Olá, estudante! agora que você já entende o conceito de Administração de Recursos Humanos e o papel do profissional que lida com a área de Recursos Humanos, chegou a hora de conhecer e caracterizar os conceitos de capital humano e capital intelectual.
Na Lição 3, você compreenderá o que significa ser um talento humano, conhecerá algumas competências procuradas pelas empresas nas pessoas talentosas, como: o conhecimento, a habilidade e a atitude. Também entenderá que o talento humano somente cresce em um ambiente propício para isso e que a junção desse talento com o contexto forma o capital humano. Você conhecerá os três fatores de uma empresa que colaboram com o capital humano: a arquitetura organizacional, o clima organizacional e o estilo de gestão.
Por fim, saberá que o conceito de capital intelectual engloba não, somente, o capital humano, mas também o capital interno e o capital externo da organização, Você também entrará em contato com os elementos do ambiente organizacional os quais envolvem componentes internos, tais como: empregados e processos, e partes externas: clientes, fornecedores e mercado.
Acredito que você sabe quem é o Homem Aranha, estou certa? Pois é, este personagem criado no início dos anos 1960 por uma editora de quadrinhos americana até hoje é um dos super-heróis mais populares e um sucesso comercial. A sua história é sobre um adolescente, chamado Peter Parker, que é picado por uma aranha radioativa e, a partir daí, ele desenvolve superpoderes, como: força, agilidade, geração de teias e capacidade de andar pelas paredes.
Que legal, não é? Super-heróis são pessoas com poderes especiais que resolvem qualquer problema. Nos quadrinhos (e, depois, nos cinemas), quando não está salvando pessoas de perigos, o Homem Aranha vive uma vida normal. Após se formar na faculdade, trabalha em várias empresas, exercendo diferentes ocupações: professor, inventor, fotógrafo e cientista. Os conhecimentos que ele adquiriu ao longo dos seus estudos e mais os superpoderes que ganhou o tornaram uma pessoa diferenciada.
Agora, imagine se o Homem Aranha fosse uma pessoa de verdade, que tivesse tantas habilidades e pudesse ajudar a resolver todas as dificuldades da organização onde ele trabalhasse. Nossa, certamente, este é o profissional dos sonhos da maioria das empresas. Mas, se super-heróis não existem, o que as empresas fazem para solucionar os seus problemas? Onde adquirem os seus “superpoderes” para gerenciar o dia a dia e tomar decisões as quais impactam o futuro delas?
Super-heróis e superpoderes não existem, porém, conhecimento, habilidades e atitudes sim, é por meio deles que as empresas resolvem os seus problemas e tomam as suas decisões. No caso de uma empresa de histórias em quadrinhos (HQs), a criação e manutenção do produto é uma tarefa bem desafiadora. Por exemplo, existem muitos quadrinhos e vários filmes sobre o Homem Aranha, são mais de 50 anos de histórias contadas e, para imaginar novos episódios e manter a coerência em relação à vida do personagem, é preciso um rigoroso controle sobre a linha do tempo dele.
Imagine você, durante todos esses anos, quantas mudanças na imagem do Homem Aranha já ocorreram? Diferentes desenhos de roupas, máscaras e cortes de cabelo, por exemplo. Pense em quantos ambientes diferentes ele frequentou e quantos outros personagens (amigos e inimigos) ele conheceu.
Provavelmente, em uma empresa de HQs, existem pessoas contratadas, somente, para fazer a manutenção e a guarda das cronologias de seus heróis. O produto dessa empresa é a confecção de histórias e, no caso do nosso super-herói, faz parte registrar, por escrito, tudo o que já foi criado e relatado sobre a vida dele: os problemas de relacionamento durante a adolescência, em que ano enfrentou o seu primeiro inimigo, quantos vilões combateu, quando se tornou um Vingador.
Ações como essa — confecção de linhas do tempo — são executadas, primeiramente, para não confundir os fãs, pois as histórias são contadas e, às vezes, ambientadas no futuro e, em outras vezes, no passado. Já pensou se eles cometem um “furo” e relatam algum evento em uma data marcada em outra ocasião? Mas essas linhas do tempo são feitas, também, para ajudar todas as pessoas que trabalham na confecção das HQs. A guarda engloba não, somente, a história em si, mas tudo o que contribuiu para o seu desenvolvimento, como: quem foram os seus criadores, escritores, cartunistas, artistas, diretores, enfim, todos os empregados e parceiros envolvidos na sua criação.
