14 Santos: A avaliação ... de ciências

A AVALIAÇÃO NO ENSINO E APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS

Ralkma Belchó Santos[1]

RESUMO

O presente relato de experiência tem por objetivo analisar os estilos de avaliação do ensino e aprendizagem de ciências. Trará como ponto fundamental a análise de dois modelos de avaliação, são eles: prova e seminários e o resultado dos mesmos. Essa pesquisa de cunho Qualitativo aconteceu tendo como base: a observação e a participação. Verifica-se que nos seminários os alunos apresentam maior compreensão dos assuntos e construção do conhecimento. Entretanto, nas provas, os estudantes apenas decoram os conteúdos. Geralmente isso não contribui significativamente para o aprendizado. Diante disso é importante que professor reflita quanto ao seu método avaliativo no sentido de fortalecer o processo de avaliação. Ele precisa instigá-los a inquietar-se na intenção de construir o conhecimento, favorecendo assim aos alunos o processo pessoal de desenvolvimento de outras capacidades necessárias à cidadania.

Palavras Chave: Avaliação; Aprendizado; conhecimento.

ABSTRACT

This experience report is to analyze the styles of evaluation of teaching and learning science. Will as a key point analysis of two assessment models, they are: evidence and seminars and the result thereof. This qualitative research took place based on: the observation and participation. It is found that the seminars students have a greater understanding of the issues and knowledge construction. However, on the evidence, the students just decorate the content. Usually this does not significantly contribute to learning. Therefore it is important that teachers reflect about its evaluation method to strengthen the evaluation process. He needs to encourage them to fidget with the intention of building knowledge, favoring students with the personal process of developing other skills necessary for citizenship.

Keywords: Assessment; Learning; Knowledge.

1 CONTEXTO DO RELATO

O presente relato tem por objetivo analisar os estilos de avaliação do ensino e aprendizagem de ciências Naturais. Para isso considerarei as orientações dos Parâmetros Curriculares nacionais (PCN`s), bem como referências bibliográficas da área de ensino pertinentes ao tema. Isso é interessante, porque ainda hoje é predominante um estilo de avaliação tradicional que precisa ser melhor compreendido e em alguns casos, transformado.

O relato que ora apresento, foi realizado no contexto da disciplina de Estágio Supervisionado l que é uma disciplina do curso de Ciências Naturais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Esse processo foi realizado de agosto a setembro de 2013, em um Centro de Educação de Jovens e adultos (CEJA) localizado na zona centro sul da cidade de Manaus/AM, notadamente no período da noite. Sendo assim, minhas reflexões terão como foco o sistema de avaliação de ensino e aprendizagem realizados nas aulas de ciências do CEJA.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB 9.394/96 trata da educação de jovens e adultos - EJA na Seção V, como uma modalidade da educação básica. Esse mecanismo é oferecido para oportunizar gratuitamente a educação para todos aqueles que não tiveram acesso ou não concluíram o ensino fundamental ou médio na idade própria (BRASIL, 1996).

A escolha da instituição foi feita sob dois critérios, são eles: proximidade com a UFAM e a disponibilidade de vagas para estagiários nas turmas noturnas. A primeira visita ao CEJA me permitiu conhecer as situações e condições na qual se passaria o estágio. É importante salientar que nesse primeiro contato houve algumas dificuldades a serem enfrentadas, dentre elas posso destacar o momento de “insegurança” que vivenciei, pois não me sentia mais como aluno, mas também não me considerava professor. Nesse sentido, foi importante o acompanhamento da professora orientadora, professor supervisor, da coordenação pedagógica e da direção para facilitar essa fase de “adaptação” neste novo ambiente, a escola.

2 DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES

O estágio aconteceu tendo como base três demandas principais, são elas: a observação, a participação e a regência que estão inter-relacionadas. A observação ocorreu em todo o estágio, pois desde o primeiro instante de reconhecimento, já foi possível verificar como funcionava a escola e os sujeitos que fazem parte dela, tais como: a gestão, os professores e os alunos, além de sua estrutura e organização. A participação ocorreu por meio da relação didático-pedagógica efetiva. Onde construí uma interação com os alunos ajudando-os a tirar dúvidas. Durante a regência planejei e realizei junto com alguns colegas uma aula na expectativa de oferecer atividades dinâmicas, interdisciplinares e participativas que possibilitassem uma aprendizagem significativa. Esse conjunto de atividades foi relevante para as análises apresentadas neste relato.

