O COLÓQUIO LUSO-AFRO-BRASILEIRO DE QUESTÕES CURRICULARES EM REALCE
Editorial edição especial
Maria José Firmino da Silva
Roberto Sidnei Alves Macedo
Denise Moura de Jesus Guerra
Gerusa do L. Carneiro de Oliveira Moura
FORMACCE/FACED/UFBA
O COLÓQUIO LUSO-AFRO-BRASILEIRO DE QUESTÕES CURRICULARES EM REALCE
Editorial edição especial
Maria José Firmino da Silva
Roberto Sidnei Alves Macedo
Denise Moura de Jesus Guerra
Gerusa do L. Carneiro de Oliveira Moura
FORMACCE/FACED/UFBA
Milton Nascimento, um dos nomes altaneiros da música popular brasileira, vem nos inspirando com a canção “Notícias do Brasil (os pássaros trazem)[1]. Como mote, diremos “Notícias do Luso: nosso Hermes traz”. Com suas sandálias de ouro, a simbologia desse deus grego nos leva, ainda uma vez mais, até a sua edição de 2018, em Lisboa, quando a Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (FACED/UFBA) foi anunciada como a grande anfitriã do Luso/2020, através de um vídeo-convite[2] com o batuque que ainda faz nossos corpos sambarem: “O Canto do Negro/Veio lá do alto,/É belo como a íris dos olhos de Deus, de Deus/E no repique, no batuque/No choque do aço/Eu quero penetrar
No laço afro que é meu, e seu […]” (MERCURY, 2000).
Mas, repentinamente, fomos levados a outros caminhos os quais, junto com Hermes, ainda estamos a atravessar: a pandemia do novo coronavírus e sua doença invisível e assustadora – a Covid 19 – que fez emergir as nossas imensas desigualdades e, em alguns contextos, a face mais cruel da condição humana. Assim, recolhemos o desejo do Luso em 2020 e o projetamos para 2021.
Eis, pois, neste novembro, esse grande acontecimento produzido nos entre-lugares do online, mediados/as pela língua portuguesa e suas opacidades, quase sempre, tensas e intensas, sobretudo quando discutimos Currículo, Saberes e Culturas num século em desafios: Reexistências e(m) Formação – tema do nosso Colóquio.
Diante dos inúmeros ataques orquestrados à educação pública em todos os seus níveis e modalidades, sobretudo, no Brasil, as questões curriculares propostas colocam-se como desafios a serem problematizados e enfrentados, cotidianamente. Nessa Edição Especial do nosso Jornal, portanto, esses debates atravessam os textos que o compõem. Na seção
Em Destaque, os presidentes do Luso – José Augusto Pacheco e Antonio
Flávio Moreira – convidam-nos para um passeio pelos temposespaços do nosso Colóquio com o texto Colóquio Luso-Afro-Brasileiro de Questões Curriculares: Currículos Nômades e Cosmopolitas. Em seguida, temos uma entre-vista na qual Nilda Alves e Janete Carvalho com-versam conosco sobre O Colóquio Luso-Afro-Brasileiro em contextos de
Reexistências.
Na seção Opiniões em contraste, Bento Silva e Edméa Santos problematizam educação presencial e educação a distância, na perspectiva dos Currículos Online, através do texto O tempo da Educação e Currículos Online,enquanto Bruno Olivatto – em Tempo de transver os bytes! – discute experiências sociais atinentes a fisicalidades e digitalidades, no cenário dos algoritmos que pretendem definir “[…] o que devemos ver, saber, ensinar e aprender.”
Na seção Escritos, oito textos compõem um mosaico de questões curriculares para pensarmos os desafios deste século. Comecemos com Fernando Jorge Pina Tavares – com sua escrita sobre Políticas de Currículo em Cabo Verde: uma Abordagem Reflexiva – na qualtraça reflexões históricas sobre a educação em Cabo Verde, detendo-se na análise da exclusão da língua materna cabo-verdiana – o crioulo – do sistema de ensino e suas implicações. No segundo texto, Narrativas Curriculares e a gramática da tragédia, Jamile Borges da Silva discute a cena contemporânea na dialogia com o currículo, porquanto, segundo sua narrativa, “Desde a época colonial, prospectar e reprimir têm constituído uma bem elaborada tecnologia para disciplinar e governar, forjando narrativas para sustentar discursos e práticas de controle, vigilância e apagamento de projetos e grupos étnicos.”
Em seguida, temos o texto de Sílvia Michele Lopes Macedo, intitulado
Etnobiografias e Saberes Docentes: Formação e Itinerâncias Curriculantes – no qual somos apresentados à sua pesquisa de PósDoutorado que objetivou “[…] narrar, descrever, analisar e compreender as itinerâncias etnobiográficas formativas e etnoaprendentes de docentes de comunidades tradicionais do Recôncavo Baiano, que são reconhecidos por suas comunidades como lideranças […]”. Ainda no contexto do Recôncavo, temos o escrito Cultura e Negritude: influxos na Formação, de Rita de Cássia Pereira Dias de Jesus que nos apresenta a “Rodas de Saberes e Formação – RSF”, dispositivo de formação por ela desenvolvido. O quinto texto – Reconceptualização e o Campo do Currículo, produzido por Maria Roseli Gomes Brito de Sá – traz um debate sobre a reconceptualização com ênfase em Willian Pinar e sua proposição de currículo como conversa complicada. Nessa perspectiva fenomenológica, Verônica Domingues Almeida traz, para o debate de currículo, o sensível com o texto Afet(os/ações) curriculantes.
No sétimo texto, Inês Barbosa de Oliveira constrói uma discussão sobre Currículos em redes e os cotidianos das escolasque nos encaminha para uma compreensão de currículo como “[…] redes de conhecimentos, criados local e criativamente e tanto mais potentes quanto maior for a solidariedade e a horizontalidade nos diálogos entre sujeitos e seus conhecimentos.” Dialogando com essa perspectiva, as autoras Rita de Cássia Prazeres Frangella e Tânia Mara Zanotti Guerra Frizzera Delboni apresentam – através do texto Debate das políticas curriculares no Brasil: desafios e enfrentamentos da Associação Brasileira de Currículo/ABdC – a luta renhida da Associação Brasileira de Currículo na interlocução e enfrentamento de políticas curriculares homogeneizantes. Em Cotidianos da/na Educação e suas Políticas, temos dois textos propositivos sobre a produção de currículos e sua descolonização: o primeiro, intitulado Educação e descolonização de currículo na GuinéBissau: algumas considerações, escrito por Leonel Vicente Mendes. Já o segundo – A concepção, implementação e singularidades do “Referencial Curricular Franciscano”, de Cristiana Ferreira – traz um relato de experiência de construção curricular do município de São Francisco do Conde/BA, num contraponto à BNCC.
Esperamos que “Notícias do Luso: nosso Hermes continue a trazer” de outras terras, de outros contextos e de outros tempos mais alvissareiros e emancipacionistas. Parabéns às autorias.
Referências
MERCURY, Daniela. Ilê Pérola Negra. Sol da liberdade. BMG; Ariola Records, 2000.
1 NASCIMENTO, Milton. Notícias do Brasil (os pássaros trazem). Caçador de mim. Ariola; Polygram, 1997.
1 V Colóquio Luso-Afro-Brasileiro de Questões Curriculares 2020. Salvador – Bahia – YouTube .
[1] NASCIMENTO, Milton. Notícias do Brasil (os pássaros trazem). Caçador de mim. Ariola; Polygram, 1997.
[2] V Colóquio Luso-Afro-Brasileiro de Questões Curriculares 2020. Salvador – Bahia – YouTube .