A escola historicamente se caracterizou pela visão da educação que delimita a escolarização como privilégio de um grupo, uma exclusão que foi legitimada nas políticas e práticas educacionais reprodutoras da ordem social. A partir do processo de democratização da educação, se evidencia o paradoxo inclusão/exclusão, quando os sistemas de ensino universalizam o acesso, mas continuam excluindo indivíduos e grupos considerados fora dos padrões homogeneizadores da escola. Assim, sob formas distintas, a exclusão tem apresentado características comuns nos processos de segregação e integração que pressupõem a seleção, naturalizando o fracasso escolar.
A partir da visão dos direitos humanos e do conceito de cidadania fundamentado no reconhecimento das diferenças e na participação dos sujeitos, decorre uma identificação dos mecanismos e processos de hierarquização que operam na regulação e produção das desigualdades. Essa problematização explicita os processos normativos de distinção dos alunos em razão de características intelectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas, entre outras, estruturantes do modelo tradicional de educação escolar.
A educação especial se organizou tradicionalmente como atendimento educacional especializado substitutivo ao ensino comum, evidenciando diferentes compreensões, terminologias e modalidades que levaram à criação de instituições especializadas, escolas especiais e classes especiais. Essa organização, fundamentada no conceito de normalidade/anormalidade, determina formas de atendimento clínico terapêuticos fortemente ancorados nos testes psicométricos que definem, por meio de diagnósticos, as práticas escolares para os alunos com deficiência. No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência teve início na época do Império com a criação de duas instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Instituto dos Surdos Mudos, em 1857, atual Instituto Nacional da Educação dos Surdos – INES, ambos no Rio de Janeiro.
No início do século XX, é fundado o Instituto Pestalozzi (1926) – instituição especializada no atendimento às pessoas com deficiência mental; em 1954 é fundada a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE e; em 1945, é criado o primeiro atendimento educacional especializado às pessoas com super dotação na Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff. Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com deficiência passa ser fundamentado pelas disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº. 4.024/61, que aponta o direito dos “excepcionais” à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino. A Lei nº. 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao definir ‘tratamento especial’ para os alunos com deficiências físicas, mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados, não promove a organização de um sistema de ensino capaz de atender as necessidades educacionais especiais e acaba reforçando o encaminhamento dos alunos para as classes e escolas especiais.
Em 1973, é criado no MEC o Centro Nacional de Educação Especial – CENESP, responsável pela gerência da educação especial no Brasil, que, sob a égide integracionista, impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas com deficiência e às pessoas com superdotação; ainda configuradas por campanhas assistenciais e ações isoladas do Estado. Nesse período, não se efetiva uma política pública de acesso universal à educação, permanecendo a concepção de ‘políticas especiais’ para tratar da temática da educação de alunos com deficiência e, no que se refere aos alunos com superdotação, apesar do acesso ao ensino regular, não é organizado um atendimento especializado que considere as singularidades de aprendizagem desses alunos.
A Constituição Federal de 1988 traz como um dos seus objetivos fundamentais, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º inciso IV). Define, no artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No seu artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola”, como um dos princípios para o ensino e, garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208).
O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº. 8.069/90, artigo 55, reforça os dispositivos legais supracitados, ao determinar que “os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. Também, nessa década, documentos como a Declaração Mundial de Educação para Todos(1990) e a Declaração de Salamanca (1994), passam a influenciar a formulação das políticas públicas da educação inclusiva. Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educação Especial, orientando o processo de ‘integração instrucional’ que condiciona o acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais. Ao reafirmar os pressupostos construídos a partir de padrões homogêneos de participação e aprendizagem, a Política não provoca uma reformulação das práticas educacionais de maneira que sejam valorizados os diferentes potenciais de aprendizagem no ensino comum, mantendo a responsabilidade da educação desses alunos exclusivamente no âmbito da educação especial.
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências e; a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar. Também define, dentre as normas para a organização da educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[…] oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames” (art. 37).
Em 1999, o Decreto nº 3.298 que regulamenta a Lei nº 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial ao ensino regular.
Acompanhando o processo de mudanças, as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, determinam que:
Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos. (MEC/ SEESP, 2001). As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial para realizar o atendimento educacional especializado complementar ou suplementar a escolarização, porém, ao admitir a possibilidade de substituir o ensino regular, não potencializa a adoção deuma política de educação inclusiva na rede pública de ensino prevista no seu artigo 2º.
O Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001, destaca que o grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana. Ao estabelecer objetivos e metas para que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, aponta um déficit referente à oferta de matrículas para alunos com deficiência nas classes comuns do ensino regular, à formação docente, à acessibilidade física e ao atendimento educacional especializado.
A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas, definindo como discriminação com base na deficiência, toda diferenciação ou exclusão que possa impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais. Esse Decreto tem importante repercussão na educação, exigindo uma reinterpretação da educação especial, compreendida no contexto da diferenciação adotada para promover a eliminação das barreiras que impedem o acesso à escolarização.
Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução CNE/CP nº1/2002, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, define que as instituições de ensino superior devem prever em sua organização curricular formação docente voltada para a atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais.
A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão, determinando que sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos cursos de formação de professores e de fonoaudiólogos.
A Portaria nº 2.678/02 aprova diretriz e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille em todas as modalidades de ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braile para a Língua Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo o território nacional.
Em 2003, o Ministério da Educação cria o Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade, com o objetivo de transformar os sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos, que promove um amplo processo de formação de gestores e educadores nos municípios brasileiros para a garantia do direito de acesso de todos à escolarização, a organização do atendimento educacional especializado e à promoção da acessibilidade.
Em 2004, o Ministério Público Federal divulga o documento O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular, com o objetivo dedisseminar os conceitos e diretrizes mundiais para a inclusão, reafirmando o direito e os benefícios da escolarização de alunos com e sem deficiência nas turmas comuns do ensino regular.
Impulsionando a inclusão educacional e social, o Decreto nº 5.296/04 regulamentou as leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promoção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Nesse contexto, o Programa Brasil Acessível é implementado com o objetivo de promover e apoiar o desenvolvimento de ações que garantam a acessibilidade.
O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, visando à inclusão dos alunos surdos, dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular, a formação e a certificação de professor, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para alunos surdos e a organização da educação bilíngue no ensino regular. Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Atividade das Altas Habilidades/ Superdotação – NAAH/S, em todos os estados e no Distrito Federal são formados centros de referência para o atendimento educacional especializado aos alunos com altas habilidades/superdotação, orientação às famílias e formação continuada aos professores.
Nacionalmente, são disseminados referenciais e orientações para organização da política de educação inclusiva nesta área, de forma a garantir esse atendimento aos alunos da rede pública de ensino. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pela ONU em 2006, da qual o Brasil é signatário, estabelece que os Estados devem assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social compatível com a meta de inclusão plena, adotando medidas para garantir que:
As pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional geral sob alegação de deficiência e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do ensino fundamental gratuito e compulsório, sob alegação de deficiência; as pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito, em igualdade de condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem (Art. 24).
Em 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o Ministério da Educação, o Ministério da Justiça e a UNESCO lançam o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos que objetiva, dentre as suas ações, fomentar, no currículo da educação básica, as temáticas relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibilitem inclusão, acesso e permanência na educação superior.
Em 2007, no contexto com o Plano de Aceleração do Crescimento – PAC, é lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, reafirmado pela Agenda Social de Inclusão das Pessoas com Deficiência, tendo como eixos a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, a implantação de salas de recursos e a formação docente para o atendimento educacional especializado. No documento Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas, publicado pelo Ministério da Educação, é reafirmada a visão sistêmica da educação que busca superar a oposição entre educação regular e educação especial.
O Decreto nº 6.094/2007 estabelece dentre as diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, a garantia do acesso e permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo a inclusão educacional nas escolas públicas.
A educação inclusiva defende o direito de acesso de todas e todos a uma educação de qualidade, incluindo pessoas com deficiências ou com dificuldade de aprendizado. Nessa perspectiva, é preciso criar uma modalidade de ensino que seja, de fato, adequada para todos os indivíduos, em vez de segregadora.
A educação inclusiva no Brasil já foi alvo de polêmicas e de retrocessos, mas também conta com muitos defensores e com várias conquistas nos últimos anos. Entenda melhor como a educação inclusiva se insere na realidade brasileira.
Para a educação inclusiva, as escolas devem se adaptar às necessidades especiais de diferentes alunos, para que todos possam aprender juntos, pois isso é benéfico para a formação de todos os estudantes. Afinal, as diferenças não são um problema; a diversidade agrega.
Apesar de haver uma ilusão de homogeneidade no ensino regular, a verdade é que as experiências de aprendizado são sempre plurais e as escolas e educadores precisam se adequar a essa pluralidade – não segregar os casos que mais se destoam da aparente homogeneidade.
Segundo Maria Teresa Mantoan, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autora do livro Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer?, a realidade brasileira é marcada pela evasão de uma grande parte dos estudantes. A escola falha em ensinar muitos de seus alunos e, em seguida, culpa e exclui aqueles que não foram capazes de aprender dentro desse sistema falho.
A Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, realizada em 2006, foi essencial para os avanços no Brasil rumo a uma educação mais inclusiva, embora a constituição brasileira já contivesse as bases para o seu desenvolvimento desde 1988. Em 2008, a legislação do Brasil incorporou diretrizes da convenção das Nações Unidas, incluindo normas como:
A não exclusão de crianças com deficiência do ensino primário gratuito e compulsório ou do ensino secundário.
Adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais.
Medidas de apoio individualizadas.
Para promover o apoio necessário a indivíduos com deficiência, foi criado o Atendimento Educacional Especializado (AEE), que tem como objetivo ajudar a garantir um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades.
O AEE fornece atividades e recursos complementares à formação de estudantes com deficiência e/ou transtornos globais do desenvolvimento: alunos com deficiência física, intelectual, visual, auditiva, múltiplas e transtornos do espectro autista (TEA). O serviço também tem como objetivo fornecer atividades e recursos suplementares à formação de estudantes com altas habilidades ou super dotação.
Outras conquistas da educação inclusiva nos últimos anos foram o Plano Nacional de Educação (PNE), de 2014, e a Lei Brasileira de Inclusão, de 2015. Apesar desses avanços, contudo, a situação atual da educação inclusiva no Brasil não é tão favorável.
Um grande desafio encontrado pela educação inclusiva é a resistência à inclusão por parte de educadores e pais de alunos sem deficiências. Muitos educadores não se sentem preparados; muitos pais acreditam que a educação perderá qualidade.
Como afirma o Instituto Itard, o fim das escolas especiais, ocorrido por exemplo na Itália, não é possível no Brasil. A maioria das escolas brasileiras ainda não está, de fato, preparada para receber e educar alunos com deficiências, seja por problemas de infraestrutura, seja por falta de formação profissional dos funcionários.
A transição da educação especial para a inclusiva precisará passar, portanto, por um forte investimento nessa transformação, por um auxílio das equipes de escolas especiais às escolas de ensino regular, assim como pela formação contínua de profissionais da rede regular.
Em 2018, apenas 40,4% das crianças e adolescentes de 4 a 17 anos com deficiências ou dificuldades de aprendizado no sistema regular de educação desfrutavam de atendimento especializado, uma porcentagem bastante distante da meta de 100% estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE) para 2024.