A avaliação do aprendizado tornou-se um fator preponderante a partir do momento em que observei diferentes estilos de avaliação utilizados pelo professor supervisor. Isto ficou marcado, principalmente, em dois momentos, quais sejam: realização de seminários e prova. Notei que em um desses estilos os alunos tinham mais facilidade de compreender os assuntos e construir o conhecimento ao ponto que no outro, os estudantes apenas decoravam uma enorme quantidade de conteúdos escolares e tentavam reproduzir tudo aquilo no dia da prova. Conforme Alves (2009) muitas avaliações escolares induz o aluno a repetir o que foi falado pelo professor ou aquilo que é encontrado no livro didático. Notadamente quando diz que:

Valendo-me das metáforas culinárias, atrevo-me a dizer que, com frequência, as chamadas avaliações escolares (as provinhas) são ocasiões pós-refeição em que se provocam vômitos intelectuais nos alunos, para verificar se o vomitado é idêntico ao que foi engolido (ALVES, 2009, p.59).

Semelhantemente a esta metáfora, percebo que, muitas vezes, o ensino que favorece a reprodução de conhecimentos idênticos àqueles encontrados em livros ou na fala dos professores não passa de “vômitos intelectuais”. Isso me fez refletir sobre os “obstáculos” que ainda precisam ser vencidos no processo de ensino e de aprendizagem para que novas metodologias e modelos de avaliação conquistem espaço no ensino de ciências. Isso revela a importância dos futuros professores de Ciências conhecerem diversas formas de avaliar que podem ser utilizadas com os alunos.

O estágio foi realizado por meio de uma pesquisa de caráter qualitativo:

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização dos variáveis (MINAYO,. 2002, p.21-22).

Nesta, a obtenção de informações acontece mediante o contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo. Sendo assim, procurei entender os fenômenos por meio da observação participante da situação estudada e segui interpretando os fenômenos.

Minayo (2002) explica o seguinte:

A observação participante se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos [...]. A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que, observados diretamente na própria realidade, transmitem o que há de mais importante e evasivo na vida real (p.59-60).

Desse modo, essa técnica de pesquisa torna-se relevante para a pesquisa educacional realizada durante os estágios supervisionados, pois nela o pesquisador (o estagiário) constrói uma relação direta com seu objeto de pesquisa, ou seja, com as situações didático-pedagógicas da vida real.

Outra fonte de evidência usada durante o estágio foi o Caderno de Campo, um instrumento no qual foram efetuadas as anotações sobre o que se passava na sala de aula, bem como reflexões críticas acerca do que era observado. Como exemplo dessas anotações posso citar: o comportamento dos estudantes e do professor em sala de aula, aceitação da disciplina, participação das aulas, situações que incomodavam os alunos como a avaliação. Além disso, o caderno continha minhas emoções e reflexões críticas. Esse instrumento é o meio no qual o pesquisador pode apresentar suas percepções, angústias (emoções) e questionamentos (MINAYO, 2002).

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO RELATO

A partir de agora apresentarei trechos retirados de meu caderno de anotações nos quais registrei aspectos importantes relacionados à avaliação do ensino e aprendizagem de ciências. Em seguida construo reflexões teóricas a partir de referenciais pertinentes a área de ensino. Assim, apresento os resultados e análises da pesquisa que empreendi durante o processo de estágio.

[...] devo dizer que em minhas experiências o dia de prova sempre foi um dia difícil, medo de tirar nota ruim e ser taxado de “burro”, aquela dúvida quanto ao que eu havia decorado isso porque estudava tanto que memorizava palavras, pontos e vírgulas [...] então não acredito que esse modelo de avaliação consiga medir o aprendizado real do aluno, mas como ir contra uma coisa tão enraizada. (SIC)

Quando me deparei com Avaliações (provas), durante o estágio, tentava entender porque a maioria delas não são apresentadas como uma parte do processo de ensino e de aprendizagem. As avaliações têm sido utilizadas mais como forma de controle dos alunos. É comum os professores utilizarem as provas para gerar medo nos alunos, como se já não bastasse os próprios medos enfrentados por eles em decorrência da desmoralização perante os colegas em caso de notas baixas, e do medo da reprovação. Consoante a isso Luckesi (2011) afirma que:

O aluno sofre por antecipação, pois fica na expectativa do castigo que poderá vir e numa permanente atitude de defesa. São ameaças de futuras repressões, caso os alunos não caminhem bem nas condutas que devem ser aprendidas, sejam elas cognitivas ou não. Eram e são frequentes expressões como: - Vocês vão ver o que é que vou fazer com vocês no dia da prova... (p.191).

