Você já ouviu falar sobre a revolução industrial, não é mesmo? Ela proporcionou mudanças intensas na sociedade da época. Tão intensas que permanecem até os dias de hoje. Para relembrar, a sociedade do século XVIII e XIX era, essencialmente, moldada por uma economia agrária e artesã.
A mecanização do processo de produção, ou seja, a utilização de máquinas para produzir roupas, os teares mecânicos, foi o pontapé inicial na mudança cultural e social daquele período, que ficou conhecido como revolução industrial.
Depois disso, as máquinas passaram a ser movidas por energia a vapor e, com isso, promoveu-se uma nova transformação na economia, que, por sua vez, ficou conhecida como a segunda revolução industrial.
Justamente nesse período, principalmente, no final do século XIX, as teorias da administração, como conhecemos hoje, começam a aparecer. Grandes indústrias são criadas, milhares de pessoas passam a trabalhar nas indústrias e empresas e, desse modo, muitos desafios de gestão passam a fazer parte da rotina das organizações. Surgem, assim, os principais estudiosos da Administração.
Taylor e Ford são os principais estudiosos desse período e criam teorias que ficaram conhecidas como Teorias da Administração Científica, pelo fato de utilizarem as metodologias das ciências exatas na criação das formas de organização dos processos de produção das fábricas.
Nesta lição, vamos estudar esses dois personagens que transformaram, literalmente, a maneira de administrar as fábricas e seus processos de produção. Suas contribuições para as indústrias são utilizadas, ainda, hoje. Taylor, por criar sua metodologia de tempos e movimentos, e Ford, por inovar com a linha de montagem em série.
Basta você visitar qualquer fábrica, por mais simples que ela seja, o processo de produção utilizado será semelhante ao que foi desenvolvido por Taylor e Ford. Por isso, é, extremamente, importante conhecermos essas importantes personalidades para a administração, vamos lá?
Vamos fazer uma viagem no tempo, estamos no final do século XIX (dois séculos atrás), por volta de 1890. A segunda revolução industrial está a pleno vapor, literalmente. As fábricas são gigantes, empregam milhares de pessoas.
O mundo está se modernizando. Aço e carvão são os principais produtos que movimentam a economia. O petróleo começa a ser utilizado em grande escala, promovendo mais uma mudança significativa no mundo. As pessoas mudavam para as cidades em busca de emprego nas fábricas.
A qualidade de vida, porém, era precária. As jornadas de trabalho eram intensas, cerca de 14h diárias e salários muito baixos. Crianças e idosos desempenhavam o mesmo emprego que os adultos. As pessoas se matavam de trabalhar, literalmente.
Muita falta de trabalhadores, devido a doenças de todos os tipos. Ambientes de trabalho nocivos. Chefes brutos que utilizavam, muitas vezes, de todo tipo de violência contra os trabalhadores. Foram dias duros. Isso prejudicava a qualidade dos produtos que eram fabricados e a qualidade de vida dos funcionários.
Diante dessas dificuldades, como os administradores poderiam tornar o trabalho, além de mais produtivo e eficiente, menos insatisfatório para os funcionários? Como as teorias da administração poderiam auxiliar nesse processo?
Taylor e Ford foram importantes pensadores, que colaboraram com teorias que ajudaram as indústrias, naquele momento, mas também revolucionaram toda a história, tendo em vista que, até hoje, utilizamos seus métodos. Por isso, nesta lição, vamos descobrir quais foram as colaborações desses importantes pensadores.
Taylor transformou a maneira de se administrar empresas, atuando fortemente na produção das indústrias. Por causa disso, algumas pessoas costumam questionar se os princípios da administração científica poderiam ser utilizados em outras áreas da administração.
Bem, não só podem como são. Veja o caso da Teleperformance CRM S/A (MUSSA, 2006), uma das maiores empresas do mundo no ramo de call center (call centers são empresas especializadas em atendimento ao usuário via ligação telefônica; elas servem para resolver problemas ou venda de produtos).
Uma das implementações de Taylor foi a técnica de estudar o tempo e os movimentos realizados pelos operários, buscando identificar melhores práticas de trabalho. Dessa forma, o operário realizaria o mínimo de movimento possível e da maneira correta, a fim de aumentar a velocidade de produção, além de proteger possíveis lesões, ou seja, evitar que o funcionário se machuque durante o trabalho.
