Exposição “Mel de Cabaú” de Samir Tuffy

Uma vez por ano, na segunda semana de outubro, pode-se observar uma movimentação diferente no município de Laranjeiras, em Sergipe. É o encontro de todos os Brasis. O Brasil colonial se funde com o Brasil atual. O Brasil indígena, negro e de economia escravocrata ressurge na encenação de uma batalha histórica, transportada como mágica para os tempos atuais. Afinal, a História precisa ser conhecida e constantemente lembrada.

Estudantes e trabalhadores encarnam os protagonistas da batalha. Senhoras e senhores, crianças e adultos de todas as idades e ocupações transformam-se em reis e rainhas, negros e indígenas brincantes ao som dos maracatus. A contenda dos Lambe-sujos contra os Caboclinhos atrai diversos visitantes e pesquisadores do mundo todo para o município, conhecido por ser um polo da cultura sergipana. A batalha mágica é uma encenação de um fato histórico doloroso. Representa as investidas que os caboclinhos, representados pelos indígenas, faziam aos quilombos a mando dos capitães do mato dos diversos engenhos que localizavam-se na região, a fim de sequestrar e aprisionar os escravizados negros que haviam fugido. Como os indígenas conheciam o local melhor do que ninguém, eram convocados para a empreitada. Em troca, poderiam ficar com os bens materiais que encontrassem nos quilombos.

Os lambe-sujos representam os negros. Seus corpos são pintados com tinta do mel de cabaú, proveniente da cana-de-açúcar. Suas vestimentas são compostas por calções e gorros vermelhos e as armas que usam na batalha são as foices de madeira, que representam o instrumento de trabalho utilizado nos canaviais. Os caboclinhos pintam o corpo com tinta xadrez vermelha, usam cocares, saias feitas de pena e adornam o corpo com pulseiras e colares. Suas armas são o arco e as flechas.

As imagens que compõem "Mel de Cabaú" apresentam fragmentos dos lambe-sujos. A batalha completa será apresentada na exposição "Samba Nêgo, Lambe-sujos e Caboclinhos".

Samir Tuffy

Baiano de Jacobina, Chapada Diamantina, Samir Tuffy é Graduado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal de Sergipe.Iniciou na dramaturgia ainda criança e deste então é apaixonado pelas artes, principalmente a sétima. No teatro roteirizou e dirigiu diversos espetáculos como "Amélia, lugar de mulher é em todo lugar", "Menino de Engenho", adaptação de José Lins do Rego, "Memórias Póstumas de Brás Cubas", adaptação de Machado de Assis, “O Auto da Compadecida”, adaptação de Ariano Suassuna, entre outros. - No cinema, atuou em diversos projetos como o longa-metragem Terra Payayá, os curtas-metragens Vida Social, Os Gritos da Rua Barão e o premiado Amigo Anônimo.Roteirizou e dirigiu o curta-metragem Caboclo Sonhador, ambientado em Alagoas, Sergipe e no alto sertão baiano e o webdocumentário A Simplicidade Como Antídoto Natural, que relata a vida dos idosos durante a pandemia na região nordeste do Rio Grande do Sul.Atualmente trabalha com cinema, direção de arte e fotografia intuitiva.
E-mail: samirtuffy@gmail.comInstagram: samirtuffy