Pesquisa-formação na cibercultura: dispositivos multirreferenciais
Editorial edição 2
Editorial edição 2
Confira o vídeo de apresentação da 2 Edição:
Neste editorial, bem como em todo número deste Jornal Hermes, abordamos a metodologia da pesquisa-formação multirreferencial na cibercultura a partir da nossa itinerância de pesquisa e docência, mais especificamente com a educação e docência online, concebidas por nós como fenômenos da cibercultura que se materializam em interface com as práticas formativas presenciais e no ciberespaço, mediadas por tecnologias digitais em rede. Concebe o processo de ensinar e pesquisar a partir do compartilhamento de narrativas, imagens, sons, sentidos e dilemas de docentes e pesquisadores pela mediação das interfaces digitais concebidas como dispositivos de pesquisa-formação. O conceito de dispositivo tratado aqui é inspirado na ideia de Ardoino, que entende o dispositivo como “uma organização de meios materiais e/ou intelectuais, fazendo parte de uma estratégia de conhecimento de um objeto” (Ardoino, 2003, p.80).
A educação online, a aprendizagem ubíqua e seus dispositivos (interfaces digitais e atos de currículos (Macedo, 2011) mediados pelo digital em rede) se configuram como espaços formativos de pesquisa e prática pedagógica em que são contempladas a pluralidade discursiva das narrativas e experiências pessoais, profissionais e acadêmicas dos praticantes culturais. Apontamos prospectivas interessantes para a educação online e a formação do docente pesquisador na cibercultura, por “perceber que o que faz a experiência formadora é uma aprendizagem que articula saber-fazer e conhecimentos, funcionalidade e significação, técnicas e valores num espaço-tempo que oferece a cada um a oportunidade de uma presença para si e para a situação, por meio da mobilização de uma pluralidade de registros” (Josso, 2004, p.39).
A pesquisa-formação é um método consolidado de pesquisa, mas reconhecemos que nossa autoria encontra-se exatamente na atualização de sua prática no contexto de docência na cibercultura. Nossas práticas de pesquisa-formação se inspiram, sobretudo, na abordagem multirreferencial. Inspiramo-nos na abordagem multirreferencial, dentre outros motivos, por esta contemplar, nos espaços de aprendizagem, uma “leitura plural de seus objetos (práticos ou teóricos), sob diferentes pontos de vista, que implicam tanto visões específicas quanto linguagens apropriadas às descrições exigidas, em função de sistemas de referenciais distintos, considerados, reconhecidos explicitamente como não redutíveis uns aos outros, ou seja, heterogêneos” (Ardoino, 1998, p.24).
Por estas inspirações, a pesquisa-formação multirreferencial na cibercultura parte de alguns pontos bastante caros:
A cibercultura é a cultura contemporânea que revoluciona a comunicação, a produção e circulação em rede de informações e conhecimentos na interface cidade–ciberespaço. Logo, novos arranjos espaçotemporais emergem e com eles novas práticas educativas. Sendo a cibercultura o contexto atual, não podemos pesquisar sem a efetiva imersão em suas práticas.
Pesquisar na cibercultura é atuar como praticante cultural produzindo dados em rede. Os sujeitos não são meros informantes, são praticantes culturais que produzem culturas, saberes e conhecimentos no contexto da pesquisa. Fazer pesquisa na cibercultura não é, para nós, apenas utilizar softwares para “coletar e organizar dados”.
Não há pesquisa-formação desarticulada do contexto da docência. Nosso investimento é pesquisar em sintonia com o exercício docente e no ensino que investe na cibercultura como campo de pesquisa. Sendo assim, a educação online é contexto, campo de pesquisa e dispositivo formativo.
Educação online não é uma mera evolução das práticas massivas de ead. Logo, não separamos os contextos educativos das cidades e seus equipamentos culturais (escolas, universidades, movimentos sociais, museus, organizações, eventos científicos, demais redes educativas), ainda mais em tempos de mobilidade ubíqua.
Os pontos acima elencados não são verdades absolutas e nem pretendem se constituir como tal. Mas são fundamentos advindos de nossa experiência concreta de pesquisa que vem se atualizando nos últimos anos, em diversos projetos do gpdoc – Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura do proped/uerj – Programa de Pós-Graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Neste número especial para o Jornal Hermes, apresentamos alguns dispositivos de pesquisa-formação na cibercultura vivenciados por membros e parceiros do GPDOC em suas práticas multirreferenciais de pesquisa .
Edméa Santos
Professora do PROPED-UERJ, Coordenadora do GPDOC- Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura. Embaixatriz do (In)FORMACCE. Página do grupo: www.docenciaonline.pro.br, Página do Proped: www.proped.pro.br, Email: edmeabaiana@gmail.com .
Referências:
ARDOINO, J. Abordagem multirreferencial (plural) das situações educativas e formativas. In: BARBOSA, J. (org.). Multirreferencialidade nas ciências e na educação. São Carlos: EdUFSCar, 1998, p. 24-41.
ARDOINO, J. Para uma pedagogia socialista. Brasília: Editora Plano, 2003.
JOSSO, M. C. Experiências de vida e formação. São Paulo: Cortez Editora, 2004.
MACEDO, R. S. Atos de currículo formação em ato? Para compreender, entretecer e problematizar currículo e formação. Ilhéus: Editus, 2011.
SANTOS, E.. Pesquisa-formação na cibercultura. White Editores. Santo Tirso-PT, 2014.