Currículo e formação no contexto das questões contemporâneas
Em destaque
Currículo e formação no contexto das questões contemporâneas
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A FORMAÇÃO CRÍTICA COM AS IMAGENS
Por: Antenor Rita Gomes e Laila Sampaio Lima (Cult-Vi/ UNEB, DCH IV)
Fonte: Cores do Sertão (Cult-Vi); Foto de Antenor Rita Gomes
As transformações pelas quais a sociedade vem passando requer posturas críticas e olhares atentos sobre os acontecimentos e realidades sociais a nossa volta. Novas relações e novos modelos de sociedade emergem a cada dia, questionando, tencionando e visibilizando arranjos dantes silenciados e/ou estigmatizados. Isso tem gerado novas demandas socioeducativas e provocado rupturas nos sistemas aparentemente estruturados. O currículo escolar como espaço vivencial repleto de humanidades tem sido lugar “recorrente” de questionamentos desses sistemas, devido a dinamicidade do mundo em que vivem os estudantes e da forma pulsante com que as novidades desse mundo pulula e gera demandas na sala de aula de professores e alunos reais, a despeito das prescrições formais dos programas de ensino. Um desses sistemas diuturnamente questionado pelas demandas e pelo dinamismo social é o da linguagem. Há muito que ficou perdido no tempo o ensino de linguagens nas escolas, pautado exclusivamente na sisudez clássica verbal inspirada em obras literárias de séculos passados. Um fator responsável por esse movimento tem sido a penetração maciça das visualidades no cotidiano das pessoas o que acarreta mudanças nas praticas educativas inundadas por imagens até mesmo nas gramáticas normativas, templos sagrados do ensino da Língua Portuguesa.
A educação, quando reconhecida como um campo de saber multidisciplinar e transversal, questiona os moldes curriculares tradicionais dos quais a escola se utilizou durante séculos, reproduzindo e depositando conhecimentos nos alunos de forma maquínica e unívoca. Nesse sentido, a inserção escolar de pautas multiculturalistas e emancipatórias, em que sujeitos se reconhecem com suas implicações culturais, contribuem para descolonizar pensamentos concebidos como verdades únicas, transformando-os pela ação reflexiva desses protagonistas cotidianos. Uma dessas pautas, nas quais os alunos atuam, burilam e se reconhecem são as visualidades contemporâneas, através das quais, a escola do seu lugar de agência formativa pode exercer a formação critica.
Historicamente, as imagens sempre tiveram um espaço representativo na construção do pensamento social. Fazendo um breve retrocesso, desde as pinturas rupestres que ilustram o modo de vida de nossos ancestrais até as fotografias de satélite em alta resolução, percebemos como a sociedade e suas ideias foram construídas e representadas a partir das imagens. Com a evolução tecnológica, a qualidade e as possibilidades de reprodução dessas visualidades ganham terreno e força, atingindo sujeitos das mais simples comunidades até moradores das grandes cidades, independente de classe social.
Plaza de Mayo – 14/06/2018 – Buenos Aires-Argentina. Foto: Laila Sampaio Lima
A noção da Cultura Visual surge a partir da necessidade de estudar o mundo contemporâneo a partir das visualidades. Abre caminhos para o consumo do visual como forma de buscar a informação, o significado e o prazer pelos dispositivos tecnológicos. Segundo MIRZOEFF, (2003) a “Cultura Visual explorará as ambivalências, interstícios e lugares de resistência na vida cotidiana pós-moderna do ponto de vista do consumidor”. A imagem agora é a representação desse mundo moderno que é difundido nos meios de comunicação de massa. E a reprodutibilidade técnica dessas imagens configuram uma característica importante no conceito de Cultura Visual. Aliás, talvez seja o ponto mais importante para conceituarmos essa ideia: para serem consideradas imagens ancoradas na perspectiva da Cultura Visual, as imagens necessariamente devem estar super expostas pelos meios.
Por outo lado, a educação, para que seja de fato emancipatória, precisa necessariamente ser significativa. E para que isso aconteça, as esferas sociais dentro e fora do ambiente escolar precisam olhar para uma nova proposta de educação que desenvolva o senso crítico dos sujeitos, descolonizando os pensamentos, tornando-os seres livres pois não existe uma prática dialógica se a educação se configura como uma educação monológica.
Não obstante isso, tradicionalmente, a imagem sempre ocupou um plano secundário nas práticas pedagógicas. A tendência para a valorização da forma escrita de comunicação verbal o tom conservador das relações neste meio, por si, já revela, de certo modo, um distanciamento de práticas que podemos chamar de inovadoras. O conforto do texto escrito através de uma pseudo precisão nas informações por ele transmitidas são vistas pela escola como única linha de atuação docente posto que trabalhar com imagens requer inserir-se em um contexto de símbolos plurais, dos quais, interpretações e intelecções boa parte da escola, ainda prefere se distanciar.
O processo de compreensão das imagens, de forma mediada no espaço escolar, seja ele formal ou não, possibilita a liberdade do pensamento e da percepção crítica do que as imagens podem reverberar desde que se considere as implicações do texto visual para o ensino e aprendizagem.
Intentando compreender melhor o processo de aprendizagem por meio da leitura das imagens, temos destacado, em publicações anteriores (GOMES, 2012) algumas questões ligadas às imagens que favorecem as aprendizagens significativas e a formação critica dos sujeitos. Dentre elas podemos destacar:
a) O papel da visão como canal privilegiado de aprendizagem, pois o ato de observar é uma experiência formativa.
b) o caráter transversal e hibrido da linguagem visual, frequentemente articulado a outras constituições de linguagem, além de ser aberta, imprecisa e plural.
c) A forma impactante da imagem representar o fenômeno . A representação visual, diferentemente da representação verbal forja e traz consigo a cena, o fato, o cenário, o foco da observação e o ponto de vista a um só tempo.
d) o caráter narrativo do imagético que mantém uma relação muito próxima da estrutura narrativa, não só por que se presta ao serviço de narrar, mas, sobretudo, por que traz em si uma narrativa interna: um antes e um depois.
e) A questão do simulacro. Segundo Baudrillard (1981) nesta nossa era as imagens e os símbolos têm mais força do que a própria realidade. Os simulacros são as simulações do real, que contrariamente, são mais atraentes ao espectador do que a própria realidade representada.
f) A catarse presente nos processos de leitura de imagens. Consiste na projeção, identificação que os leitores e espectadores realizam sobre o que ler, ao ponto de emocionar-se até descarregar seus sentimentos.
È com base nisso que temos defendido que a imagem comporta vazios epistemológicos que se preenchidos pela ação mediadora docente nos processos de produção de sentido, colaboram de modo definitivo para a formação critica dos leitores.
Referências
BAUDRILLARD, Jean (1981). Simulacros e simulações. Lisboa: Relógio D’água,1981
GOMES, Antenor Rita. Lectura de imagen y aprendizaje significativo. Revista Cientifica de Educación e Comunicación. Hachetetepe – Bibliotecas, Lecturas e Tics. P. 137-146. Facultad de Educación – Universidad de Cásiz – Espanha. 2012
MIRZOEFF, N. Una introducción a la cultura visual. Barcelona: Paidós. 2003