Olá, estudante! Nas lições anteriores, trabalhamos as muitas gerações que compõem a nossa sociedade e também as organizações. Em nosso último estudo, analisamos a chamada Geração Alpha. Por meio dele, você conheceu o contexto histórico (extremamente atual) e tecnológico do seu surgimento, identificou as habilidades que seus representantes apresentam, refletiu sobre as preocupações dos especialistas quanto aos exageros da exposição à informação e às telas, por fim, entendeu as perspectivas do panorama, ainda em formação, do ambiente de trabalho com a inserção desses futuros profissionais.
Na sequência do estudo acerca da pluralidade que caracteriza a sociedade e, por consequência, as empresas, vamos tratar de um tema igualmente contemporâneo: a diversidade no ambiente organizacional. Você vai entender a importância da formação de uma cultura de inovação, compreender as relações entre diversidade, inclusão e inovação, conhecer os tipos de diversidade, reconhecer os resultados da chamada política da diversidade, identificar ações para a promoção da diversidade na empresa e, por fim, perceber os desafios da sua adoção.
Como futuro técnico em Administração, entender que a diversidade é uma característica social, que se manifesta também na empresa, é fundamental para que, com a perspectiva de uma gestão estratégica, consiga perceber as transformações culturais e como elas impactam nas organizações e nos novos contextos do mercado. Vamos entender mais e melhor a respeito disso? O conhecimento é o caminho para uma gestão mais eficiente e humana!
A sociedade humana, assim como o restante da natureza, é caracterizada pelas diferenças. Mesmo quando pertencem à mesma espécie, os seres vivos apresentam peculiaridades e variações. Além das especificidades na forma, há também as pluralidades de comportamento. Podemos pensar, como exemplo, no melhor amigo do homem: cães da mesma raça, ainda que tenham traços semelhantes, apresentam temperamentos específicos e únicos – por isso, inclusive, são tão especiais.
De acordo com a Sociologia, em uma comunidade, são as semelhanças (aquilo que se tem em comum), principalmente culturais, que promovem a união do grupo: pode ser a língua, a religião, o time de futebol, o partido político, o interesse científico, a preferência musical, a admiração por um artista etc. As afinidades nos dão a sensação de pertencimento, ou seja, de que não estamos isolados. Essa característica é fundamental para a coesão comunitária.
Contudo, além das afinidades, os indivíduos também convivem com as diferenças. Podemos falar a mesma língua, mas divergir quanto ao time do coração; podemos seguir uma mesma religião e admirar um outro estilo musical. As semelhanças constroem os grupos, mas os grupos são formados por sujeitos singulares, únicos e ímpares.
Esse cenário comunitário também ocorre nas empresas. A missão e o propósito da organização são compartilhados pelos colaboradores – por isso, é comum chamá-los de time. Entretanto, igualmente como ocorre com um time de futebol, os jogadores comungam dos mesmos objetivos, mas possuem talentos, temperamentos, origens raciais e sociais, valores pessoais e metas de vida diversas – e essa variedade de características torna a equipe especial.
Lidar com as diferenças é uma necessidade na área da gestão. Torná-las uma vantagem é um trabalho que envolve toda uma cultura organizacional – com seus ganhos e desafios. Vamos entender melhor como isso acontece? Posso não torcer para o mesmo time que o seu, mas sou do grupo que valoriza o conhecimento!
No case desta lição, trago para você o programa de diversidade e inclusão de uma empresa que é uma das organizações pioneiras desse tipo de gestão. A empresa tem um histórico de inclusão de vários grupos como mulheres e negros. O caso que você irá conhecer refere-se a pessoas com deficiência (PCDs), é o Projeto Sou Eficiente, que tem como lema “colocamos em prática que ser diferente é normal”. E, mais do que uma atitude humanista, representa uma cultura de diversidade valorizada. Ainda que exija mudanças e o enfrentamento de preconceitos, a inclusão proporciona muitos ganhos e ainda pode gerar um marketing positivo.
Assista ao vídeo recomendado a seguir, para conhecer mais sobre esse programa, revelando a compreensão da empresa de como a diversidade impulsiona a inovação, a cultura corporativa e o desempenho global. O programa de diversidade e inclusão, exemplificado pelo Projeto Sou Eficiente, reflete o compromisso da empresa com um ambiente de trabalho diversificado e inclusivo. Essa iniciativa destaca a compreensão dos benefícios da diversidade para a inovação e desempenho global da empresa, ou seja, totalmente conectado com o tema desta lição. Essa abordagem não apenas é ética, mas também demonstra responsabilidade social corporativa, sendo um modelo prático de como a diversidade é fundamental para o sucesso empresarial em longo prazo!
