Nesse vídeo o autor pretende explicar o por do Sol e da Lua na terra plana. Especialmente, o porque de observarmos o Sol descendo abaixo do horizonte, e mantendo seu tamanho angular aparente constante no céu. Esses dois fatos empíricos são incompatíveis com a ideia de terra plana, então o vídeo pretende mostrar mecanismos pelos quais a terraplana poderia ser compatibilizada com esses fatos empíricos observados.
O vídeo utiliza argumentos físicos inválidos e metodologia científica falha, porém o ponto principal é que se utiliza de truques de óptica para obter resultados falsos.
0:15 - Animação da terra plana feita com Poser. O autor já de início confessa que fez a simulação do Sol usando uma fonte de luz com alcance limitado ("limited throw"), o que não é nada realístico. Num software de CGI tudo é possível, é para isso mesmo que ele existe. Ao usar um software desses para tentar simular a realidade, no entanto, é preciso se restringir a situações realísticas. Só por isso, essa animação da terra plana já é inválida. Essa animação parece ser a origem da afirmação que se encontra em toda parte no universo terra planista, de que o Sol tem alcance limitado. Uma fonte de luz só tem alcance limitado se essa luz é absorvida, refletida, ou espalhada por alguma coisa na trajetória da luz emitida. Esse elemento necessário para justificar a escolha na animação, não é apresentado. Esse fato, por si só, já invalida essa animação.
0:50 - Aqui tem um parêntesis com propaganda de trabalhos já feitos pelo autor, citando uma "astronomia zetética" e a Bíblia. Sem oferecer nenhuma evidencia do porque essas seriam fontes confiáveis e realísticas sobre o funcionamento da natureza.
1:30 - O autor se refere `a crítica clássica ao "modelo" de terra plana apresentado anteriormente: o Sol e a Lua, na terra plana, deveriam variar de tamanho angular aparente durante sua trajetória no céu. A justificativa dos críticos seria que vídeos propagados para demonstrar que o Sol varia de tamanho durante sua trajetória seriam sempre feitos quando existem nuvens no horizonte.
2:15 - Mostra um por do Sol onde ele parece diminuir de tamanho angular aparente. Interessante que ele usa como fonte de suas pesquisas, vídeos encontrados em sites online como YouTube. Esses vídeos invariavelmente não contem nenhuma informação técnica sobre como foram feitos. Como fonte de informação para estabelecer uma hipótese científica, não tem valor nenhum. No entanto, o autor os usa sem sequer mencionar os inumeráveis fatores que podem causar variações no tamanho angular aparente registrado do Sol, causadas por variações no nível de exposição usado na câmera. Veja Nota 1.
2:50 - Outro por do Sol, supostamente com o Sol mudando de tamanho angular aparente.
3:00 - Sequencia de imagens do Sol mostrando uma variação de diâmetro de cerca de 3%. Em seguida, um vídeo mostrando o Sol sendo "achatado" a medida que a imagem toca no horizonte. Ambos efeitos são explicados pela refração atmosférica normal. Nessa parte, ele introduz um novo conceito de "linha de convergência". Não explica o que é, mas no vídeo um texto sugere que é a linha a partir da qual nenhuma luz do Sol nos alcançaria. Esse é apenas um novo nome para 'horizonte'. Veja que variações de tamanho angular de muito mais do que 3% são experadas de acordo com a terra plana.
3:26 - Mostra um por do Sol no deserto, onde haveria menos umidade do ar, e portanto menos refração atmosférica. e menos "aumento" ("magnification"). Segundo o autor, essa menor refração faria o Sol diminuir menos de tamanho angular. Aqui abrimos um parêntesis para falar sobre refração atmosférica e umidade. Veja Nota 2. O vídeo não menciona nada do que está apresentado na Nota1, e muito menos explica como esse aumento seria gerado a partir de um modelo de atmosfera estratificado. Simplesmente é postulado que existe aumento.
3:35 - Curiosamente, a narração se desvia do assunto do vídeo, para discorrer sobre desonestidade intelectual. Me parece que se aplica ao autor do vídeo, mais do que a qualquer outro. No segmento imediatamente anterior, ele discorreu sobre desonestidade intelectual, e aqui, imediatamente após, já mostra um exemplo de desonestidade intelectual.
