Olá, estudante! Na lição anterior, você conheceu os conceitos de capital humano e capital intelectual. Foi explicado que o capital humano é composto pelas pessoas talentosas e pelo contexto propício para seu desenvolvimento. Foi exposto que o capital intelectual é formado pelo capital humano, capital interno e capital externo e está relacionado com todas as partes interessadas, internas e externas, da organização.
Agora, na Lição 4, você compreenderá o que significa trabalhar em equipe, conhecerá como o processo de interação entre as pessoas acontece e a influência do clima organizacional na qualidade das relações. Também, entenderá o conceito de grupo de pessoas, equipe de trabalho e equipe de alto desempenho. Por fim, conhecerá alguns tipos de equipes que podem ser formadas e os cuidados que devem ser tomados na composição de equipes de sucesso.
No último parágrafo da Lição 3, foi citado o lema histórico: “um por todos e todos por um”, lembra dele? Pois é, ele combina muito bem com nossa lição atual e, por isso, contarei um pouco desta história para você. Este lema está contido no famoso e antigo livro Os Três Mosqueteiros, escrito por Alexandre Dumas, em 1844, que conta as aventuras de quatro (e não três) amigos espadachins (guerreiros): Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan. Os mosqueteiros eram guardas do Corpo de Elite (eram especiais) e tinham como missão guardar as vidas do rei e da rainha da França. Como armas, eles usavam as espadas e, em meio a inúmeros combates e reviravoltas que a história dá, vão se tornando muito unidos e verdadeiros amigos.
A história do livro é cheia de intrigas, já que o rei e a rainha tinham vários inimigos que queriam ocupar o seu lugar, tanto de outros países como de dentro da própria corte. Os perigos enfrentados pelos amigos vão colocando à prova a confiança que um mosqueteiro tem no outro, e a conexão que se forma entre eles os torna invencíveis. Sempre antes de uma luta, eles uniam suas espadas e falavam: “um por todos e todos por um”. No final, fica a mensagem de que a união faz a força.
Será que podemos encontrar alguma semelhança da história dos mosqueteiros com o ambiente organizacional? Bom, em uma empresa, não há armas nem guerras, mas tem problemas e conflitos a serem resolvidos. Nela, não existem grupos de guardas espadachins, mas existem empregados que precisam trabalhar em equipe. Não há pessoas brigando por uma coroa, mas há a concorrência, o mercado consumidor e o cenário econômico a serem administrados. Agora, pergunto-lhe: como seriam os mosqueteiros modernos e quem seriam seus companheiros? Quais armas eles teriam para vencer os problemas e conflitos organizacionais? O que é preciso para desenvolver a confiança e a conexão necessárias para uma equipe trabalhar em harmonia?
No romance Os Três Mosqueteiros, a amizade apareceu e se fortaleceu na adversidade e, também, a união e a confiança entre os personagens os tornaram invencíveis. Um aspecto interessante na história é que seus heróis não eram pessoas quaisquer, pelo contrário, eram os melhores espadachins da França. Note que eles não venceriam seus inimigos se não soubessem lutar muito bem. Esse fato evidencia a importância dos estudos, dos treinamentos e da especialização em algum ofício. Os mosqueteiros tinham interesses vocacionais bem definidos.
Outro ponto que chama atenção está relacionado ao que hoje é chamado de inteligência emocional. Cada um dos mosqueteiros tinha uma personalidade diferente um do outro, porém, em comum, todos se respeitavam e sentiam empatia. No momento de alguma ação perigosa, eles conseguiam controlar suas próprias emoções para agir em conjunto e, mais do que isso, confiavam no conhecimento, na habilidade e na atitude do colega de trabalho.
Também vale destacar que o entrosamento e a amizade dos mosqueteiros não começaram de imediato, pelo contrário, no início, houve certa tensão e desconfiança entre eles, quando Athos, Porthos e Aramis cobraram uma dívida de honra de D’Artagnan. Esse tipo de comportamento é explicado, por Knapik (2012), como característico da formação de um grupo social. Quase sempre, a interação obedece a algumas etapas de desenvolvimento. No início, existem incertezas e inseguranças. Em seguida, surgem diferenças de opinião e conflitos podem existir. Na fase seguinte, são estabelecidos o propósito central do grupo e a definição de papéis. Por último, todos desempenham seu papel com o intuito de alcançar os objetivos do grupo.
