PSICÓLOGA PRISCILLA TIETBOHL
CRP 12/07458
PSICÓLOGA PRISCILLA TIETBOHL
CRP 12/07458
TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA
A dependência química trata-se de um problema de saúde pública e existe tratamento com remissão total dos sintomas. O tratamento da dependência química precisa ser realizado desde o início com acompanhamento de médico especialista porque toda redução abrupta ou gradual de sustâncias entorpecentes provocam alterações fisiológicas cerebrais, sendo que as alterações neurológicas precisam ser monitoradas e medicadas. A psicoterapia tem a função de resolver as complicações emocionais e conseguir manter a motivação de abster-se dos vícios, identificar as determinantes desse problema, diagnosticar elementos da personalidade, localizar e orientar o paciente. Se o paciente conseguir seguir os tratamentos corretamente, com comparecimento regular nas sessões de psicoterapia, consegue recuperar-se totalmente dos vícios.
O tratamento da dependência química com remissão total dos sintomas também está amplamente documentado nos manuais de psiquiatria, eventos, artigos e demais publicações científicas há mais de cinquenta anos. No Brasil existem trabalhos de intervenção nessa direção também entre os psicólogos e pesquisadores que utilizam a Psicologia científica enquanto fundamento na teoria e prática clínica, conforme demonstram, por exemplo, os trabalhos dos psicólogos e psicoterapeutas Fernando de Castro (2016), Ana Cláudia de Souza (2022), Lara Beatriz Fuck (2001), Daniela Ribeiro Schneider (2011), o antropólogo Bertolino (2015) e colaboradores. No exterior, por exemplo, os trabalhos dos psiquiatras e pesquisadores Ronald Laing na Inglaterra (1964), David Cooper (1964), Van Den Berg (1955) na Holanda e o psiquiatra e pesquisador da Universidade de Nova York Thomas Szasz nos EUA (2008). Entre vários outros pesquisadores e psicoterapeutas europeus, americanos e brasileiros que consolidam a relevância psicoterapêutica dessas práticas clínicas, e tornam possível a recuperação psicológica total através de tratamentos promissores.
A intervenção busca aumentar a motivação para realizar os tratamentos, a continuidade da abstinência e a prevenção de recaídas. Envolve também explicar ao paciente que ele é responsável pelas suas ações, e por seu comprometimento com os tratamentos. Lembrá-lo de como o álcool gerou prejuízos significativos em sua vida de relações. O tratamento da dependência química também segue o padrão de tratamento psicoterapêutico de adultos. Começa com a oitiva das queixas do paciente, verificação dos episódios emocionais atuais e passados, identificação se existem outros diagnósticos além da dependência de substâncias através da análise dos padrões existentes nos episódios emocionais, orientação sobre o projeto e desejo de ser futuro.
Algo importante em psicoterapia trata-se de identificar como ocorre a dinâmica que está na base da dependência de substâncias lícitas e ilícitas. Implica identificar quais fatores psicossociais, políticos, econômicos, culturais e ambientais que estão afetando e influenciando o paciente no uso da bebida alcoólica. O paciente precisa receber orientações sobre como conseguir superar essas determinantes que o tornam propenso a apresentar comportamentos de risco. Por exemplo, as redes de proteção são importantíssimas para que ele consiga ter pessoas com as quais mantém vínculos saudáveis, e sinta-se protegido em situações difíceis. Porém, redes sociais difíceis podem provocar no paciente risco de consumo de substâncias químicas, quando quase todas as pessoas do convívio do paciente são dependentes químicos, por exemplo, quando essas pessoas incentivam o uso de substancias, ou quando marginalizam ou estigmatizam o paciente, provocando exclusão do mesmo dos ambientes saudáveis de convívio. Portanto, torna-se importante identificar esses fatores e planejar iniciativas que poderão reduzir o risco psicossocial de consumo.