Com o fim da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão no MEC em 2019, e a sua substituição pela Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação, que tem como foco a educação especial sem a inclusão no ensino regular, a educação inclusiva deve se tornar uma realidade ainda mais distante nos próximos anos.
fonte:https://noticias.universia.com.br/educacao/noticia/2019/05/28/1164837/avancos-desafios-educacao-inclusiva-brasil.html
EDUCAÇÃO ESPECIAL É UMA MODALIDADE DE ENSINO QUE VISA PROMOVER O DESENVOLVIMENTO DAS POTENCIALIDADES DE PESSOAS PORTADORAS DE NECESSIDADES ESPECIAIS, CONDUTAS TÍPICAS OU ALTAS HABILIDADES E, QUE ABRANGE OS DIFERENTES NÍVEIS E GRAUS DO SISTEMA DE ENSINO. FUNDAMENTA-SE EM REFERENCIAIS TEÓRICOS E PRÁTICOS COMPATÍVEIS COM AS NECESSIDADES ESPECÍFICAS DE SEU ALUNADO.
A educação especial se trata de uma educação voltada para os portadores de deficiências, como deficiências auditivas, visuais, intelectual, física, sensorial, surdo cegueira e as múltiplas deficiências. Para que esses educandos tão especiais possam ser educados e reabilitados, é de extrema importância a participação deles em escolas e instituições especializadas. E que eles disponham de tudo o que for necessário para o seu desenvolvimento cognitivo. A mesma autora nos apresenta uma visão sobre um ambiente mais apropriado às crianças com necessidades educativas especiais.
A CLASSE ESPECIAL É UMA SALA DE AULA PREFERENCIALMENTE DISTRIBUÍDA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL, ORGANIZADA DE FORMA A SE CONSTITUIR EM AMBIENTE PRÓPRIO E ADEQUADO AO PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM DO EDUCANDO PORTADOR DE NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS.
Na Classe Especial tentamos encontrar caminhos e meios facilitadores para a aprendizagem dos educandos com necessidades educacionais especiais, através de uma política de ação pedagógica, recursos educacionais mais individualizados e conta com o professor especializado. A educação especial faz parte de “um todo” que é a educação, e ter o seu valor reconhecido é de fundamental importância para que os educandos tenham seu crescimento e desempenho educacional satisfatório.
A educação inclusiva é uma educação voltada de TODOS PARA TODOS onde os ditos “normais” e os portadores de algum tipo de deficiência poderão aprender uns com os outros. Uma depende da outra para que realmente exista uma educação de qualidade. A educação inclusiva no Brasil é um desafio a todos os profissionais de educação.
O CONCEITO DE INCLUSÃO É:
• atender aos estudantes portadores de necessidades especiais na vizinhança da sua residência.
• propiciar a ampliação do acesso destes alunos às classes regular.
• propiciar aos professores da classe regular um suporte técnico.
• perceber que as crianças podem aprender juntas, embora tendo objetivos e processos diferentes.
• levar os professores a estabelecer formas criativas de atuação com as crianças portadoras de deficiência.
• propiciar um atendimento integrado ao professor de classe comum do ensino regular.
O CONCEITO DE INCLUSÃO NÃO É:
• levar crianças às classes comuns sem o acompanhamento do professor especializado.
• ignorar as necessidades específicas da criança.
• fazer as crianças seguirem um processo único de desenvolvimento, ao mesmo tempo e para todas as idades.
• extinguir o atendimento de educação especial antes do tempo.
• esperar que os professores de classe regular ensinem as crianças portadoras de necessidades especiais sem um suporte técnico.
A educação inclusiva tem de atender esses educandos com qualidade, mas tem que dar condições e especializações aos profissionais, para que os objetivos e o desenvolvimento aconteçam. Percebemos ao longo da história e, também na atualidade, que a maioria dos profissionais envolvidos na educação não sabem ou desconhecem a importância e a diferença da educação especial e educação inclusiva.
Primeiramente, quando descobrimos uma determinada deficiência em uma pessoa ela deveria ser encaminhada aos profissionais especializados: psicólogos, neuropediatras, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e pedagogos especializados, entre outros. Isso é de extrema importância para o desenvolvimento físico e também cognitivo desse educando tão especial. Mudando a postura e as concepções por parte de nós educadores e pesquisadores, consideramos as diferenças como sendo atributos naturais da humanidad
O conceito de educação inclusiva é amplo e complexo. Ele se expressa em diferentes formas de concepção e contextos. Para uma melhor compreensão deste estudo é necessário levar em conta a questão dos direitos humanos e das diferenças individuais. Sabemos que a inclusão de todos nas escolas brasileiras, ainda, não é uma realidade de fato. Muitos educadores que se dedicam a pesquisas sobre esse assunto revelam que para haver inclusão escolar na realidade das escolas regulares de ensino há a necessidade de mudanças de paradigmas educacionais e afirmam que, infelizmente, existe uma cultura que persiste em conservar práticas excludentes no cenário das escolas. Neste sentido, a presente reflexão, poderá contribuir com algumas questões sobre o desenvolvimento do processo de educação inclusiva. Elas ressaltam a importância de valorizar as diferenças e oportunizar a todos os alunos, o acesso ao espaço escolar e ao conhecimento científico com igualdade de oportunidades.
Antes de abordar algumas reflexões sobre o paradigma da educação inclusiva, considera-se pertinente analisar os conceitos de educadores que se dedicaram e ou dedicam a pesquisar sobre esse processo educacional. Educadores e pessoas que direta ou indiretamente, defendem o direito de todos na escola com as mesmas oportunidades de acesso e permanência e aprendizagem de qualidade. Nas ideias de Stainback (1999), a educação inclusiva é a prática da inclusão escolar de todos os alunos, independentemente, de seu talento, deficiência, origem socioeconômica ou origem cultural onde todos possam se apropriar, igualmente, de todos os benefícios que a escola pode oferecer. A inclusão é um valor. Ela é o que fazemos com todas as crianças. Ela é o que desejamos para nós mesmos. Nesse modelo de educação todos os alunos juntos têm o direito à mesma preparação para a vida na comunidade. Baseado neste conceito pode-se afirmar que esse tipo de educação requer uma transformação dos sistemas de ensino no país.
As escolas brasileiras se configuram, ao longo da história de educação brasileira até os dias de hoje, no retrato de uma educação para uma parcela da sociedade. As mudanças ocorrem de forma lenta com relação ao processo de inclusão de todos no espaço educacional escolar. Basta verificar o índice de evasão, repetência e insucesso no processo de aprendizagem dos alunos.
Na visão de Mitler (2003), a educação inclusiva se baseia num sistema de valores que faz com que todos os alunos se sintam bem vindos à escola e esta celebra a diversidade que tem como base o gênero, a nacionalidade, a raça, a linguagem de origem, o nível de aquisição educacional e cultural, ou a deficiência. Esse modelo de inclusão, porém, implica em uma reforma radical nas escolas em termos de currículo, avaliação, pedagogia e agrupamento dos alunos nas atividades de sala de aula. Implica, também, no preparo apropriado dos professores mediante uma formação de uma educação e desenvolvimento profissional contínuo durante a vida profissional.
A ideia acima revela que o processo para uma educação inclusiva caminha como expressão de luta para o alcance dos direitos humanos, tendo, portanto, a necessidade de amplas transformações. Mantoan(2003), destaca que a educação inclusiva implica em mudança de paradigma educacional. É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós.
A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. Esse processo prevê a inserção de todos os alunos de forma radical, completa e sistemática. A inclusão escolar é produto de uma educação plural, democrática e transgressora que provoca uma crise de identidade institucional, que por sua vez, abala a identidade dos professores, pois parte dos mesmos buscam alunos de modelos ideais, permanentes e essenciais.
A ideia de aluno ideal pode nos levar a refletir sobre a cultura da homogeneidade, muitas vezes, desejada por educadores que temem mudanças, utilizam de práticas imutáveis e rotineiras e desvalorizam as diferenças individuais. O conceito de educação inclusiva nas palavras de Ferreira e Guimarães (2003) se refere ao acesso à escola de todos os alunos, indistintamente, independentemente, do fato de apresentarem dificuldades e ou deficiências.
Nesse modelo de educação é preciso criar alternativas técnico-pedagógicas, psicopedagógicas e sociais que possam contribuir para o processo de aprendizagem de todas as crianças, e isto requer mudança de antigos para novos paradigmas. E é a partir da compreensão de inúmeros aspectos ligados aos conceitos de igualdade e de diferença, é que se pode investir em seres humanos melhores e mais fraternos. E assim sendo, haverá significativa contribuição para profundas modificações na área educacional.
De acordo com Guimarães (2003), a inclusão escolar que funciona se baseia na ideia de que incluir é mais do que criar condições para os deficientes, é um desafio que implica em mudança da escola como um todo, partindo do projeto pedagógico, à postura do professor diante dos alunos. Na educação inclusiva não se espera que o aluno com deficiência se integre à escola, mas que esta se transforme de maneira a possibilitar a inserção total dele.
Considerando a ideia acima, vale a pena chamar a atenção pelo fato de que a escola precisa de transformação para receber qualquer tipo de aluno, mesmo aqueles com deficiência. Valendo-se disso, uma questão merece ser refletida: Há interesse e vontade política por parte de todos os profissionais das escolas em mudar, radicalmente, atitudes, práticas e conceitos? Nas últimas décadas, o tema inclusão tem sido palco de debate para educadores, pais de alunos com deficiências e pessoas diretamente ligadas a instituições que lutam pela inclusão e valorização das pessoas que portam alguma deficiência ou dificuldades de aprendizagem. Pensar a educação numa lógica inclusiva é pensá-la em novas perspectivas educacionais, é caminhar para a busca dos direitos, bem como, levantar a bandeira da igualdade no cenário educativo.
Para uma maior compreensão das polêmicas que envolvem a ideia dos processos de integração ao processo de inclusão, Mantoan (2003, p. 22) sugere importantes reflexões que podem favorecer uma melhor compreensão desses paradigmas educacionais. A discussão sobre integração e inclusão provoca dúvidas devido aos significados semelhantes, porém, ambos se referem à situações de inserção no ensino regular de maneiras diferentes e se divergem nos fundamentos teórico-metodológicos. Para iniciar a discussão ela faz o seguinte registro sobre o processo de integração escolar:
Os movimentos em favor da integração de crianças com deficiência surgiu nos Países Nórdicos, em 1969, quando se questionaram as práticas sociais e escolares de segregação. Sua noção de base é o princípio de normalização, que não sendo específico da vida escolar, atinge o conjunto de manifestações e atividades humanas e todas as etapas da vida das pessoas, sejam elas afetadas ou não por uma incapacidade, dificuldade ou inadaptação.
No processo de integração escolar o aluno participa das atividades escolares na sala de aula do ensino regular e também do ensino de escolas especiais. Assim sendo, esse aluno transita no sistema escolar regular e especial, em todos os tipos de atendimento, ou seja, classes especiais em escolas comuns, ensino itinerante, sala de recursos, classes hospitalares, ensino domiciliar e outros.
Neste sentido, o aluno é submetido a um processo parcial de inserção, pois o sistema segrega quando oferece serviços educacionais de forma diferenciada para alguns em lugares especiais, ou seja, a escola não muda como um todo, mas os alunos precisam se deslocar, e mudar para se adaptarem às exigências de um sistema que prima pela homogeneização e nivelamento da aprendizagem. Assim sendo, o processo de integração tem por objetivo inserir um aluno ou um grupo de alunos, que já foi anteriormente excluído.
