15 Paz: As experiências ... uma conferência na escola

AS EXPERIÊNCIAS NO ESTÁGIO E AS OBSERVAÇÕES DE UMA CONFERÊNCIA NA ESCOLA

Damaris Teixeira Paz[1]

RESUMO

Este é um relato de experiência da disciplina de Estágio I dentro do curso de Licenciatura em Ciências Naturais na Universidade Federal do Amazonas. As principais observações se baseiam no processo de acompanhamento da Conferência Escolar Infanto Juvenil pelo Meio Ambiente. Reflete minhas impressões e minhas observações sobre essa fase de experiência na escola. A escola trabalhada é uma referência na rede municipal de educação, pois possui um alto nível de aproveitamento no IDEB e tem uma estrutura exemplar para as escolas públicas. Entretanto ainda não é perfeita e tem muitas potencialidades a serem exploradas para que ela se torne cada vez melhor, principalmente no que se refere ao ensino de Ciências Naturais.

Palavras-Chaves: Estágio; Observação; Ciências Naturais.

ABSTRACT

This is an experience report of Stage I of the course within the Bachelor's Degree in Natural Sciences at the Federal University of Amazonas. The main observations are based on the monitoring process of the School Children and Youth Conference for the Environment. Reflects my impressions and my observations about this phase of experience in school. The school worked is a reference in the municipal education because it has a high level of achievement in IDEB and has an exemplary structure for public schools. However it is still not perfect and has many potentials to be explored so that itbecomes better and better, especially with regard to the teaching of Natural Sciences.

Key Words: Internship; Note; Natural Sciences.

INTRODUÇÃO

O estágio supervisionado foi um momento de muita expectativa para mim, pois se tratou de uma segunda experiência de imersão na escola com o caráter de professora em formação. Que necessariamente por estar em um processo e formação tinha a possibilidade de retornar olhares diferenciados ao ambiente e ver aspectos que no tempo de estudante da educação básica não eram tão nítidos assim.

Essa fase de estágio faz parte de minha formação no curso de Licenciatura em Ciências Naturais na Universidade Federal do Amazonas no Campus de Manaus/AM. E este trabalho tem o objetivo de relatar as experiências vividas no estágio supervisionado I. Esta dividido em tópicos por diferentes aspectos observados durante essa fase de observação na escola.

Por boatos comuns aos alunos de graduação e até mesmo da escola, não esperava ser bem recebida no ambiente escolar. Por ser a “estagiária”, muitos receios nos cercam quando tecemos relações no ambiente da escola, principalmente pelo desconforto que gera a ideia de ser observado por alguém, neste caso os estagiários.

O estágio I, portanto, foi inicialmente cercado por medos e receios em aspectos como aceitação, reconhecimento, e o próprio relacionamento direto com os estudantes da educação básica. Por ter uma aparência física que vai contra os estereótipos de professora e ser de fato nova para a função, em diversas ocasiões não há uma aceitação ou reconhecimento do potencial pedagógico ou das opiniões manifestadas por mim em alguns espaços. E este medo me seguiu nesta fase. E em alguns momentos ele se tornou real e observável, como será descrito a seguir.

Mas antes de mais nada, a existência do novo, de novas possibilidades e aprendizados era instigante e estimuladora. Pois durante toda essa de longos três anos na faculdade de licenciatura em Ciências Naturais a escola foi sempre algo distante, dos projetos de extensão bem rápidos e pontuais. Onde tivemos apenas uma experiência mais profunda numa disciplina anterior, na qual sentimos na pele o nosso potencial de futuro docente e as dificuldades que nos esperam no campo profissional.

Esse estágio teve muitos contratempos no decorrer de sua vigência, mas nada que nos impossibilitasse de “sentir a escola” e refletir sobre o contexto que nos cercou.

1 A ESCOLHA DA ESCOLA

A escolha da escola considerou os critérios de acessibilidade, de disponibilidade de horário nos horários destinados ao estágio e o aceite de um(a) professor(a) que pudesse nos orientar na escola nesse novo processo de aprendizagem.

