Vamos refletir! Pense em sua casa: se, por algum motivo, um cano entupir, uma porta quebrar, ou algum outro item parar de funcionar, qual impacto disso para a casa toda? Você perceberá que, quanto mais próximo do problema, mais o local será afetado. Mas, conforme você vai se afastando, perceberá que, no final, a casa toda sofre com aquele item que estragou.
Agora, pense em sua rua: quando alguma casa entra em reforma ou construção, quanto mais próximo você estiver, mais afetado será com o barulho, a sujeira, as trincas etc. Ao se afastar, o impacto vai diminuindo. Esta analogia serve para as organizações.
Quando você abre uma empresa, ela passa a fazer parte de um contexto ambiental, ou seja, sua organização, agora, está em um ambiente que, ao sofrer algum tipo de mudança, irá lhe afetar de maneira direta ou indireta, mas afetará. Tudo o que acontece no mundo tem influência em seu negócio, por menor que ele seja. Essa influência acontecerá e poderá ser boa ou ruim. A questão, aqui, é ter consciência disso e estar preparado(a) para o que acontecer, e existem diversas técnicas e ferramentas que podem ajudá-lo(a) no seu dia a dia. Apenas lembre-se: tudo o que acontece no ambiente afeta tudo e todos. Um bom exemplo disso é a Pandemia da covid-19.
Os impactos causados pela pandemia afetaram todos, em todo lugar, no entanto algumas pessoas foram mais afetadas do que outras. Várias empresas quebraram (impacto negativo), outras empresas ganharam muito mais dinheiro (impacto positivo). Algumas pessoas não pegaram a doença (impacto positivo), outras adoeceram (impacto negativo). De qualquer forma, cada indivíduo, cada empresa, cada organização sofreu impacto de maneira diferente, mas todos foram impactados. De um jeito ou de outro, todo mundo sofreu. Isso resume o que vem a ser o ambiente organizacional, tema desta lição. Portanto, o objetivo da presente lição é estudar o impacto do ambiente nas organizações de um modo geral.
Eu conheço dois filmes muito bons que trazem uma explicação divertida sobre o impacto do ambiente nas organizações. Na verdade, eles tratam da teoria do caos com uma famosa metáfora do bater das asas de uma borboleta. No filme “O efeito borboleta”, logo no início, é apresentada a frase: “o bater de asas de uma borboleta poderia provocar um tufão do outro lado do mundo”.
Já, no filme Jurassic Park, o personagem Ian Malcolm, representando um matemático especialista em teoria do caos, afirma que o parque se tornaria imprevisível, em função da impossibilidade de se controlar o ambiente da ilha onde o parque foi construído, simplesmente porque os cientistas inseriram espécimes estranhas ao ecossistema local, que, no caso, eram os dinossauros.
Aí eu lhe pergunto: será que todo empreendedor que abre o seu negócio tem ideia do impacto que causará no ambiente? Assim como no filme, um pequeno negócio pode afetar, significativamente, o ambiente organizacional, de uma maneira impactante. A Netflix é um exemplo disso. Uma pequena empresa de aluguel de DVDs não só derrubou a maior videolocadora do mundo, como modificou para sempre o comportamento das pessoas em assistir a filmes e séries, como transformou todo o mercado de entretenimento, afetando, inclusive, as corporações mundiais de mídia, como as televisões abertas.
Hoje, você pode pensar assim: “ah, mas você está falando da Netflix”. Exatamente! Estou falando de uma empresa que, quando iniciou suas atividades, era insignificante, que chegou a ter uma dívida de 50 milhões de dólares, ofereceu-se para ser vendida, ninguém quis comprar e ainda foi desdenhada pelo mercado. Mas, com o passar do tempo, encontrou o seu lugar no mercado, inovou seus processos e tomou posse do mercado mundial de entretenimento de mídia. Quando um negócio inicia, é muito difícil saber o impacto que ele causará, por isso, a importância de estar atento a tudo o que acontece ao seu redor.
Imagine se a Netflix não estivesse atenta às possibilidades de inovação, estivesse desconectada do meio, o que teria acontecido? Você acredita que organizações ultrapassadas conseguem se manter no mercado? O que você pensa sobre isso? Que tal aprofundar mais este entendimento para elaborar uma opinião relevante à sua futura carreira profissional? Então, vamos lá!