O mundo das histórias em quadrinhos vive de inovação. O conhecimento organizacional é aquele no qual cada pessoa contribui para a criação de novas histórias, assim, muitas outras organizações também possuem conhecimentos que são usados no desenvolvimento e fabricação de seus produtos. Este assunto não deixa você curioso(a) a respeito de como as empresas devem agir tanto para adquirir quanto para manter os processos de confecção dos produtos? De onde vem a inovação? E mais, o que a inovação tem a ver com o tema da nossa lição: capital humano e capital intelectual?
Pois é, a inovação tem tudo a ver com a nossa lição sobre capital humano e capital intelectual. Mas, antes de falar sobre isso, quero lembrar a Lição 1 a respeito de Drucker e o início da Era do Conhecimento.
Você deve ter reparado que o conceito de empregado começou a mudar a partir da década de 1980, a partir daí, o trabalhador, gradualmente, ganhou destaque. Atualmente, ele é considerado tão ou mais importante do que o capital financeiro (o dinheiro) e, com isso, passou a fazer parte do chamado “capital humano”. Tudo isso acontece porque o contexto econômico mundial força as empresas a procurarem soluções tão criativas quanto inovadoras, para driblar os riscos e cenários que mudam a toda hora. Nada melhor para isso do que a criatividade das pessoas (PEQUENO, 2012).
Sim, o capital humano de uma empresa é composto pelas pessoas que trabalham nela, porém não diz respeito a todas elas, mas, especificamente, àquelas tidas como talentosas. Explicarei melhor: ter pessoas trabalhando em uma empresa não significa, necessariamente, ter talentos. Um talento é um tipo especial de trabalhador indispensável ao sucesso da organização, esse talento humano possui qualidades que o valorizam e o distinguem dos demais. A essas qualidades dá-se o nome de competência (CHIAVENATO, 2010).
Competência organizacional é um conceito relacionado à qualificação. Uma pessoa qualificada é aquela que possui conhecimentos e habilidades, adquiridos por meio de suas experiências e formação profissional e que as capacitam para desempenhar as tarefas do trabalho. Já uma pessoa competente vai além disso, porque também tem capacidade real para atingir um fim em determinado contexto. As qualificações são permanentes, fazem parte da estrutura do indivíduo, enquanto as competências são mutáveis, variam conforme o contexto (PAIVA, 2019).
Dentre as competências mais desejadas pelas empresas estão: (1) conhecimento; (2) habilidade; (3) atitude (Figura 1). O conhecimento é importante porque é inesgotável, existem sempre coisas novas a serem aprendidas, então, as pessoas devem estar abertas para aprender, continuamente. A habilidade é desejada porque não basta só conhecer, é preciso saber fazer o que foi aprendido, tanto para resolver os problemas que aparecem quanto para criar e inovar. A atitude é requerida porque, além de saber fazer, é preciso fazer acontecer, ou seja, pôr em prática o que se sabe bem como alcançar metas, assumir riscos e ser agente de mudança (CHIAVENATO, 2010).
O talento humano leva a empresa rumo ao sucesso, mas, para conseguir se desenvolver e crescer, é preciso um ambiente favorável, incentivador. O comportamento de um empregado dentro da empresa dependerá de suas variáveis pessoais, como: personalidade, motivação interna, percepção, crenças e valores. Mas também das variáveis organizacionais: regras, clima, cultura, métodos e processos, recompensas e punições. As pessoas adaptam-se aos ambientes, exercem influências sobre eles e podem, até mesmo, modificá-los (KNAPIK, 2012).
Veja você, então, que não adianta contratar pessoas talentosas se faltar um contexto acolhedor. É necessário ficar atento aos dois fatores principais do capital humano: (1) talento; (2) contexto (Figura 2). O talento humano, para existir em uma empresa, precisa de liberdade e autonomia para crescer, por isso é pensado um contexto ideal e mais adequado que valorize uma arquitetura organizacional flexível e que facilite o contato, assim como a comunicação entre as pessoas. Igualmente importante é promover uma cultura organizacional democrática e participativa que traga, entre outras coisas, confiança e comprometimento. Por fim, o estilo de gestão descentralizado deve ser adotado, voltado a divisão de poder, delegação e empoderamento das pessoas (CHIAVENATO, 2010).