O sistema de integração na escola denota situações de seleção e discriminação, pois nem todos os alunos com deficiência cabem nas turmas de ensino regular. Há, infelizmente, resistências por parte de algumas escolas em aceitar a presença de pessoas que possuem características marcantes, sejam elas físicas ou mentais. E a situação é mais constrangedora, ainda, quando a escola nem se quer avalia as reais condições do aluno de participar das atividades cotidianas do espaço educativo. Considerando esta situação, percebe-se que a escola não muda, não avalia suas estruturas, não mexe no sistema que já se encontra enraizado em ideias inflexíveis e rigidamente registradas num modelo cultural que parece se apresentar resistente a mudanças.
Em situações onde a integração escolar é o único caminho que a escola adota, concebe-se uma proposta de trabalho menos holística, pois os objetivos educacionais são reduzidos para compensar as dificuldades de aprendizagem, os currículos são adaptados e as avaliações são especiais limitando a capacidade de transgressão dos limites individuais, ou seja, é predeterminada a quantidade de conhecimentos que o aluno consegue aprender. Com base nesta afirmação, pode-se entender que num sistema de ensino no qual não se acredita na capacidade do ser humano de ser mais e de aprender sempre fica clara a situação de exclusão.
A integração escolar pode ser entendida como o “especial na educação”, ou seja, a justaposição do ensino especial ao regular, ocasionando um inchaço, desta modalidade, pelo deslocamento de profissionais, recursos, métodos e técnicas da educação especial às escolas regulares. (MANTOAN, 2003, p. 23)
A ideia acima revela que o objetivo da integração escolar se limita a inserir o aluno na escola regular sem mudanças e abolição dos serviços segregados da educação especial. Além disso, essa modalidade exige que o aluno é que se adapte às exigências do sistema que já encontra alojado.
No caso da inclusão escolar, o tratamento das diferenças tem uma política de organização que se baseia no princípio da igualdade. Esta no sentido de favorecer o direito a ter direitos iguais. Pois a Constituição Federal prescreve no seu Art. 5º que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
O registro deste artigo é claro e objetivo no que se refere aos direitos de qualquer cidadão ter os mesmos direitos. Neste sentido, caberia a qualquer escola investir na organização de seu sistema de ensino pautado na ideia de inclusão. Sobre a questão da inclusão escolar, Mantoan (2003) também sugere uma importante contribuição para as escolas brasileiras, no momento em que discute conceitos, alternativas de melhoria da qualidade do ensino e favorece um novo olhar sobre a questão da valorização das diferenças individuais no espaço da sala de aula e na escola. Ela enfatiza que para a escola ser inclusiva precisa partir de um bom projeto pedagógico que começa pela reflexão.
Um bom projeto valoriza a cultura, a história e as experiências anteriores da turma. Os alunos precisam de liberdade para aprender do seu modo, de acordo com as suas condições. E isso vale para os estudantes com deficiência ou não. O processo de educação inclusiva exige de fato mudança de paradigma educacional. Exige que chegue ao fim a subdivisão do ensino especial e ensino regular. Pois é direito de qualquer pessoa, ocupar um espaço na escola pública, e ou, na sociedade, seja em qualquer tempo ou espaço, considerando as normativas instituídas em lei.
A partir do momento que se instaura a educação inclusiva no meio educativo haverá obstáculos reais a serem transpostos, pois os impactos da inclusão numa cultura já instalada podem provocar insegurança, insatisfação, medo e a versão ao processo. Além disso, essa nova visão inclusiva de trabalho vai abalar a rotina da massificação dos programas prontos e indiscutíveis e das classes especiais nas escolas que passarão a não existir mais. Assim sendo, todas as turmas da escola inclusiva se constituirão em espaços da diversidade. Espaço para as trocas culturais, para o respeito à capacidade de cada aluno para aprender dentro do seu tempo.
Tais afirmações podem gerar insegurança e até mesmo descrédito de alguns professores que não acreditam neste modelo de educação. A educação inclusiva vai, com certeza, mexer com conceitos, paradigmas e culturas cristalizadas de que não é possível trabalhar na perspectiva da igualdade. Mitler (2003) apud Cláudia Werneck que salienta com propriedade a seguinte contribuição “Traga dúvidas e incertezas, doses de ansiedade, construa e desconstrua hipóteses, pois aí reside a base do pensamento científico do novo século. Um século cansado de verdades, mas sedento de caminhos.” Nessa reflexão presencia-se a emergência de mudanças, de posturas científicas e complexas. O sujeito dessa sociedade atual não pode mais conviver com verdades prontas e incontestáveis. É preciso caminhar para frente em busca de novas ideias e resolução para os problemas que afligem.
A realidade atual requer mudança de antigos para novos paradigmas. A transição do processo de integração e inclusão passa por momentos de desafios, incertezas, conflitos, medos e acima de tudo insegurança de se lançar ao novo. Neste sentido, Mitler (2003) apud Morin (2000), que sugere com pertinência a seguinte ideia que poderia servir de relação com essa transição de processos:
Estamos numa época em que temos um velho paradigma, um velho princípio que nos obriga a disjuntar, a simplificar, a reduzir, a formalizar sem poder comunicar aquilo que está disjunto e sem poder conceber os conjuntos ou a complexidade do real. Estamos num período “entre dois mundos”: um que está prestes a morrer, mas que não morreu ainda, e outro, que quer nascer, mas que não nasceu ainda. Estamos numa grande confusão, num desses períodos angustiantes, de nascimentos que se assemelham aos períodos de agonia, de mortes.
A atualidade da era do conhecimento, da globalização e da complexidade imprime muitos desafios para a escola. Sem contar a questão da diversidade cultural que a cada dia evolui com as novas ideias, com as experiências e com as transformações que ocorrem na sociedade de maneira muito rápida. Toda essa mudança tende a provocar certa angústia nos professores que se sentem como se estivessem sempre defasados diante da sala de aula. Mantoan (2003) apud Mitler (2000), salienta que os professores do ensino regular se consideram despreparados e incompetentes para lidar com as diferenças nas salas de aula, especialmente, ao atendimento de alunos com deficiência, pois seus colegas especializados sempre se distinguiram por realizar unicamente esses atendimentos e exageraram essa capacidade de fazê-lo aos olhos de todos.
De acordo com a autora pode-se analisar que há por parte dos professores certa insegurança para lidar com situações que fogem da normalidade da prática comum do cotidiano. O fato dos colegas especializados exagerar na excelência da sua prática acaba favorecendo aos professores da escola regular de ensino o sentimento de incompetência.
Vale a pena lembrar que mesmo a partir de alguns acontecimentos como seminários e congressos destinados a discutir a educação inclusiva percebe-se que a prática da inclusão total e irrestrita é incipiente nas escolas regulares. Muitas tentativas de inclusão escolar se tornam experiências frustrantes devido a ações que não encontram novas alternativas de mudanças que favoreçam uma real educação inclusiva.
A importância central em torno desta discussão está no fato de que a exclusão e a discriminação devem ser extintas da escola. Todos os alunos devem ter as mesmas chances de acesso aos conhecimentos e às atividades realizadas pela escola. É preciso que se reconheça que a igualdade é direito de todos. Que a inclusão é dever da escola e que os profissionais que atuam no espaço educativo reconheçam que as diferenças existem e que elas devem ser incluídas dentro da escola para favorecer a riqueza da multiplicidade cultural e dos princípios éticos da valorização humana.
Se quisermos que cada pessoa seja um membro respeitado de nossas comunidades, não podemos separar algumas crianças de seus pares durante sua vida escolar. Susan Stainback
Abordar a questão das diferenças individuais é uma tarefa um tanto complexa. Porque ao mesmo tempo em que falamos em diferenças, falamos de semelhanças. A presente discussão não irá abordar a questão das diferenças de uma maneira peculiar. O contexto de discussão vai além das características físicas ou opções pessoais por determinadas preferências por coisas ou objetos. As diferenças individuais aqui colocadas são mais profundas, se referem à essência da pessoa, por isso, é de fundamental importância que sejam enaltecidas e valorizadas pela escola.
É preciso reconhecer que cada ser humano possui suas especificidades e habilidades naturais. São seres humanos diferentes por natureza, pertencem a grupos variados, convivem e desenvolvem-se em culturas distintas. São diferentes por direito. Infelizmente, existem culturas que insistem em diferenciar pessoas por condições intelectuais, sociais, físicas, dentre outras. É preciso pensar que tratar pessoas diferentemente, enfatizando suas diferenças de maneira a inferiorizá-las, é criar estigmas, é excluir.
Conviver reconhecendo e valorizando as diferenças é uma experiência essencial à nossa existência, desde que definamos a natureza dessa relação, distinguindo o estar com o outro do estar junto ao outro. Estar juntoao outro tem a ver com o que o outro é – é um ser que não é como eu sou, que não sou eu. Essa relação estabelece uma identidade imposta, forjada e rotulada pelo outro. Estar com o outro, tem a ver com quem é esse outro, esse desconhecido, um enigma que tenho de decifrar e que vai sendo desvelado à medida que se constrói entre nós um vínculo pelo qual nos confrontamos, nos identificamos e nos constituímos como seres singulares e mutantes. (MANTOAN(2004/2205, p. 13 apud SILVA, 2000).
A escola como instituição formadora de ideias, não pode destruir as diferenças no seu meio. Deve acima de tudo extinguir a tentativa de assegurar homogeneidade das turmas escolares e acolher a diversidade cultural existente nos vários pensamentos e vivências pessoais num mesmo espaço.
Numa entrevista à revista Pátio, Stainback (2004/2005) respondendo à pergunta se as escolas deveriam estar equipadas para atender a qualquer tipo de criança com necessidade especial ou seria melhor se patologias específicas fossem atendidas somente em educação especial, ela ressaltou que: se quisermos que cada pessoa seja um membro respeitado em qualquer lugar, não se pode separar algumas crianças de seus pares durante a trajetória de vida escolar. Não há justificativa para a segregação nas escolas e nem na sociedade.
Todos os indivíduos têm direito de ser parte integrante de qualquer espaço na sociedade. Não acredito que apenas algumas pessoas têm o direito de ser parte de todo o grupo, enquanto outras precisam provar o seu valor porque são consideradas diferentes. Quando as crianças não aprendem juntas e não se compreendem mutuamente, enraíza-se o fenômeno do “nós e eles”. É preciso acreditar que toda criança tem algo a oferecer, e seus talentos não serão aproveitados pelos pares se segregarmos aquelas percebidas por “nós como eles”.
A ideia acima ilustra uma das maiores dificuldades que precisam ser repensadas e discutidas nas escolas. A construção de novos paradigmas de inclusão deve partir da ideia da valorização das diferenças e do direito a igualdade. Na atualidade, não é possível negar a política e a organização das diferenças.
A sociedade de hoje vive numa época em que se assiste de maneira acelerada o abalo das certezas. Emerge o paradigma da lógica includente da complexidade. Morin (2002) concebe que a contribuição da cultura das humanidades para o estudo da condição humana é fundamental. O estudo da linguagem sob a forma mais consumada que é a forma natural, literária e poética é criada na essência de cada um.
No momento em que a escola conceder espaço para que todos se manifestem, independentemente de crença, etnia, condição física, deficiência, estará criando um conjunto de estruturas para o êxito da inclusão. Na educação inclusiva, as informações devem se transformar em conhecimento. E esse conhecimento precisa ser transformado em sabedoria para que haja compreensão humana. A compreensão humana chega às pessoas quando se sente e se concebe os humanos como sujeitos. Ela torna as pessoas abertas ao sofrimento e a alegria. E é a partir da compreensão humana que se pode lutar contra o ódio e a exclusão. Considerando as palavras desse autor, percebe-se que as maiores dificuldades da escola em trabalhar com a inclusão ocorre por falta de sabedoria de como lidar com a diversidade humana.