3:55 - Aqui começa a segunda parte do vídeo, onde o autor tenta justificar uma coisa que ele chama de "atmospheric lensing", que se traduz livremente por "efeito lupa". Ele constrói um arranjo experimental em cima de uma mesa, pretendendo com isso simular fenômenos que acontecem em escalas de dezenas de kilometros (na atmosfera da Terra), e milhões de kilometros (distancia do Sol). Um arranjo experimental pouco realístico, para dizer o mínimo. Isso porque ele está alegando que esses efeitos provem da refração do ar, e essa refração só é significativa em distancias de muitos kilometros. E mesmo assim é muito pequena. Ele usa uma lente de Fresnel de acrílico, sem explicar qual seria o mecanismo óptico que a atmosfera emprega para gerar algo equivalente. O índice de refração do ar é de 1,00028, enquanto que o do acrílico é 1,5, Só isso já invalida o experimento todo. O efeito dessa lente é o de reduzir o campo angular da câmera, efetivamente ampliando as imagens filmadas através dela. E ampliando também as distorções. Outra curiosidade é que no arranjo experimental, parte da cidade está escondida sob o beiral da mesa, quando vista do ponto de vista da câmera. Quer dizer, ele introduziu sub-repticiamente a curvatura da Terra em seu arranjo experimental. Isso, logo depois de ouvirmos uma lição sobre desonestidade intelectual.
4:40 - A sequencia mostra a imagem do Sol-modelo se afastando, acompanhada por uma mudança de posição angular da mesma imagem dentro do quadro da câmera: o Sol-modelo desce, além de diminuir de tamanho. Isso é causado por um desalinhamento (proposital) entre o Sol-modelo e o eixo óptico da câmera. Ele faz isso primeiro sem a lente, depois com a lente interposta. Na narração, ele repete a mentira de que água na atmosfera causa refração e aumento. Agora, ele tenta justificar isso usando um copo com água e um lápis dentro do copo. O lápis aparece aumentado. Ele esquece de mencionar que essa situação não se aplica na atmosfera, porque primeiro, não existe água liquida numa atmosfera transparente (veja a Nota 2). E segundo, porque quem causa o aumento da imagem do lápis não é a agua em si, mas a superfície encurvada do vidro do copo. A água age apenas como meio com índice de refração grosseiramente similar ao vidro.
5:00 - Neste ponto é que o autor mostra o truque central desse vídeo: a imagem do Sol-modelo desce dentro do campo visual da câmera, sugerindo que isso é o que observaríamos na natureza. Mas na verdade o que ele fez foi apenas usar a lente para ampliar a escala angular da imagem na câmera, fazendo com que o movimento para baixo já visto anteriormente, no minuto 4:40, pareça maior e mais dramático. Mas é o mesmo movimento visto antes, apenas ampliado pela lente. A descida da imagem nada tem a ver com algum efeito refrativo misterioso, mas sim com o desalinhamento entre o Sol-modelo e o eixo óptico da câmera, como também já vimos antes. O autor se vale do fato de que a lente aumenta a distorção de perspectiva causada pelo desalinhamento do eixo óptico da câmera. Na narração, ele enfatiza que o Sol-modelo se move paralelo a superfície da mesa. Mas está usando novamente de um truque, porque o que importa nessa situação é o paralelismo entre o movimento do Sol-modelo e o eixo óptico da câmera, que ele teve o cuidado de deixar apontando para cima, e não apontando paralela a mesa ou trajetória so Sol-modelo. Basicamente, isso é um truque de prestidigitação usando efeitos de óptica e câmera. Vindo de alguém que fala em desonestidade intelectual, é surpreendente.
5:26 - O autor compara o tamanho do Sol-modelo nas situações com e sem a lente. Esquece de dizer que a lente muda o tamanho aparente do Sol-modelo, então elas não são diretamente comparáveis. E esquece de dizer que a terra plana preve uma variação de distancia do Sol muito maior do que a que ele usou na simulação.
5:55 - Neste curto segmento, o autor mostra de novo a imagem do Sol-modelo descendo dramaticamente. Novamente, uma câmera fora de centro pode ser usada para criar qualquer ilusão de perspectiva que se deseje.
6:25 - Repete mais uma vez, a mentira sobre umidade do ar e refração.
6:45 - O vídeo termina com um discurso conspiracionista.
A "evidencia" disponibilizada na internet sobre o por do Sol na terra plana consiste de inúmeros vídeos e sequencias de fotografias onde, invariavelmente, observa-se uma forte saturação do sensor da câmera. Essa saturação é causada por excesso de luz atingindo o sensor e fazendo com que a carga elétrica acumulada em cada pixel saturado extravase para os pixels vizinhos. Esse fenômeno ("blooming") causa a imagem registrada de um objeto muito brilhante ficar muito maior do que a imagem real formada sobre o sensor, pelo sistema óptico. Veja uma discussão detalhada aqui. No caso do Sol, esse efeito é muito marcante, por ser o Sol tão brilhante.