A arquitetura organizacional está ligada à melhor distribuição dos cargos e da hierarquia existente. Uma empresa muito rígida não facilita a troca de informações, assim, ela perde a oportunidade de ouvir novas ideias. A cultura organizacional é um fenômeno intangível (invisível) que se manifesta por meio dos rituais, códigos, símbolos e práticas do dia a dia. Assim como o clima organizacional, ela influencia, diretamente, o estado de ânimo das pessoas. Para manter um bom clima organizacional, é preciso comprometer os empregados com as políticas e diretrizes da empresa. Um estilo de gestão mais participativo colabora com isso (KNAPIK, 2012).
Portanto, o capital humano é composto por trabalhadores talentosos em um contexto favorável ao crescimento e faz parte do capital intelectual de uma empresa. Atualmente, a gestão traz a necessidade de pensar não, somente, nas pessoas, mas também na organização e no mercado no qual a empresa está inserida. Por isso, o conceito de capital intelectual abrange: (1) capital humano; (2) capital interno; (3) capital externo.
Então, deve ser dada a devida importância tanto a conceito, modelos e processos quanto a sistemas administrativos e informacionais da empresa (seu capital interno), a relações com os clientes e fornecedores bem como a marca, imagem e reputação (seu capital externo) (CHIAVENATO, 2010).
Sabe por que as empresas devem prestar atenção ao ambiente em sua volta? Basicamente, porque o universo que envolve uma organização, todos os relacionamentos e partes interessadas nela — empregados, clientes, concorrentes, governo, fornecedores e investidores — são responsáveis pela sua existência, fornecem recursos ao seu funcionamento, além de comprarem os seus produtos e serviços. Por isso, os processos organizacionais sofrem, diretamente, com as interferências desse ambiente e com as mudanças constantes nos aspectos social, político, tecnológico e econômico (KNAPIK, 2012).
Assim, lembrando o que Drucker falou sobre eficiência e efetividade, uma empresa não deve viver isolada, somente, olhando, internamente e, também, para o modo como fabrica o seu produto. É necessário ser efetiva, olhar para fora, entender quais elementos estão interligados e como os produtos ou serviços satisfazem às expectativas do mercado (VIZEU, 2019).
Voltando ao case da lição sobre a empresa criadora do Homem Aranha, você pode notar que ela se preocupa com os seus clientes ao controlar a linha do tempo da vida do personagem, a fim de não confundir as histórias. Pensa, também, em seus empregados, quando guarda e disponibiliza para eles todos os detalhes dos produtos fabricados sobre o personagem, possibilitando que eles criem, com mais certeza, de que estão inovando. Ela também se dedica a modernizar o produto e a atender às expectativas do mercado, investindo não só no formato dos quadrinhos, mas em filmes.
Assim como essa empresa, muitas outras estão acompanhando a evolução do modelo de gestão que considera importante adotar processos flexíveis, abertos a mudanças e adaptados às demandas provocadas pelo cenário econômico mundial. Para trabalhar nessas empresas, o profissional de RH deve estar pronto a ajudar tanto a empresa quanto os empregados. Por exemplo, por meio dos seus conhecimentos, você pode atuar como especialista administrativo(a), com as suas habilidades, pode entender e buscar satisfazer às necessidades dos empregados, as suas atitudes também podem ser direcionadas para a ação em prol da transformação contínua da organização.
Vale ressaltar que, para manter vantagem competitiva no mercado, a organização precisa cuidar dos seus talentos humanos, adotando cultura e clima organizacionais atraentes e motivadores aos trabalhos em equipe (KNAPIK, 2012). Nesse quesito da cultura organizacional, Marras (2011) conta que, em seus muitos anos como consultor organizacional, constatou as diferenças existentes entre empresas que cuidam e difundem a sua cultura daquelas que nada fazem. Nas palavras do autor: “ao entrar numa empresa em que a cultura organizacional é difundida e os valores e crenças são pontos de referência claros e compartilhados entre todos, há um acordo tácito que lembra o lema histórico dos mosqueteiros de Dumas: um por todos e todos por um” (MARRAS, 2011, p. 297).
CHIAVENATO, I. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
KNAPIK, J. Gestão de Pessoas e Talentos. Curitiba: InterSaberes, 2012.
MARRAS, J. P. Administração de Recursos Humanos: do operacional ao estratégico. São Paulo: Saraiva, 2011.
PAIVA, K. C. M. Gestão de Recursos Humanos: teorias e reflexões. Curitiba: InterSaberes, 2019.
PEQUENO, A. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012.
VIZEU, F. Teorias da Administração: origem, desenvolvimento e implicações. Curitiba: InterSaberes, 2019.