Enfrentar essa dificuldade exige o trabalho de uma pedagogia criativa que dialogue com a incerteza humana, que prepare as pessoas para situações inesperadas, que conscientize as pessoas de que sua própria vida é uma aventura da humanidade. A diversidade humana apresenta-se assim, como algo vivido e a viver. É um caminho sem volta. Querendo ou não, todos fazem parte dessa diversidade humana. É preciso, portanto, lutar para adquirir respeito e o direito de ser diferente. Baseado nesta reflexão, Ferreira e Guimarães (2003, p. 41), registraram a seguinte ideia:
A sociedade está se tornando mais complexa a cada dia: a diversidade aumenta de forma acelerada. Com isso, imperceptivelmente, muda também a forma de compreender o mundo e os próprios semelhantes. É este o novo paradigma que está nascendo: “viver a igualdade na diferença”, “integrar na diversidade” – eis o apelo dos líderes dos movimentos em conflito. O diferente fica cada vez mais comum.
Partindo desta reflexão, qual é o papel da escola a desempenhar para valorizar todas as pessoas que ocupam um espaço no seu interior? A escola de hoje tem que assumir uma função diferente das quais assumiu no passado. Hoje a demanda social, política e humana exige um novo modelo de educação. A escola atual tem uma função mais complexa. O seu processo de formação deve estar pautado no despertar da reflexão crítica e sistemática sobre a natureza humana, na importância das diferenças individuais, na valorização da capacidade criadora de cada ser humano, na consciência da incompletude e da necessidade de ser mais a cada dia.
Não se pode negar que falta um longo caminho para que as escolas brasileiras incorporem na sua estrutura organizacional todos estes requisitos mencionados. Mas não se pode negar, também, que há tentativas de avanço no aprofundamento de valores e atitudes compatíveis com os ideais de igualdade, diferença, diversidade e deficiência.
Segundo Ferreira e Guimarães (2003), é necessário repensar o significado da prática pedagógica na escola regular, para poder assim evitar os erros do passado, quando os alunos com deficiência eram deixados á margem. Neste sentido, cabe a escola se tornar uma ambiente de ensino e aprendizagem de qualidade, garantindo aos alunos, sem distinção, o apoio e incentivo para que sejam sujeitos ativos nesse novo tipo de sociedade.
Pode-se concluir, portanto, que é urgente repensar sobre a questão das diferenças individuais e construir novos paradigmas de convivência humana. Não se pode negar a beleza da diversidade humana. É preciso percebê-la como algo positivo e importante para a compreensão humana.
A deficiência é tão antiga quanto a humanidade. Ao longo dos tempos, desde a pré-história até hoje, as pessoas sempre tiveram que decidir qual atitude adotar em relação aos membros mais vulneráveis da comunidade que precisavam de ajuda para obter alimento, abrigo e segurança, como as crianças, os velhos e as pessoas com deficiência.
Quando pensamos em quem são as pessoas com deficiência, imediatamente pensamos naquilo que as torna diferentes das demais, isto é, obviamente, a própria deficiência. É, portanto, a partir do conceito que a deficiência tem para nós que vamos nos posicionar frente às pessoas com deficiência. Se você considerar a deficiência como uma desgraça, provavelmente vai sentir pena de uma pessoa com deficiência. Mas, você pode pensar diferente se considerar a deficiência como uma característica como outra qualquer e considerar que as dificuldades que ela enfrenta são o resultado do ambiente despreparado para recebê-la. A tecnologia moderna é uma prova de que isto é verdade.
Uma pessoa com deficiência pode não conseguir subir uma escada, mas, se houver um elevador ou uma rampa, ela vai estar em pé de igualdade com as outras pessoas, não é mesmo? No Brasil, há definições médicas sobre o que é a deficiência. É importante que você as conheça, para saber como lidar com estes alunos:
Deficiência física: Alteração completa ou parcial dos membros superiores (braços) e/ou inferiores (pernas), acarretando o comprometimento da função física. Ter uma deficiência física não significa ter um rebaixamento intelectual. Muitas pessoas fazem esta confusão. É importante saber fazer esta diferença para não ignorar o potencial deste aluno. Geralmente, com algumas adaptações ele conseguirá acompanhar os colegas.
Deficiência auditiva: Perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, variando em graus e níveis, desde uma perda leve até a perda total da audição. Pode-se trabalhar com os resíduos auditivos nas atividades educacionais, através do uso de aparelhos auditivos, que amplificam o som da sala de aula.
Deficiência visual: abrange desde a cegueira até a visão subnormal (ou baixa visão), que é uma diminuição significativa da capacidade de enxergar, com redução importante do campo visual e da sensibilidade aos contrastes e limitação de outras capacidades. Logo que a deficiência é constatada, existem técnicas para trabalhar o resíduo visual nas atividades educacionais, na vida cotidiana e no lazer. Usando auxílios ópticos (como óculos, lupas etc) as pessoas com baixa visão distinguem vultos, a claridade, ou objetos a pouca distância. A visão se apresenta embaçada, diminuída, restrita em seu campo visual ou prejudicada de algum modo.
Deficiência mental: Segundo a definição adotada pela AAMR (American Association of Mental Retardation – Associação Americana de Deficiência Mental), a deficiência mental é um funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, coexistindo com limitações relativas a duas ou mais das seguintes áreas de habilidades adaptativas: comunicação, auto-cuidado, habilidades sociais, participação familiar e comunitária, autonomia, saúde e segurança, funcionalidade acadêmica, de lazer e trabalho. Manifesta-se antes dos dezoito anos de idade.
O aluno com deficiência mental tem um potencial que pode ser estimulado na sala de aula e através do convívio com outros alunos. Muitas pessoas confundem a deficiência mental com a doença mental (esquizofrenia, paranóias e outras), o que não é correto. São fenômenos completamente diferentes. A pessoa com deficiência mental não tem surtos, não tem ataques e não tem convulsões.
Deficiência múltipla: É a associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiências primárias (mental/visual/auditiva/física), com comprometimentos que acarretam consequências no seu desenvolvimento global e na sua capacidade adaptativa.
Surdocegueira: É uma deficiência única que apresenta as deficiências auditiva e visual juntas em diferentes graus. A pessoa surdocega pode desenvolver diferentes formas de comunicação para entender e interagir com as pessoas, com o meio ambiente e ter acesso a informações e a uma vida social com qualidade. Para sua autonomia, a pessoa surdocega precisa de um guia-intérprete para sua orientação e mobilidade, educação e trabalho. A surdocegueira não significa, necessariamente, que a pessoa seja totalmente cega ou surda. Podem existir resíduos visuais (baixa visão) e resíduos auditivos funcionais, suficientes para escutar uma conversação, especialmente quando é usado um aparelho auditivo. Existem duas formas de classificar a surdocegueira:
• Surdocego pré-linguístico: crianças que nascem surdocegas ou adquirem a surdocegueira nos primeiros anos de vida, antes da aquisição de uma língua;
• Surdocego pós-linguístico: crianças, jovens ou adultos que apresentam uma deficiência sensorial primária (auditiva ou visual) e adquirem a outra após a aquisição de uma língua (Português ou Língua de sinais), ou quando ocorre a aquisição da surdocegueira sem outros precedentes.
Até os anos setenta do século passado, a escola seguia o modelo da Integração, ou seja, aceitava somente os alunos que tivessem condições de acompanhar os métodos de ensino e o ritmo de aprendizagem da maioria dos alunos. Considerava-se que a deficiência era um problema que estava na pessoa e, portanto, era a pessoa que precisava ser modificada (habilitada, reabilitada, educada) para tornar-se apta a satisfazer os padrões aceitos no meio social (família, escola, emprego, ambiente). Quem não estivesse pronto para ingressar imediatamente na escola, precisava ser “preparado”, por uma classe especial ou Escola Especial, até ser considerado aceitável. A partir dos anos oitenta, esse modelo começou a ser questionado.
Já nos anos noventa, estava consolidado o novo conceito proposto: o da Inclusão. Por esse modelo, a deficiência não é um problema da pessoa, mas, sim, o resultado da incapacidade da sociedade em atender às necessidades dessa mesma pessoa. Portanto, pelo modelo da inclusão, é a sociedade (escolas, empresas, programas, serviços, ambientes físicos etc.) que precisa se tornar capaz de acolher todas as pessoas. Você deve ter ouvido muita gente falar que a Educação Inclusiva é uma ilusão e que ela nunca vai funcionar.
Você deve ter ouvido muitos professores dizendo que uma boa classe especial ou Escola Especial é melhor para as pessoas com deficiência do que uma Escola Inclusiva ruim. O que você pode dizer a essas pessoas é que esse é um falso dilema. As pessoas com deficiência têm direito a uma educação de qualidade e inclusiva. As duas coisas não são e não podem ser consideradas excludentes. Esse é um direito intransferível de todas as crianças e ninguém pode negar isso a elas.
A Sociedade para Todos está em processo de construção. Hoje, vivemos um momento de transição entre modelos e ideias, por isso ainda estamos convivendo com classes especiais e Escolas Especiais. Mas, a Escola Inclusiva e o modelo da Inclusão vieram para ficar porque se baseiam em conceitos teóricos e práticos desenvolvidos pelos melhores educadores em todo o mundo e refletem o nosso momento histórico. Esse momento de transição é inevitável porque adotar um novo modelo nunca é fácil. Um modelo de pensamento é uma espécie de filtro através do qual o mundo pode ser interpretado. Isto significa que, ao analisarmos um modelo, não o fazemos apenas racionalmente mas, também, e sobretudo, o fazemos emocionalmente.
O modelo da Inclusão exige que abandonemos preconceitos e estereótipos em relação à Educação e às pessoas com deficiência. É difícil mudar nossas opiniões, ideias e valores. Temos dúvidas e perguntas, e muitas vezes não sabemos como fazer de forma diferente
Muitas vezes, é o professor que consegue perceber que a criança tem alguma dificuldade.
Sua função é avisar a família, orientando-a para procurar ajuda especializada. Mas isso não é um diagnóstico, cabe somente ao profissional especializado realizá-lo.
Possíveis sinais de deficiência visual:
• Irritação constante nos olhos;
• Aproximar muito o rosto do papel, quando escreve e lê;
• Dificuldade para copiar material da lousa à distância;
• Olhos franzidos para ler o que está escrito na lousa;
• Cabeça inclinada para ler ou escrever, como se procurasse um ângulo melhor para enxergar;
• Tropeços frequentes por não enxergar pequenos obstáculos no chão;
• Nistagmo (olho trêmulo);
• Estrabismo (vesgo);
• Dificuldade para enxergar em ambientes muito claros ou escuros.
O que você pode fazer?
• Orientar os pais para que procurem um médico especialista em visão (oftalmologista).
• Nunca usar colírio ou outros medicamentos sem recomendação médica.
Sugestões para a convivência com pessoas cegas ou com deficiência visual
• Se a pessoa cega não estiver prestando atenção em você, toque em seu braço para indicar que você está falando com ela. Avise quando for embora, para que ela não fique falando sozinha;
• Se sua ajuda for aceita, nunca puxe a pessoa cega pelo braço. Ofereça seu cotovelo ou o ombro (caso você seja muito mais baixo do que ela). Geralmente, apenas com um leve toque a pessoa cega poderá seguir você com segurança e conforto;
• Num local estreito, como uma porta ou corredor por onde só passe uma pessoa por vez, coloque o seu braço para trás ou ofereça o ombro, para que a pessoa cega continue a seguir você;
•Algumas pessoas, sem perceber, aumentam o tom de voz para falar com pessoas cegas. Use tom normal de voz;
•Não modifique a posição dos móveis sem avisar a pessoa cega e cuide para objetos não fiquem no seu caminho. Avise se houver objetos cortantes ou cinzeiros perto dela;
• Conserve as portas fechadas ou encostadas à parede;
• Para indicar uma cadeira, coloque a mão da pessoa cega sobre o encosto e informe se a cadeira tem braço ou não. Deixe que a pessoa se sente sozinha;
• Seja preciso ao indicar direções. Informe as distâncias em metros ou passos.
