Exposição “A nós cabe o sopro” de Cristie Boff com curadoria de Rochele Zandavalli

Colaboração do fotógrafo Vicente Carcuchinski nos registro de performance realizados no BR.

A pesquisa de Cristie Boff partiu de experiências pictóricas abstratas e gestuais que engendravam em seus processos questões relativas à intuição, expansão e existência, sendo esta última camada elevada a título de sua última exposição no Centro Histórico Cultural Santa Casa, em Porto Alegre.

Tais elementos foram motivadores para ultrapassar os limites da tela, buscando na espacialização e nas possibilidades de manipulação das peças, o contato com o infinito. A observação e depuração de determinadas potencialidades de obras anteriores, levam à novas investidas que são espécies de desdobramentos geracionais. Uma leveza perpassa toda a linguagem e isso pode ser notado na temática, composição, paleta cromática, e principalmente, na escolha de seu processo e na atmosfera dos resultados. O uso de material efêmero e maleável como o sabão (glicerina), a partir de um molde pré-fabricado - as luvas - parece simbolizar um desapego, até mesmo em relação a valores tradicionalmente associados ao fazer artístico.

Cristie opta aqui por extrair vivência da matéria. A artista traça um caminho que parte da imanência, mas busca elevar-se à transcendência através da participação do outro. O público é parte constituinte do trabalho que se desdobra a cada novo projeto, de forma a incorporar os resultados dessa participação. Os registros de ações performáticas, as interações com os objetos no atelier na Itália e no Brasil, foram incluídos nesse novo projeto no intuito de o constituírem, exibidos pela primeira vez, formando conjuntos, sequências e dípticos. Na mostra Existência, apresentada no CHC, a provocação “Favor, tocar” instigava o público a manusear as peças expostas, numa abordagem metafísica e fenomenológica, questionadora de um mundo que rumava para a perda da noção de coletividade e para o afastamento anestesiante. Tal preocupação nos parece agora até mesmo premonitória. As mãos que queríamos vivas precisaram estar afastadas e viraram símbolo de contágio e, porque não dizer, de perigo. O tensionamento entre vida e morte trouxe densidade à simbologia envolvida nesta pesquisa. Mãos são atributos ancestrais do contato entre a humanidade e o mundo, e fortificam-se dentro da trajetória da artista, atualizando-se nesse momento histórico como emblemas de resistência, união, afeto, proteção e cura. Para a 13ª Semana da Fotografia são apresentadas imagens de registros de performances, muitas delas inéditas, a videoarte “A nós cabe o sopro”, que intitula a exposição, e uma segunda videoarte, esta especialmente realizada para a mostra, na qual a artista performa o ato de lavar as mãos. Essas obras reafirmam as insígnias de proteção, cuidado e cura já citadas e presentes na obra de Cristie.

Rochele Zandavalli - Curadora

FICHA TÉCNICA
Cristie Boff – artista/fotógrafaVicente Carcuchinski – fotógrafo (registro de performance)Rochele Zandavalli – curadoraGenuinaobra – produção executiva

Cristie Boff

Cristie Boff nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil (1976). Após realizar curso de desenho e pintura na Academia Italiana de Florença/IT em 1997, aprofundou conhecimentos em pintura a óleo a partir de 1999, técnica de preferência em sua produção pictórica, embora tenha se iniciado academicamente com séries completas em aquarela sobre tela, em meados de 2009. Em 2015 formou-se pela Academia de Belas Artes de Florença. Já expôs na Itália – Espaço Cultural Fiesole, Academia di Belle Arti di Firenze, Espaço Zoe e no Brasil, em ”Paisagens em Dois Tons”, curadoria de Ana Zavadil, ocorrida no MACRS, em Porto Alegre, RS, novembro de 2017 e na Galeria do CHC Santa Casa, em Porto Alegre, na exposição “Existência”, curadoria de Rochele Zandavalli, em novembro de 2019. Tem obras em acervos particulares em Porto Alegre, Caxias do Sul, Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo e Florença. O trabalho em pintura de Cristie consiste em utilizar uma técnica particular e acima de tudo, um material incomum: cola de coelho, que a artista mesmo prepara sobre o avesso da tela de algodão. Quando uma tela é tratada dessa maneira, no momento da pintura, resultarão pequenas imperfeições, manchas aleatórias de “não-pintura”, que comunica os sinais do tempo, balizados pela linha (do horizonte) e pelas cores que surgem nesse limite entre céu, mar ou terra. Cor e linha são características fundamentais presentes nas paisagens que Cristie produz. Na fotografia registra há quase uma década, pessoas manipulando objetos por ela criados com glicerina. A iniciativa deu espaço para a pesquisa atual que resulta em instalação, registros de performance e vídeos.
Email: cristie@cristieboff.comInstagram: @cristieboff