Durante um por do Sol, a medida que o Sol desce em direção ao horizonte, a luz atravessa uma camada cada vez mais espessa de ar. Isso é particularmente importante para as camadas mais baixas, onde se acumulam a poeira e aerosóis (aquilo que chamamos de "névoa seca"). Essa camada mais espessa de ar sujo produz maior absorção e espalhamento da luz solar, fazendo com que efetivamente o Sol pareça menos e menos brilhante, `a medida que desce em direção ao horizonte. Esse efeito causa uma saturação cada vez menor do sensor, resultando em uma imagem registrada do Sol cada vez menor.
Em muitas dessas imagens e vídeos, pode-se comparar o tamanho da imagem registrada Sol quando bem próximo do horizonte e bem apagado,, com a imagem do mesmo Sol bem alto no horizonte. A variação de tamanho aparente é enorme. Isso, claro, nada tem a ver com o Sol real, mas é apenas um efeito da câmera. Utilizando um ajuste de exposição apropriado na câmera, é possível minimizar ou mesmo eliminar o efeito de saturação. Nesses casos, o diâmetro aparente do Sol permanece constante.
Os efeitos da refração atmosférica são mínimos, atingindo no máximo meio grau na situação extrema do Sol tocando o horizonte. Com o Sol mais alto no céu, a refração logo cai para menos de um minuto de arco, que é o limite da visão humana. Refração atmosférica sozinha é incapaz de criar os efeitos alegados pelos proponentes da terra plana. Porque?
Primeiro, o índice de refração do ar seco é de 1,00028. Como o de todos os gases, é muito pequeno. Resultando nesses desvios muito pequenos de posição angular e tamanho angular aparente.
Segundo, a alegação de que umidade presente no ar aumentaria dramaticamente o índice de refração está errada. O índice de refração do vapor de água é 1,00025, ligeiramente menor do que o do ar seco. Isso significa que ao se misturar vapor de água no ar (que é o que a palavra 'umidade' quer dizer), o índice de refração da mistura é menor do que o do ar seco. Esse resultado provem do fato de que o índice de refração de um gás é aproximadamente uma função do seu peso molecular. O peso molecular da água é menor do que o da mistura de Nitrogênio e Oxigênio do ar.
Além disso, a capacidade do ar seco de reter água em estado gasoso é mínima. No máximo uns 10% da mistura seria composta de vapor de água. Adicionando mais água, ela satura e reverte para o estado líquido. Isso tudo vai diretamente contra a alegação dos proponentes da terra plana.
Esses proponentes podem alegar que estão na verdade se referindo `a água em estado líquido no ar, essa água que foi adicionada além do ponto de saturação da mistura. Isso faria sentido a principio, já que o índice de refração da água liquida é 1,33, muito maior do que o do ar, e portanto serviria para justificara alegação. O que eles não mencionam é que água nessa forma é aquilo que se costuma chamar de 'nuvem' ou 'nevoeiro'. A água em estado líquido, quando misturada no ar, por tensão superficial, forma gotículas microscópicas que espalham e refletem a luz. Nessa situação, o ponto principal de todo esse vídeo vai por água abaixo, por assim dizer. Não se pode ver o Sol através de nuvens ou nevoeiro, como é óbvio para todo mundo.
Em resumo, os argumentos alegados pelos proponentes da terra plana, que envolvem refração atmosférica, estão todos errados.
O autor é um conhecido evangelista profissional da terra plana. Um exame de suas outras atividades é ilustrativo do tipo de indivíduo que se dedica a esse tipo de trabalho. Traduzindo de um web site:
"Rob Skiba é um documentarista premiado, autor best-seller de vários livros, incluibdo: Babylon Rising: And The First Shall Be Last e Archon Invasion: The Rise, Fall and Return of the Nephilim. Como um “teórico do antigo Nephilim”, Rob traz uma única e frequentemente nunca vista perspectiva `a discussão sobre UFO e extra-terrestres. Ele é um palestrante sobre esses assuntos, reconhecido internacionalmente , frequentemente aparecendo em talk shows sobre profecias e o paranormal, e apresentado como orador principal em conferencias em todo o mundo (ironicamente, "all around the world" no texto original).
Com sua formação no Hollywood Film Institute, seu sonho de vida sempre foi produzir poderosas produções de televisão e cinema. Atualmente, está trabalhando em tempo integral no desenvolvimento e produção da série SEED."
Portanto, alguém sem nenhuma credencial científica que pudesse qualificá-lo para questionar a forma do planeta. Um exame dos seus web sites demonstra a natureza mercenária do seu trabalho, produzindo talk shows e vídeos sobre pseudo-ciencia e outros assuntos controversos. Sabemos que existe uma audiência não-crítica composta de indivíduos prontos a ouvir qualquer coisa que satisfaça sua necessidade de se sentir especial. O autor é mais um dos inúmeros vigaristas que exercem sua predação sobre esses desafortunados indivíduos.