Vamos à descrição dos equipamentos adquiridos para a execução de ações de contrainteligência, desde o primeiro, até os que foram apreendidos durante a operação Métis.
As especificações e quantidades foram por mim definidas a partir de observações pessoais e projeção da atividade. Nunca recebi um pedido ou indicativo qualquer que demonstrasse o mínimo interesse dos senhores Parlamentares, à exceção de uma única conversa com ACM, já descrita, e mesmo assim após a primeira aquisição já estar concretizada.
Infelizmente, cheguei a conclusão de que a preocupação das autoridades para com as informações de interesse nacional é, no mínimo, descuidada. Talvez recentemente e após a minha exclusão da atividade (um lento e doloroso processo de defenestração), uma proposta com interesses mais pessoais, como varreduras anti-grampos para envolvidos na Lava-Jato, tenha parecido mais útil ao interesse de Vossas Excelências...
A estrela desta aquisição foi sem dúvida o Correlacionador Espectral OSCOR-5000. OSCOR, para quem não sabe, vem a ser a sigla para Omni Spectral CORrelator.
O modelo adquirido era composto por um receptor de radiofrequência tipo Superheterodino Quadri-band e sintetizador com 3 PLL - Phase Locked Loop (um circuito de controle com realimentação sensível à fase/frequência), cobertura de 10kHz a 3GHz, resolução de 100Hz, sensitividade de 0.8μV típico e 15kHz de largura de banda (máximo de +15dBm). O forte mesmo eram os demoduladores os quais podiam ser aplicados a quase todas as frequências: AM e FM wide (250 KHz), AM e FM narrow (15,6 KHz), FM SC (ou SubCFM, o demodulador utiliza 250 kHz primário e 15 ou 6 kHz secundário ), SSB/CW (SSB é a sigla para Single Side Band - já esse CW é aquele sinal tipo morse gerado quando se liga e desliga um transmissor, vai longe mesmo com pouca potência). Além disso, tinha detector de infravermelhos, sub-portadoras, corrente portadora (pela energia elétrica) e era capaz de fazer a triangulação com direção, altura e distância do sinal. Tudo isso concentrado em uma única maleta, até que bastante leve: 12,7 Kg. Com esse equipamento eu conseguia em poucas horas realizar o serviço que, sem ele, teria de ser executado por diversos outros equipamentos, indisponibilizando o ambiente até por dias. Curiosamente, essa versão do OSCOR veio com um gravador analógico para o registro de sinais de áudio ou ruídos, uma função bastante inútil para um equipamento tão avançado. O modelo seguinte já não veio com esse dispositivo.
Já o outro equipamento, detector de junções não-lineares, é um localizador de dispositivos eletrônicos que utilizem em sua composição as tais junções não-lineares. Esse tipo de junção é característica dos semicondutores existentes, são junções básicas, do tipo P e N (aqueles formados por processos de liga ou difusão). Quando sinais encontram uma junção não-linear, frequências "secundárias" são geradas, matematicamente relacionadas com os sinais "primários". Logo, o equipamento é um emissor de uma determinada frequência e receptor das frequências que retornam como resposta, conhecidas como frequências harmônicas. Interessam as chamadas "secundárias" e "terciárias". Aproveita do fenômeno da intermodulação passiva. O Boomerang infelizmente emitia uma frequência específica e fixa. Já o Orion adquirido posteriormente emite um range de frequências, selecionando automaticamente a que estiver mais "limpa", ou seja, a que estiver com o espectro mais livre.
Os outros itens dessa aquisição diziam respeito a software de interface para que a base de dados do OSCOR pudesse ser armazenada em um computador, e geradores de ruído que eram utilizados para fazer a correlação do som ambiente com o áudio captado. Com o tempo acabei substituindo-os por outras fontes sonoras disponíveis no ambiente, principalmente pelo sistema de som dos gabinetes, o que significava menos equipamentos para se transportar.
Abaixo, as aquisições mais antigas. Na primeira figura à esquerda, o Detector de Junções Não-lineares Boomerang NLJD-5, da ISA - Information Security Associates, LLC. Ao centro, o Correlacionador Espectral OSCOR-5000, da REI - Research Eletronics International, e o software OPC-5000 rodando em um notebook. À direita, o Portable Noise Generator PNG-200.