Com base nisso, percebo que essas situações de angustia, medo e insegurança tendem a permanecer na vida dos estudantes por muito tempo. Quando decidi pesquisar sobre a Avaliação relembrei as experiências já vividas onde a avaliação foi protagonista para conhecer como os alunos sentem-se momentos antes das avaliações de Ciências.

“Hoje viajei, voltei ao ensino fundamental, fiz uma retrospectiva e analisei os momentos pré-prova porque a forma de avaliação continua a mesma. Agora pergunto: Essa é melhor forma de avaliar o conhecimento dos alunos?”. (SIC)

Certamente as avaliações tradicionais não representam a melhor forma de avaliação. As provas às vezes geram juízos de valor por parte dos professores e também entre estudantes que ao compararem suas notas podem desmerecerem-se mutuamente. Os juízos emitidos pelo professor tanto podem ser para o bem como para o mal, notadamente aquele aluno que consegue se sobressair, tirando boas notas; respondendo as perguntas do professor e cumprindo a “lição”, a ele, geralmente, é dispensado maior atenção e o status de “inteligente”. Contudo, o aluno que enfrenta dificuldades para alcançar boas notas e que pouco se manifesta positivamente nas aulas, começa a ser considerado inferior tanto pelos colegas quanto pelos professores.

Nessa maneira de avaliar é como se o nível de inteligência pudesse ser medido em provas contendo de dez a quinze questões de uma determinada disciplina. Sobre isso Luckesi (2011) faz o seguinte comentário:

[...] o professor normalmente não está interessado em descobrir quem sabe o que foi ensinado, mas sim quem não aprendeu para poder expor publicamente aos colegas a sua fragilidade. O professor, usualmente, prossegue a chamada até encontrar o fraco, aquele que não sabe. Este, coitado, treme de medo e vergonha. O “forte” na lição é elogiado e o fraco ridicularizado (p. 190-191).

Em relação à classificação dos alunos em inteligentes ou não, Gardner (1994) foi um autor fundamental para que entendesse que as pessoas possuem diversos tipos de inteligências. É importante notar que um estudante que não consegue alcançar notas altas em certa disciplina, pode destacar se em outras áreas. Entretanto a “classificação” inicial de “incapaz” pode gerar traumas que influenciará o mesmo a duvidar da sua capacidade até mesmo naquela área que seu tipo de inteligência o favorece.

Diversos mitos envolvem a avaliação, estes foram construídos historicamente e estão enraizados. Hoje, muitos deles fazem parte do senso comum e da cultura escolar. Muitas pessoas analisam que os estudantes estão saindo da escola sem aprender, porque não são avaliados como deveriam, como também não são mais reprovados. Sobre isso, reflito se poderíamos reduzir todo um processo de construção de conhecimentos dos alunos somente ao momento de avaliação?

Presenciei durante a observação da prova objetiva alunos copiando as repostas do colega ao lado. É comum nas escolas encontrarmos estudantes copiando as tarefas dos colegas por uma série de razões tais como: não terem estudo, dificuldade de compreender os assuntos, falta de motivação etc. Essa atitude me levou a refletir que a avaliação tradicional pode resultar em tal postura uma vez que não exige uma construção pessoal de conhecimentos. Dessa maneira a aplicação de provas oportuniza a conhecida “cola”.

Vale destacar que uma das funções sociais da escola é contribuir para a formação ética de valores essenciais que garantem a vivencia do indivíduo em sociedade. Quanto à constituição ética e moral, o PCN de ciências naturais afirma o seguinte:

Quanto ao ensino de atitudes e valores, explicitamente ou não, o processo educacional, as práticas escolares e a postura do professor estarão sempre sinalizando, coibindo e legitimando atitudes e valores. Esta dimensão dos conteúdos demanda a reflexão sobre situações concretas, para que valores e posturas sejam promovidos tendo em vista o cidadão que se tem a intenção de formar (BRASIL, 1998, p. 30).

