Na página anterior, fiz a seguinte conjectura:
"Muito embora eu tenha sempre me preocupado em preservar todas as informações técnicas necessárias à continuidade das atividades sob minha responsabilidade, e nesse sentido eu tinha preservado 15 anos de dados digitais, sei que tão logo saí tudo que eu tivera o cuidado de preservar na rede do Senado Federal foi destruído. Isso dá uma ideia sobre os novos rumos que a atividade tomou. Foi uma ruptura, uma forma de esconder a forma correta, profissional, ética, de trabalhar. Quem assumisse a partir daí teria que começar não mais a partir do meu legado, mas do zero, tendo como baliza não mais do que as ordens dos Diretores. A passos largos empurraram os agentes no escuro e na direção errada, enquanto aqueles ingenuamente confiavam ser a direção certa..."
Essa tese se confirma não só observando o desenrolar da Operação Métis, mas principalmente a partir dos depoimentos prestados pelos agentes que exerceram a atividade após minha saída.
Os depoimentos publicados pela imprensa são o suficiente para confirmar a "redefinição" dos objetivos da contrainteligência do Senado.
O Estadão publicou, no Blog do jornalista Fausto Macedo, a reportagem sob o título "Policial da contrainteligência diz que desconfiava de ordens do Senado e teve medo de ser confundido com ‘espião’".
Apesar do jornalista não ter abordado a questão dos objetivos da contrainteligência (desconheço que a questão "macro" já tenha sido abordada por algum meio de comunicação), uma frase do depoente, citada na matéria, transpareceu que o agente tinha absorvido, de alguma forma, a função originária da atividade, por isso sua surpresa quando confrontado com a informação sobre uma varredura "política".
Refletindo sobre tal, recordei que eu tinha aplicado aos novos agentes da Polícia do Senado a instrução "Fundamentos da Inteligência e da Contrainteligência aplicados ao Senado Federal" (Processo 00200.021576/2012-04, assunto: solicita curso de iniciação à carreira de Policial Legislativo).
O curso foi aplicado em outubro de 2012, e na ocasião detalhei para os novos agentes alguns aspectos sobre a dinâmica e singularidades da atividade de contrainteligência. Um dos aspectos abordados foi o objetivo primordial, a proteção de informações envolvendo a segurança nacional sob a guarda do Senado. Foi nessa ocasião que aqueles novos agentes tiveram o primeiro acesso aos equipamentos de contrainteligência, os quais coloquei para funcionar e permiti que manuseassem à vontade, de forma a que matassem sua curiosidade.
Voltando à reportagem do "Estadão", na matéria já citada foi publicado o inteiro teor do depoimento de um dos agentes, o qual apenso abaixo, para o caso do link ficar indisponível.
Vamos a uma análise técnica das declarações contidas no depoimento, no contexto da desestruturação promovida pela Diretoria da Polícia do Senado.
O que dizer de um Diretor que deixou as situações acima ocorrerem? Um Diretor que desarticulou completamente a atividade de contrainteligência e que providenciou:
É visível que um enorme esforço foi envidado objetivando manter os agentes que realizavam as varreduras o mais distantes possível da realidade. É por este motivo que não se encontra, em nenhuma ação envolvendo as varreduras contra as operações da lava-jato, profissionais de contrainteligência. Sequer de inteligência. Os profissionais que fazem as varreduras estão imbuídos das tarefas de investigação criminal e não tem a compreensão da utilidade da contrainteligência, considerando-a atividade secundária. Alguém pode alegar similaridade entre as funções, mas é como mandar o barbeiro trabalhar no açougue, alegando que ambos trabalham com couro.
Reforçando a transcrição no começo da página:
"Quem assumisse a partir daí teria que começar não mais a partir do meu legado, mas do zero, tendo como baliza não mais do que as ordens dos Diretores."
Tudo conspira para confirmar minhas observações. Só não enxerga quem não quer ver.
Tudo isso se enquadra em Gestão Temerária, uma improbidade de um Diretor poderoso, de confiança de todos os grandes denunciados no STF. Não há Senador acusado de corrupção que não confie em tal Diretor. Fiz denúncia contra o mesmo diretor por Gestão Temerária por outro motivo e o resultado foram as piores represálias. Até aqui todas as tentativas de alerta e denúncias foram inúteis.
Isso se deve ao fato de que é um Diretor temido. Temido pelos agentes da própria Polícia do Senado. Temido pelos demais Diretores. Temido pela PF, pelo MP. Como não temer um servidor que tem o poder de controlar a caneta? Que determina demissões? Que pode afundar pretensões salariais, que pode tirar o poder, extinguir categorias, com um simples sussurro: "Acaba com eles, Presidente".
É um homem periculoso, que sabe o poder que tem nas mãos, ainda mais estando essas mãos sobre os ombros do Presidente do Congresso Nacional, PROTEGENDO-O.