Se houver alunos com deficiência visual na sua sala
Esperamos que estas sugestões contribuam para o aproveitamento do aluno; pode ser proveitoso incorporá-las em sua rotina. Com o tempo, você descobrirá outras maneiras de receber estes alunos na sala.
• Leia ou peça para alguém ler o que está escrito na lousa;
• Sempre que possível, passe a mesma lição que foi dada para a classe;
• Procure o apoio do professor especializado, que ensinará à criança o sistema braile e acompanhará o processo de aprendizagem;
• Busca de recursos pedagógicos para o aluno com deficiência é um direito dele;
• Disponibilize com antecedência os textos e livros para o curso;
• Se possível, o material de estudo deve ser fornecido sob a forma de textos ampliados, textos em braile, textos e aulas gravadas em áudio ou em disquete, de acordo com as necessidades do aluno e a possibilidade da escola. O aluno poderá, ainda, precisar utilizar auxílios ópticos e computadores com programas adaptados, assim como apoio para trabalho de laboratório e do pessoal da biblioteca;
• Durante as aulas, é útil identificar os conteúdos de uma figura e descrever a imagem e a sua posição;
• Substitua os gráficos e tabelas por outras questões ou utilize gráficos simples em relevo;
• Transcreva para braile as provas e outros materiais;
• Possibilite usar formas alternativas nas provas: o aluno pode ler o que escreveu em braile; fazer gravação em fita K-7(ou outro equipamento que faça gravação, como celulares, computador etc.) ou escrever com tipos ampliados;
• Amplie o tempo disponível para a realização das provas;
• Evite dar um exame diferente, pois isso pode ser considerado discriminatório e dificulta a avaliação comparativa com os outros estudantes;
• Ajude só na medida do necessário;
• Tenha um comportamento o mais natural possível, sem super proteção, ou pelo contrário, ignorá-lo.
O sistema Braille é um processo de escrita e leitura baseado em 64 símbolos em relevo, resultantes da combinação de até seis pontos dispostos em duas colunas de três pontos cada. Pode-se fazer a representação tanto de letras, como algarismos e sinais de pontuação. Ele é utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão, e a leitura é feita da esquerda para a direita, ao toque de uma ou duas mãos ao mesmo tempo.
O código foi criado pelo francês Louis Braille (1809 – 1852), que perdeu a visão aos 3 anos e criou o sistema aos 16. Ele teve o olho perfurado por uma ferramenta na oficina do pai, que trabalhava com couro. Após o incidente, o menino teve uma infecção grave, resultando em cegueira nos dois olhos.
Como o aluno com deficiência visual pode aprender matemática?
Ele tem as mesmas condições para aprender matemática que uma criança não deficiente. Porém, é preciso que você adapte as representações gráficas e os recursos didáticos que vai utilizar. Para ensinar matemática, o instrumento mais utilizado é o ábaco (ou soroban) que é de origem japonesa. Seu manuseio é fácil e pode ajudar também os alunos que enxergam, pois ele concretiza as operações matemáticas.
Outra técnica complementar que pode ser utilizada com bons resultados é o cálculo mental, que deve ser estimulado desde o início da aprendizagem e que será útil, posteriormente, quando o aluno estudar álgebra. É importante ressaltar que, ao adaptar recursos didáticos para facilitar o aprendizado de alunos com deficiência, o professor acaba beneficiando todos os alunos, pois recorre a materiais concretos, que facilitam a compreensão dos conceitos.
Sinais de deficiência auditiva:
• As primeiras palavras aparecem tarde (3 a 4 anos);
• Não responde ao ser chamado em voz normal;
• Quando está de costas, não atende ao ser chamado;
• Fala em voz muito alta ou muito baixa;
• Vira a cabeça para ouvir melhor;
• Olha para os lábios de quem fala e não para os olhos;
• Troca e omite fonemas na fala e na escrita.
O que você pode fazer?
Orientar os pais a procurar profissional especializado (médico otorrinolaringologista ou fonoaudiólogo).
Sugestões para a convivência com pessoas surdas ou com deficiência auditiva
• Quando quiser falar com uma pessoa surda, se ela não estiver prestando atenção em você, acene para ela ou toque levemente em seu braço;
• Se ela fizer leitura labial, fale de frente para ela e não cubra sua boca com gestos e objetos. Usar bigode também atrapalha;
• Quando estiver conversando com uma pessoa surda, pronuncie bem as palavras, mas não exagere. Use a sua velocidade normal, a não ser que lhe peçam para falar mais devagar;
• Não adianta gritar;
• Se souber algumas palavras na língua brasileira de sinais, tente usá-las. De modo geral, suas tentativas serão apreciadas e estimuladas;
• Seja expressivo. As expressões faciais, os gestos e o movimento do seu corpo serão boas indicações do que você quer dizer, em substituição ao tom de voz;
• Mantenha sempre contato visual; se você desviar o olhar, a pessoa surda pode achar que a conversa terminou;
• A pessoa surda que é oralizada (ou seja, que aprendeu a falar) pode não ter um vocabulário extenso. Fale normalmente e, se perceber que ela não entendeu, use um sinônimo (carro em vez de automóvel, por exemplo);
• Nem sempre a pessoa surda que fala tem boa dicção. Se não compreender o que ela está dizendo, peça que repita. Isso demonstra que você realmente está interessado e, por isso, as pessoas surdas não se incomodam de repetir quantas vezes for necessário para que sejam entendidas.
Se for necessário, comunique-se através de bilhetes. O importante é se comunicar seja qual for o método.
Como você pode ensinar um aluno surdo?
Você pode desenvolver o processo de aprendizagem com o aluno surdo adotando a mesma proposta curricular do ensino regular, com adaptações que possibilitem:
• o acesso ao conteúdo, utilizando sistemas de comunicação alternativos, como a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), a mímica, o desenho, a expressão corporal;
• a utilização de técnicas, procedimentos e instrumentos de avaliação compatíveis com as necessidades do aluno surdo, sem alterar os objetivos da avaliação, como, por exemplo, maior valorização do conteúdo em detrimento da forma da mensagem expressa.
Você sabia que é errado dizer “surdo-mudo”? Algumas pessoas surdas não falam porque não aprenderam a falar. Elas não são mudas, porque podem emitir sons. A pessoa muda é aquela que não consegue emitir nenhum som. As pessoas surdas podem se comunicar de várias formas, uma delas é através da língua de sinais, que funciona como uma linguagem gestual.
Sugestões de apoio ao aluno com deficiência auditiva:
• Os alunos com deficiências auditivas devem ficar sempre na primeira fila na sala de aulas. Dependendo da condição sócio-econômica da família e do tipo de surdez, o aluno pode utilizar um recurso acústico (Aparelho Auditiva e/ou Sistema de FM), para amplificar o som da sala;
• Há alunos que conseguem ler os movimentos dos lábios. Assim, o professor e os colegas devem falar o mais claramente possível, evitando voltar-se de costas enquanto fala. É extremamente difícil para estes alunos anotarem nas aulas, durante a exposição oral da matéria, principalmente aqueles que fazem leitura labial enquanto o professor fala;
• É sempre útil fornecer uma cópia dos textos com antecedência, assim como uma lista da terminologia técnica utilizada na disciplina, para o aluno tomar conhecimento das palavras e do conteúdo da aula a ser lecionada. Pode também justificar-se a utilização de um intérprete que use a língua brasileira de sinais;
• Este estudante pode necessitar de tempo extra para responder aos testes;
• Fale com naturalidade e clareza, não exagerando no tom de voz;
• Evite estar em frente à janela ou outras fontes de luz, pois o reflexo pode obstruir a visão;
• Quando falar, não ponha a mão na frente da boca;
• Quando utilizar o quadro ou outros materiais de apoio audiovisual, primeiro exponha os materiais e só depois explique ou vice-versa (ex.: escreva o exercício no quadro ou no caderno e explique depois e não simultaneamente);
• Repita as questões ou comentários durante as discussões ou conversas e indique (por gestos) quem está a falar, para uma melhor compreensão por parte do aluno;
• Escreva no quadro ou no caderno do aluno datas e informações importantes, para assegurar que foram entendidas;
• Durante os exames, o aluno deverá ocupar um lugar na fila da frente. Um pequeno toque no ombro dele poderá ser um bom sistema para chamar-lhe a atenção, antes de fazer um esclarecimento.
Sinais de deficiência física:
• Movimentação sem coordenação ou atitudes desajeitadas de todo o corpo ou parte dele;
• Anda de forma não coordenada, pisa na ponta dos pés ou manca;
• Pés tortos ou qualquer deformidade corporal;
• Pernas em tesoura (uma estendida sobre a outra);
• Dificuldade em controlar os movimentos, desequilíbrios e quedas constantes;
• Dor óssea, articular ou muscular;
• Segura o lápis com muita ou pouca força;
• Dificuldade para realizar encaixe e atividades que exijam coordenação motora fina.
O que você pode fazer?
Orientar os pais para que procurem profissionais especializados (ortopedista, fisiatra e fisioterapeuta).
Sugestões para a convivência com pessoas com deficiência física
• Quando estiver empurrando uma pessoa sentada numa cadeira de rodas e parar para conversar com alguém, lembre-se de virar a cadeira de frente, para que a pessoa também participe da conversa;
• Empurre a cadeira com cuidado para evitar acidentes e preste atenção às pessoas que caminham à frente;
• Para uma pessoa sentada em cadeira de rodas, é incômodo ficar olhando para cima por muito tempo. Portanto, se a conversa for demorar mais, sente-se ou abaixe-se para que você e ela fiquem com os olhos no mesmo nível;
• Respeite o espaço corporal. A cadeira de rodas (assim como as bengalas e muletas) é quase uma extensão do corpo. Agarrar ou apoiar-se nesses equipamentos não é como se encostar a uma cadeira comum;
• Nunca movimente a cadeira de rodas sem antes pedir permissão para a pessoa que a utiliza;
• É mais seguro subir rampas ou degraus de frente. Para descer, é mais seguro de costas;
• Para subir um degrau, incline a cadeira para trás, levante as rodinhas da frente para apoiá-las sobre o degrau;
• Para descer um degrau, é mais seguro fazê-lo de marcha a ré, sempre apoiando acadeira, para que a descida seja sem solavancos;
• Para subir ou descer mais de um degrau em sequência, é mais seguro pedir a ajuda de outra pessoa;
• Se você estiver acompanhando uma pessoa com deficiência que anda devagar, procure acompanhar o passo dela;
• Sempre mantenha as muletas ou bengalas próximas à pessoa com deficiência;
• Esteja atento para a existência de barreiras arquitetônicas quando for visitar algum local com uma pessoa com deficiência motora;
• Pessoas com paralisia cerebral podem ter dificuldades para andar, fazer movimentos involuntários com pernas e braços, apresentar expressões estranhas no rosto e ter dificuldade para falar. Não se intimide com isso. São pessoas como você. Geralmente, têm inteligência normal ou, às vezes, até acima da média;
• Se você não compreender o que a pessoa está dizendo, peça para que repita.
• Isso demonstra interesse e respeito e as pessoas com dificuldades de comunicação não se incomodam de repetir.