O final da história é feliz, os inimigos são derrotados, os reis ficam a salvo e os mosqueteiros são reconhecidos e recompensados como heróis. Um resultado como esse é o que muitas empresas buscam com suas equipes de trabalho. As empresas querem pessoas motivadas, efetivas, empáticas e determinadas nos cumprimentos das metas e objetivos organizacionais. Por outro lado, trabalhadores empenhados, também, querem ser reconhecidos e recompensados pelos seus esforços e, nisso, o papel dos gestores se torna um diferencial para a harmonia no ambiente de trabalho.
Um ambiente organizacional feliz e harmônico é sempre bem-vindo. Na Lição 1, vimos que a Abordagem Humanista adotou alguns princípios importantes relacionados ao trabalhador e ao ambiente de trabalho, como o trabalho ser fundamental na vida da maioria das pessoas, devendo ser considerado uma atividade grupal, não individual, e os grupos sociais informais têm relação direta com a disposição e o bem-estar dos trabalhadores (FONSECA, 2020). Desde então, os administradores vêm estudando seus empregados e incentivando relacionamentos interpessoais sadios e produtivos.
O processo de interação entre as pessoas é complexo, os seres humanos têm uma infinidade de sentimentos conscientes e inconscientes que comandam suas ações e reações. Mais do que isso, ao interagir com os outros, a pessoa, também, comunica-se por meio de olhares, sorrisos e gestos. Ademais, um clima favorável ou desfavorável no relacionamento, que determina a aceitação ou o afastamento entre as partes, é causado por experiências anteriores, fatores psicológicos e preconceitos internalizados (KNAPIK, 2012).
Nas empresas, o clima organizacional e a qualidade das relações podem estabelecer um ambiente agradável, estimulante e criativo ou, ao contrário, desagradável e inibidor. Por isso, no intuito de promover melhorias no ambiente de trabalho, os gestores buscam profissionais mais flexíveis e maduros emocionalmente que aceitem a convivência com as emoções e limitações dos outros. O desafio é provocar o autoconhecimento e estimular a sinergia e as relações (KNAPIK, 2012). O gestor é dependente de sua equipe, que é sua unidade de ação, sua ferramenta de trabalho, e conta com sua motivação. Para isso, precisa saber escolher seus membros, entender qual perfil de profissional precisa para a execução do trabalho e se esforçar para treinar, preparar e avaliar os subordinados (CHIAVENATO, 2010).
Comumente, no ambiente corporativo, é feita uma diferenciação entre grupos de pessoas e equipes de trabalho. O grupo de pessoas é conceituado como sendo a reunião de duas ou mais pessoas em função de um mesmo interesse, mas não, necessariamente, de um mesmo objetivo. Nele, as pessoas agem e decidem de forma individual. Não há abertura para intercâmbio de ideias, interconectividade e interação emocional. Em resumo, o grupo é uma soma de esforços das pessoas (CHIAVENATO, 2010).
A equipe de trabalho é mais do que um simples grupo de pessoas, sendo conceituada como a reunião de duas ou mais pessoas em função de um mesmo interesse e objetivo. Nela, as pessoas agem e decidem de forma conjunta. Tem forte abertura para intercâmbio de ideias, interconectividade e interação emocional. Em resumo, a equipe é uma multiplicação de esforços das pessoas (CHIAVENATO, 2010).
Normalmente, a equipe de trabalho, também chamada equipe de alto desempenho, possui alguns fatores que a caracterizam (Quadro 1), como maturidade emocional, clareza nos objetivos, comunicação, conhecimento dos prazos e recursos, disposição para aprender, respeito mútuo e confiança. Cada fator é reconhecido pelo grau de entendimento da equipe em alguns quesitos, como aceitação das diferenças individuais, aprendizado com a diversidade e o diferente, conhecimento das metas e dos objetivos da empresa, saber dar e receber feedback, saber falar sobre sentimentos, aprender com os erros, aceitar mudar de estratégia, quando é necessário, saber compartilhar conhecimento, acreditar na equipe e no alcance dos objetivos, ter um comportamento ético e saber o que, como e quando fazer suas tarefas do dia a dia (KNAPIK, 2012).