O psicólogo precisa identificar se existe risco de suicídio, e orientar no manejo dos sintomas e localizá-lo quanto as possibilidades de ser futuras. O paciente precisa desenvolver autoconfiança, conseguir expressar seus sentimentos, solicitar algumas mudanças quando necessário, conseguir ter melhora nas habilidades interpessoais e na resolução de problemas. Em psicoterapia orientar na direção de conseguir realizar seus projetos nos diferentes perfis e aspectos da vida desde que esses projetos sejam viáveis e conforme as legislações. O paciente precisa adquirir segurança e proteção, conseguir manter vínculos saudáveis com os familiares e outras pessoas, quando possível. Precisa ter uma rotina com hábitos saudáveis, fazer exercícios físicos regulares, alimentar-se de maneira saudável, evitar alimentos gordurosos ou com excesso de açúcar.
Os tratamentos não são obrigatórios, porém se o paciente deseja recuperar-se desses vícios torna-se fundamental realizar os tratamentos completos e seguir as orientações dos profissionais da saúde. Se o paciente realiza todo o tratamento médico e medicamentoso, permanece em psicoterapia até o término desse tratamento, consegue recuperar-se de maneira total. A responsabilidade de manter-se em tratamento é exclusiva do paciente. Importante não desqualificar os tratamentos e conseguir ter regularidade de segui-los se deseja obter uma recuperação plena.
Conforme o DSM V (2014) a característica essencial de um transtorno por uso de substâncias consiste na presença de um conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos indicando o uso contínuo pelo sujeito apesar de problemas significativos relacionados à substância. O uso recorrente de substâncias pode resultar em dificuldades em cumprir as principais obrigações no trabalho, no lar ou na escola. O indivíduo pode continuar o uso da substância apesar de apresentar problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados por seus efeitos. A tolerância acontece quando quantidades maiores da substância são necessárias para obter os efeitos desejados. A abstinência ocorre quando as concentrações de uma substância no sangue ou nos tecidos diminuem em um indivíduo que manteve uso intenso prolongado. Após desenvolver sintomas de abstinência, o indivíduo tende a consumir a substância para aliviar esses sintomas. Alguns dos critérios diagnósticos desse transtorno por uso de álcool presentes no DSM V são os seguintes:
O Álcool é frequentemente consumido em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido.
Existe um desejo persistente ou esforços malsucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso.
Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção de álcool, na utilização ou na recuperação de seus efeitos.
Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar álcool.
Uso recorrente, resultando na dificuldade em desempenhar papéis importantes no trabalho, no lar ou na escola.
Uso continuado de álcool, apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes.
Importantes atividades sociais, profissionais ou de lazer são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso.
Uso recorrente de álcool em situações nas quais isso representa perigo para a integridade física.
O uso de álcool é mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente.
A American Psychiatric Association (2014) também esclarece que o primeiro episódio de intoxicação por álcool acontece geralmente na adolescência. A maioria das pessoas que desenvolvem transtornos relacionados ao álcool o faz até os 30 anos. Valores sociais e familiares influenciam o uso de drogas ilícitas. Quando os pais fumam, ingerem bebidas alcoólicas ou usam substâncias psicoativas, os filhos apresentam maior propensão ao uso de drogas, talvez por aprender de que o seu uso é socialmente aceitável. As pessoas com amigos que usam drogas também têm maior probabilidade de usá-las. A gênese desse problema também acontece com o próprio comportamento de uso. A decisão de usar uma droga é influenciada por situações sociais e psicológicas imediatas, bem como pela história mais remota do indivíduo.
Infelizmente, 60% dos indivíduos alcoolistas que buscam tratamento estão com sintomas depressivos. O manejo da retirada do álcool consiste em apoio geral, alimentação e hidratação adequadas, monitoração médica cuidadosa, suplementação nutricional. Os pacientes alcoolistas com capacidade prejudicada de seguir instruções, apoio social inadequado ou ausente ou uma história de sintomas graves de abstinência requerem um monitoramento cuidadoso e podem precisar de hospitalização.
Conforme identificou a American Psychiatric Association (2014) o transtorno por uso de álcool costuma ser erroneamente considerado como uma condição intratável, em função de que os sujeitos que se apresentam para tratamento tem uma história de muitos anos de problemas graves relacionados ao álcool. Esses casos mais graves de pacientes que não seguem o tratamento representam apenas uma pequena parcela das pessoas com o transtorno, e o paciente típico tem um prognóstico mais promissor.
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