O vídeo pretende apresentar provas de que a Terra não é uma esfera (aproximadamente) com raio de 6330 km. Ele usa dados de alguns faróis náuticos no litoral da Inglaterra, e uma observação visual de um desses faróis. Ele usa dados errados e, principalmente, viola a norma internacional de que cálculos de alcance de qualquer sinalização náutica tem que obrigatoriamente incluir o efeito da refração atmosférica. Aplicando os cálculos corretos aos faróis e `a observação, não se encontra discrepâncias em relação ao modelo esférico da Terra.

Segmentos

Parte 1

Nos primeiros 1:50 o autor anexa um segmento tirado de um vídeo de Eric Dubay, conhecido apologista terra planista. Nesse segmento se encontram tantas mentiras superpostas que vale a pena analisá-lo, embora ele não seja o foco desta análise. Não está claro se a narração (áudio) desta parte é de Eric Dubay, ou do autor do vídeo.

0:06 - o autor afirma que a luz de muito faróis náuticos é visível de uma distancia muito maior do que seria possível no caso de uma Terra esférica com circunferência de 40 mil km. Isso está em completo desacordo com o conhecimento de todas as pessoas que até hoje já trabalharam com esses faróis, seja construindo-os, operando-os, usando-os a partir de navios em alto mar. Desde o século XVII. Um exemplo pode ser encontrado no Manual de Sinalização Náutica da Marinha do Brasil, e em todos outros documentes semelhantes de todos outros países do mundo.

0:16 - o autor apresenta dados sobre um determinado farol, mas o vídeo mostra outro farol diferente. Analisando com cuidado a imagem e a narração, podemos ver claramente que o autor usa dados errados para conseguir a resultado que pretende. E também, convenientemente, esquece de incluir a refração atmosférica nos seus cálculos, ignorando que a definição de alcance geométrico de sinais náuticos inclui a refração. Não se pode comparar o alcance publicado oficialmente com os dados de altura e distancia, sem incluir a refração, porque o alcance publicado oficialmente obrigatoriamente inclui a refração para a atmosfera padrão.

• neste segmento, a imagem no vídeo se refere ao farol das Needles, na Ilha de Wight, Inglaterra (https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_lighthouses_in_England). O texto no próprio vídeo diz que a altura da lanterna sobre o nível do mar é 80 pés (79 é o valor oficial). O texto diz, literalmente, que "se isso é verdade, a luz deveria estar escondida ("enterrada") atrás de 50 pés de curvatura quando vista de 14 milhas de distancia". Ele esquece de mencionar que isso seria verdade apenas se a luz fosse observada a partir de altura zero sobre a água. O alcance de um farol é, por convenção internacional, definido para observadores a 15 pés de altura sobre a água. Ou mais até, se isso estiver especificado explicitamente. Com o observador a 15 pés de altura, a luz do farol ainda está a cerca de 40 pés acima do horizonte, sendo perfeitamente possível vê-lo.
• no mesmo segmento, a narração se refere a um farol completamente diferente, um dos faróis em Clare, Irlanda. Ele menciona os dados: alcance: 31 milhas, altura da luz sobre o mar: 341 pés. Em Clare existem 5 faróis, e nenhum deles coincide com os dados que ele menciona. O mais próximo é o farol de Loop Head, que tem alcance de 27 milhas e altura sobre o mar de 276 pés (https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_lighthouses_in_Ireland). Neste caso, ele não esqueceu de levar em conta os 15 pés de altura do observador. Porque? De todo modo, se calcularmos a visibilidade com o modelo padrão de Terra esférica, a 27 milhas de distancia a luz do farol está ainda cerca de 15 pés acima do horizonte, sendo portanto perfeitamente visível.