A atualidade é marcada pela transposição das fronteiras, pela instantaneidade das informações e das conexões. Constantes transformações são visíveis em todos os setores da sociedade: nas paisagens urbanas e rurais, na tecnologia, na moda, no estilo de vida, nas formas de relacionamento, no comportamento das pessoas. A nossa época é caracterizada pela fluidez – com todos os benefícios e desafios que ela traz.
Processo acelerado, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o mundo interligado exige que as empresas desenvolvam, mais do que atitudes isoladas, uma cultura de inovação. Além de novas soluções tecnológicas, é necessário mais. É preciso que uma mentalidade inovadora seja criada e adotada na organização, conforme indicam Magaldi e Neto (2019, p.13): “a tecnologia é o meio para a transformação, e não a transformação em si”. Ainda que essencial em uma realidade em movimento, os autores destacam:
O êxito no processo de adaptação ao novo não está relacionado exclusivamente às transformações tecnológicas. Não é possível que aconteçam transformações de qualquer natureza, seja qual for a organização, que não envolvam uma profunda transformação cultural em sua essência (MAGALDI; NETO, 2019, p.14, grifo nosso).
É preciso que as pessoas que compõem esse ambiente acolham e abracem as transformações, formando o conjunto de crenças e valores, a maneira como a empresa faz as coisas acontecerem, ou seja, sua cultura. Dessa forma, a inovação será resultante de uma cultura de inovação, construída por colaboradores que criam e inovam.
Diferentes visões contribuem para que se enxergue além da perspectiva conhecida. A diversidade de ideias e pontos de vista são importantes para que haja um ecossistema propício para a inovação. Por isso, pessoas pertencentes a grupos sociais variados, possivelmente, trarão grandes contribuições para a empresa.
Embora possa parecer evidente que, quanto maior for a diversidade entre os colaboradores, mais próxima a empresa estará da sociedade (onde, inclusive, está inserida), essa cultura ainda é um desafio para muitas organizações. Cada país lida com a questão de maneira peculiar; no caso brasileiro, a influência estrangeira foi importante, sobretudo a partir de 1990. “No Brasil, a discussão sobre o tema da diversidade se consolidou a partir das diretrizes de empresas multinacionais que operam no país, com o objetivo de aplicar as políticas e as melhores práticas de gestão existentes em suas matrizes no exterior” (FREIRE, 2023, p. 22, grifo nosso).
Além de atender a um compromisso humanista, formar uma equipe de colaboradores diversos possibilita maiores chances de sucesso. Um exemplo bastante expressivo é o que aponta o relatório Diversity Matters (2020), desenvolvido pela consultoria Mckinsey, a partir de pesquisa realizada em seis países da América Latina (inclusive o Brasil): empresas com maior diversidade racial têm 36% mais chances de ter melhores resultados. Outro fator relevante apontado pela pesquisa diz respeito à satisfação do time: em empresas comprometidas com a inclusão socioeconômica, os profissionais são quatro vezes mais propensos a dizer que se sentem muito felizes no trabalho e 103% mais propensos a declarar que têm líderes que desenvolvem a confiança e o diálogo.
Não por acaso, a pesquisa mencionada anteriormente, aponta que as empresas que adotam práticas de inclusão e políticas de diversidade possuem melhor Índice de Saúde Organizacional (OHI), que avalia quesitos como diálogo, confiança e cultura de trabalho em equipe. Dessa maneira, profissionais mais engajados, que se sentem incluídos e valorizados tendem a ser mais assertivos na comunicação, na tomada de decisão, no desenvolvimento de produtos e soluções.
Em harmonia com os valores da empresa, a valorização do talento, independentemente de idade, sexo, raça, orientação sexual, religião e nacionalidade, pode se tornar um grande diferencial competitivo:
Uma pesquisa feita pela Society for Human Resource Management, entidade norte-americana ligada à área de recursos humanos, mostra que 63% dos executivos das 500 maiores empresas dos Estados Unidos encaram a diversidade como um caminho para a concepção de um ambiente de trabalho mais criativo. E 60% deles a compreendem como uma forma de atrair os melhores talentos do mercado (ORCHIS, YUNG E MORALES, 2002), o que prova a importância da diversificação estruturada das empresas e que ela pode vir a ser não apenas um cumprimento da responsabilidade social das empresas, mas também, uma vantagem competitiva (SILVA, 2018, p. 8, grifo nosso).