Por dificuldades em encontrar uma escola que preenchesse essas características demoramos uma semana a mais para iniciar o estágio. Até que enfim encontramos a Escola Municipal de Ensino Fundamental Vicente de Paula que teve apenas uma professora[2] de Ciências Naturais que nos acolheu e nos acompanhou durante todo o período em que estivemos na escola observando. Entretanto tivemos outra professora também formada em Ciências Naturais, que no turno da tarde, em que estávamos lá, supervisiona o laboratório de ciências naturais e matemática que também nos auxiliou inicialmente nos dando sugestões de como proceder nos nossos trabalhos até o planejamento direto com a professora da disciplina de Ciências Naturais.

A Escola Municipal Vicente de Paula, localizada na Rua Maria Mansour, 805, no bairro Japiim na Zona Sul da cidade de Manaus/AM é uma escola de referência da cidade. Possui uma pontuação considerada alta no IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. É uma escola considerada bilíngue por possuir sinalização em Libras e em Braile.

No ano de 2012 ganhou o Prêmio de Gestão e Painel Escolar promovida pela Secretaria Municipal de Educação. E desde então tem recebido muitos projetos e visitas de pessoas famosas.

2 PLANEJAMENTO

Depois de definirmos a escola, e pedir as autorizações necessárias para desenvolver o trabalho. Infelizmente não tivemos acesso por falha de comunicação a documentos importantes como o Projeto Político Pedagógico da escola, o Planejamento Mensal e os diários das classes em que visitamos. Impedindo de fazermos uma relação mais direta com o que foi observado e com o que estava planejado pelos professores.

Planejamos junto com a professora que se disponibilizou em acompanhar o nosso estágio I. Ela solicitou ajuda na construção de projetos das turmas para a participação na IV Conferência Nacional Infanto Juvenil pelo Meio Ambiente – CNIJMA[3]. Onde todos foram mobilizados a realizar a sua etapa estadual. Eu particularmente gostei muito da ideia pois já acompanho de perto essa conferencia a um tempo significativo, integrando inclusive a Comissão Organizadora Estadual desta conferencia, através de um grupo que participo chamado Coletivo Jovem de Meio Ambiente do Amazonas.

Então munidos do regulamento e dos cadernos temáticos fomos planejar como acompanharíamos esses estudantes. Num primeiro momento, acompanharíamos apenas os estudantes no 9º ano que estudam com a professora que nos orientou durante o estágio, mas eu e outra colega orientamos também uma turma de 7º ano.

Havia no nosso planejamento também duas regências para os estudantes das turmas que estávamos observando segundo o tema a ser sugerido pela professora da turma. Mas por muitas dificuldades enfrentadas durante o estágio essa etapa foi cancelada.

3 ORIENTAÇÕES

A etapa de orientação dos estudantes foi o momento que considero mais interessante desse processo todo. Primeiramente orientamos os estudante na sala de aula sobre os temas que lhes foi dado. Para essa tarefa nos dividimos em duplas. O 9º ano estava com o tema AR e o 7º ano com o tema FOGO, segundo as normas da conferencia esses temas são apenas simbólicos para o trabalho de projetos temáticos no âmbito socioambiental da escola com a finalidade de transformá-la em um espaço educador sustentável. Segundo Brasil (2012) como:

“Trata-se de um local onde se desenvolvem processos educativos permanentes e continuados, capazes de sensibilizar o indivíduo e a coletividade para a construção deconhecimentos, valores, habilidades, atitudes e competências voltadas para a construção de uma sociedade de direitos, ambientalmente justa e sustentável. Uma escola sustentável é também uma escola inclusiva, que respeitaos direitos humanos e a qualidade de vida e que valoriza a diversidade”

Para isso, algumas etapas precisam ser seguidas, a primeira logo após a escolha do tema a ser trabalhado é o aprofundamento de seus aspectos conceituais, para que de fato os estudantes saibam do que estão falando. E então a partir desses conhecimentos poder elaborar um plano de ação contextualizado com as problemáticas da escola e estimular a construção e propostas e o interesse pelas questões socioambientais tendo em vista que estas abarcam num nível considerável de complexidade de aspectos a serem considerados.

