Pesquisa-formação na cibercultura: dispositivos multirreferenciais
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Direitos Humanos: imagens que circulam
Rachel Colacique
Embora date de 1948 a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, as origens e influências históricas são muito mais antigas. Foi longo o percurso histórico trilhado até o momento em que se distinguem os Direitos Humanos universalmente reconhecidos, e essa trajetória foi marcada por muitas contradições, lutas, e alimentada pela constante busca pela dignidade da pessoa humana. Cada conquista é, portanto, fruto de indignação contra opressões sofridas, e ainda temos muito que avançar na defesa de direitos. Sendo considerados como direitos fundamentais, a liberdade de expressão e o acesso à informação, a rede mundial de computadores recebe grande atenção internacional em virtude de seu potencial integrador de direitos.
Além disso, o próprio acesso à internet já é considerado um direito fundamental do ser humano, sendo defendido inclusive pela Organização das Nações Unidas. Segundo pesquisa divulgada no site da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), o Facebook é a rede social com maior número de denúncias de crimes e violações a direitos humanos na internet brasileira. Ao mesmo tempo, no contexto da web interativa, vemos grandes movimentos de denúncia contra violação dos direitos humanos. A internet tem um incontável potencial gerador e difusor de direitos, bem como a contribuição na criação e ampliação de culturas colaborativas, emancipatórias, promovendo valores em prol da diversidade e direitos humanos universais. De que forma essas temáticas estão sendo debatidas na internet? Um exemplo que trazemos é a mobilização em torno da temática religião x homossexualidade, com diversas manifestações em defesa da proteção aos direitos LGBT. Como é o caso, por exemplo, da campanha “Jesus cura a homofobia”.
O ato – promovido por cristãos evangélicos e católicos, contra a intolerância, desrespeito e violência praticada em relação à comunidade LGBT – surge como contraponto à proposta da “cura gay”, projeto sugerido pelo deputado federal João Campos (PSDB-GO). O movimento começou a ganhar ainda mais força após as polêmicas causadas nas redes sociais contra a manifestação ocorrida na 19ª Parada do Orgulho LGBT em 2015, em que uma artista transexual encenou a crucificação de Jesus. No evento criado no Facebook, mais de mil e setecentas pessoas confirmaram presença. Entre as postagens, inúmeras mensagens de apoio, junto com outras tantas de reprovação ao movimento. Do ponto de vista social e religioso, ainda há muito que avançar em relação aos direitos dessas pessoas. Do ponto de vista das mídias massivas, podemos perceber o levante dos cristãos incomodados com os discursos de ódio, pregados por líderes e representantes em canais de televisão. Na era da internet interativa, mesmo os cristãos anônimos podem produzir seus conteúdos, organizar eventos, e articular um grande movimento de recusa ao discurso propagado por alguns. Em cartazes com dizeres como “Somos evangélicos. Malafaia e Feliciano não nos representam”, o movimento cristão repercutiu no país todo, e em vários outros também.
Outros movimentos cristãos em prol da causa LGBT estão ganhando espaço nas redes. Um deles, promovido pela Igreja Luterana, tem sua página e um blog disponível, além de grupo no WhatsApp para interação entre seus membros. Com o título Inclusão Luterana, o movimento defende um posicionamento cristão condizente com os princípios do amor. “Transfobia? Não em meu nome. Não em nome de Deus”, diz uma de suas campanhas. Esses movimentos, organizados e potencializados pelas redes sociais da internet, têm mostrado a força de um grupo que não aceita ser “representado” por um discurso de ódio. A liberação do polo de emissão proporcionada pelos meios de comunicação atuais, pela internet móvel e ubíqua, tem dado voz, luz e cor a esses atos de oposição. Mesmo que ainda tão pequenos. Mesmo que ainda engatinhando em suas tentativas de aproximação e diálogo. São formas outras de resistência.
SOBRE A AUTORA
Rachel Colacique, Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, aluna de Doutorado pela mesma universidade, é Professora Assistente na Faculdade de Educação da UNIRIO, integrante do GPDOC/UERJ.
REFERÊNCIAS
Imagem – Fonte:https://www.facebook.com/inclusaoluterana/photos/a.807240586014090.1073741828.807236186014530/1070731689664977/?type=3&theater
Imagem – Fonte:https://www.facebook.com/825017950923171/photos/a.825018380923128.1073741826.825017950923171/897146163710349/?type=3