Sugestões para adaptar o ambiente escolar às pessoas com deficiência física
A Secretaria de Educação Especial do MEC – Ministério da Educação sugere:
• O acesso físico é a preocupação fundamental para estes estudantes, devido a dificuldades de locomoção ou ao uso de cadeira de rodas. Isto implica a existência de percursos em que o aluno possa se movimentar mais facilmente de uma aula para as outras, ou seja, em que não tenha de se defrontar com barreiras arquitetônicas. Por isso, aconselhamos verificar se há caminhos mais fáceis para o aluno utilizar, sem obstáculos;
• Estes estudantes podem eventualmente atrasar-se, ao ir de uma sala para outra, principalmente quando as aulas não são todas no mesmo prédio. Pode ser necessário fazer algumas adaptações que permitam ao aluno frequentar aulas no laboratório;
• Se for possível, trabalhe diretamente com o aluno para criar um local acessível, promovendo a participação dele em todas as tarefas;
• Se a classe fizer um passeio, é importante incluir os alunos com deficiência.
Sinais de surdocegueira:
• Déficit de audição e visão;
• Atraso significativo no desenvolvimento global (motor e cognitivo);
• Ausência de fala;
• Dificuldade em estabelecer relações com o outro;
• Tendência ao isolamento pela falta de comunicação;
• Chora, geme e faz movimentos corporais como formas de comunicação.
O que você pode fazer?
Orientar os pais a procurar profissional especializado.
Sinais de deficiência mental:
• Atraso no desenvolvimento neuro-psicomotor (a criança demora para firmar a cabeça, sentar, andar, falar).
• Dificuldade no aprendizado (dificuldade de compreensão de normas e ordens, dificuldade no aprendizado escolar).
• É preciso que haja vários sinais para que se suspeite de deficiência mental. Um único aspecto não pode ser considerado como indicativo de qualquer deficiência.
O que você pode fazer?
Nem sempre é fácil o diagnóstico da deficiência mental, porque os sinais podem ser indicadores de problemas de outra ordem, como as questões emocionais que interferem no aprendizado. Portanto, o professor deve ser cuidadoso e procurar descartar esta possibilidade antes de encaminhar a família para um diagnóstico de deficiência.
Este tipo de diagnóstico é feito por uma equipe multiprofissional composta por psicólogo, médico e assistente social. Tais profissionais, atuando em equipe, têm condições de avaliar o indivíduo em sua totalidade, ou seja, o assistente social através do estudo e diagnóstico familiar (dinâmica de relações, situação da pessoa com deficiência na família, aspectos de aceitação ou não das dificuldades da pessoa, etc.) analisará os aspectos socioculturais; o médico através de entrevista detalhada e exame físico (recorrendo a avaliações laboratoriais ou de outras especialidades, sempre que necessário) analisará os aspectos biológicos e finalmente o psicólogo que, através da entrevista, observação e aplicação de testes, provas e escalas avaliativas específicas, avaliará os aspectos psicológicos e nível de deficiência mental.
Dicas de convivência
Mitos sobre deficiência mental:
• Toda pessoa com deficiência mental é doente;
• Pessoas com deficiência mental morrem cedo, devido a “graves” e “incontornáveis” problemas de saúde;
• Pessoas com deficiência mental precisam usar remédios controlados;
• Pessoas com deficiência mental são agressivas e perigosas, ou dóceis e cordatas;
• Pessoas com deficiência mental são generalizadamente incompetentes;
• Existe um culpado pela condição de deficiência;
• Meio ambiente pouco pode fazer pelas pessoas com deficiência;
• Pessoas com deficiência mental só estão “bem” com seus “iguais”;
• Para o aluno com deficiência mental, a escola é apenas um lugar para exercer alguma ocupação fora de casa.
Como tratar pessoas com deficiência mental?
• Aja naturalmente ao dirigir-se a uma pessoa com deficiência mental;
• Trate-a com respeito e consideração, de acordo com sua idade;
• Não a ignore. Cumprimente e despeça-se dela normalmente, como faria com qualquer pessoa;
• Dê atenção a ela, converse e vai ver como pode ser agradável;
• Não subestime sua inteligência. As pessoas com deficiência mental levam mais tempo para aprender, mas podem adquirir muitas habilidades intelectuais e sociais.
Alunos com deficiência mental
• Não subestime a inteligência das pessoas com deficiência mental! Encoraje as perguntas e a expressão de suas opiniões;
• Não superproteja as pessoas com deficiência mental. Deixe que ela faça ou tente fazer sozinha tudo o que puder. Ajude apenas quando for realmente necessário;
• Valorize mais o processo do que o resultado. Mas não ignore os resultados, eles também devem ser esperados e cobrados do aluno com deficiência mental;
• Promova a participação em atividades estimulantes e diversificadas;
• Respeite as preferências, os gostos e as decisões da pessoa.
A Síndrome de Asperger é um Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD), resultante de uma desordem genética, e que apresenta muitas semelhanças com relação ao autismo.
Ao contrário do que ocorre no autismo, contudo, crianças com Asperger não apresentam grandes atrasos no desenvolvimento da fala e nem sofrem com comprometimento cognitivo grave. Esses alunos costumam escolher temas de interesse, que podem ser únicos por longos períodos de tempo – quando gostam do tema “dinossauros”, por exemplo, falam repetidamente nesse assunto. Habilidades incomuns, como memorização de sequências matemáticas ou de mapas, são bastante presentes em pessoas com essa síndrome.
Na infância, essas crianças apresentam déficits no desenvolvimento motor e podem ter dificuldades para segurar o lápis para escrever. Estruturam seu pensamento de forma bastante concreta e não conseguem interpretar metáforas e ironias – o que interfere no processo de comunicação. Além disso, não sabem como usar os movimentos corporais e os gestos na comunicação não-verbal e se apegam a rituais, tendo dificuldades para realizar atividades que fogem à rotina.
Como lidar com a Síndrome de Asperger na escola?
As recomendações são semelhantes às do autismo. Respeite o tempo de aprendizagem do aluno e estimule a comunicação com os colegas. Converse com ele de maneira clara e objetiva e apresente as atividades visualmente, para evitar ruídos na compreensão do que deve ser feito.
Também é aconselhável explorar os temas de interesse do aluno para abordar novos assuntos, ligados às expectativas de aprendizagem. Se ele tem uma coleção de carrinhos, por exemplo, utilize-a para introduzir o sistema de numeração. Ações que escapam à rotina devem ser comunicadas antecipadamente.
A Síndrome de Williams é uma desordem no cromossomo 7 que atinge crianças de ambos os sexos. Desde o primeiro ano de vida, essas crianças costumam irritar-se com facilidade – boa parte tem hipersensibilidade auditiva – e demonstram dificuldades para se alimentar. Problemas motores e falta de equilíbrio também são comuns: demora para começar a andar, incapacidade para cortar papel, amarrar os sapatos ou andar de bicicleta, por exemplo. Por outro lado, há um grande interesse por música, boa memória auditiva e muita facilidade na comunicação. Pessoas com essa síndrome sorriem com frequência, utilizam gestos e mantêm o contato visual para comunicar-se.
Problemas cardíacos, renais e otites frequentes costumam acometer crianças com essa síndrome. Por isso, é importante manter um acompanhamento clínico para evitar o agravamento de doenças decorrentes. Na adolescência, escolioses também podem aparecer.
Como lidar com a Síndrome de Williams na escola?
A sociabilidade não é um problema para crianças com Síndrome de Williams. Mas é preciso tomar cuidado com a ansiedade desses alunos. Geralmente eles se preocupam demais com determinados assuntos. Conte com o apoio do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e respeite o tempo de aprendizagem de cada um.
Atividades com música atraem a atenção dessas crianças, tanto pela sensibilidade auditiva, quanto pela boa memória.
Também é comum que crianças com síndrome de Williams procurem fazer amizades com adultos e não se aproximem tanto das crianças da mesma idade. Estimular o contato do aluno com os colegas, portanto, é fundamental para o desenvolvimento escolar.
A Síndrome de Down é definida por uma alteração genética caracterizada pela presença de um terceiro cromossomo de número 21, o que também é chamado de trissomia do 21. T
rata-se de uma deficiência caracterizada pelo funcionamento intelectual inferior à média, que se manifesta antes dos 18 anos. Além do déficit cognitivo e da dificuldade de comunicação, a pessoa com Síndrome de Down apresenta redução do tônus muscular, cientificamente chamada de hipotonia. Também são comuns problemas na coluna, na tireóide, nos olhos e no aparelho digestivo. Muitas vezes, a criança com essa deficiência nasce com anomalias cardíacas, solucionáveis com cirurgias.
A origem da Síndrome de Down é de difícil identificação e engloba fatores genéticos e ambientais. As causas são inúmeras e complexas, envolvendo fatores pré, peri e pós-natais.
A Síndrome de Down na sala de aula
A primeira regra para a inclusão de crianças com Down é a repetição das orientações em sala de aula para que o estudante possa compreendê-las. Odesempenho melhora quando as instruções são visuais. Por isso, é importante reforçar comandos e solicitações com modelos que ele possa ver, de preferência com ilustrações grandes e chamativas, com cores e símbolos de fácil compreensão. A linguagem verbal, por sua vez, deve ser simples.
Uma dificuldade de quem tem a síndrome, em geral, é cumprir regras. Muitas famílias não repreendem o filho quando ele faz algo errado, como morder e pegar objetos que não lhe pertencem. Não faça isso. O ideal é adotar o mesmo tratamento dispensado aos demais. Eles têm de cumprir regras e fazer o que os outros fazem. Se não conseguem ficar o tempo todo em sala, estabeleça combinados, mas não seja permissivo.
Mantenha as atividades no nível das capacidades da criança, com desafios gradativos. Isso aumenta o sucesso na realização dos trabalhos. Planeje pausas entre as atividades. O esforço para desenvolver atividades que envolvam funções cognitivas é muito grande. Às vezes, o cansaço da criança faz com que as atividades pareçam missões impossíveis. Valorize sempre o empenho e a produção. Quando se sente isolada do grupo e com pouca importância no trabalho e na rotina escolares, a criança adota atitudes reativas, como desinteresse, descumprimento de regras e provocações.
A Síndrome de Rett é uma doença neurológica provocada por uma mutação genética que atinge na maioria dos casos, crianças do sexo feminino.
Caracteriza-se pela perda progressiva de funções neurológicas e motoras após meses de desenvolvimento aparentemente normal – em geral, até os 18 meses de vida. Após esse período, as habilidades de fala, capacidade de andar e o controle do uso das mãos começam a regredir, sendo substituídos por movimentos estereotipados, involuntários ou repetitivos. Palavras aprendidas também são esquecidas, levando a uma crescente interrupção do contato social.
A comunicação para essas meninas gradativamente se dá apenas pelo olhar. É comum que a criança com Síndrome de Rett fique “molinha” e apresentedesaceleração do crescimento. Distúrbios respiratórios e do sono também são comuns, especialmente entre os 2 e os 4 anos de idade. A partir dos 10 anos, o aparecimento de escolioses e de rigidez muscular faz com que muitas crianças percam totalmente a mobilidade. Isso, associado a quadros mais ou menos graves de deficiência intelectual.
A Síndrome de Rett é um Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) e uma das principais causas de deficiência múltipla em meninas.
Os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) são distúrbios nas interações sociais recíprocas que costumam manifestar-se nos primeiros cinco anos de vida. Caracterizam-se pelos padrões de comunicação estereotipados e repetitivos, assim como pelo estreitamento nos interesses e nas atividades.
Como lidar com essas crianças na escola?
