10 Lima: A organização do horário ... de ciências

A ORGANIZAÇÃO DOS HORÁRIOS DE AULA NO COTIDIANO DA ESCOLA E SUAS INFLUÊNCIAS NO ENSINO E APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS

Hellen Cristina Rezende de Lima[1]

RESUMO

O objetivo desse relato é discutir a organização dos horários de aula no cotidiano da escola e suas influências no ensino e aprendizagem de ciências. Notadamente, a problemática é gerada quando um professor falta e outro ‘adianta’ o seu tempo para não deixar os alunos sem aula. A pesquisa foi realizada durante o estágio supervisionado I e teve natureza qualitativa. Nessa perspectiva usamos como principais fontes de evidencia os seguintes instrumentos metodológicos: observação participante e caderno de anotações. Ao final deste relato percebemos que a dedicação e exclusividade do professor na sala de aula durante seu horário faz com que as atividades sejam mais bem desenvolvidas.

Palavras-chaves: horários de aula; ensino de ciências; aula demonstrativa.

ABSTRACT

The objective of this report is to discuss the organization of school hours in the school routine and their influence on teaching and learning science. Notably, the problems generated when a teacher shortage and other 'useless' your time not to leave students without class. The survey was conducted during the supervised training and I had a qualitative nature. In this perspective, we use as main sources of evidence the following methodological tools: participant observation and notebook. At the end of this report realize that dedication and uniqueness of the teacher in the classroom during his time makes the activities to be better developed.

Key words: class schedules; science education; classroom demonstration.

INTRODUÇÃO

Passamos a maior parte da vida na escola, no entanto, só paramos para compreender o papel fundamental que ela exerce em nossas vidas quando a observamos e refletimos sobre sua influência em nossa vida atual. Young (2007) nos leva a refletir que sem as escolas a cada geração as sociedades teriam que recomeçar do zero, pois grande parte da organização, do conhecimento e da cultura construída estaria perdida. Delizoicov et al. (2009) colabora sobre nossa compreensão de escola, uma vez que a entende com um espaço de sociabilidade e de acesso ao conhecimento. Sendo assim é possível observar que o Estágio Supervisionado I foi essencial para compreensão da realidade e dinâmica escolar.

As atividades foram desenvolvidas em uma escola municipal, situada na Zona Leste de Manaus no Bairro Tancredo Neves. A seleção da escola aconteceu pela vontade de conhecer a realidade do ensino de ciências em escolas da periferia da metrópole. As modalidades de ensino apresentadas por essa instituição no período noturno são as seguintes: 8° ano e 9°ano do ensino fundamental e a Educação de Jovens e Adultos - EJA. Segundo a lei de Diretrizes e Bases da Educação 9. 394/66 – LDB essa última modalidade de ensino que tem como finalidade alfabetizar jovens e adultos que não tiveram oportunidade, por diversos motivos, de concluir seus estudos na idade adequada.

As experiências compartilhadas neste relato tratarão especificamente da realidade vivenciada na EJA. Isso é relevante porque os estudantes que se encontram nessa modalidade apresentam características diferenciadas nas situações de ensino e aprendizagem como, por exemplo: em sua maioria são pessoas que trabalham, sustentam sua família, já vivenciaram situações de desistência ou reprovação escolar consecutiva etc. Diante disso, é relevante que durante a formação inicial os professores precisam de uma formação mais abrangente para alcançar a compreensão dessa realidade.

A escola em que aconteceu o estágio foi solicita ao nos receber para colaborarmos com as atividades da escola. Essa abertura da escola foi relevante para nos sentirmos bem acolhidas durante nosso processo de formação. Ajudando-nos assim, em um melhor desenvolvimento das atividades de observação, ensino e pesquisa.

