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Prefacio Livro da Selma

AEITA Rio Sobre o Encontro...

Este prefácio do livro da Selma Paschini fornece uma idéia dos tópicos de sua palestra...

A segunda metade da década de ´80 e o início da seguinte caracterizaram-se por mudanças importantes na vida econômica e política do Brasil. O governo Sarney tentou levar o país pós-ditadura militar a uma retomada da democracia; a então chamada constituição cidadã de 1989 procurou inovar, mas perdeu-se num cipoal de legislações específicas; o governo Collor, que errou muito, acertou na abertura da economia.

Nesse período de intensas mudanças, a jovem Selma e eu tivemos o privilégio de atuar numa grande empresa -- e na sua melhor fase em setenta anos de Brasil: a Rhodia. Edson Musa, seu presidente-estadista, liderou o antológico PRHOEX -- Processo Rhodia de Excelência, aliando pensamento estratégico com cuidadosa implementação. Esse binômio, qualidade rara nos executivos brasileiros. Geralmente somos ou águias ou codornas, sem termos a multifunção do helicóptero...

Essa Rhodia evolucionária, que deixou o comodismo do oligopólio para mergulhar numa competição mais aberta, conheceu bons processos criativos, equipes azeitadas e ótimos resultados. Oportunidade para o terreno fértil detectar e desenvolver talentos, principalmente em gestão de pessoas.

Selma é um desses talentos. Demonstrava visão estratégica, determinação na consecução de objetivos da equipe e coragem para apresentar suas idéias, mesmo quando não coincidentes com os interesses do anfitrião da reunião ou da sua liderança.

Ela deixou a Rhodia para desafios cada vez mais complexos, agora em cargos de direção, no Brasil e na América Latina. Para mentes inquietas, não basta o sucesso na carreira. "Quem sabe mas não faz, não sabe", diz a sabedoria oriental. Selma sabe, faz -- e, ainda, consegue transmitir, para um público além-fronteira da organização, conteúdo, experiência e caminhos a seguir, como prova este "estRHatégia -- Alinhando Cultura Organizacional e Estratégia de Recursos Humanos à Estratégia de Negócios".

Seu modelo básico de atuação é aparentemente simples: interação da estratégia de negócio com a cultura organizacional e a estratégia de gestão de pessoas. A complexidade reside na sua implementação, cujas idéias e dicas a autora generosamente compartilha com o leitor nos dez capítulos do livro.

Destaco alguns assuntos, que me tocaram pela agudeza da análise e das proposições:

A administração da cultura organizacional é esmiuçada nas suas tangências e alinhamentos com a estratégia do negócio, o papel da área de Recursos Humanos e as fontes de poder. Nesse terreno difícil, os ensinamentos de Edgar Schein são evidenciados, especialmente o conceito e a prática dos artefatos culturais. Geralmente negligenciados na administração brasileira, eles são um efetivo meio de trazer à superfície os valores e as crenças que motivaram os acionistas a arriscarem seu nome e seu capital num empreendimento comercial.

Outro tema importante discutido na obra é o desafio da medição de resultados de políticas e práticas em Resursos Humanos. É um ítem obrigatório para garantir a credibilidade -- e mesmo a continuidade -- de um diretor da área, mas raramente encontramos experiências bem-sucedidas. Sua usual indigência origina-se na insistência em se medir apenas resultados de objetivos táticos. Em boa hora, Selma coloca essa avaliação de RH em metas que são afluentes da estratégia global do negócio.

Bastante oportuno, até porque o Brasil ainda engatinha no assunto, é o capítulo sobre a criação de uma cultura de diversidade e inclusão. Como sabemos, é relativamente fácil embarcar talentos que representam a diversidade dentro da organização, em suas variadas formas. Mantê-los, com reconhecimento e progresso profissional, é a parte mais difícil da questão. A autora apresenta um modelo inovador que mapeia o posicionamento da empresa: míope, assistencialista, estrategista ou visionária. A partir desse auto-conhecimento, o gestor poderá confirmar ou corrigir seu comportamento, de acordo com os valores da organização.

"estRHatégia" é obra destinada a se tornar uma referência no largo campo da gestão de talentos na América Latina. Ela abre janelas e sendas para o novo e para leituras mais nítidas da realidade. É um alento, neste período em que os vários Brasís tentam encontrar um caminho mais sólido, menos empírico e menos paternalista, que leve a nação para o desenvolvimento humano e sustentável.

Rio de Janeiro, novembro de 2006

Nelson Savioli

Superintendente Executivo da Fundação Roberto Marinho

Presidente do Conselho da ABRH-RJ