Temos muitos exemplos de situações que impactam o ambiente organizacional, mas, neste momento, falarei com você a respeito de empresas ou de novos negócios que impactaram de maneira significativa o ambiente a ponto de transformá-lo. Muitas empresas fizeram isso com a utilização da tecnologia. Acredito que os negócios mais relevantes nesse sentido são: Uber, Airbnb, Netflix e por aí vai. No entanto, tenho certeza de que a Netflix pode ser utilizada como o melhor exemplo simplesmente por ela ter, literalmente, eliminado uma área mercadológica que foi sucesso no período de 1980 a 1990 do século passado - as locadoras de vídeo – além de ter transformado uma cultura voltada ao entretenimento de mídia, transformando por completo não só a tecnologia, mas o comportamento das pessoas na forma como se assistia a filmes, principalmente a séries com suas maratonas.
Pergunte aos seus pais se eles tinham videocassete em casa, ou se chegaram a assistir a filmes em fitas VHS, que eram alugadas em uma videolocadora. Eles, provavelmente, lhe contarão sobre como funcionavam as multas por atraso na entrega, ou por não rebobinar a fita na hora da devolução.
O início desta transformação promovida pela Netflix começa no final do século passado, no ano de 1997 quando Reed Hasting e Marc Randolph criam uma empresa que permite a locação e a devolução de DVDs utilizando o correio. Uma ideia muito simples. A pessoa acessa um catálogo online e escolhe o DVD do filme que será enviado pelo correio. Quando chegar o dia de devolver o DVD, a empresa enviava um funcionário até a sua casa para receber a devolução do DVD alugado e, se você quisesse, já poderia deixar o próximo que gostaria de assistir.
Foram dois anos de trabalho para que, em 1999, o sistema fizesse sucesso com um modelo de cobrança de assinatura por mês. Ou seja, por um valor fixo, você poderia alugar quantos filmes desejasse sem ter a preocupação de mais nada. Veja só, você, consumidor, não precisaria mais ir até a locadora para escolher o filme ou devolvê-lo, e, além disso, por um valor único, assistia a quantos filmes quisesse, o que não acontecia anteriormente, já que a locação cobrava um valor por filme selecionado.
O tempo foi passando e, no ano de 2007, a Netflix começou a disponibilizar o seu conteúdo de filmes em DVD, no site, com a possibilidade de assistir via streaming, uma tecnologia inovadora que possibilita a transmissão de vídeo pela internet. A partir de então, os assinantes passaram a acessar seus filmes e suas séries prediletos 24h por dia, sete dias por semana.
Esta mudança em sua maneira de fazer negócio coloca a Netflix no centro das atenções e acende um sinal de alerta no mercado, mas já era tarde. O impacto que essa mudança proporcionou no ambiente organizacional das empresas de vídeo locação foi definitivo. Nos dias atuais, a Netflix concentra em sua carteira de clientes mais de 200 milhões de assinantes no mundo todo e não dá sinais de que perderá sua posição de líder nesse negócio de bilhões de dólares tão cedo.
As organizações têm como característica serem um sistema aberto, ou seja, assim como elas sofrem influência do ambiente no qual estão inseridas, também influenciarão esse ambiente. Silva (2008, p. 44-45) explica que:
As organizações como sistemas abertos, os quais tomam entradas do ambiente (saídas de outros sistemas) e, por meio de uma série de atividades, transformam ou convertem estas entradas em saídas (entradas em outros sistemas) para alcançar algum objetivo. Todas as organizações precisam de objetivos claros, os quais vão determinar a natureza das entradas, a série de atividades para alcançar as saídas e a realização de metas organizacionais. O feedback sobre o desempenho do sistema e os efeitos das operações sobre o ambiente são medidos em termos de consecução dos objetivos e intenções.
