Lição 6 - Encontro de Gerações na Empresa:
A Geração Alpha
A Geração Alpha
Como vai, caro estudante? Na lição passada, trabalhamos a Geração Z. Você conheceu o contexto histórico do seu surgimento (bastante contemporâneo), identificou as características positivas e os desafios enfrentados na sua inserção no mercado de trabalho e, ainda, entendeu a importância dos Recursos Humanos no acolhimento, orientação e integração destes novos profissionais.
Agora, na continuidade dos estudos que estamos desenvolvendo a respeito das gerações, vamos analisar o contexto histórico do surgimento da Geração Alpha, conhecer suas principais características, identificar as que podem ser consideradas positivas e as que se apresentam como desafiadoras. Como temos feito, você irá também refletir sobre o papel dos Recursos Humanos diante de uma geração tão nova e ainda completamente em formação.
Como futuro técnico em Administração, compreender as nuances deste novo grupo é fundamental para o reconhecimento de uma parcela significativa de profissionais que irão atuar, no futuro próximo, no mercado de trabalho. Preparado para mais uma jornada de conhecimento? Os alphas nos esperam!
As crianças de hoje aprendem a manusear uma tela de celular antes mesmo de aprender a falar. Na verdade, parece até que já fazem isso naturalmente, sem que tenham sido ensinadas ou que estejam mimetizando (copiando) o comportamento dos adultos. Simplesmente fazem, como se tivessem “nascido sabendo”. O comportamento da geração mais recente (e que ainda está nascendo) não é de todo conhecido e nem pode ser previsto com certeza. Mas, há alguns dados que já podem ser observados e analisados – e, também, servir de parâmetro para alertar pais, escolas, instituições e sociedade no geral quanto a possíveis intervenções, correções de rota na condução da educação destas crianças/adolescentes que logo irão compor uma grande parcela dos adultos e dos profissionais que atuarão no mercado.
A tecnologia, assim como todo o instrumento, pode gerar inúmeros benefícios, ganhos e conquistas. Áreas como as engenharias, a saúde, a produção (para citar apenas uma mínima parcela) têm tido avanços exponenciais graças a ela. Mas, o seu impacto na vida cotidiana, sobretudo na formação de crianças e adolescentes, requer atenção. Como serão os profissionais que irão ocupar o cenário do trabalho daqui a pouco? De que forma o fato de terem nascido em um mundo digital poderá influenciar no seu comportamento? Quais serão as habilidades que irão demonstrar? Quais serão os obstáculos que precisarão vencer?
Analisar uma geração que ainda está nascendo não é uma tarefa fácil, mas nós vamos encarar o desafio! Os futuros gestores – e os Recursos Humanos das organizações – terão que aprender a lidar com os chamados alphas. Vamos começar juntos? Conto com você.
Como case desta lição, apresento a você um panorama da Geração Alpha, com as características já demonstradas por essas crianças e adolescentes. Bastante curiosos e desenvoltos com os recursos digitais, de acordo com o vídeo que você verá em seguida, estima-se que em 2025 eles serão cerca de 2,5 bilhões de pessoas no mundo.
Entender como irão se comportar, certamente irá colaborar na gestão de conflitos entre as gerações que farão parte das organizações. Com sua agilidade, independência, empatia e capacidade de adaptação ao novo, este grupo terá muito a contribuir no convívio com profissionais de outras faixas etárias e comportamentos – além, é claro, de aprender com a experiência dos colegas mais velhos.
Assista ao vídeo indicado a seguir para que possamos compreender um pouco mais sobre a Geração Alpha!
Primeira letra do alfabeto grego, Alpha pode ser traduzida como início. Nascida a partir de 2010, a chamada Geração Alpha (esse termo foi utilizado pelo sociólogo australiano, Mark McCrindle) é a primeira em vários aspectos e ainda está em formação. Apesar disto, alguns traços de seu perfil já podem ser observados e analisados. Terceira geração da chamada era digital (vinda depois da Y e da Z), seus pais, provavelmente, são Millennials (Y) e foram considerados os primeiros nativos digitais (MCCRINDLE; FELL, 2021).
Este grupo surgiu em um mundo bastante globalizado, em que aspectos como as economias, as culturas, os sistemas de poder, a produção científica, os modelos de consumo e de comportamento das mais variadas regiões estão conectados e acessíveis via internet, na palma da mão.
Fruto de famílias cada vez menores, mais planejadas, mais diversas, com pais que estudaram, trabalham fora e possuem maior estabilidade profissional, segundo McCrindle e Fell (2021), em comparação com as anteriores, esta geração será aquela que irá receber a maior educação formal, pois começou a frequentar a escola mais cedo e irá estudar mais tempo. Além disso, ela está exposta a experiências de educação não formal em todos os lugares e momentos, possibilitadas pela mobilidade que a tecnologia proporciona, promovendo uma aceleração ainda maior no seu processo de desenvolvimento.