Nesse sentido, é interessante buscarmos diferentes maneiras de avaliar que valorizem não apenas o conhecimento específico, mas a construção de valores.

Durante o estágio também pude perceber outras maneiras de avaliação, como seminários. Isto fica mais bem explicado no seguinte trecho do caderno de anotações:

[...] pude perceber nos alunos o sentimento de felicidade em conseguir realizar os trabalhos, de dever cumprido. Foi um trabalho que incentivou a pesquisa, a participação e a criatividade dos alunos. (SIC)

Ao contrário das provas tradicionais consegui ver na apresentação dos seminários, um sentimento de superação. A proposta dos seminários consistiu em apresentação de experimentos seguidos de suas respectivas explicações científicas. Para isso o professor baixou vídeos da internet que ensinavam como construir diversos experimentos, tais como: Barata Elétrica, Labirinto elétrico, Gerador Eólico etc. Em seguida os alunos adquiriam o material e construíam o experimento. No dia da avaliação apresentavam em sala a partir dos conhecimentos científicos que conseguiram construir.

“[...] Agora será que eu quando professor terei o ímpeto de avaliar de forma diferente?” (SIC)

Após a experiência vivida no estágio seria muita “hipocrisia” defender um modelo de avaliação diferenciado e utilizar métodos tradicionais. No entanto, tenho que ponderar esse pensamento, pois há vários fatores que levam a tal prática como, por exemplo, a formação tradicional recebida na própria escola e também na universidade. Esse é um modelo que está arraigado, e ideias inovadoras tendem a sofrer represálias por parte dos professores que o aderiram.

Como professor de ciências, penso que é preciso parar para fazer reflexões sobre os métodos de ensino e de avaliação, ou seja, se estes estão surtindo o resultado esperado. Sendo assim, me pergunto até que ponto, nós, professores em formação, refletimos sobre nossas ações cotidianas na escola, nossas práticas em sala de aula, sobre a linguagem que utilizamos, sobre aquilo que pré-julgamos ou outras situações do cotidiano? Muitas vezes, nosso discurso expressa aquilo que almejamos (BRASIL, 2008). Acredito que se os educadores parassem para refletir se a avaliação está sendo eficaz isto seria um caminho para apoderarem-se de formas mais significativas de avaliação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considero que o modelo de avaliação tradicional geralmente reflete nos alunos medo, insegurança e nem sempre contribui significativamente para que os estes possam construir seus próprios conhecimentos. Contrário a isso foi possível verificar que nos seminários houve uma maior excelência no processo de avaliação e melhor contribuição para que o estudante crie suas próprias respostas.

A importância do professor refletir sobre a eficácia de sua prática de avaliação, se esta reflete e contribui no aprendizado, orienta o ajuste de sua intervenção pedagógica e possibilita melhorar sua prática didática. Por fim o processo de avaliação não deve apenas servir para quantificar o nível de aprendizado dos alunos, ele precisa instiga-los a questionar, a buscar, a construir, a inquietar-se na intenção de construir o conhecimento, pois isso favorece seu processo pessoal de desenvolvimento de outras capacidades necessárias à cidadania.

REFERÊNCIAS

ALVES, R. Entre a Ciência e a Sapiência: O Dilema da Educação. São Paulo: Loyola, 2009.

BRASIL. Indagações Sobre Currículo: Currículo e avaliação. Brasília: Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica, 2008.

_____. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Presidência da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 20 dez. 1996. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 14 set. 2013.

_____. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais ̸ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC ̸ SEF, 1998.

GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a Teoria das Múltiplas Inteligências. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

LUCKESI. C.C. Avaliação Da Aprendizagem Escolar. Estudos e Proposições. 22. Ed. São Paulo. Editora: Cortez, 2011.

MINAYO, M. C. de S. Pesquisa social: Teoria Método e Criatividade. 21. ed. Petrópolis, RJ: Editora: VOZES, 2002.

[1] Licenciando de Ciências Naturais do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Amazonas. Orientada pela professora da disciplina de Estágio Supervisionado Elizandra Rego de Vasconcelos. E-mail: ralckmabelcho@hotmail.com