Independentemente do tipo de organização, transformar ou converter entradas em saídas é algo comum em todas elas. Sendo assim, no interior da organização como um todo, cada parte do sistema organizacional deve ser considerado um subsistema separado. Para ficar mais claro, imagine uma empresa, ela tem vários setores e departamentos, como: setor comercial, recursos humanos etc., todos fazem parte da organização ou do sistema organizacional. Tudo o que acontece neles, afetará, diretamente, a empresa como um todo, entretanto eles têm alguns processos que são específicos e são realizados apenas nos seus setores. Por exemplo, definir metas comerciais, apesar de ter impacto sobre toda a organização, demanda uma série de atividades que são particulares do departamento comercial. A isso nós chamamos de subsistemas, ou seja, um sistema menor (definição de metas comerciais) atuando dentro de um sistema maior (a organização como um todo). Para lhe ajudar a melhor entender, observe a Figura 1:
A Figura 1 mostra o funcionamento do sistema organizacional. Repare que ele está inserido dentro de um ambiente que fornece as entradas que serão processadas pelos departamentos da organização, que produzirá os seus produtos e/ou serviços. O ambiente organizacional está em constante transformação, por isso, o administrador precisa estar, constantemente, atento às suas mudanças de forma que possa encontrar soluções ou oportunidades da maneira mais ágil possível, diminuindo, assim, o impacto de forças negativas e aproveitando oportunidades que se mostrem positivas. Essas forças negativas ou positivas fazem parte do ambiente organizacional que, também, pode ser chamado de macroambiente ou microambiente.
É muito importante a sua atenção agora. Macro e microambiente têm algumas características muito peculiares que favorecerão o sucesso dos negócios. O microambiente possui forças e fraquezas que impactarão, direta ou indiretamente, o ambiente organizacional. Estas forças e estas fraquezas encontram-se no interior das empresas, ou seja, fazem parte do ambiente interno e estão nos setores, ou departamentos da organização. As Forças são as ações que a organização faz de melhor, enquanto as fraquezas são as ações que a organização tem dificuldade, ou não sabe fazer, ou faz errado.
Fazem parte do microambiente os proprietários, os empregados, os administradores e o ambiente físico. Albuquerque (2020, p. 23) explica-nos cada um destes elementos:
Proprietários: pessoas com direitos legais de propriedade do negócio e representadas por um único indivíduo, parceiros, investidores individuais que compram ações de uma ou mais organizações.
Empregados: os recursos humanos compõem o principal recurso interno de uma organização e representam um grande desafio para os administradores, devido à pluralidade de fatores, como raça, etnia, gênero, idade, cultura, entre outros.
Administradores: corpo governante eleito pelos acionistas ou escolhido pelo proprietário, encarregado geral da empresa ou de empresas, que visa a garantir o desempenho de funções administrativas e os resultados estabelecidos.
Ambiente físico: representa as instalações das organizações e o trabalho que elas executam, pode envolver diversas configurações que oferecem vantagens e desvantagens.
O macroambiente está fora da organização, no ambiente externo, e ele é dividido em ambiente geral e ambiente das tarefas.
No ambiente geral, encontram-se as variáveis tecnológicas, econômicas, político/legais, socioculturais e internacionais. Cada uma dessas variáveis tem influências junto às organizações que impactarão em cada uma das suas áreas de atuação, como nos detalha Albuquerque (2020, p. 21-22):
Variáveis Tecnológicas: são forças atuantes no ambiente externo, que impactarão e influenciarão o uso do conhecimento e das técnicas organizacionais, de maneira que a organização precise estar à frente dos mais recentes desenvolvimentos e incorporar os avanços para se manter competitiva.
Variáveis Econômicas: são as mudanças nas taxas de inflação, nos níveis de desemprego, no crescimento do produto interno, nas taxas de juros, no câmbio, entre outras, e que podem gerar oportunidades ou problemas aos administradores. As organizações precisam estar atentas e monitorar essas alterações no ambiente a fim de minimizar as fraquezas e aumentar as oportunidades.
Variáveis Políticas e ou legais: são aquelas forças políticas, legais e regulatórias, que exercem forte influência na organização, de maneira indireta, podendo restringir e afetar a organização na maneira como pagam os salários, as taxas, e podem, ainda, influenciar, inclusive, em responsabilidades junto aos consumidores. Elas podem contribuir para aumentar os níveis de qualidade dos produtos e serviços para o mercado, em todo o mundo.
