Corre, corre, cabacinha

"Caixa de histórias"

Era uma vez uma velha que vivia numa casa escondida na floresta. Tinha muitos filhos e muitos netos e passava os dias a fazer doces.

Um dia, um dos filhos bateu-lhe à porta e convidou-a para o batizado de mais um neto. Só que desta vez, para além dos doces, pediu também um padrinho.

A velha ficou aflita, pois não conhecia ninguém, mas no dia do batizado pôs-se a caminho com a cesta carregada.

De repente, apareceu um lobo que gritou: “Velha, velhinha, velha, velhão, como-te inteirinha com cesto e bordão”.

Tremendo de medo, a velha disse que estava magrinha, convencendo o lobo a comê-la só quando voltasse mais gordinha.

Ia tão assustada, que não reparou num vendedor de cabaças, que ao aproximar-se lhe perguntou o que se passava. Depois de saber da sua promessa ao lobo, ele ofereceu-se para padrinho e prometeu ajudá-la.

Foi buscar a maior cabaça de todas e disse à velha que se metesse lá dentro e fosse a rolar pelo caminho até casa, sem parar.

A velha assim foi rolando pelo caminho. De repente, o lobo apareceu e perguntou à cabaça se tinha visto a velha. Tremendo de medo, a velha respondeu: “Não vi velha nem velhinha, não vi velha nem velhão, corre, corre cabacinha, corre, corre cabação.”

Como o lobo não encontrava a velha, nem magra, nem gorda, preparava-se para saltar para cima da cabaça com a velha lá dentro. Mas esta veio a rebolar pela ladeira abaixo, entrando pela casa dentro, sã e salva, ficando o lobo lá longe.

Ainda hoje a velha canta: “Não vi velha, nem velhinha, não vi velha, nem velhão, corre, corre cabacinha, corre, corre cabação.”

Reconto da história de Alice Vieira por Eduardo Figueiredo