Exposição "Olhares sobre a retomada Konhun Mág: Os Kaingang recuperam a Floresta de Canela" - Coletivo com curadoria de Guilherme Maffei

Contra a noção do senso comum, existem e resistem os povos indígenas no sul do que se chama hoje de Brasil, inclusive na região da Serra Gaúcha, conhecida por sua identidade auto-proclamada “européia”.

A etnia Kaingang é uma das mais populosas no território do estado brasileiro, seu território tradicional se espalha do Rio Grande do Sul até São Paulo. Seu nome quer dizer "povo da floresta", e apesar de séculos de colonização eles ainda guardam uma relação profunda com as florestas das araucárias (fág), que consideram serem seus ancestrais. Não sendo necessário explicar, pesquisas já revelaram que a expansão da araucária foi obra humana, dos ancestrais desse povo.

Nessa região, viveram até o fim do século XIX nas florestas e campos do que hoje são as cidades de Canela e Caxias do Sul, até que foram foram expulsos violentamente para abrir espaço para a colonização européia. Os descendentes dos bravos caciques que resistiram à colonização nessa região não esqueceram sua história. Apesar de parecerem “invisíveis”, vendendo seus artesanatos nas ruas das cidades, nunca deixaram de circular por esses espaços onde seus antepassados viveram de acordo com o Kanhgág Jykré – o modo de ser Kaingang.

Há dez anos um grupo busca retomar a conexão com a floresta no município de Canela, em uma área de preservação e educação ambiental que pertence à união, conhecida como FLONA de Canela. Nesse espaço, eles planejam recuperar a relação profunda com a floresta e alguns rituais antigos de conexão com os ancestrais, como o kiki. A escolha desse local não é à toa, porque ali, na nascente dos arroios Tiririca e Caçador, o cacique Nivé, conhecido entre os não-indígenas (fóg) como João Grande, tinha sua principal aldeia.

O jovem cacique, Maurício Salvador, conta com a bênção dos kujãs (lideranças político- espirituais) para recuperar esse território ancestral, que tem importância não apenas na sobrevivência dos Kaingang, mas na continuidade de sua cultura e preservação de sua história na conexão com os ancestrais que estão nessa terra. Recentemente o grupo conta com o apoio de um grupo técnico de estudantes e pesquisadores, ligados à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que realizou pesquisas e escreveu um documento para dar embasamento para a retomada. No contato entre pesquisadores e Kaingangs, nasceu essa exposição.

Todas as fotos apresentadas aqui foram feitas em diferentes momentos de encontros entre os Kaingang e os fóg (não indígena) entre o final de 2019 e início de 2020, e são fruto de um trabalho que sempre foi coletivo e colaborativo.

Fotografias: Lucas Icó, Jean Jacques Flach, Clementine Maréchal, Juliano Belém, Guilherme Maffei, Bruno Pedrotti.

Coletivo: Grupo técnico multidisciplinar de apoio à retomada Kaingang Konhun Mág em Canela – RS, ligado ao Núcleo de Antropologia das Sociedades Indígenas e Tradicionais (NIT-UFRGS) e ao Laboratório de Arqueologia e Etnologia (LAE-UFRGS), à Biblioteca de Psicologia da UFRGS, ao Coletivo Catarse e canal Observatório Indigenista, e parceiros independentes.

Guilherme Maffei e Coletivo

Curador: Guilherme Maffei é formado em história pela UFRGS, artista gráfico, educador e pesquisador de história indígena na Serra Gaúcha.
Coletivo: Grupo técnico multidisciplinar de apoio à retomada Kaingang Konhun Mág em Canela – RS, ligado ao Núcleo de Antropologia das Sociedades Indígenas e Tradicionais (NIT-UFRGS) e ao Laboratório de Arqueologia e Etnologia (LAE-UFRGS), à Biblioteca de Psicologia da UFRGS e pelo canal Observatório Indigenista, e parceiros independentes.
Agradecimento especial: Coletivo Catarse, Maurício Salvador, Alcir, Iracema Nascimento, Marcelo Freire, João Maurício e Celvio Casal.
Instagram: @kaingangcanela Facebook: Retomada Kaingang Canela