É preciso criar estratégias para que as meninas com Síndrome de Rett possam aprender. O principal é estabelecer sistemas de comunicação que ajudem a criança – como placas com desenhos e palavras, para que ela possa indicar o que deseja.
A escola deve ser um espaço acessível, já que muitas crianças com essa síndrome necessitam de equipamentos para caminhar. Respeite o tempo de aprendizagem de cada criança e conte com a ajuda do Atendimento Educacional Especializado (AEE).
Faça ajustes nas atividades sempre que necessário e procure apresentar os conteúdos de maneira bem visual, para facilitar a compreensão.
O autismo, também chamado de Transtorno do Espectro Autista, é um Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) que tem influência genética e é causado por defeitos em partes do cérebro, como o cerebelo, por exemplo.
Caracteriza-se por dificuldades significativas na comunicação e na interação social, além de alterações de comportamento, expressas principalmente na repetição de movimentos, como balançar o corpo, rodar uma caneta, apegar-se a objetos ou enfileirá-los de maneira estereotipada. Todas essas alterações costumam aparecer antes mesmo dos 3 anos de idade, em sua maioria, em crianças do sexo masculino.
Para o autista, o relacionamento com outras pessoas costuma não despertar interesse. O contato visual com o outro é ausente ou pouco frequente e a fala, usada com dificuldade. Algumas frases podem ser constantemente repetidas e a comunicação acaba se dando, principalmente, por gestos. Por isso, evita-se o contato físico norelacionamento com o autista – já que o mundo, para ele, parece ameaçador. Insistir neste tipo de contato ou promover mudanças bruscas na rotina dessas crianças pode desencadear crises de agressividade.
Para minimizar essa dificuldade de convívio social, vale criar situações de interação. Respeite o limite da criança autista, seja claro nos enunciados, amplie o tempo para que ele realize as atividades propostas e sempre comunique mudanças na rotina antecipadamente. A paciência para lidar com essas crianças é fundamental, já que pelo menos 50% dos autistas apresentam graus variáveis de deficiência intelectual. Alguns, ao contrário, apresentam alto desempenho e desenvolvem habilidades específicas – como ter muita facilidade para memorizar números ou deter um conhecimento muito específico sobre informática, por exemplo. Descobrir e explorar as ‘eficiências’ do autista é um bom caminho para o seu desenvolvimento.
Reconhecer a escola como um espaço de todos, respeitando as diferenças de cada sujeito é um início importante. Sem contemplar o assistencialismo e superproteção, assim como outras atitudes que possam prejudicar o processo como as barreiras atitudinais.
As barreiras físicas como adaptações estruturais podem ser realizadas a partir de um projeto arquitetônico, porém a quebra das barreiras atitudinais devem se dar além de um projeto arquitetônico, mas por meio da continuidade de práticas pedagógicas que devem ser constantes na comunidade escolar.
Atitudes no espaço escolar
No primeiro momento quando temos o aviso de que teremos que adaptar nossa escola para receber um aluno com deficiência buscamos modificar o espaço físico (arquitetônico) com rampas, portas com largura (abertura) para a passagem de cadeira de rodas, chão com piso tátil, sinais sonoros, sinais luminosos e muitas outras providências são realizadas. Mas o esquecimento de que o espaço escolar é ocupado pelo ser humano e que é necessário compreender o outro pode ficar em segundo plano. Isto, no entanto, deve ser trabalhado ao mesmo tempo e de forma continua.
Possibilitar que o aluno com deficiência possa fazer parte do todo sem receber rótulos é necessário. Assim como entender que o sujeito constitui-se das suas eficiências (das potencialidades) e não da limitação de sua deficiência.
O desconhecer o diferente ainda se mostra recorrente, seja por falta de formação por parte do corpo docente, ou pelo fato de que a escola pode reproduzir as atitudes que circulam nos espaços sociais. Portanto, na atualidade a formação de professores deve oportunizar uma discussão sobre o tema. Assim podemos repensar a forma de conceitualizar o aluno com deficiência e de como agir nessas situações.
A inclusão do sujeito surdo usuário de Libras (Língua Brasileira de Sinais), por exemplo, no processo de inclusão escolar necessita de um suporte comunicacional e não uma organização arquitetônica. Na inclusão de surdos teremos que providenciar professores de Libras, intérpretes de Libras e professores surdos para em conjunto possa criar um espaço linguístico que oportunize que a Libras seja a primeira língua desse sujeito e que língua portuguesa na modalidade escrita seja a segunda língua.
Reconhecer o ambiente escolar como prática de ensino
O ato de ensino,que é um objetivo que a escola busca realizar em seu cotidiano, poderá ser realizado através de diversas metodologias. Cada professor deverá desempenhar uma parte importante desse processo. Ou seja, cada professor conhece estratégias de ensino adequadas para contemplar os conteúdos que leciona. Mas temos que lembrar que em uma sala de aula inclusiva teremos que retomar a premissa que não é o aluno que deve moldar a sala de aula, mas sim o professor oportunizar o acesso do aluno para com os conteúdos e discussões.
O ambiente ao qual estamos expostos influencia o processo de aprendizagem, interferindo nos fatores psicológicos e emocionais e induzindo comportamentos que podem ser mais ou menos favoráveis ao aprendizado. O início da vida escolar ou a mudança de escola podem gerar timidez, insegurança ou ansiedade. Um ambiente familiar agressivo, inseguro, com historia de alcoolismo, uso de drogas, pais separados ou em constantes litígios, pais desempregados ou com comportamento antissocial podem fazer com que seja muito difícil para a criança se dedicar ao processo de aprender. (CONSENZA, p. 130 -131, 2011)
Como aborda Consenza (2011) o ambiente pode ser um espaço importante para compor o sujeito. Isso vale para o aluno incluído que por sua vez recebe um tratamento infantilizado, ou não adequado para idade. Dessa forma começará aagir de forma inadequada. A família poderá fazer parte, já que a comunidade escolar não é limitada a alunos e professores.
Quando os pais perguntam ao filho sobre seu dia na escola e valorizam as atividades vivenciadas pelo aluno, ele ficará mais motivado para se envolver com aquelas atividades. O contrário também ocorre: pais que não leem ou que não incentivam os filhos a ler podem contribuir para o desinteresse deles pela leitura. (RAMON, p. 130, 2011)
Investir em formação continuada para os docentes da escola, assim como a gestão escolar e comunidade escolar em geral, poderá render bons resultados, pois assim os educadores estarão aprofundando o seu conhecimento sobre a deficiência estudada e quebrando barreiras sobre o que lhes era desconhecido.
Deve-se lembrar, mais uma vez, que nem todo o fracasso escolar está relacionado a um problema na saúde do aprendiz. É preciso ter cuidado para não “medicalizar” toda a dificuldade para a aprendizagem, transferindo da esfera da educação para a saúde a origem dos maus resultados obtidos por determinado aluno. (CONSENZA, p. 130 -131, 2011)
A necessidade de sempre compreender a deficiência não deve ser usada para rotular o aluno como incapaz de realizar determinadas tarefas. Ao invés disso, servirá para conhecer como corroborar, para melhorar seu desempenho nas tarefas que menos tem habilidade ou limitações.
O espaço de ensino deve ser gerenciado por uma equipe composta de professores, especialistas, gestores, supervisores e orientadores. Na tentativa de em conjunto desses profissionais proporcionarem uma qualidade de aprendizagem. O professor,num primeiro momento, precisa ter consciência que redigir um parecer sobre determinada criança, afirmando que é hiperativo, ou que possui uma determinada síndrome pode ser precipitada. Deve considerar o contexto familiar, social e da atitude da criança com a escola.
A investigação para procurar compreender, por exemplo, a hiperatividade do aluno, não pode ser somente nas aulas de matemática ou de português, pois essa criança pode ter dislexia ou descalculia do desenvolvimento. E por esse motivo é agitada em determinadas aulas, ou ainda ser agitada pelo simples fato de que em casa (vida familiar) é proibida de “gastar energia”, de poder interagir socialmente em espaços de convívio social.
O trabalho inclusivo deve ser realizado em parceria, entre professores do AEE (Atendimento Educacional Especializado) e professores regentes das turmas. Assim o pensamento que o aluno com deficiência é problema somente do professor especialista é um equivoco em dois sentidos. O primeiro sentido é que o aluno não é problema, mas sim que possui uma forma diferenciada para estar aprendendo. O segundo é que o professor especialista responsável pelo AEE é um agente de que apoia o professor regente para proporcionar autonomia ao aluno durante as intervenções pedagógicas.
O processo inclusivo é o conjunto de ações projetadas por uma equipe multidisciplinar composta por diversos profissionais da área educacional e podendo ter também alguns da área da saúde. Dessa forma o AEE é um elemento de grande valia. A própria LDB, em seu Art. 59. contempla os sistemas de ensino que assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação:
I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades;
II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;
III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;
IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;
V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.Para atender o artigo 59 da LDB, teremos que enquanto equipe buscar solucionar situações para o espaço escolar, adaptar e resignificar os espaços. O projeto pedagógico da escola deve estar claro para todos da comunidade escolar, prevendo as diversidades de educandos e suas necessidades.
Projeto Pedagógico que enseje o acesso e a permanência – com êxito – do aluno no ambiente escolar; que assuma a diversidade dos educandos, de modo a contemplar suas necessidades e potencialidades. A forma convencional da prática pedagógica e do exercício da ação docente é questionada, requerendo-se o aprimoramento permanente do contexto educacional. Nessa perspectiva é que a escola virá a cumprir o seu papel, viabilizando as finalidades da educação. (PCN’S, 1999, p. 19).
O fortalecimento das ações se da por meio do planejar uma escola que possa abraçar o todo com todos, solucionando as barreiras atitudinais e físicas antes que realmente sejam barreiras. Para Mantoan (2003, p. 70)
[…] ensinar atendendo às diferenças dos alunos, mas sem diferenciar o ensino para cada um, depende, entre outras condições, de se abandonar um ensino transmissivo e de se adotar uma pedagogia ativa, dialógica, interativa,integradora, que se contrapõe, a toda e qualquer visão unidirecional, de transferência unitária, individualizada e hierárquica do saber.
O professor precisa desacomodar o ambiente que foi construído e constituído ao longo do tempo. Também e importante saber que a sala de aula é um novo espaço, com nova forma e novas possibilidades e que o saber pode estar apresentado em uma posição diferente e que aprender poder ser um processo lento ou um exercício contínuo.
A sala de recursos que compõe esse novo espaço escolar precisa ter recursos como:
– Jogos pedagógicos que valorizam os aspectos lúdicos, a criatividade e o desenvolvimento de estratégias de lógica e pensamento.
– Jogos pedagógicos adaptados para atender às necessidades educacionais especiais dos alunos.
– Livros didáticos e paradidáticos impressos em letra ampliada, em Braille, digitais em Libras, com simbologia gráfica e pranchas de comunicação temáticas correspondentes à atividade proposta pelo professor, livros de histórias virtuais, livros falados, livros de história adaptados com velcro e com separador de páginas, dicionário trilíngue: Libras/Português/Inglês e outros.
– Recursos específicos como reglete, punção, soroban, guia de assinatura, material para desenho adaptado, lupa manual, calculadora sonora, caderno de pauta ampliada, caneta ponta porosa, engrossadores de lápis e pincéis, suporte para livros, tesoura adaptada, softwares, brinquedos e miniaturas para o desenvolvimento da linguagem e outros materiais relativos ao desenvolvimento do processo educacional.
– Mobiliários adaptados, tais como: mesa com recorte, ajuste de altura e ângulo do tampo; cadeiras com ajustes para controle de tronco e cabeça do aluno, apoio de pés, regulagem da inclinação do assento com rodas, tapetes antiderrapante para o não descolamento das cadeiras (BRASIL,2006, p. 20).
