12 Silva: Avaliação do processo ... estágio supervisionado I

A AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS NO EJA: OBSERVAÇÕES A PARTIR DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO I

Viviane Costa da Silva[1]

RESUMO

Esse relato objetivou avaliar o processo de ensino e de aprendizagem na modalidade de EJA, durante as aulas de ciências. A pesquisa teve natureza qualitativa e usou os seguintes recursos metodológicos: 1) observações participativas e 2) diário de campo. A partir das informações pude refletir que o modo como o processo de ensino e aprendizado tem ocorrido na escola é problemático, notadamente no que diz respeito às maneiras como a disciplina de ciências tem sido ensinada. Refletir sobre isto é de extrema importância para um futuro profissional.

Palavras-chave: ensino, motivação, método tradicional.

ABSTRACT

This report aimed to evaluate the process of teaching and learning in the form of EJA during science classes. The research was qualitative in nature and used the following methodological features: 1) participatory observations and 2) field journal. From the information that could reflect how the teaching process and learning has taken place in school is problematic, especially with regard to the ways the discipline of science has been taught. Reflecting on this is of utmost importance to a professional future.[2]

Keywords: education, motivation, traditional method.

1 CONTEXTO DO RELATO

As experiências aqui relatadas foram vividas durante o período da disciplina de Estágio Supervisionado I, em uma escola pública localizada na zona leste da cidade de Manaus- AM durante o período noturno, com uma turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Essa modalidade se destina a jovens e adultos que não tiveram oportunidade ou não conseguiram terminar os estudos no período regular e agora desejam concluí-lo. Eu e as demais estagiárias fomos bem recebidas na escola, principalmente por meio da pedagoga. Assim, me senti à vontade para realizar a pesquisa que teve como objetivo avaliar o processo de ensino e de aprendizagem dos alunos do EJA na disciplina de ciências, ou seja, de que forma essa matéria estava sendo desenvolvida.

2 DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES

Em um primeiro momento fomos à escola para conhecer o corpo docente e pedagógico e para apresentar nossas propostas de estágio, que logo foram aceitas. Em um segundo instante foram feitas entrevistas semiestruturadas, com a pedagoga, com a professora e alguns alunos escolhidos aleatoriamente. Durante o período do estágio, realizei visitas à escola três vezes por semana, nas quais tive oportunidade de observar aspectos didáticos e pedagógicos das aulas ministradas pela professora supervisora além de participar de algumas atividades propostas por ela e até mesmo planejei e realizei uma aula.

O interesse pelo processo de ensino e de aprendizagem de ciências na EJA aconteceu durante as primeiras observações realizadas na escola. Notei a enorme diferença entre a realidade que vivi durante o meu período escolar e a realidade que eu estava presenciando, notadamente nas atividades que eram propostas aos alunos em sala de aula. Como futura professora de Ciências, me questionei quanto à eficiência do método (tradicional) de ensino utilizado pela professora supervisora.

A pesquisa realizada durante o estágio possui natureza qualitativa, que segundo Minayo et al.(2002), preocupa-se com um nível de realidade, impossível de ser quantificado. Nessa pesquisa, utilizei duas fontes de evidência, são elas: observação participante, que se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado (MINAYO et al., 2002) e diários de campo, registro diário da observação participante, no qual se relata a experiência do antropólogo em relação com os estudados, o que dizem, o que fazem e o que pensam (GARCÍA JORBA, 2000).

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO RELATO

Nesta sessão estão contidos alguns trechos extraídos do diário de campo. A escolha dos mesmos foi feita de acordo com o teor de relação com tema escolhido. E posteriormente é realizada uma reflexão de cunho pessoal, seguida de embasamento teórico.

A professora passou um texto na lousa para que os alunos copiassem [...] lendo o texto, pude ver que é bem resumido, bem simplificado [...] A professora saiu da sala e os alunos ficaram sem fazer nada, pois já haviam terminado de copiar”. (SIC)

O professor tem um papel fundamental no processo de aprendizagem do aluno, ele pode instigá-lo, motivá-lo, e para isso os seus métodos de ensino precisam ser variados e que utilizem o conhecimento prévio dos alunos, levando-os ao questionamento, ao desenvolvimento do pensamento crítico. Não tem sido uma tarefa fácil para os educadores manterem a atenção e o interesse de seus alunos, isso reforça a busca por métodos inovadores e mais eficientes. No trecho destacado, fica evidente que o uso de uma metodologia estritamente tradicional, como copiar na lousa, causa um marasmo no processo de aprendizagem.

Este profissional “[...] não é um doutrinador, um padronizador de hábitos e valores, mas um profissional buscando mentes criativas e participativas, que dá espaço para o sadio pluralismo de ideias (LABURÚ et al., 2003, p. 255). Assim, seria interessante auxiliar na tarefa de formulação e de reformulação de conceitos ativando o conhecimento prévio dos alunos (POZO, 1998). Por isso, instrumentos como cópias da lousa e textos resumidos não satisfazem as necessidades atuais de ensino.