Em uma linha de montagem, isso faz sentido, mas em uma empresa de call center? Bem, a Teleperformance aderiu a essa técnica e realiza, hoje, estudos de tempo e movimento constantemente, a fim de conseguir suportar o alto volume de chamadas, maximizar a velocidade de atendimento e minimizar os custos das atividades.
Para isso, ela conta com o auxílio de um software chamado CMS que calcula o volume médio de ligações, controla o tempo médio de atendimento, o tempo de espera para o cliente ser atendido, tempo de conexão e quantidade de chamadas não atendidas.
Além disso, a empresa, também, tem um outro software que contabiliza o tempo de trabalho do funcionário, desde o momento em que ele se conecta no sistema de ligações até o encerramento de sua jornada, contabilizando inclusive suas pausas, ao longo do dia, além de atrasos e faltas.
Com essas informações, é possível monitorar a qualidade do trabalho realizado, assim como a assiduidade do funcionário, permitindo descontar do salário uma quantia em relação aos atrasos e faltas e, também, premiar, financeiramente, aqueles que se destacam em suas atividades. Isso é, justamente, o que Taylor recomendou: utilizar os estudos de tempos e movimentos para poder criar parâmetros para premiar os funcionários por produção.
Quanto mais é possível trabalhar e produzir, sem problemas, mais é possível lucrar. Portanto, se você, ainda, tinha dúvidas se os princípios da administração científica podem ser utilizados em qualquer tipo de empresa, está aí uma aplicação real de parte dessa teoria.
Como vimos, a revolução industrial foi o movimento precursor das teorias da administração. É a partir dela que a sociedade passa a viver um turbilhão de transformações econômicas, políticas, sociais e culturais. Grandes indústrias foram construídas. O mundo era movido pelo aço e pelo carvão. A energia a vapor movimentava as máquinas. A energia elétrica e o petróleo mostravam que seriam o substituto da energia a vapor. O futuro havia chegado para a sociedade naquele momento.
Apesar de todos esses avanços, a qualidade de vida no trabalho era horrível. As pessoas tinham jornadas que poderiam chegar a 16 horas diárias com quase nenhum intervalo. Não haviam critérios para contratação de mão de obra, trabalhavam crianças, idosos e adultos, em todo tipo de tarefa.
As pessoas morriam, literalmente, de tanto trabalhar. As perdas na produção das indústrias eram elevadas, e isso gerava custos de retrabalho. Nesse cenário inóspito (nada ideal), as primeiras teorias da administração aparecem. E um dos primeiros estudiosos, Frederick Taylor (1856 - 1915), ficou conhecido como o pai da administração científica.
Tendo em vista todos esses problemas enfrentados pelas indústrias, Taylor, um engenheiro de formação, passou a observar a maneira como os funcionários trabalhavam, e percebeu que poderia melhorar o desempenho deles, aplicando algumas modificações nos movimentos executados e no tempo de produção.
Com isso, Taylor promoveu uma significativa mudança no comportamento dos trabalhadores. Instituiu uma série de mudanças no processo de produção, como a divisão do trabalho entre os funcionários de maneira que cada um ficasse responsável por realizar, apenas, tarefas específicas.
Aumentou o salário, introduzindo o ganho por produtividade, ou seja, quanto mais o funcionário produzisse, mais dinheiro ele ganharia. Passou, também, a selecionar os funcionários conforme critérios de aptidão para cada tipo de tarefa, entre outras inovações.
Taylor era engenheiro e, por ter essa formação, valeu-se dos preceitos das ciências exatas para estudar melhores práticas de administração nas indústrias onde trabalhou.
Lembre-se que o mundo está saindo da Idade Média e entrando na Idade Moderna. Então, a maioria das empresas eram comércios familiares ou produtores locais, que fabricavam seus produtos de maneira artesanal. Mas a revolução industrial mudou isso, como vimos anteriormente.
Assim, a maioria dos problemas de gestão ocorriam nas indústrias, porque eram as maiores empresas e as que mais empregavam. Essa informação é muito importante, porque explica o fato do foco dos problemas a serem resolvidos estarem na linha de produção ou, também, conhecido como chão de fábrica, que é onde os operários trabalham.
