PSICÓLOGA PRISCILLA TIETBOHL
CRP 12/07458
Sobre relacionamentos, paixão e amor... Entenda
Os relacionamentos amorosos não são compatíveis com jogos de dominação. Nos relacionamentos amorosos as experiências de atração são anteriores a formação dos estados emocionais de amor. Essas experiências de atração correspondem as forças atrativas que uma pessoa provoca na outra. Por exemplo, como alguém conduz as dinâmicas interpessoais, os seus projetos profissionais, a sua maneira de agir e posicionar-se, a forma pela qual comunica-se com os outros, o estilo de vida que elegeu para si, como vivencia sua sexualidade, a energia que transmite, etc.
Todas essas qualidades vão se destacando e exercendo forças atrativas que provocam o desejo de conhecer e aproximar-se. Importante considerar que nem toda experiência de atração significa necessariamente uma experiência de atração sexual. Nos atraímos por diversas qualidades e perfis de outras pessoas. Por exemplo, pelo modo de um professor dominar um conteúdo específico e conseguir realizar uma boa aula. Isso não significa necessariamente uma atração sexual. Pode ser atração por um modelo profissional de ser, por um modo de ser.
Nos relacionamentos amorosos ocorre a formação de um projeto e futuro em comum em que o casal une seu desejo de ser no futuro. Pode iniciar por compartilhamento de projetos profissionais, envolvimento sexual com o parceiro, projetos de atividades cotidianas, projeto de ser pai, de ser mãe, uma série de outras experiências. A forma pela qual o casal se relaciona, a maneira de comunicar-se, o modo que definem aquele relacionamento, o comprometimento de ambos, o compartilhamento das expectativas, todas essas experiências geram sentimentos de segurança no relacionamento. O amor acontece enquanto sentimento psicofísico e a pessoa sente-se mais segura e confiante. A experiência de amar e ser amado aumenta a potência psicofísica. Todo amor é construído por essas experiências de atração, mas não se reduz a tais experiências, pois envolve a totalização das experiências de atração e o projeto e desejo de ser no futuro.
Imprescindível que as pessoas não renunciem sua identidade, seu projeto e desejo de ser essencial. Estabeleçam o relacionamento numa dinâmica na qual aconteça alteridade e reciprocidade, desenvolvendo limites e fronteiras. Essas fronteiras impendem que outras pessoas interfiram negativamente no relacionamento. A alteridade significa o reconhecimento do outro enquanto distinto de si mesmo, e aceitação do outro no relacionamento interpessoal. A reciprocidade significa a correspondência mútua de emoções e sentimentos. Importante que o afeto seja vivenciado com comprometimento e responsabilidade de ambos.
A maioria dos casais que procuram atendimento desejam manter equilíbrio nas relações de poder, nas quais as expectativas e decisões de ambos são consideradas e possuem o mesmo nível de importância no relacionamento. A satisfação conjugal envolve paixão, compreensão, comunicação, evitar que os pensamentos e sentimentos negativos se sobreponham aos positivos. Nos relacionamentos amorosos acontece de incorporar os padrões de relacionamento saudáveis da família e amigos do cônjuge. Expandir a rede de relacionamentos interpessoais considerando quais são as outras pessoas significativas e importantes na vida do outro. Nas habilidades interpessoais torna-se importante conseguir relacionar-se com os problemas de maneira assertiva, expor os sentimentos para o parceiro, resolvendo os conflitos conjugais de maneira objetiva.
Portanto, torna-se relevante que as duas pessoas consigam comunicar-se de maneira efetiva, saber expressar seus projetos e sentimentos, e saber ouvir e considerar os sentimentos do outro com empatia. Quando o casal apresenta problemas no relacionamento em função de sua própria dinâmica, torna-se importante considerar a psicoterapia individual e/ou de casal para que eles possam superar esses padrões relacionais. A forma através da qual o casal se relaciona e se comunica, com respeito, atenção e aceitação são fundamentais no sucesso do relacionamento. O psicoterapeuta precisa identificar a dinâmica naquele relacionamento conjugal, localizar os cônjuges dos aspectos patológicos, planejar com os pacientes as mudanças e objetivos da psicoterapia.
Orientá-los para a resolução dos problemas, de maneira que a individualidade e identidade de ambos seja considerada, incentivando o compartilhamento e a vivência de experiências positivas que os viabilizem. Nos relacionamentos estáveis e duradouros os casais conseguem se complementarem e se adaptarem construindo um modelo de funcionamento conjugal. Cada pessoa reconstrói sua realidade individual partindo de referências comuns e possibilitando a formação de uma identidade conjugal. Portanto, o casal constrói uma plataforma de suporte para lidar com o estresse, proporcionando satisfação das necessidades psicológicas de ambos.
Torna-se fundamental admiração, paixão, interesses e projetos em comum, compromisso recíproco, afetividade. Alguns pacientes apresentam problemas relacionados a sexualidade. Em muitas das situações apresentadas em atendimento psicoterapêutico as queixas estão relacionadas a ausência de prazer sexual. Algumas mulheres não conseguem ter prazer sexual em função de apresentar problemas psicológicos específicos. Apresentam também dificuldades em compreender tais experiências, algumas desconhecem o próprio corpo e as diferentes maneiras de obter prazer. Fundamental que na psicoterapia seja descrito e definido quais são os problemas e as queixas, se há presença ou não de psicopatologia, e se as queixas estão relacionadas a existência de uma elaboração reflexiva equivocada das experiências relacionais, mediadas por elementos de racionalidade falsos, místicos ou baseados no senso comum.
Lara Fuck (2004) demonstra na comunicação de caso “Sexualidade e complicações psicológicas” que muitas mulheres que apresentam histórico de contextos antropológicos de gênese da constituição da personalidade com uma moral muito repressiva nas questões sexuais, em termos de racionalidade social, desenvolvem problemas em conseguir experimentar prazer. São mulheres que não receberam orientações relacionadas a sexualidade, foram impedidas desde muito cedo a falar sobre o assunto, desconhecem o próprio corpo e apresentam muitas dificuldades em dialogar com o parceiro sobre seus desejos. Nesse tipo de situação o psicoterapeuta poderá trabalhar a retotalização dessas experiências que no passado foram mediadas por elementos de racionalidade com moral muito repressiva, e que no presente podem ser reelaboradas por elementos da Psicologia científica, possibilitando novas compreensões e experimentações de ser, tornando possível a vivência da sexualidade de maneira mais saudável.
Outras mulheres apresentam muitas dificuldades e patologias porque foram vítimas de abusos sexuais em contextos passados. Nesse contexto, as mulheres geralmente apresentam recusa e negação de sua própria sexualidade porque as situações atuais vividas de iniciativas sexuais normais de seus parceiros fazem correlação noemática com os episódios de abuso sexuais dos quais foram vítimas. O psicoterapeuta precisa orientar e trabalhar a retotalização dos acontecimentos com objetivo da paciente diferenciar emocionalmente os episódios traumatizantes dos episódios atuais. Propiciando novas elaborações reflexivas nas quais a relação sexual com o prazer de ato e prazer de ser possa acontecer.