“Hoje a professora [supervisora] não foi à escola e pediu para que eu ajudasse os alunos com a pesquisa para feira de ciências. Fui para o laboratório um pouco nervosa porque estava sozinha [...] Outra grande dificuldade que pude notar, parte dos alunos tem problemas de interpretação, pois não conseguiam entender o que eu [a estagiária] havia pedido para pesquisar”.

A falta de motivação do desenvolvimento das capacidades dos alunos causa sérios problemas no seu processo de aprendizagem. Quando os alunos não são envolvidos em processos de ensino e de aprendizagem diferenciados, atividades simples (interpretação de gráficos, tabelas, pesquisa on-line) se tornam complicadas e muitos desistem de executá-la. Isso acontece pelo fato de muitos professores utilizarem instrumentos de participação que não instigam seus alunos, um exemplo que ainda é muito utilizado é a cópia. Nesta sessão é possível ver o resultado de técnicas que não desenvolvem as capacidades dos alunos, quando os mesmos apresentam sérias dificuldades de interpretação.

O professor deve observar quando seus alunos respondem de forma passiva, sem criticidade ou criatividade, para que possa buscar meios para instigá-los e mudar este posicionamento. Afinal, é importante que os aprendizes não apliquem os critérios ou as regras ensinadas cegamente, mas que compreendam suas proposições e a justificação dos argumentos que elas oferecem (LABURÚ et al.2003). Entretanto, para alguns, aprender se reduz a assistir às aulas e a estudar o material indicado, para fixação (SILVA & MORADILO, 2002).

Ajudamos alguns alunos no exercício, e muitos deles já queriam a resposta pronta.” (SIC)

Muitas vezes o aluno não quer ou não consegue formular uma resposta pelo fato de não compreender o que está sendo pedido. Esse tipo de situação é frequente com alunos que tem dificuldade de interpretação e já estão habituados a encontrar “respostas prontas” no livro, onde não precisam interpretar e na maioria das vezes sequer absorvem a informação. Para estes alunos o importante é concluir o exercício e entregar, pelo simples fato de valer nota. E foi exatamente o que aconteceu no momento destacado.

Para muitos alunos o que predomina é a nota: não importa como elas foram obtidas nem por quais caminhos (LUCKESI, 1997). Segundo Silva & Moradilo (2002) o objetivo da avaliação não é a atribuição de notas, e sim, facilitar a aprendizagem dos alunos e a orientação do ensino do professor, tornando-se parte de um mesmo processo. Diante disso, muitas vezes, quando envolvidos na avaliação os alunos não se preocupam em compreender as questões, simplesmente esperam por respostas prontas.

“A professora passou um exercício avaliativo que deveria ser feito e dupla [...] além de tudo, era de consulta.” (SIC)

A avaliação é importante, não para medir o conhecimento dos estudantes, mas para que os mesmos tenham oportunidade de mostrar aquilo que estão aprendendo. Esse processo pode acontecer de diversas maneiras, no entanto, se a escolha do instrumento avaliativo não for a mais adequada, o aluno não vai se importar, desde que esteja obtendo nota para que não reprove. Isso é o que muitos almejam, a aprovação, e não como chegaram até ela. Por isso o professor deve ter cautela ao escolher o instrumento que vai utilizar, se preocupando, ou não, com o aprendizado do aluno.

O processo avaliativo corriqueiramente empregado nas escolas é atravessado mais por uma pedagogia do exame que por uma pedagogia do ensino/aprendizagem (LUCKESI, 1997), o que não é atrativo para os alunos. A avaliação deve ser discutida e reelaborada diariamente na sala de aula, de modo a aumentar a eficácia do ensino e ajudar no esclarecimento dos significados, produzindo razões para a aprendizagem (SILVA & MORADILO, 2002).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As observações realizadas me possibilitaram conhecer um pouco mais de perto a realidade vivida nas escolas. E refletir que o modo como o processo de ensino e aprendizado tem ocorrido na escola é problemático, notadamente no que diz respeito às maneiras como a disciplina de ciências tem sido ensinada. Refletir sobre isto é de extrema importância para um futuro profissional.

REFERÊNCIAS

JORBA, J.M.G. Diarios de campo. Madrid: CIS, 2000.

LUCKESI, C. C. Avaliação da Aprendizagem Escolar. São Paulo: Cortez, 1997.

LABURÚ, C.E. et al. Pluralismo metodológico no Ensino de ciências. Ciência & Educação, v. 9, n. 2, p. 247-260, 2003.

POZO, J. I. Teorias Cognitivas da Aprendizagem. 3. ed. Porto Alegre: Artes médicas, 1998. 284p.

SILVA, J.L.P.B; MORADILO, E.F. Avaliação, ensino e aprendizagem de ciências. Ensaio – Pesquisa e Educação em Ciência, v.4, n.1, 2002.

[1] Licencianda de Ciências Naturais do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Amazonas. Orientada pela professora da disciplina de Estágio Supervisionado Elizandra Rego de Vasconcelos. E-mail: vivianecosta.silva@hotmail.com