Depois dessa etapa, na semana seguinte observamos as apresentações que eles fizeram de pesquisas sobre o tema dado pela escola que a própria professora solicitou.

Verificamos muitas falhas nas apresentações, como posturas inadequadas, slides poluídos visualmente, erros conceituais e a ausência da citação de fontes, que a mim em sua maioria aparentaram ser duvidosas. Como por exemplo num grupo em que a fala de uma estudante foi: “então pessoal, esse foi o nosso trabalho obrigada pela atenção” Aluna 1. Verificando a divisão injusta de responsabilidades e falas no seminário.

E em outro caso em que um estudante disse “Manaus tem problema de umidade, na semana passada fez 20% de umidade no ar”. O que claramente foi retirada de uma fonte não confiável ou sem verificar a data de produção da mesma, pois observamos muitas chuvas na semana anterior a esta observação.

Depois de dois dias seguidos observando essas apresentações, decidimos auxiliar os estudantes na elaboração do projeto da turma e de suas apresentações para o dia da Conferência Escolar Infanto Juvenil pelo Meio Ambiente.

Para este trabalho continuamos com as duplas definidas anteriormente no acompanhamento nas salas de aula. E orientamos os estudantes de acordo com todas as dificuldades que observamos nas suas apresentações. De pesquisa realizada até postura de um apresentador durante uma conferencia. Acompanhamos quatro turmas apenas, mas o trabalho foi estimulador para todos, principalmente para mim.

Verifiquei que muitas das dificuldades encontradas nesse processo se deram por falhas de comunicação e por imposição de ideias de alguns profissionais daquela escola. Mas as minhas considerações sobre esse e outros aspectos se encontram no fim deste relato.

4 OBSERVAÇÕES

4.1 A escola

A escola é localizada em um bairro popular da zona centro sul de Manaus/AM. Tem uma estrutura muito acima do padrão das escolas públicas da cidade. É referência na rede municipal por ter alta pontuação no IDEB e por esta mesma razão recebe muitos projetos e incentivos como a montagem do laboratório de Ciências Naturais e Matemática, uma sala teste de um projeto da Samsung que entregou um tablete para cada estudante da turma, e uma gama de materiais didáticos e estrutura física ideal para uma escola de ensino fundamental.

Mas verifiquei que nem todos os potenciais da escola são utilizados, por exemplo os dois espaços que contam com rede de computadores mas não tem internet disponível para pesquisas. Sem falar no laboratório de Ciências Naturais e matemática que conta com diversos materiais que ainda estão encaixotados demonstrando a falta de uso. Uma característica que segundo Santos e Terán (2011) é bem comum nas escolas de ensino fundamental onde a formação inicial dos professores se baseia na execução de aulas tradicionais expositivas o que acaba levando os docentes a focar nessas metodologias mesmo tendo recursos didáticos a sua disposição.

O que chamou atenção também foram os diversos períodos sem aula que nos deparamos, e por motivos também diversos, como projetos, cursos de capacitação para os professores entre outros. Além disso, verificou-se a dificuldade dos professores em trabalhar em projetos transdisciplinares como foi a experiência da conferência que acompanhamos de perto.

4.2 Regência

Observamos duas aulas da professora de Ciências Naturais, verificamos que ela usa sempre que pode os recursos disponíveis no laboratório para fazer demonstrações aos estudantes do tema tratado em aula anterior. Mantem um diálogo amigável com as turmas, fazendo a aula ser agradável para quem esta presente. Ela também não usa o livro didático nas turmas de 9º ano por ele não ter a sequência didática solicitada pela secretaria municipal de educação que gerencia todo o processo de escolha dos currículos escolares no município de Manaus. Para suprir essa necessidade, ela faz anotações em fichas sistematizando o conteúdo a ser trabalhado na sala de aula.

