais, porém este risco deve ser analisado de forma a atingir o equilíbrio ótimo entre a utilização do capital próprio e do capital de terceiros, e é essa análise que o índice PCT proporciona.
É preciso salientar que o nível de dependência para capitais de terceiro e o grau de endividamento variam muito de empresa para empresa. Tem empresa que administra bem alto grau de endividamento, e tem empresa que não consegue ter bons resultados com isso. O objetivo de analisar por intermédio de índices é definir padrões gerais de análises sobre o endividamento.
O índice da Relação de Capitais de Terceiros mede qual é o percentual de recursos totais da empresa que se encontra financiado por terceiros. Em outras palavras, busca apresentar quanto do Passivo Total da empresa que é financiado por terceiros. Em sua interpretação e do ponto de vista do risco de endividamento, o ideal para empresa é que, quanto menor for o seu resultado, melhor.
Qual a diferença entre o índice de Participação de Capitais de Terceiros e o índice de Relação de Capitais de Terceiros?
Padoveze (2011) demonstra que, como pode ser observado em sua fórmula, o índice de Participação de Capitais de Terceiros relaciona quanto de capital de terceiros a empresa tem em relação à quantidade de capital próprio que está investido. Retrata se a empresa tem capital próprio para suprir uma necessidade de quitação dos capitais de terceiros. Já o índice de Relação do Capital de Terceiros, relaciona quanto do total das fontes passivas são de capitais de terceiros, ou seja, do total de recursos que a empresa utiliza, que percentual é de terceiros.
Como no índice anterior, o crescimento desse indicador pode acarretar redução de rentabilidade. Entretanto, se o retorno enunciado pelo giro dos ativos superar o custo do endividamento, pode ser interessante à empresa elevar esse índice, aproveitando-se, assim, de uma alavancagem financeira favorável. Porém deve-se avaliar a liquidez da empresa em sustentar um endividamento mais elevado e da convivência com uma taxa de risco financeiro mais alta.
Visto que já conhecemos o grau de participação de capital de terceiros e a relação de capitais de terceiros, o próximo passo é conhecer a composição desse capital de terceiros. As dívidas de curto prazo impõem uma necessidade mais imediata de se gerar recursos para o seu pagamento. Por outro lado, para fazer frente às dívidas que vencerão em longo prazo, a empresa disporá de mais tempo para gerar os recursos (lucros) para pagá-las.
O índice de composição do endividamento busca medir qual o percentual de dívidas de curto prazo que a empresa possui, frente ao seu total de dívidas com terceiros. Em sua interpretação, dizemos que, quanto menor for esse percentual, melhor é para a empresa. Isso se dá porque indica que suas dívidas estão com prazos de vencimento bem dilatados.
Este índice tem por finalidade indicar quanto a empresa investiu no Ativo Permanente para cada R$ 100 do Patrimônio Líquido. Em sua interpretação, podemos dizer que, quanto menor for o seu resultado, melhor é para a empresa. Dessa forma, quanto mais a empresa investir no Ativo Permanente, menos recursos sobrarão para se investir no circulante e no realizável a longo prazo, fazendo aumentar sua dependência por capitais de terceiros para financiamento de seu giro operacional.
O interessante, em termos financeiros, é que a empresa disponha de um Patrimônio Líquido que seja suficiente para cobrir o investimento em Ativo Permanente, restando, ainda, uma parcela que permita o investimento também em seu giro operacional, fazendo com que não haja grande dependência a capitais de terceiros.
O Passivo Exigível a Longo Prazo e o Patrimônio Líquido são considerados recursos não correntes, porque não fazem parte do capital circulante da empresa. Esse capital circulante é composto por Passivo Circulante e Ativo Circulante. Esse indicador mede qual o percentual dos recursos não correntes da empresa que está imobilizado no Ativo Permanente. Para sua interpretação, dizemos que, quanto menor for seu resultado, melhor será para a empresa.