1 DESENVOLVIMENTO

O Estágio aconteceu em três etapas: Observação, Participação e Regência. Primeiramente, observamos o espaço físico da escola, o relacionamento entre professor e aluno, as dificuldades da professora supervisora e dos estudantes em relação ao ensino e a aprendizagem de ciências. Posteriormente, ajudamos os alunos no desenvolvimento das atividades em classe, participamos de palestras ministradas sobre educação sexual, na organização e realização da feira de ciências naturais da escola. Também tivemos a oportunidade da regência de uma aula com o acompanhamento da professora de ciências. Dessa maneira, foi possível entender a dinâmica da escola, notadamente das aulas de ciências.

Foi durante os momentos de observação que percebi a problemática gerada quando um professor falta e outro ‘adianta’ o seu tempo para não deixar os alunos sem aula. Percebo que a escola não tem refletido sobre tal prática, uma vez que, se um tempo de 45 minutos quase não permite que o professor desenvolva suas atividades com tranquilidade, essa realidade toma contornos ainda mais preocupantes quando o docente tem que dividir seu tempo e atenção para turmas diferentes. Penso que a escola precisa buscar alternativas para esse problema, pois é importante facilitar um ensino de qualidade para estudantes e professores.

Durante o estágio realizamos uma pesquisa qualitativa. Que nas palavras de Minayo (2002) constitui-se em uma maneira de conhecer a realidade a partir das relações dinâmicas, mutantes e, sobretudo, humanas como são aquelas que vivenciamos na escola. Nisto, estão envolvidas dimensões como: o universo dos significados, dos motivos e das emoções que atravessam os sujeitos da pesquisa, professores e estudantes.

Nessa perspectiva usamos como principais fontes de evidencia os seguintes instrumentos metodológicos: observação participante e caderno de anotações. Nesse enfoque minha observação participante foi essencial para compreender o contexto vivido na escola, uma vez que compartilhamos dos momentos de construção do ensino aprendizagem na realidade escolar. Para Minayo (2002) a técnica da observação participante engloba a interação efetiva do pesquisador com seu objeto de pesquisa.

Outro instrumento metodológico foi o caderno de campo (caderno de anotações) como um instrumento a ser usado para recorrermos durante a rotina do trabalho realizado e para registrar nossas percepções, angústias, questionamentos e informações obtidas através da utilização de outras técnicas. Dessa maneira, o caderno de anotações foi usado com um instrumento significante para registrar os pontos mais evidentes que foram observados durante o estágio e facilitar a compreensão das dimensões vividas durante o processo de ensino aprendizagem.

2 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO RELATO

A partir desse momento apresentarei alguns trechos de reflexão retirados do meu caderno de anotações que foram importantes para a compreensão e desenvolvimento de minhas percepções críticas. As escolhas dos trechos foram feitas a partir das ideias a respeito da temática da organização do horário na aula e seu real aproveitamento por professores e estudante durante o estágio. Após a citação dos trechos segue uma análise crítica.

“A professora escreveu na lousa conceitos químicos importantes [...] Ao findar o tempo os alunos apenas terminaram de copiar da lousa para terem a explanação do assunto na aula seguinte”. (SIC).

Por vezes, algumas atitudes se tornam rotina em sala de aula como, por exemplo: a escrita de conteúdos e atividades na lousa e a ausência de momentos de explicações e diálogo com os estudantes. Dessa forma, o professor interrompe a dinâmica que precisa existir durante as aulas de ciências. Ao mesmo tempo, tradicionaliza as aulas tornando-as, muitas vezes, mera transmissão de informações (ANTUNES, 2012; LEÃO, 1999).

O ensino tradicionalista pode ser entendido, em síntese, como aquele que apenas transmite o conhecimento pronto e acabado para que o aluno memorize. Nesse sentido, coaduno com Freire (1996, p. 14) sobre a ideia de que “[...] um professor democrático não deve negar-se, em sua prática docente, a capacidade crítica do educando [...]”, sua curiosidade, sua submissão. Sendo assim, findar a aula com apenas uma atividade de cópia acaba atribuindo para o professor uma forma de autoritarismo/desinteresse desconexa com a importância real de ensinar ciências.

“A falta de professores faz com que haja adiantamento de horário para evitar a ociosidade dos alunos que estão sem professor. No entanto, a impressão que se tem dessa medida administrativa é que se fica “tapando” e “cavando” um “buraco” ao mesmo tempo” (SIC).