Socioculturais: são mudanças que afetam as ações de uma organização e a demanda por seus produtos ou serviços. Atualmente, está em evidência a responsabilidade socioambiental, em função de uma conscientização pela melhor qualidade de vida das pessoas.
Variáveis Socioculturais: são as mudanças que podem afetar as ações de uma organização, impactando em sua demanda de produtos e/ou serviços. A responsabilidade socioambiental mantém, atualmente, uma forte evidência, muito em função da maior conscientização por melhor qualidade de vida das pessoas.
Variáveis Internacionais: são as forças, normalmente, indiretas que surgem dos fornecedores estrangeiros. Podem ser consideradas como oportunidades e/ou ameaças para as organizações.
Já, no ambiente das tarefas, encontraremos as variáveis: clientes, competidores, fornecedores, reguladores e parceiros estratégicos, como explica Albuquerque (2020, p. 22-23):
Clientes: representado por aquelas pessoas que compram, de uma organização, os seus produtos ou serviços. São os clientes, provavelmente, as forças ou fraquezas mais importantes para as organizações.
Competidores: representam as organizações concorrentes que podem ser concorrentes diretos ou indiretos.
Fornecedores: são aquelas organizações que entregam os recursos necessários para a produção ou realização dos produtos e/ou serviços. Esses recursos impactarão a qualidade, o custo, o prazo de entrega de qualquer produto ou serviço, sendo a organização compradora vulnerável a diversos problemas potenciais de fornecimento.
Variáveis Reguladoras: são compostas por agências reguladoras (órgãos governamentais, criados para determinado fim, ou para proteger as organizações umas das outras) e grupos de interesse (uniões dos próprios membros, na tentativa de proteger seu negócio) que interferirão, de maneira positiva ou negativa, junto aos interesses das organizações.
Parceiros estratégicos: são representados por duas ou mais organizações que trabalham juntas sob a forma de joint ventures, isto é, empreendedores conjuntos, ou outras parcerias para facilitarem venda, distribuição ou divulgação de produtos ou serviços das organizações em parceria.
Em quanta coisa é preciso prestar atenção para fazer com que os negócios consigam se manter em funcionamento, não é mesmo? E há pessoas pensando que administrar é só colocar produto na prateleira, atender ao cliente, vender e dar troco. Conseguiu perceber que é muito mais do que isso? Administrar é uma ciência, em alguns casos, uma arte.
Além das questões do dia a dia, que envolvem a administração de um negócio ou a organização, é preciso estar atento às mudanças que acontecem no ambiente organizacional para fazer este monitoramento que, a princípio, parece ser complexo, mas, na verdade, não é. Para isso, deve-se utilizar algumas ferramentas próprias para este objetivo e, a mais conhecida e utilizada é a análise SWOT, ou, também chamada Matriz FOFA – Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças.
Esta ferramenta ajuda você a elaborar uma análise do ambiente organizacional no qual você faz um levantamento das variáveis do ambiente externo para determinar se cada uma delas apresenta ameaças ou oportunidades para a sua organização. Ao analisar o ambiente interno, você faz um cruzamento das informações anteriores, determinando se as forças e as fraquezas do seu ambiente interno estão preparadas para diminuir o impacto das ameaças e aproveitar as possíveis oportunidades. É muito simples, mas um pouco trabalhoso, afinal, para cada variável do ambiente, é preciso fazer esta análise.
Que tal fazer uma análise SWOT sobre você? Embora você não seja uma organização, também está inserido em um meio, no qual exerce influência, mas também é influenciado(a). Na Figura 2, você pode verificar as fases da análise SWOT, observe:
A análise SWOT é uma sigla para S: Strength - Força, W: Weakness - Fraqueza, O: Opportunities - Oportunidades e T: Threats - Ameaças. Portanto, para fazer a sua análise SWOT, você deve listar quais são as suas: forças, fraquezas, oportunidades e ameaças. Ao final, você terá feito uma autoanálise bem importante para o seu desenvolvimento e poderá traçar metas para minimizar as fraquezas e maximizar as forças, por exemplo. Você aceita o desafio?
ALBUQUERQUE, R. A. L. Teorias da Administração. Maringá: UniCesumar, 2021.
SILVA, R. O. Teorias da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2013.