Taylor observava, atentamente, a maneira como os trabalhadores conduziam suas tarefas, e isso o deixava bastante incomodado. Para ele, o problema da má qualidade do trabalho era consequência de alguns fatores, um deles era o que ele chamava de vadiagem sistemática, ou seja, para Taylor os operários eram pessoas preguiçosas por natureza e só trabalhariam adequadamente se recebessem incentivos financeiros, o que ficou caracterizado como homo economicus, que significa pessoas que só trabalham por dinheiro.
Além disso, Taylor também questionava a rigidez com que os supervisores tratavam os funcionários, esse excesso de punições e castigos ajudavam a desmotivar as pessoas, gerando sentimento de raiva e fazendo com que a qualidade do trabalho fosse prejudicada. Por isso, Taylor preconizava por uma atmosfera de trabalho mais cordial em que deveria existir real cooperação entre os trabalhadores e o pessoal da administração para criar um ambiente de trabalho mais ameno.
Outro ponto que incomodava Taylor referia-se às contratações sem critério nenhum. Para ele, isso não fazia sentido; então, instituiu a seleção científica dos trabalhadores, de maneira que os candidatos fossem contratados pelo perfil e tipo de tarefa a ser executada, devendo ser compatíveis. E, após a contratação, deveriam passar por treinamento.
Uma inovação para aquele tempo e que caracterizou a gestão, até os dias atuais, foi a análise do trabalho e o estudo dos tempos e movimentos, que você conheceu no case. Taylor passou a estudar as tarefas para pensar em melhores movimentos, que gastassem menos tempo na produção e que pudessem preservar os funcionários de lesões.
Taylor chamou essas mudanças de Organização Racional do Trabalho (ORT), que segundo Albuquerque (2021) são:
Análise do trabalho e estudo dos tempos e movimentos.
Estudo da fadiga humana.
Divisão do trabalho e especialização do operário.
Desenho de cargos e tarefas.
Incentivos salariais e prêmios de produção.
Conceito de “homo economicus”.
Condições ambientais de trabalho.
Padronização de métodos e de máquinas.
Supervisão funcional.
Henry Ford (1863-1947), também, proporcionou muitas mudanças que permanecem até hoje. Mas, sem dúvida, mudar o processo de fabricação de carros, inserindo a fabricação pela linha de montagem em série foi uma de suas melhores contribuições. Nela, o trabalhador permanecia em uma posição fixa e a carroceria dos carros vinham em uma esteira, em linha reta e em movimento lento, de maneira que o operário pudesse montar as peças sem ter que parar o movimento da linha de montagem.
Para você ter uma ideia, antes da linha de montagem em série, a fábrica da Ford demorava cerca de 12 horas para montar um carro. Com a mudança para a linha de montagem em série, um carro passou a demorar 90 minutos para ser montado. Um ganho de produtividade gigantesco. Não é à toa que essa maneira de produção é utilizada ainda hoje, na maioria das indústrias espalhadas pelo mundo todo, em diversos tipos de segmentos.
Ford é o criador de uma das maiores indústrias de automóveis do mundo em funcionamento, ainda, hoje. Como mencionei, sua contribuição mais conhecida é a linha de montagem, na qual os carros a serem montados seguiam por uma linha móvel; e o operário era dividido em especializações e responsável pela montagem de, apenas, uma determinada parte do carro.
Além disso, Ford também contribuiu com mudanças administrativas, valendo-se de três princípios: da produtividade, da intensificação e da economicidade que, segundo Albuquerque (2021, p. 59), significavam:
O princípio da produtividade recomenda o máximo de produção dentro de um período determinado (com distribuição do ganho para o empregador, para o empregado e para o consumidor, pela redução de custos que se transforma em redução de preços).
O princípio da intensificação consiste em aumentar a velocidade rotatória do capital circulante, visando pouca imobilização dele e grande rapidez em sua recuperação (o capital de giro é obtido dos próprios consumidores).
O princípio da economicidade refere-se a reduzir ao mínimo o volume de matéria-prima em curso de transformação (uma vez que o “tempo é a expressão da energia humana e o estoque representa trabalho humano armazenado”).