Caso esse número seja superior a 1 ou 100%, isso indica que todos os recursos não correntes estão imobilizados, sendo necessária, ainda, a utilização de parte do passivo circulante para essa finalidade, o que pode gerar reflexos negativos sobre o capital de giro da empresa.
Padoveze (2011) apresenta que, no geral, os bens integrantes do Imobilizado apresentam vida útil de dois, três, dez e até 25 anos, por isso. é interessante e necessário que seu financiamento não seja realizado apenas com recursos próprios, sendo que a empresa deve buscar recursos de longo prazo para o financiamento, fazendo com que, em contrapartida, consiga gerar recursos em prazo compatível com a vida útil do bem, de forma a quitar tal financiamento. O ideal é que esse índice fique bem abaixo de 100%.
Nesta seção, apresentaremos, de forma detalhada, o passo a passo para o desenvolvimento dos indicadores relativos à análise do endividamento e à análise da estrutura de capitais. Aproveitando o demonstrativo apresentado no case:
1) Em relação à participação de capitais de terceiros, a empresa passou de 2,31, no ano de 2021, para 1,90, no ano de 2022, o que demonstra uma melhora na sua dependência de capitais de terceiros, sinalizando um crescimento do negócio acompanhado de investimento próprio ou geração de resultado positivo.
2) Em se tratando da relação capital de terceiros, a empresa passou de 69,82%, no ano de 2021, para 65,57%, no ano de 2022, o que demonstra, também, uma melhora na necessidade de recursos de terceiros para financiar seus investimentos em ativos. Tendo em vista que o passivo retrata o total de recursos captados pela empresa e que, no Ativo, estão relacionadas suas aplicações, podemos afirmar, nesse caso, que, em 2021, 69,82% do ativo da empresa era financiado por terceiros e, em 2022, esse número passou para 65,57%. Como no índice anterior, o crescimento desse indicador pode acarretar redução de rentabilidade.
3) Em relação à composição do endividamento, a empresa passou de 63,56%, no ano de 2021, para 53,75%, no ano de 2022, demonstrando uma redução nas suas dívidas de curto prazo, reforçando a redução da necessidade de capital de terceiros no curto prazo. A composição do endividamento diminuiu, e isso é bom. Considerando a relação entre os compromissos de curto prazo com o total de compromissos que a empresa possui, há que se observar se houve, realmente, a redução do passivo circulante ou se foi o passivo não circulante que aumentou. Na nossa aplicação, houve, realmente, a redução.
4) Em relação à imobilização do patrimônio líquido, a empresa passou de 117,65%, no ano de 2021, para 100%, no ano de 2022, o que demonstra um investimento menor em ativo permanente no ano de 2022, utilizando todo e somente o capital próprio. Dessa forma, reduziu a dependência de capital de terceiros para investimento no ativo permanente. O interessante, em termos financeiros, é que a empresa disponha de um Patrimônio Líquido que seja suficiente para cobrir o investimento em Ativo Permanente, restando, ainda, uma parcela que permita o investimento, também, em seu giro operacional, fazendo com que não tenha grande dependência a capitais de terceiros.
5) No que diz respeito à imobilização de recursos não correntes, a empresa passou de 63,83%, no ano de 2021, para 53,16%, no ano de 2022, o que representa uma redução na imobilização de recursos de longo prazo. É possível observar uma redução de dez pontos percentuais nesse indicador, do ano de 2021 para o ano de 2022, reforçando a ideia de se investir no ativo permanente com recursos do Patrimônio Líquido. Para esse indicador, deve-se esperar que fique abaixo de 100%.
Por meio dessa simples demonstração dos cálculos e interpretações, é possível verificar a facilidade de se analisar e interpretar um balanço patrimonial, gerando, assim, informações de grande importância para as tomadas de decisão empresarial.
MATARAZZO, D. C. Análise Financeira de Balanços: abordagem básica e gerencial. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
PADOVEZE, C. L. Introdução à Administração Financeira. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011.