A primeira foto abaixo é de um fibroscópio 5000K-870DR, cabeça com visão direta e a 90º, diâmetro de 7.5mm, e articulada a 120º Four-Way, alcance útil de 1.8m, igual ao adquirido pelo Senado.
A segunda foto mostra um modelo similar ao nosso, o qual pode ser visto atrás de mim, a direita, na quarta foto abaixo. A peça amarela é a fonte de luz.
A terceira foto é parte de uma videosonda com monitor de plasma 7005K-11-240-50, equipamento que vem dividido em duas maletas (fonte de iluminação e monitor ficam em uma única maleta, e a sonda em outra). As duas maletas podem ser também vistas na quarta foto atrás de mim, a preta a esquerda e a cinza ao centro.
Na quarta foto estou eu, complementando uma vistoria que não era de contrainteligência, mas sim de EOD - Explosive Ordnance Disposal, mas que também poderia ser de IEDD - Improvised Explosive Device Disposal, e que eu torcia para não envolver componentes biológicos, pois havia sido levada para minha sala. A máscara e luva se deviam a possibilidade da presença dos compostos químicos ou bacteriológicos. Nesse caso, o material chegou a mim como "seguro para inspeção manual" após o operador do raio-x não identificar a presença de nenhum componente metálico no objeto. Como não acompanhei essa tal vistoria, tratei de seguir meus instintos e não confiar no que não vi. Na minha inspeção, o detector manual identificou um componente que o operador de raios-x deixou escapar e que poderia ser utilizado para acionar um detonador. As sondas tiveram seu projeto elaborado no contexto da contrainteligência mas sua aplicação no Senado Federal foi bem eclética.
Esse contrato duplicou a capacidade de busca e supriu a capacidade contingencial dos equipamentos. Permitiu a reativação do serviço de busca a junções não-lineares, uma vez que o Boomerang ficou inutilizado por operar na mesma frequência adotada pela telefonia celular (passou a dar alarmes falsos continuamente). Além disso foi um acréscimo na quantidade de ferramentas de inspeção. Então, para ficar claro, passamos a ter os equipamentos em contingência, ou seja, se um danificasse sempre teríamos outro pronto para uso, e se necessário duas equipes poderiam atuar simultaneamente.
Na primeira foto abaixo, o novo OSCOR-5000 versão E. Difere muito pouco do modelo que já tínhamos. Ainda assim, é possível notar a ausência do gravador, que no compartimento de acessórios (no meio, onde há um dispositivo azul), ficava parcialmente encoberto pelo lado esquerdo do fone de ouvido (comparar com a foto do modelo anterior, no início desta página). A segunda e terceira fotos são de Detectores de Junções não-lineares NJE-4000. Os nossos são um pouco diferentes, são do modelo de alto ganho HGO-4000, muito mais potentes - tive contato com profissionais que nem sabiam que esse equipamento existia, o que considero ponto meu.
Abaixo, na primeira foto o kit de inspeção OTK-4000. Contém injetor de sinais e seu respectivo receptor (os dois equipamentos azuis à direita do macete), micro boroscópio rígido, detector de fiação e metais, multímetro Fluke, entre outras ferramentas. Na segunda foto a antena ativa RF Spectrum Down Converter MDC-2100. Essa antena permitiu que o equipamento pudesse rastrear transmissores a até 21 GHz, muito populares entre os americanos, russos e chineses para a espionagem comercial. Na terceira foto, o Video Pole VPC-64, um ótimo sistema de câmera integrada a um monitor, e que faz as vezes de um espelho telescópico.
Resultado do Projeto básico 3/2011, foi meu último Projeto voltado para essa finalidade no desempenho da atividade de Gestor de Contrainteligência Técnica . Apesar de ter pedido o caráter reservado da tramitação do processo, cópia do contrato está disponível na seção "Transparência" do site do Senado Federal, através do link https://www.senado.leg.br/transparencia/liccontr/contratos/getArquivosBlob.asp?codTexto=194546 - acessado em 29/02/2020, às 23:46 hs. Contraditoriamente, o contrato de aquisição ainda consta como sigiloso, não sei por qual motivo. Prova de que o Senado Federal agora carece de competência. Por via das dúvidas e para o caso de seu acesso ficar indisponível, deixo uma cópia neste link.
Então, uma vez que a informação tornou-se pública, vou explicar a utilidade de cada item:
Abaixo, o OSCOR Green, o TALAN e o BFI-1000.
Fonte das imagens acima: Research Electronics International e International Private Investigator.