Outra contribuição de Ford se deu na premissa de produção em massa para conseguir diminuir os custos de produção e poder vender os seus carros a preços baixos e ganhar dinheiro no volume de vendas. Com isso, ele conseguiu pagar bons salários para os seus funcionários. Ford, também, foi o primeiro a criar a jornada de trabalho de 8 horas e fazer três turnos de modo que sua fábrica funcionasse 24 horas por dia.
Mas nem tudo eram flores, mesmo com todas essas inovações e significativas mudanças para os trabalhadores daquela época bem como as melhorias na produção, outros tipos de problemas surgiram, por isso, Taylor e seus seguidores foram alvos de críticas. Uma delas era o fato de a administração científica lidar somente com aspectos mecânicos da administração, deixando de lado questões humanas.
Além disso, o excesso de mecanização contribuiu para desestimular a iniciativa do indivíduo, tornando o ser humano “mecanizado”. Também, aumentou o esgotamento físico do trabalhador, uma vez que ele precisava trabalhar mais do que o previsto para garantir um aumento no seu pagamento.
De qualquer forma, é preciso admitir que Taylor e Ford proporcionaram muito mais melhorias do que problemas para a produção das empresas, e grande parte dessas mudanças é utilizada, ainda, hoje, pela maioria das empresas, senão por todas elas.
Uma pequena confecção estava passando por diversos problemas, não conseguia atender às suas demandas. As roupas que eram costuradas apresentavam muitos problemas e precisavam ser desmanchadas e costuradas novamente, gerando prejuízo para a empresa.
As funcionárias faltavam muito ao trabalho, alegando estarem doentes, com muitas dores no corpo. Elas, também, mostravam-se bastante desanimadas, porque o supervisor era uma pessoa que mais atrapalhava do que ajudava, brigando e sendo rude a todo momento. Além de tudo isso, a reclamação pelos baixos salários era geral.
Imagine que, para resolver o problema, você foi contratado como consultor. O seu trabalho já era conhecido e sua forma de agir seguia os princípios de Taylor.
A primeira coisa, então, que você fez: passar três dias acompanhando o trabalho das funcionárias. Em sua observação, você estava atento(a) ao tempo que cada peça era costurada e à quantidade de erros que aconteciam. Também, pôde presenciar a maneira rude do supervisor.
Após esse período de análise, você pôde constatar que muitas funcionárias erravam na costura, porque não sabiam como costurar. Além disso, a maneira como elas estavam sentadas e sua postura na máquina de costura não tinham nenhum critério ergonômico, isso fazia com que as costureiras tivessem muitas dores ao final do dia.
Além disso, como tinham apenas um intervalo por dia, com o passar das horas, o trabalho ia perdendo eficiência e os erros aumentando. Para resolver os problemas, a primeira atitude foi promover treinamentos para as costureiras e para o supervisor. No caso das costureiras, os cursos oferecidos tinham como objetivo ensinar maneiras adequadas para costurar e postura corporal durante o trabalho.
Já para o supervisor, os treinamentos tinham o objetivo de ensiná-lo a ser mais gentil e compreensivo com as funcionárias. Você, também, definiu um intervalo pela manhã, outro no meio da tarde. Neste intervalo, as costureiras faziam alguns minutos de alongamentos e exercícios.
Para resolver o problema dos baixos salários, foi implementado um bônus salarial por produção; assim, quanto mais as costureiras produzissem, maior seria o bônus, o que ajudaria a complementar o salário. Também, foi estabelecido um adicional salarial por perdas. Quanto menos roupas com defeitos fossem costuradas, mais dinheiro elas poderiam ganhar.
Com o passar do tempo, essas ações se mostraram eficientes, e a maioria dos problemas ficou no passado. Viu só como a sua atuação colaborou para o aprimoramento da empresa? Agora que você já ajudou em um caso fictício, que tal pensar em alguma empresa real, que você conhece e que poderia melhorar a partir da prática dos aprendizados de hoje? O desafio é elaborar um plano de ação!
ALBUQUERQUE, R. A. L. Teorias da Administração. Maringá: UniCesumar, 2021.
MUSSA, A. TROVÃO, R. Técnicas da Administração Científica: um estudo de caso em uma empresa do setor de call center. In: SEGET – SIMPÓSIO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO E TECNOLOGIA, 3., 2006, Seropédica. Anais [...]. Seropédica: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2006.