No Brasil, ainda hoje, existe uma grande desvalorização do professor, tanto pessoal como social, e talvez por esse motivo ocorra o descompromisso com o ensino. Pois mesmo que o professor tenha um cargo público muitas vezes não se sente motivado para fazer um trabalho com qualidade e isso talvez esteja prejudicando o avanço dos alunos envolvidos no processo de ensino aprendizagem. Nesse sentido, a presença efetiva de professores motivados na escola se torna essencial para o desenvolvimento das atividades, e isso faz com que não seja possível adiantar o tempo e também irá motivar os alunos.

“[...] Fizemos [as estagiarias] a demonstração do experimento e explicação de alguns conceitos com slide. Os alunos demonstraram participação e interesse, pois o experimento representou fatos do cotidiano. Muitos faziam suposições sobre o porquê a água e o óleo não se misturam [...]” (SIC).

É interessante buscar atividades diversificadas para ajudar os alunos na construção do conhecimento científico e motivá-los a participar da aula. No caso da EJA, fazer com que a Ciência seja uma “ponte” para terem mais afinidade com a escola e compreender a vida. As atividades que envolvem demonstração (LEAL, 2009) são uma boa alternativa para a aproximação dos alunos com o professor e com o conhecimento, uma vez que desenvolve no aluno seu caráter observador, questionador e reflexivo. Sendo assim, durante o estágio, planejamos uma experiência para demonstração do fenômeno estudado, “Água: Solvente Universal”, trazendo dessa maneira, materiais simples para desenvolver a atividades na sala e trabalhando a partir do conhecimento do cotidiano (RANGEL, 2005; Gaspar, 2005). Entretanto se o professor não tiver seu tempo de aula exclusivo para uma única turma, fica inviável o desenvolvimento de atividades como a que realizamos. Pois segundo Leal (2009) a distribuição correta do tempo estabelece uma sequência que privilegia o tempo de aprendizagem em detrimento do tempo didático.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final deste relato percebemos que a dedicação e exclusividade do professor na sala de aula durante seu horário faz com que as atividades sejam mais bem desenvolvidas. Isso facilita a efetivação do conhecimento. Dessa maneira, percebo a importância que a disciplina de estágio teve em nossa formação, fazendo com que nós reflitamos sobre o/a professor@ que queremos ser. Isto é importante não só para nós estagiários, mas também para nossos futuros alunos, pois agora temos mais motivos para buscar a valorização de pessoas, espaço e tempo que fazem parte da escola.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Celso. Professores e professauros: reflexões sobre a aula e práticas pedagógicas diversas. 6. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: n°9394/96. Brasília: 1996.

DELIZOICOV, Demétrio. ANGOTTI, José André. PERNAMBUCO, Marta Maria. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 15. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GASPAR, Alberto.; MONTEIRO, Isabel Cristina de Castro. Atividades experimentais de demonstração em sala de aula: Uma análise segundo o referencial da teoria de Vygotsky. Investigações em Ensino de Ciências, v.10, n. 2, p. 227-254, 2005.

LEAL, Murilo Cruz. Didática da Química. 1. ed. Belo Horizonte: Dimensão, 2009.

LEÃO, D. M. M. Paradigmas contemporâneos de educação: Escola tradicional e escola construtivista. Cadernos de Pesquisa, n 107, p. 187-206, 1999.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social: Teoria, Método e Criatividade. 21. ed. Petrópolis, 2002.

RANGEL, Mary. Métodos de ensino para a aprendizagem e a dinamização das aulas. 4. Ed. Campinas, SP: Papirus, 2005.

YOUNG, Michael. Para que servem as escolas?. Educ. Soc., Campinas, v. 28, n. 101, p. 1287-1302, 2007.

[1] Licencianda de Ciências Naturais do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Amazonas. Orientada pela professora da disciplina de Estágio Supervisionado Elizandra Rego de Vasconcelos. E-mail: tina91khorus_@hotmail.com