Se um pesquisador quiser uma informação sobre as operações realizadas pela Polícia Federal, qual o melhor local para se informar?
Provavelmente vai pensar: na página da Polícia Federal. Nada mais justo, tudo da operação Lava-jato está lá.
Pois pensou errado: como prova de que os poderosos tudo podem, na data de 08 de março de 2017, fui buscar informações na página da Polícia Federal e descobri que as informações sobre a Operação Métis SUMIRAM. Isso mesmo, apesar de divulgada, filmada e fotografada, e de ser realizada no contexto da Lava-jato, as informações não estavam mais listadas lá. Não estava na lista de fases, nem nos desdobramentos, nem dos Inquéritos no STF e STJ. E sabemos muito bem que deveria estar enquadrada em algum lugar. É claro que a qualquer tempo as informações podem "reaparecer", então coloquei uma cópia da página de pesquisa mais abaixo para comprovar que a situação realmente existiu.
Para que não caia no esquecimento: conforme a Wikipédia, a Operação Métis foi o nome dado à operação policial deflagrada pela Polícia Federal em 21 de outubro de 2016. O alvo da operação foram quatro policiais legislativos do Senado Federal do Brasil, que foram presos temporariamente.
A operação se baseou no depoimento de um policial legislativo. Ele relatou ao Ministério Público Federal que o Diretor da Polícia do Senado teria realizado medidas de contrainteligência em gabinetes e residências de Senadores com o objetivo de obstruir as investigações da Operação Lava Jato.
Em 24 de outubro de 2016, diante da prisão dos quatro policiais legislativos, o então Presidente do Senado Renan Calheiros disse que a tentativa de embaraçar investigações foi “uma fantasia”, chamou o magistrado que autorizou a operação, o juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, de “juizeco” e afirmou que o Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, dá “bom dia a cavalo”. Nas palavras de Calheiros, “Um ‘juizeco’ de primeira instância não pode a qualquer momento atentar contra o poder. É lamentável que isso aconteça em um espetáculo com a participação de um ministro do governo, que não tem se comportado como ministro e sim como polícia”, disse Calheiros de maneira irritada. E completou: “Lamento que um ministro de Estado tenha se portado sempre como não devia: dando bom dia a cavalo”. No mesmo dia, em uma entrevista coletiva, Renan chegou a dizer que o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, se comporta "no máximo", como um "chefete de polícia".
Quando essa operação foi deflagrada, eu já tinha aposentado. A respeito de alguma eventual ação minha durante o período compreendido entre minha saída da atividade e a aposentadoria, já teci comentários na aba "o fim".
Também não sei porquê a lista de presos foi essa apresentada. Para mim, prenderam mandados de mais e mandantes de menos.
O Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu o afastamento dos quatros policiais legislativos presos na Operação Métis, incluindo o Diretor da Polícia do Senado, homem de confiança de Renan Calheiros (PMDB-AL). O Senador Renan Calheiros não acatou o pedido, e nem o fez seu substituto na Presidência do Senado, Senador Eunício Oliveira, o que é um bom indício de que, ao contrário do que disseram, as esferas superiores sabiam o que estava acontecendo, e também de que o novo Presidente do Senado já tomou posse com o rabo preso.
Abaixo, cópia da página de pesquisa da Polícia Federal apontando nenhum resultado com o termo Métis. Obtido em 08/03/2017, às 14h30m37s.
Abaixo vou comentar sobre as fotos dos equipamentos apreendidos na sede da Polícia do Senado Federal durante a operação Métis, e depois recolhidos ao STF por ordem do Ministro Teori Zavascki.
Observem que alguns equipamentos tem uma pequena marca vermelha na alça. São velcros que eu utilizava para escalar os equipamentos que seriam utilizados nas varreduras, ou seja, os que estavam prontos para uso. Interface do OSCOR programada, Detector de Junção e vídeo pole com baterias carregadas. Duvido que os que me sucederam soubessem disso, porquê só vi nas fotos duas marcas vermelhas...