Pautas de muitas lutas contemporâneas, a diversidade e a inclusão têm alcançado espaço em variadas áreas e instituições. Com o aumento das pressões populares, legislações específicas sobre o tema vêm sendo aprovadas no Brasil, garantindo mais visibilidade e equidade a grupos marginalizados. Contudo, ainda que haja muita resistência por parte de alguns setores, diante da performance das equipes e da melhoria dos resultados organizacionais, o mercado, cada vez mais, percebe que diversidade e inclusão são questões estratégicas.
Podendo ser entendida como multiplicidade, quando falamos de diversidade nas empresas, há uma série de características que podem ser consideradas. Vejamos seus principais tipos:
Diversidade Geracional: como estudamos nas lições anteriores, a sociedade hoje é composta por diferentes gerações, desde os Veteranos até os Alphas, cada uma com suas peculiaridades e desafios a serem vencidos.
Diversidade Étnico-Racial: refere-se à origem racial dos indivíduos, considerando todo o processo de miscigenação racial e cultural. Tema de muitos preconceitos, embora a igualdade racial esteja garantida na Constituição Federal de 1988, o racismo estrutural ainda impede uma igualdade de oportunidades no país e no contexto das próprias empresas. Desigualdade salarial, dificuldade de admissão em determinados postos de trabalho e ausência nos cargos de liderança são alguns exemplos dos desafios que a questão apresenta.
Diversidade de Gênero: está associada ao gênero de identificação em que cada um se reconhece, ou seja, o reconhecimento que cada sujeito tem de si, identificando-se como homem ou como mulher. Quando a identidade de gênero é coincidente com o sexo de nascimento, a pessoa é considerada cisgênero. Por outro lado, quando eles não são coincidentes, a pessoa é considerada transexual. Tema bastante polêmico, as questões de gênero envolvem ainda a orientação sexual, que diz respeito à atração que se sente por outros indivíduos, podendo ser homoafetiva (quando a atração é por pessoas do mesmo sexo), heteroafetiva (quando é pelo sexo oposto) e também biafetiva (quando é por ambos os sexos). Independente de valores morais (que é direito de todos), é importante que a sociedade e a empresa respeitem o direito constitucional de igualdade de gênero, adotando, mais do que uma postura de tolerância, uma conduta de inclusão.
Pessoas com Deficiência: Segundo a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações Unidas (ONU) – 2006, a deficiência é um conceito em evolução e a discriminação contra qualquer pessoa, por motivo de deficiência, caracteriza violação da dignidade e do valor inerentes ao ser humano. Portanto, medidas e ações que promovam e garantam acessibilidade e inclusão devem ser constantemente revistas e aprimoradas – seja na sociedade em geral, seja nas organizações.
Diversidade Religiosa: país miscigenado desde a sua origem, a pluralidade religiosa é uma característica inerente ao nosso povo. A liberdade de culto, garantida pela Constituição Federal, assegura o direito de escolha e de prática religiosa a todos os credos e tradições.
Diversidade Geográfica: Em um país continental como o Brasil, os deslocamentos entre as regiões são comuns. Com diferenças culturais, as populações carregam consigo as tradições e costumes do seu território de origem. Ainda que os preconceitos existam (e devam ser combatidos), a riqueza de cada área merece ser valorizada e as diferenças percebidas como oportunidade de crescimento.
Além das ações afirmativas e das legislações específicas, muitas empresas têm buscado implementar uma gestão da diversidade:
A gestão da diversidade pode ser compreendida pela adoção de meios que garantam que os atributos pessoais ou de grupos, especialmente aqui os atributos das minorias, sejam considerados como recursos para melhorar o desempenho organizacional. Deve-se aqui compreender “minorias” não no sentido numérico do termo, mas como grupos sociais que de alguma forma sofreram e/ou ainda sofrem discriminação dentro da sociedade, tendo sua posição de poder diminuída em função disso (SILVA, 2018, p. 8, grifo nosso).
