O vídeo apresenta explicações baseadas em simulações de computador, sobre os fenômenos do nascer e por do Sol, e as trajetórias noturnas das estrelas no céu, sob a perspectiva da Terra plana. O vídeo é uma fraude, claramente concebida para enganar incautos que não conhecem as leis da física básica ao nível do 2o grau escolar.
Segmentos:
3:50 - a animação mostra a lei de refração correta (lei de Snell), embora com ângulos muito exagerados. No nascer e por do Sol, quando a refração é máxima, a distancia angular entre a imagem do Sol, e a sua posição real, não passa de 30 minutos de arco, 0,5 grau. Com o Sol mais alto sobre o horizonte, esse ângulo se reduz rapidamente para menos de 1 minuto de arco, abaixo do limite de percepção do olho nu.
5:00 - mostra um diagrama das camadas da atmosfera. O vídeo alega que usou, na construção das simulações, dados corretos das camadas da atmosfera. Se isso fosse verdade, o índice de refração variável que obteve não é compatível com o índice de refração gigantesco que usou nas simulações, nem com a lei de refração errada que também usou.
8:00 - o vídeo alega que não se pode ver o Sol em sua posição real no céu. Correto. O que ele "esquece" de afirmar é que a diferença entre a posição real e a posição observada, é de no máximo 1 minuto de arco, para ângulos de elevação de 10 graus ou mais. Um minuto de arco é o limite de resolução angular do olho humano. Esses desvios não são observáveis a olho nu. Apenas quando o Sol chega bem perto do horizonte, descendo abaixo de 10 graus, é que o efeito da refração é um pouco mais aparente.
Mesmo assim, a refração máxima que se pode obter acontece quando o Sol está sobre o próprio horizonte. Nesse caso, a diferença de posição na vertical é de no máximo 30 minutos de arco, 0,5 grau. Portanto, esses desvios de posição mostrados no vídeo são irrealistas. A argumentação no que se refere `a refração está completamente errada e invalida o vídeo todo.
8:36 - a simulação foi feita para a latitude 65N, em Julho, verão no Hemisfério Norte. A trajetória mostrada do Sol na simulação é compatível com a forma real, esférica, da Terra. E não é compatível com a terra plana.
9:00 - este segmento apresenta um modelo não-realista da iluminação do Sol sobre a terra plana. Seria preciso justificar porque o Sol não ilumina toda a superfície da terra plana, e porque ele não seria visível a partir de pontos mais distantes do observador. Utilizando o valor correto para o brilho visual do Sol, e valores para a suposta altura do Sol e o diâmetro do suposto disco da Terra plana tirados de sites terra planistas, é possível calcular que o Sol seria visível, alto sobre o horizonte, e muito brilhante, de qualquer lugar na superfície da Terra plana, por 24 horas no dia, por 365 dias no ano. Faltou explicar porque isso não acontece no mundo real.
10:54 - a lei de refração que ele usa na simulação está invertida. Na lei de Snell, o raio luminoso se aproxima da normal `a interface entre os dois meios, quando passa do meio com menor índice de refração, para o meio com maior índice de refração. É fácil observar a lei de refração atuando em ondas na praia quando tem bancos de areia. Por que a atmosfera é estratificada, isso faz os raios luminosos de qualquer fonte fora da atmosfera se curvarem para uma direção mais perpendicular `a superfície da Terra, `a medida que penetram na atmosfera. O efeito é ainda mais exacerbado pela curvatura da atmosfera. Isso faz com que qualquer objeto celeste observado a partir da superfície da Terra, através da atmosfera, pareça mais alto sobre o horizonte, do que está na realidade. Exatamente o contrario do que ele alega. Apenas por esse "detalhe", o vídeo tem que ser descartado como fraude. Interessante que o fotograma ilustrado acima, que é extraído do vídeo pelo software do Google Sites, mostra o efeito correto da refração.
12:20 - neste segmento, ao falar explicitamente sobre a lei de refração, significativamente, apresenta a lei correta. Se auto contradizendo.
12:51 - novamente, vemos a aplicação da lei de refração errada, e do índice de refração altamente exagerado, numa simulação.
15:00 - nas simulações de star trails, o vídeo não chega nem perto de reproduzir o que se observa na realidade. Nada a estranhar, já que essas simulações utilizam uma física completamente errada.
Os desvios angulares da imagem do Sol, de sua posição real, que o vídeo apresenta, estão completamente errados por dois motivos. O uso da lei de refração errada, como comentado acima, e também o valor do índice de refração em si. Os desvios de vários graus que o vídeo apresenta só seriam possíveis se o meio refrator fosse muito mais denso do que um gás. Algo como água liquida ou vidro sólido. A alegação que se encontra em vários sites terra planistas é de que a atmosfera contem água. O que eles esquecem de dizer é que a atmosfera contem no máximo 1% de água na forma de gás, acima disso, ocorre saturação, a água condensa, e se formam nuvens ou nevoeiro, impossibilitando a observação do Sol. O 1% de vapor de água adicionado ao ar seco na verdade reduz um pouquinho o índice de refração, porque o índice de refração do vapor de agua é menor do que o do ar. O argumento terra planista sobre refração contem tantos erros que é trabalhoso enumerar todos, como tentei fazer aqui.
Uma falha adicional da linha de argumentação desse vídeo é que simulações de computador em geral só tem validade quando comparadas com a realidade. As comparações que o vídeo faz com imagens e vídeos de nascer e por do Sol reais são insuficientes, porque ele não apresenta medidas, tais como distancias e tamanhos angulares, feitas nessas imagens e vídeos da realidade. E muito menos compara essas medidas com medidas análogas feitas a partir das simulações. Como trabalho "científico", é uma perfeita piada. Não seria aprovado em uma classe de curso básico de nenhuma área científica ou tecnológica.
Resumo:
O vídeo é uma fraude. Contem tantos erros que é trabalhoso enumera-los. Mas basicamente, ele usa uma lei de refração errada: a refração age ao contrário do que ele usa nessa simulação. Ele está propondo uma física de fenômenos ondulatórios (ondas) que não existe na natureza. Além desse erro fundamental, ele está usando um índice de refração para a atmosfera que é mais próximo ao do vidro sólido ou da água liquida, do que de um gás.