0:35 - o segmento contem um desenho que parece traduzir a compreensão de uma criança de 4 anos. O desenho e o texto, dizem que o farol estaria "inclinado para o lado e para trás", no caso da Terra globo. Sim, mas ele esquece de dizer por quanto. Para o farol de Clare, esse ângulo é 0,32 graus, não mensurável sem instrumentos de topografia de alta precisão.

0:48 - neste segmento ele cita mais dois faróis ingleses, com seus dados e alcances geográficos. Ele alega que não seriam visiveis numa Terra esférica. Novamente, ele não inclui a refração nos seus cálculos:

• Beachy Head: alcance 26 mi, altura 285 pés - 45 pés do topo do farol ainda visíveis acima do horizonte
• Cromer - alcance 26 mi, altura 276 pés - 36 pés do topo do farol ainda visíveis acima do horizonte

Ou seja, ele errou em todos. Nenhum desses faróis invalida a esfericidade da Terra.

1:32 - No segmento final da Parte 1, o autor diz que pessoalmente mediu a curva, mas ela não existe. Mas não mostra as medidas, a técnica de medir e processar os resultados, não mostra nada. Para que serve essa imagem senão confundir o incauto que está a procura de informação?

Parte 2

Aqui estão as observações do autor do vídeo. Ele usa o farol de Souter Point como alvo.

Dados da observação:

• distancia do ponto de observação (Hartlepool): 20,13 milhas - segundo o autor, medida no Google Earth. Estranho, porque o Google Earth usa um modelo geoide para a Terra. É valido usar dados obtidos num modelo geoide, para provar que a Terra seria plana?
• altura do observador: 10 metros
• altura da torre do farol propriamente dita: 23 metros
• altura total, do topo da torre até a superfície do mar: 48 metros.

O cálculo de visibilidade usando o modelo esférico da Terra e incluindo refração, resulta numa altura visível de 23 metros, e a altura escondida, 25 metros.

O cálculo feito pelo autor do vídeo, usando um calculador que não inclui a refração, resulta numa altura escondida de 34 metros, e uma altura visível de 14 metros.

O autor marca esses dois valores que ele obteve, em um fotograma do vídeo, no minuto 3:30. As marcas estão situadas com erro, porque ele não levou em conta que a quase totalidade do terreno sob a torre está escondida pela curvatura. Também não usou uma escala correta para as alturas. Por exemplo, examinando as imagens abaixo podemos ver que a marca que ele diz estar a 48 pés abaixo do topo da torres, está na verdade a cerca de 23-25 pés abaixo do topo (a torre inteira tem 69 pés de altura). Em outras palavras, essa figura é uma fraude. Provavelmente foi feita imaginando que ninguém se daria ao trabalho de verificar a sua veracidade.

Conclusões

Em resumo, o vídeo inteiro é uma grande fraude. Ele comete vários erros propositais para chegar ao resultado que deseja:

• não inclui a refração atmosférica nos seus cálculos, ignorando que, por norma internacional, o alcance geográfico de qualquer sinalização marítima tem que levar em conta o efeito da refração.
• quando conveniente, esquece de usar o fato de que, também por norma internacional, o alcance geográfico de qualquer sinalização marítima é definido para um observador situado a uma altura de 15 pés sobre o nível do mar.
• a narração na trilha de áudio da Parrte 1 nem sempre coincide com o que é apresentado na imagem. Isso é um artifício muito usado em vídeos feitos para desinformar ao invés de informar, porque sobrecarrega o espectador com informações que não são de fácil compreensão.
• apresenta uma representação gráfica correta porém sem mencionar que está fora de escala (navios e faróis inclinados um em relação ao outro). Também não menciona a magnitude desses efeitos de incilnação, provavelmente porque sabe que são muito pequenos para terem qualquer importancia. O espectador desavisado pode achar que são efeitos importantes.
• na observação real de um farol usando a teleobjetiva de 2000 mm, apresenta uma análise incompleta por não considerar a refração atmosférica. E apresenta resultados errados quando estabelece uma escala de alturas na torre do farol.