Ainda que seja desafiador, a diversidade e a inclusão estão na ordem do dia. Desde ações cotidianas até a adoção de critérios e condutas podem auxiliar. Vejamos algumas orientações do Sebrae (2023) a respeito do tema:
criação de políticas de contratação de grupos minoritários;
formação de equipes diversificadas;
incentivo à comunicação aberta e transparente;
estabelecimento de critérios e metas para equiparação salarial e hierárquica;
incentivo à liderança.
Não há um caminho único a ser indicado. É preciso que cada empresa entenda as especificidades do seu negócio, conheça a sua própria identidade, tenha claro qual é a sua missão, reconheça o perfil do seu público/cliente e do que pretende conquistar. A partir disso, pode-se elaborar uma estratégia de diversidade que tenha condições de ser implementada e preparar-se para os desafios que ela provavelmente enfrentará. Como toda mudança, a adoção de uma política de diversidade na organização pode encontrar alguns obstáculos como:
falta de confiança no programa, por parte dos colaboradores;
resistência de alguns membros do grupo;
preconceito com os beneficiários do programa;
dificuldades com as novas diretrizes administrativas.
Compreender que o cenário contemporâneo impõe a reavaliação constante de hábitos e condutas é essencial para as empresas que desejam permanecer no mercado, inovar e continuar crescendo. Em um mundo cada vez mais global, entender que as antigas margens e fronteiras mudaram, pode ser, mais do que uma estratégia, uma forma de sobrevivência.
Caro aluno, finalizamos mais um tema bastante atual. Ainda que haja opiniões diversas (e que devem sempre ser respeitadas), a chamada gestão da diversidade tem chamado a atenção de grandes empresas no Brasil e no mundo. Em nossos estudos, você pôde compreender a importância da diversidade e da inclusão para a promoção de uma cultura de inovação, observar orientações para o desenvolvimento de ações para a diversidade, identificar os obstáculos na sua execução e, ainda, entender os impactos da política de diversidade conduzida por várias organizações.
Como futuro técnico em Administração, o conhecimento de um tema tão contemporâneo e necessário irá ajudá-lo a contribuir para a sugestão de iniciativas de diversidade e inclusão na empresa, auxiliando também na sua condução. O departamento de Recursos Humanos da organização deve estar preparado para lidar com a diversidade que caracteriza a sociedade.
Para ampliarmos ainda mais o nosso tema, proponho que você leia a interessante entrevista da Claudia Sender, Conselheira na Gerdau, LafargeHolcim, Telefonica e Yduqs e Leizer Pereira, fundador da Comunidade Empodera, concedida em um evento destinado à Empreendedoras e Empreendedores, promovido pela Endeavor Brasil. Eles tratam do papel da liderança na construção de uma empresa diversa e inclusiva, dão sugestões de como adotar iniciativas de diversidade e inclusão, além de outras abordagens bastante pertinentes. Depois da leitura, debata com seus colegas os pontos que considera mais importantes, e esteja aberto a visões diferentes da sua! Bom trabalho!
DIVERSITY MATTERS. A diversidade ainda importa. McKinsey & Company, 2020. Disponível em: https://www.mckinsey.com/featured-insights/diversity-and-inclusion/diversity-still-matters. Acesso em: 3 nov. 2023.
FREIRE, T. M. Diversity washing: corporatização da diversidade, capitalização da discriminação. 2023, 42 p. Tese (bacharel em Direito) – Departamento de Direito – Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2023. Disponível em: https://www.monografias.ufop.br/bitstream/35400000/5310/6/MONOGRAFIA_DiversityWashingCorporatiza%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 3 nov. 2023.
MAGALDI, S; NETO, J. S. O novo código da cultura: vida ou morte na era exponencial. São Paulo: Gente, 2019.
SEBRAE. Qual a importância da diversidade e da inclusão na empresa. Sebrae, 2023. Disponível em: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/qual-a-importancia-da-diversidade-e-da-inclusao-para-sua-empresa,c624add470aa4810VgnVCM100000d701210aRCRD. Acesso em: 3 de nov. 2023.
SILVA, R. D. V. dos S. Diversidade nas empresas: motivações e estratégia, 2018, 25 p. TCC (bacharel em Administração) – Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018. Disponível em https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/8267/1/RDVSSilva.pdf. Acesso em: 3 nov. 2023.