Sala de recursos? Sim, a sala de recursos poderá ser um espaço além da sala de aula para apoio docente, potencializando o aprendizado do aluno com deficiência. Transformando o que um conteúdo em sala de aula seria uma dificuldade, em um conteúdo para que o aluno busque pesquisar com recursos e adaptações direcionadas para sua especificidade na aprendizagem.
As Salas de Recursos Multifuncionais são espaços da escola onde se realiza o atendimento educacional especializado para alunos com deficiência, por meio do desenvolvimento de estratégias de aprendizagem, centradas em um novo fazer pedagógico que favoreça a construção de conhecimentos pelos alunos, subsidiando-os para que desenvolvam o currículo e participem da vida escolar (BRASIL, 2006, p. 13).
A sala de recursos na sua totalidade terá que atender as especificidades de cada aluno incluso, possibilitando uma parceria entre professor regente de turma e o professor do AEE.
Uma dúvida fica quando pensamos em quem define quais alunos poderão frequentar a sala de recursos, já que é paraser um apoio para aprendizagem. Com relação ao atendimento especializado que a sala de recursos deverá dispor e às especificidades ou dificuldades apresentadas pelos alunos assistidos nesse espaço, a legislação define:
Serão atendidos na Sala de Recursos Multifuncionais alunos com dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultam o acompanhamento das atividades curriculares; aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica ou aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; alunos com dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos; alunos que evidenciam altas habilidades/superdotação e que apresentem uma grande dificuldade ou interesse em relação a algum tema ou grande criatividade ou talento específico (BRASIL, 2006, p. 16).
A inclusão não é definida pela condição, deficiência ou necessidade da pessoa, mas pelo direito à educação em seu sentido amplo. Uma das maiores barreiras da inclusão é que a diversidade escolar não é aceita no ambiente escolar.
A formação docente deve ser ampliada para conhecer o espaço escolar, o ambiente que estará exercendo a docência é diversificado, não tendo somente um aluno, mas uma pluralidade de alunos.[…] o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento educacional especializado, aprofunda o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação especial. (MEC/SEESP, 2008).
A pedagogia já oferece nas formações atuais esse leque de formação, possibilitando um conhecimento sobre as deficiências e outros tipos de situações de atendimento educacional especializado. A formação continuada sempre se fará necessário para o aprimoramento e para atender as demandas que surgem durante os atendimentos educacionais.
A nomenclatura Sala de Recursos Multifuncionais se refere ao entendimento de que esse espaço pode ser utilizado para o atendimento das diversas necessidades educacionais e para desenvolvimento do apoio pedagógico necessário para atender o currículo escolar. Em um mesmo espaço, na mesma sala de recursos, estruturada com diferentes equipamentos e materiais, atende, conforme organização do docente, alunos com deficiência física, deficiência intelectual, altas habilidades/superdotação, dislexia, discalculia, deficiência auditiva, aluno surdo usuário de Libras, TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) ou outras necessidades e dificuldades educacionais.
Para atender alunos surdos usuários de Libras, deve-se contar com profissionais fluentes em Libras e materiais bilíngues,considerando que o aluno surdo é usuário de Libras como primeira língua e Língua Portuguesa como segunda língua. Para atender alunos cegos, por exemplo, deve dispor de professores com formação e recursos necessários para seu atendimento educacional especializado, como manuseio de reglete, escrita em Braile e lupas (em caso de baixa visão). A sala de recursos é multifuncional em virtude de sua constituição ser flexível para promover os diversos tipos de acessibilidade ao currículo, de acordo com as necessidades de cada contexto educacional (BRASIL, p. 14).
O atendimento educacional especializado não é limitado apenas as Salas de Recursos ou Salas Multifuncionais, pois algumas atividades ou recursos devem ser disponibilizados dentro da própria sala de aula do aluno, como, por exemplo, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e a disponibilidade das ajudas técnicas e tecnologias assistivas, entre outros. Nesse sentido, o atendimento educacional especializado não pode ser confundido com atividades de mera repetição de conteúdos programáticos desenvolvidos na sala de aula, mas deve constituir um conjunto de procedimentos específicos mediadores do processo de apropriação e produção de conhecimentos.
Incluir crianças com deficiência nas salas regulares depende de um trabalho diferenciado do educador e de muitas ferramentas de auxílio.
Fazer um planejamento para classes com jovens com deficiência exige cuidados especiais. A primeira coisa é conhecer a criança e a família. Esse contato, além de ajudar a saber com quem você vai passar o ano, também orienta sobre os materiais específicos de que pode precisar em aula. Outra forma de conseguir essas informações é procurar o profissional que oferece atendimento especializado. “Essa troca é importante para o professor ter ideia das habilidades e competências com as quais está lidando”, explica Daniela Alonso, consultora na área de inclusão e selecionadora do Prêmio Victor Civita – Educador Nota 10. “Com isso, ele pode pensar em propostas colaborativas dentro de sala e aperfeiçoar seus métodos pedagógicos. Cada aluno tem necessidades próprias. Nenhuma deficiência é igual”, diz.
O planejamento deve levar em conta que podem ser necessárias, por exemplo, transcrições para o braile, audiolivro ou interpretação em libras. Esse apoio, garantido por lei, é feito por especialistas em conjunto com a escola. As secretarias municipais, organizações regionais e nacionais de apoio aos deficientes, universidades ou o Ministério da Educação oferecem orientações, materiais didáticos e até mesmo profissionais e estagiários. “Com a escola, o educador pode cobrar soluções para assegurar os direitos de seus alunos”, diz Daniela.
Mais do que os materiais de acesso, planejar uma aula inclusiva implica observar a Educação de modo amplo. Em vez de aulas que privilegiem a informação e sua reprodução, o professor pode buscar a interação dos jovens. “A Educação para a inclusão pede uma mudança de concepção do ato de ensinar”, diz Maria Teresa Mantoan, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “O ensino focado na repetição de conceitos há muito tempo é ruim para qualquer estudante, com deficiência ou sem”, diz.
O caminho é abordar os assuntos com base em aspectos variados, por meio de técnicas ou recursos audiovisuais, considerando os saberes prévios da garotada. A valorização da experimentação e da criação em discussões, pesquisas ou trabalhos em grupo, com materiais que proporcionem diferentes níveis de compreensão, faz com que todas as crianças se sintam integradas e mais motivadas a aprender. E, quanto mais variados forem os instrumentos, melhor. “É bom ter em mente que, se o professor pensar só em imagens para traduzir os conceitos, ele não penaliza apenas quem é cego, mas também quem senta no fundo da sala ou tem mais facilidade em compreender verbalmente”, completa.
“A diversificação das técnicas em sala de aula fez todos responderem positivamente”, conta a professora Margarete de Menezes Prade, da EE Coronel Ciro Carvalho de Abreu, em Porto Alegre (RS). Esse ano ela recebeu um jovem cego em sua turma do 3º ano e precisou reorganizar seus cursos. Colocou bonequinhos e miniaturas de bichos nas aulas de ciências sobre os animais e, com os estudantes, levou a apresentação dos trabalhos em grupo para além da cartolina e leitura, deixando-a mais dinâmica. “Ele apenas colocou em evidência onde eu precisava agir diferente. Na hora de planejar as aulas, comecei a variar meus materiais de pesquisa e pensar em debates polêmicos e questões de diversidade”, diz. Ela também tem a ajuda da máquina em braile e, no ano que vem, terá um ábaco para o ensino da matemática. “Quando fico em dúvida, os alunos ajudam, dão ideias e trazem material de casa”, diz.
Cada estudante tem seu caminho e ritmo próprios de estudo, compreendendo temas de formas diversas. Na hora de avaliar, o que está em jogo é o progresso de cada um e seu processo de aprendizagem. “Quando optamos por ver o que o jovem é capaz de produzir e suas respostas às atividades propostas, conseguimos acompanhar seu percurso escolar e a evolução das competências”, explica Mara Lúcia Sartoretto, pedagoga e consultora da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down. Em outras palavras, não é a reprodução de informações, mas o que o aluno acrescentou ao seu conhecimento prévio e a forma como fez isso que devem ganhar nota.
Mara dá o exemplo de atividades diversificadas, como a construção de um portfólio. Por meio da observação diária, o educador descobre o que as crianças aprendem e a maneira pela qual trilham o saber. Também percebe as capacidades de cada um e ganha pistas de como ampliá-las.
Deficiência auditiva
A escola precisa providenciar um intérprete para os alunos que já dominam a libras e um educador disponível a ensinar a linguagem a professores e crianças
Fale sempre de frente, os alunos precisam enxergar seus lábios
Sempre que possível, utilize recursos visuais
Use gestos, pois facilitam a compreensão
Deficiência visual
Solicite os materiais específicos, como os utensílios para escrever em braile e o soroban, audiolivros ou lupas e um profissional disposto a ensinar a escola a ler e escrever em braile. Também é fundamental garantir a acessibilidade em toda a escola, como sinalizações e comunicados traduzidos
Acrescente estímulos orais às explicações
Não mude os móveis de lugar com frequência para prevenir acidentes
Deficiência física
Os materiais específicos podem ser pranchas ou presilhas para prender o papel na mesa, suportes para lápis e canetas e até computadores
Alargamento de portas, instalação de rampas e barras de apoio facilitam a mobilidade dos alunos
Deficiência mental
Informe-se com a família e os profissionais que acompanham o estudante sobre as necessidades dele e os instrumentos adequados para a aprendizagem
Estimule habilidades sociais e interpessoais
Faça avaliações compatíveis com o potencial de cada um. As comparações entre alunos são sempre prejudiciais
Planeje metodologias de ensino com recursos diversificados e dê aos conteúdos um significado prático e instrumental
fonte:https://novaescola.org.br/conteudo/7393/cuidados-especiais-para-alunos-idem
Ao todo são três softwares educacionais lançados pelo Projeto Participar.Aproximar é voltado para o ensino de gestos sociais para autistas,Participar para a alfabetização e Somar para o uso social da Matemática, como o uso de calculadora, de células monetárias e leitura de relógio digital.
As ferramentas foram pensadas e desenvolvidas por alunos e um professor do Departamento de Ciência da Computação da UnB, com uma consultoria pedagógica, visando atender às necessidades reais dos alunos.
Apesar de contar com recursos visuais e sonoros, os três programas foram pensados para ser executados em computadores mais antigos, como é o caso de computadores de muitas escolas no Brasil. Contendo indicações ao professor, seu objetivo é servir de apoio aos professores que trabalham com autistas e deficientes intelectuais.
A ferramenta já é utilizada em 650 escolas públicas do Distrito Federal, ou seja, já vem sendo testada em casos reais.
A importância do aprendizado dessas habilidades apresentadas nos softwares produzidos pelo grupo Participar é que são fundamentais para a autonomia e inserção social desse público. É daí que surge o nome do projeto: visando a maior participação dos deficientes intelectuais na vida social.
Para baixar os programas, basta acessar:http://www.projetoparticipar.unb.br/
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília: MEC/SEE, 1994.
BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares. Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1999.BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Adaptações Curriculares: Estratégias para a Educação de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais. Brasília, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, MEC/SEE, 2008.
BEYER, Hugo Otto. Inclusão e Avaliação na Escola de alunos com necessidades educacionais especiais. 2ª edição. Porto Alegre: Mediação, 2005.
CONSENZA, Ramon M; GUERRA, Leonor B. Neurociência e Educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.
-https://novaescola.org.br