As maletas mais estreitas, bem leves, são de vídeo poles. As demais, iguais mas mais largas e mais pesadas, são o OSCOR e o ORION, esse bem mais pesado por conta do kit de inspeção OTK-4000 que vai encaixado dentro da mesma maleta. Podem ser comparados da terceira até a última foto.
A maleta HAWKEYE vista na segunda foto contém instrumentos boroscópicos.
A maleta prateada vista da terceira até a ultima foto e a grandona da quarta foto são as mesmas que estavam atrás de mim durante a vistoria cuja foto postei anteriormente, na aba "os equipamentos". Também são instrumentos boroscópicos, mas com um alcance maior.
Uma maleta que vejo na caçamba um pouco diferente das que já faziam parte do nosso arsenal, mais lisa, deve ser o Green ou o TALAN. Por algum motivo não estão todas as maletas ali. Esse pessoal...
A respeito dessa operação, acredito que tenha sido desastrosa. O juiz, tomando conhecimento de uma denúncia envolvendo a Lava-jato, deveria te-la remetido ao Juiz Sérgio Moro. Se for fato o teor da denúncia, entendo que foi um tiro no pé do Moro. Esse dramalhão todo no Senado fez com que o STF determinasse o recolhimento dos equipamentos bem como o encaminhamento da denúncia àquela Corte. Meio que estava "na cara" que isso ia acontecer.
Não entendi o porquê do recolhimento dos materiais óticos para perícia, creio também ter sido totalmente desnecessário, além de um risco para o pessoal da PF. Sempre tratei desses equipamentos com cautela, haja visto que, devido ao seu uso, naquelas dobras de aço sempre pode subsistir algum material contaminante.
São equipamentos de múltiplo uso, que já utilizei na presença de substâncias suspeitas de serem biológico-contaminantes. Os esporos do Bacillus anthracis (Anthrax) têm cerca de 66 a 999 mícrons e podem viver por até 100 anos (para entender porquê comento isso, estou contando um evento na aba "Alguns episódios"). Entendo que o Delegado responsável deveria ter se preocupado mais com sua equipe, deveria ter questionado sobre riscos que ele desconhecesse, sobre fatores que pudessem colocar em risco a integridade física dos agentes de sua equipe. Posso garantir que mergulhei aquelas sondas em compostos bacteriológicos do qual nunca poderemos ter a certeza do que continham, e é impossível garantir o sucesso da descontaminação de um equipamento repleto de dobras e reentrâncias. Bom, se no futuro os agentes começarem a apresentar bolhas indolores que evoluem para feridas negras, já sabem o que pode ser...
Já os equipamentos eletrônicos tem memória, podem facilmente revelar quando e onde foram feitas as ultimas varreduras. Talvez o Delegado responsável não tivesse o discernimento sobre a utilidade de cada, não deve trabalhar com essa categoria de produtos. Para mim, que conheço os equipamentos, e creio que para qualquer profissional de inteligência ou contrainteligência, recolher os equipamentos óticos e as ferramentas (também recolheram martelo, alicate, chave-de-fenda) é o mesmo que cumprir uma busca por provas de formação de quadrilha num escritório de advocacia e sair recolhendo a cafeteira, o frigobar, a TV.
O que escrevo aqui sobre o objetivo da Operação Métis não passa de uma divagação. Como comentei antes não sei os meandros dessa ação na minha opinião um tanto espetaculosa, que tirou do juiz Sérgio Moro a chance de investigar e até de pegar "no flagra" uma remoção de grampo autorizado.
A respeito de informações sobre uma tal capacidade que alguma das maletas teria de interceptar ligações de celulares atualmente, essa afirmação só me faz duvidar da real capacidade técnica de alguns "especialistas". Seria melhor que os jornalistas e blogueiros começassem a se referir a eles como "supostos especialistas". Se não sabem ler um manual, se não sabem pesquisar na internet, se não conhecem a diferença entre os equipamentos de inteligência e contrainteligência, afinal são especialistas em que? Casos extraconjugais?