As experiências com o trabalho em equipe apresentam melhoras no desempenho dos trabalhadores nas tarefas que requerem múltiplas habilidades, julgamento e experiência. Existem evidências de que trabalhar em conjunto otimiza a produtividade, aumenta o foco no cliente e a responsabilidade sobre as tarefas do dia a dia, melhora a confiança nos superiores e dá uma sensação mais forte de realização ao empregado (SOARES, 2015). Segundo Soares (2015), as equipes podem realizar várias atividades, como confeccionar produtos, prestar serviços, coordenar projetos e negociar acordos. A composição de uma equipe é estabelecida conforme as necessidades da organização e pode acontecer de várias formas, tais como:
Intraequipe: nesse tipo de equipe, todos os membros trabalham na mesma área ou departamento, sob a mesma gerência, e tem o objetivo de resolver as relações individuais e cooperativas internas daquela área/departamento. Como exemplo:
a. Equipe autogerenciada: é formada para a realização de um conjunto de tarefas interdependentes. Os participantes são altamente treinados para desempenhar suas tarefas e usam a anuência de todos para a tomada de decisão, resolver problemas ou lidar com clientes internos e externos.
Interequipe: nesse tipo de equipe, os membros trabalham em áreas ou departamentos diferentes, não estão sob a mesma gerência, mas tem uma relação profissional que os une. Como exemplo:
a. Equipe multifuncional: é formada para alcançar um objetivo específico, por meio de um mix de competências. Os participantes possuem o mesmo nível hierárquico, porém têm competências diferentes um do outro (marketing, produção, finanças, engenharia). Geralmente, é designada, ou seja, não se forma naturalmente.
Independentemente do tipo de equipe formada, desenvolver as pessoas para trabalhar em equipe não é tão simples como parece. Soares (2015) cita três cuidados que considera básicos para o aumento de desempenho:
Cuidados na seleção: nem todas as pessoas gostam de trabalhar em equipe, por isso, antes de convidar alguém para fazer parte, a empresa deve avaliar se os candidatos têm competências para desempenhar bom papel dentro do time. Essa atitude pode evitar futuros aborrecimentos.
Cuidados nos treinamentos: passar por treinamentos sobre o trabalho em equipe é importante, porque permite às pessoas experimentar as vantagens que esse tipo de configuração oferece.
Cuidados nas recompensas: deve haver um equilíbrio entre as contribuições individuais e os benefícios feitos a favor da equipe. Além disso, as recompensas não devem ser oferecidas como incentivo à competição. Ao contrário, as formas de reconhecimento, como promoção e aumento de salário, devem ser dadas para estimular os esforços em conjunto, pela eficácia da pessoa na colaboração da melhoria da equipe.
Todo esse conhecimento que você está estudando é importante para que você compreenda e conheça o que é uma equipe de trabalho e como ela é formada dentro de uma empresa. Provavelmente, com os exemplos trazidos nesta lição, você já começou a entender como esse tipo de configuração é interessante e pode impactar, positivamente, tanto as empresas quanto seus trabalhadores.
Como você aprendeu nesta Lição 4, trabalhar em equipe traz vários benefícios para a empresa e para o trabalhador, como melhorias no desempenho, aumento da produtividade, senso de responsabilidade sobre as tarefas do dia a dia, maior confiança nos superiores e sensação de realização. Porém faz surgir alguns desafios para o processo de interação entre as pessoas, como maturidade emocional, saber se comunicar da forma certa, disposição para aprender, respeito mútuo e desenvolvimento de confiança.
Comumente, as empresas contratam pessoas para trabalhar em funções individualizadas, e mudar essa cultura para o trabalho em conjunto requer mudar algumas regras e políticas já estabelecidas. Nesse momento, o profissional de Recursos Humanos (RH) assume um papel muito importante, junto aos gestores das organizações, que é o de apoiá-los nesta missão. Então, o RH aceita responsabilidades, como trabalhar para melhoria do clima organizacional, qualidade das relações no trabalho e cuidados na composição das equipes, em relação à seleção de pessoas, aos treinamentos, à remuneração e às recompensas.
Além disso, Soares (2015) lembra que há empresas que não acreditam no trabalho em equipe, são organizações que incentivam realizações particulares e apoiam um ambiente de trabalho competitivo. Porém o principal desafio encontrado para aquelas que querem investir no trabalho em equipe é a resistência dos próprios trabalhadores em deixar de trabalhar de maneira individual e migrar. Isso acontece porque muitas pessoas não se adaptam a esse tipo de trabalho, como motivo pode ser que tenham um perfil pessoal solitário ou preferem ser reconhecidas individualmente. Por isso, na próxima lição, veremos o que significa recrutar pessoas e a importância de recrutar a pessoa certa para o cargo certo.
CHIAVENATO, I. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
FONSECA, V. S. Introdução à teoria geral da administração. Curitiba: Contentus, 2020.
KNAPIK, J. Gestão de pessoas e talentos. Curitiba: InterSaberes, 2012.
SOARES, M. T. R. C. Liderança e desenvolvimento de equipes. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015.