Currículo e formação no contexto das questões contemporâneas
Editorial Edição 3
Denise Guerra (UFBA)
Ana Verena Madeira (UFBA)
Currículo e formação no contexto das questões contemporâneas
Editorial Edição 3
Denise Guerra (UFBA)
Ana Verena Madeira (UFBA)
Esta terceira edição do Jornal Hermes, lançado durante o V (IN)FORMACCE, aborda currículo e formação no contexto das questões contemporâneas, assim como as inquietações sobre propostas curriculares globalizantes, homogeneizantes, unívocas; suas reverberações na formação e as formas de reexistência docente frente ao instituído. Destarte, os pesquisadores do FORMACCE, membros do Observatório de Currículo e Formação – ObFORMACCE, respondem a essa provocação explícita, apresentando textos produzidos nos âmbitos dos seus grupos de pesquisa, a partir de investigações que questionam, denunciam, projetam e criticam modelos e teorias curriculares que na prática educativa intercrítica assumem feições diferentes, instituintes devido aos “atos de currículo” (MACEDO, 2013).
Na seção Em Destaque, Antenor Rita Gomes e Laila Sampaio Lima nos presenteiam com o texto A Formação Crítica com as Imagens em que explicitam a Cultura Visual no espaço escolar. O autor e a autora discutem a pertinência da Cultura Visual para compreensão do mundo contemporâneo e potencializam a inserção das visualidades no espaço escolar. Segundo Antenor e Laila, “a imagem comporta vazios epistemológicos que, se preenchidos pela ação mediadora docente nos processos de produção de sentido, colaboram de modo definitivo para a formação crítica dos leitores”.
A seção Entre-Vistas mostra o vídeo Saberesfazeres docentes nascidos na interface escola-cidade-ciberespaço, reflexão sobre o vivido e o criadopensado nos contextos de ocupação e greve do Colégio Pedro II, coordenado por Edméa Santos. O vídeo pesquisa-formação, filmado a partir de uma roda de conversa com os sujeitos praticantes de uma pesquisa de doutorado, nos ajuda a refletir sobre formação e práticas em movimentos sociais no contexto da cibercultura.
A seção Escritos contempla sete textos. No primeiro, Corpo e currículo na educação física: reflexões a partir da abordagem multirreferencial/plural, Francisco Vieira de Oliveira e Joaquim Gonçalves Barbosa discutem a possibilidade de desenvolver uma ruptura instituinte sobre a concepção de corpo à luz das teorias curriculares no âmbito da educação física na educação básica, a partir de um olhar plural/multirreferencial.
Luciene Souza Santos e Maria Cláudia Silva do Carmo, com o texto Observatório de Contação de Histórias: a arte como forma de resistência, apresentam a potência de um Programa de Extensão materializado no Observatório de Contação de Histórias: dispositivo de resistência, criação, transgressão capaz de criar outros caminhos e lutar por agendas coletivas que priorizem a reinvenção de currículos outros com abertura para formações fundadas na existência.
Em tempos de políticas curriculares obscuras, a formação re-existe, Ana Verena Freitas Paim e André Luiz Brito Nascimento analisam os processos formativos como escape, ponto de fuga às políticas e propostas curriculares homogeneizadoras; aos projetos educacionais e de formação, pautados na lógica neoliberal das competências e habilidades, de avaliações em larga escala e de práticas sustentadas nos imperativos das redes e políticas transnacionais.
Em Proposição da abordagem crítico-colaborativa no território de pesquisas e estágio, Isaura Fontes, Jusceli Cardoso e Márcia Raimunda Silva argumentam sobre o contexto dos estágios curriculares obrigatórios de cursos de licenciatura, em que os projetos políticos pedagógicos assumem a formação pela pesquisa, os estudos apontam para práticas reflexivas, crítico-construtivista e pesquisas interventivas transformadoras da realidade social.
No texto Currículo e formação docente: questões em análise, José Augusto Pacheco e Ila Beatriz Maia partem da Teoria-ação Curricular Formacional, bem como da perspectiva de currículo como “conversação complexa e deliberativa”, para argumentar que: i) a formação docente é uma das temáticas inerentes aos Estudos Curriculares; ii) a globalização das políticas educacionais cria situações críticas no trabalho docente e iii) a cultura de accountability (prestação de contas) induz os docentes a um processo de alinhamento curricular, em função de uma abordagem de competências, repensada globalmente pela OCDE (2018).
No texto Currículo e formação de professores: algumas notas… José Carlos Morgado, a partir do questionamento sobre processos formativos que pouco contribuem para transformar a ação pedagógica ou aprofundar a autonomia curricular, indica a necessidade de mudanças relativas à própria condição docente. Enfatiza implementação de um Currículo Cosmopolita ao nível da formação de professores e a importância destes se assumirem como uma referência cosmopolita, além de cultural, moral e pedagógica.
Em Percepções sensibilizadoras sobre o Currículo de Educação Infantil, Ana Paula Silva da Conceição discute o currículo da educação infantil posicionando-se em favor de um “Currículo Brincante”, produzido na interação educacional das crianças e professoras/es ao trabalhar com os mais variados materiais – os objetos de estudo que incluem diversos elementos da vida das crianças ou experiências de outros grupos e de outras culturas que são trazidas para o interior da creche e da pré-escola.
Na seção Cotidianos da/na escola, somos brindados com dois textos de cunho implicacional. Religando saberes: aprendizagens e formação como potências projetivas é o texto de Sílvia Michele Macedo de Sá. A autora apresenta o conceito de etnoaprendizagem, como elemento contributivo para nos aproximarmos do pensamento antropoeducacional na construção de “uma nova aliança entre a cultura científica e a cultura humanística, para um novo espírito educacional”.
No texto Cultura escolar e as Diversidades do seu Contexto, Elisete Santana da Cruz França apresenta o relato de professoras de uma escola do ensino médio de Salvador sobre as questões da sexualidade e da diversidade sexual. Para a autora, a escola tem papel relevante na “constituição e definição de papéis identitários que cada sujeito deve desempenhar na sociedade”.
Esperamos que nossos leitores possam saborear intimamente e coletivamente cada texto e que o conjunto das interpretações e análises contribua para provocar, problematizar e alterar a atuação curriculante nos seus contextos de vida pessoal e profissional. Agradecemos aos pesquisadores pela dedicação e entusiasmo em compor essa terceira edição do Hermes, vocês produziram encantamentos!