Sobre escolas e exclusão (2)

   

    Já trabalhei em uma escola da FASE. Já trabalhei em uma escola na periferia  da cidade.

    O que isso tem a ver com SD?

    Com  SD, nada. Infelizmente, os jovens com SD, das classes populares (ou economicamente excluídas) não chegam ao ensino médio, modalidade em que atuo nos últimos dez anos.

    Mas se relaciona com exclusão.

    Aprendi, especialmente ao ler Paulo Freire, que a escola deve ser para tod@s!

    E o que temos feito nessa direção? Quase nada!

    O que vemos, por exemplo, são oito, dez turmas de primeiro ano do ensino fundamental e três ou quatro de terceiro ano do ensino médio.

    Por onde andam essas sete turmas que não chegaram ao ensino médio???

“Ocorre que a escola se democratizou, abrindo-se a novos grupos educacionais, mas não aos novos conhecimentos. Por isso exclui os que ignoram o conhecimento que ela valoriza e, assim, entende que democratização é massificação de ensino”. (Maria Teresa Mantoan)

    Essa é uma descrição perfeita do que temos vivenciado. Os novos grupos educacionais – os alunos pobres, os alunos com deficiência – não têm vez na escola feita sob medida para a sociedade industrial (já falei sobre isso aqui!). Ou ainda,

A escola se entupiu do formalismo da racionalidade e cindiu-se em modalidades de ensino, tipos de serviço, grades curriculares, burocracia... (Mantoan)

O que fazer?

A inclusão, portanto, implica mudança desse atual paradigma educacional” (de novo, Mantoan).

    Guga Dorea, em “A inclusão e a educação democrática: quem educa (inclui) quem?”¹, propõe algumas questões semelhantes:

“Pelo que é exigido para cada série pré-determinada, meu filho está aquém, não responde cognitivamente o que se espera de quem tem a idade que tem. E aí retrucam: é que ele, por ter a Síndrome de Down, precisa de um ensino mais significativo. Ele não pode abstrair!!!

Mas só ele precisa ter um  ensino significativo para sustentar o conhecimento e aprender a criar, de uma forma autônoma, o seu próprio processo de aprendizado? Será que todos aqueles que “aprendem no momento certo” estão realmente aprendendo?”

    O próprio Guga Dorea, traduzindo Miguel López Melero, nos fala

“(...) o professor há de deixar de ser um profissional como mero aplicador de técnicas e procedimentos (racionalista e técnico) e se há de converter em um curioso intelectual comprometido (investigador) que saiba abrir espaços para que a aula se transforme em lugar de  aprendizagem compartilhado e autônomo (...)”

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¹ Foi nesse texto de Dorea que li as citações de Maria Teresa Mantoan e de Miguel López Melero a que referi anteriormente.