As aulas que assistimos seguiram uma aula teórica de orientação sobre a divisão dos temas trabalhados na Conferência Escolar, onde utilizou a técnica de trabalho em grupo para que eles prosseguissem as pesquisas sobre os assuntos. Percebi que não houve muito ânimo na participação dos estudantes, pois eles acreditavam que se tratava de uma pesquisa simples a ser realizada em qualquer site de busca na internet. Mas depois das nossas intervenções verificamos algumas mudanças de comportamento, tendo algumas manifestações de mais interesse.

Na segunda aula que assistimos, ela estava trabalhando com o tema de ácidos e bases da linha de química. Mas apenas ditando os conteúdos para que os estudantes copiassem em seus cadernos. E aparentemente esse processo demanda um tempo significativo para discussões sobre o assunto ou para o uso de metodologias mais inclusivas.

Ao discutirmos as aulas teóricas e práticas com a professora, a mesma demonstrou ter preferência por fazer aulas teóricas e posteriormente fazer alguma demonstração do fenômeno estudado. O que ao meu ver é um tanto limitante pois se restringe a uma linha metodológica que não estimula necessariamente o interesse dos estudantes sobre o assunto.

CONSIDERAÇÕES E IMPRESSÕES

Uma das primeiras impressões que tive da escola é que ela era um espaço educativo perfeito, pois em comparação com as escolas públicas que encontramos diariamente, esta tem uma estrutura invejável. Entretanto num primeiro choque de realidade, observei que haviam aspectos humanos a serem cuidados.

A nosso turma foi rejeitada por uma professora que não quis nos orientar durante o estágio, e por esta razão ficamos os quatro acadêmicos sob acompanhamento da mesma professora.

A escola por receber muitos projetos e eventos, tem um descuido com o conhecimento específico das disciplinas, pois os professores são inseridos em projetos paralelos muitas vezes sem opção de escolha em participar ou não. E não se sente um clima amigável entre os professores o que dificulta alguns trabalhos coletivos entre eles. Como o caso que observamos da conferência escolar.

Há uma discriminação quanto aos estagiários e suas “caras” e posturas menos experientes. Isso foi sentido em um momento em que minha opinião foi solicitada mais por ir contra o pensamento de outra professora da escola que aconselhava sua turma quanto ao projeto da conferencia, não foi aceita e até contrariada. Apesar de meus conhecimentos sobre o assunto me demonstrarem o contrário do que estava posto.

Em relação a minha participação, considero que iniciei com expectativas que não compreendiam a realidade vivenciada. Então não tive uma participação exemplar, poderia ter sido melhor se tivesse mais envolvido com a escola.

Numa maneira mais geral, essa escola foi um ambiente de aprendizado muito importante para mim. Inclusive por estimular o olhar crítico sobre alguns pontos e aspectos da escola, me fazendo ter noção das dificuldades que nos esperam no ambiente escolar. Mas ainda assim, a escola nos chama a lecionar e a transformar as realidades através da construção de conhecimento que faça sentido aos aprendizes.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, Ministério do Meio Ambiente. Vamos cuidar do Brasil com escolas sustentáveis: educando-nos para pensar e agir em tempos de mudanças socioambientais globais; elaboração de texto: Tereza Moreira. Brasília: A Secretaria, 2012.

SANTOS, S. C. S.; TERÁN, A. F. Condições de ensino em zoologia no nível fundamental: o caso das escolas municipais de Manaus-AM. Rev. ARETÉ, Manaus, v. 6, n. 10, p.01-18, jan-jun, 2013.

[1] Licencianda de Ciências Naturais do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Amazonas. Orientada pela professora da disciplina de Estágio Supervisionado Aldeniza Cardoso de Lima. E-mail: damaris.edu.paz@gmail.com

[2] Esta professora esta em fase de espera da aposentadoria, tem ampla experiência no ensino de matemática. Mas a poucos anos se focou no ensino de Ciências Naturais que é de fato a sua formação.

[3] A Conferência Nacional Infanto Juvenil pelo Meio Ambiente é uma conferência direcionada a alunos do ensino fundamental do 6º ao 9º ano com foco em propostas que estimulem a criação de escolas sustentáveis.