Fecha de publicación: Mar 24, 2012 12:23:18 AM
Belém-Pará, Brasil, 07/03/2012, por Vinicius Soares Braga (Jornalista - Embrapa Amazônia Oriental)
Lucas Sales pertence ao povo indígena Kaxinawá e vive no Acre. Já Jorge Santolino é espanhol e mora na Bolívia há dois anos. O que pessoas de origens tão diferentes têm em comum é o trabalho com sistemas agroflorestais.
Eles e mais 30 extensionistas rurais de seis países chegaram ao Pará no final de fevereiro para um treinamento em sistemas de tecnologia agroflorestal promovido pela Embrapa Amazônia Oriental em parceria com a Iniciativa Amazônica. São técnicos que atuam no bioma amazônico na Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, além de outros estados brasileiros.
Lucas Sales é agente agroflorestal indígena no município de Jordão. A formação como agente agroflorestal partiu da Comissão Pró-Índio do Acre, uma organização não-governamental. Aos agentes cabe ajudar aqueles na terra indígena que desejam cultivar sistemas agroflorestais. “No geral, a oferta de frutas atende à segurança alimentar da aldeia, mas um pouco é comercializado na cidade”, conta Sales.
Na Amazônia boliviana, Jorge Santolino orienta famílias de ribeirinhos que vivem na bacia do rio Madre de Dios, na Amazônia boliviana. Lá, o principal produto nos sistemas agroflorestais é o cacau. E como se trata de uma planta que precisa de sombra, espécies madeireiras e outras frutíferas são combinadas numa mesma área.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Delman Gonçalves, é justamente esta a principal característica dessa forma de cultivo, o aproveitamento da interação natural que ocorre entre as espécies para produzir alimento e produtos madeireiros e não madeireiros, mantendo o equilíbrio do ecossistema.
Esta é a sexta vez que extensionistas amazônicos participam de capacitação em sistemas agroflorestais promovida pela Embrapa no estado. “O Pará se destaca nessa área tanto pelos trabalhos de pesquisa quanto pelas experiências positivas de agricultores com sistemas agroflorestais, como no município de Tomé-Açu e na produção de cacau na região da rodovia Transamazônica”, explica o pesquisador.
Programação - Até o dia 16 de março os participantes, que já têm prática em atividades de produção agrícola ou florestal, vão aprimorar e intercambiar conhecimentos em aulas teóricas e práticas de campo, além de poderem conhecer de perto diversos sistemas de produção agroflorestal em municípios do interior do Pará.
A manhã desta quarta-feira (7) foi dedicada a palestras com a engenheira agrônoma Fabiana Peneireiro. A palestrante atua na organização não-governamental Mutirão Agroflorestal, grupo que segue os ensinamentos de Ernst Gotsch, agricultor suíço radicado no Brasil e que desenvolve agroflorestas sucessionais no país desde 1984.
Fabiana afirmou que a dinâmica de funcionamento de uma floresta pode ser aproveitada, em menor escala, pelo agricultor em um sistema agroflorestal. “A floresta ajuda a manter a temperatura do solo. A forte e espessa camada de folhagens caídas das arvores, formam uma proteção úmida e viva para o solo. É essa camada em decomposição e rica em nutrientes que ciclicamente alimenta a floresta”, explicou.
Nesta quinta-feira (8), os participantes do curso vão conhecer uma fazenda em Castanhal que realiza manejo de pastagem ecológica. Esse sistema combina rotação de pastagens com o cultivo de árvores junto ao pasto. O método beneficia tanto o gado, quanto o solo e a pastagem gerando ainda importantes serviços ambientais.
O Curso Internacional de Capacitação em Sistemas de Tecnologia Agroflorestal é realizado sob a coordenação dos governos do Brasil, através da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), e do Japão, através da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) dentro do Programa de Treinamento para Terceiros Países (TCTP) executado em parceria por essas duas nações. Também são parceiros o Instituto Federal de Educação – Campus Castanhal, a Universidade Federal Rural da Amazônia e o Centro Mundial Agroflorestal.