Inseridos desde o nascimento em um mundo tecnológico, com acesso a bens e em contato com a cultura do consumo, esta geração apresenta completa intimidade com o universo dos aparatos eletrônicos, tendendo a ser mais materialista e bastante dependente destes dispositivos. Acostumadas com as telas desde muito pequenas, as crianças da Geração Alpha desconhecem o mundo sem tecnologia. Diariamente, elas convivem com celulares, computadores, tablets e monitores. Constantemente expostas, são superestimuladas por animações, jogos, cores e sons. Diante de tantos estímulos, dão respostas rápidas e ágeis. Como apontam Camboim e Barros (2010), criados imersos em tecnologia, os alphas são capazes de usar e manipular conteúdos do ciberespaço de maneira autônoma e independente.
Apesar das muitas vantagens trazidas pelas tecnologias à Geração Alpha, há vários problemas a serem enfrentados – muitos deles, com dimensões ainda desconhecidas, e que devem ficar mais evidenciados com o passar do tempo.
Por agora, podem ser apontados alguns desafios que já são observados. A hiperconexão é um dos principais, pois tira o foco do aqui e agora. A atenção divide-se entre inúmeros canais e informações e, ainda assim, há a impressão de que se está sempre perdendo algo muito importante. Chamada pelo físico espanhol Alfons Cornellá de infointoxicação, esta sensação pode produzir sintomas como dispersão, estresse e ansiedade. Mas, a hiperconexão gera outros problemas como:
O isolamento social: apesar da constante conexão na virtualidade, há perda de contato e de convívio na vida real, compartilhados em espaços presenciais – frente a frente.
A dependência das redes sociais digitais: os relacionamentos e trocas ficam cada vez mais restritos ao que acontece no universo das redes, onde fantasia e realidade têm um limite muito frágil e os valores e condutas ganham outras dimensões e parâmetros.
O cyberbullying: prática ou atos de violência psicológica e física, de maneira repetida, dirigida e intencional, no ambiente virtual. Com consequências que podem ser nefastas para a criança/adolescente, este tipo de bullying causa sofrimento às famílias e, se não for descoberto, pode ter efeitos devastadores.
Bulimia e anorexia: tendo como referência de beleza os artistas e influencers digitais, a comparação destes padrões com o próprio corpo pode levar a graves transtornos alimentares, a compulsão por cirurgias plásticas e a exageradas intervenções estéticas.
O imediatismo: acostumados à instantaneidade virtual, o tempo necessário dos processos na vida real (e que não pode ser acelerado por nenhum mecanismo ao alcance do dedo) pode gerar irritação e intolerância.
A dificuldade de lidar com a frustração: diferentemente de um jogo, a vida real não permite que escolhamos sempre as pessoas com quem iremos nos relacionar, a modalidade da partida, o nível de dificuldade. Na vida real, temos que nos submeter a inúmeras regras, lidar com quem talvez não gostemos, perder uma disputa e aprender a lidar com as frustrações.
A dificuldade de lidar com a autoridade: o mundo virtual permite que tenhamos um certo controle sobre alguns aspectos: os seguidores das redes sociais, as configurações de privacidade das fotos, o bloqueio de mensagens. Na vida real, não dispomos de tantos dispositivos de controle. Ao contrário, temos prazos a cumprir, regras a respeitar, superiores a quem devemos prestar contas.
A dificuldade de adequação da comunicação: como grande parte das interações virtuais ocorre de maneira rápida e informal, habitua-se à utilização desta linguagem. Porém, quando é necessário o uso de um padrão mais formal, há bastante dificuldade de formulação de textos mais longos, argumentativos e conclusivos.
A confusão entre informação e conhecimento: é fato que a internet trouxe para a palma da mão um universo de informações – e elas são muito úteis. Temos acesso a aplicativos de localização, avaliações de produtos e serviços, comparação de preços e uma infinidade de dados sobre todos os temas que desejarmos pesquisar. Porém, a qualidade das informações, a sua veracidade (se não são as famosas fake news), a checagem dos dados apresentados e a análise do que é veiculado exige um processo cuidadoso e criterioso de pesquisa, produção e divulgação da informação. Na internet, tudo que é noticiado parece ser verdade - mas nem sempre é. Portanto, é preciso que tenhamos cautela e cuidado de checar as fontes, os dados e a origem do que se lê, assiste e compartilha.
A exposição a conteúdos impróprios: o uso constante de telas por parte das crianças da Geração Alpha facilita o seu acesso a conteúdos inadequados a sua faixa etária, que contenham cenas de violência, incitação ao ódio e outros.
Embora seja extensa a lista de desafios que a Geração Alpha enfrenta, se existe uma solução única, certamente ela não é radical. A proibição do uso de telas, assim como seu uso demasiado e sem orientação, não são caminhos adequados. Como um problema novo, as consequências geradas pela exposição exagerada aos aparatos tecnológicos deve ser pesquisada e analisada. Os impactos no comportamento de uma geração que ainda está se formando, seja nos relacionamentos em geral, seja no ambiente profissional, requerem observação e estudo por parte dos especialistas.
Como apontam Moran, Masetto e Behrens (2000, p. 21), a sociedade da informação, com todos os benefícios que proporciona, produz também seus efeitos:
Quanto mais mergulhamos na sociedade da informação, mais rápidas são as demandas por respostas instantâneas. As pessoas, principalmente as crianças e os jovens, não apreciam a demora, querem resultados imediatos. Adoram as pesquisas síncronas, as que acontecem em tempo real e que oferecem respostas quase instantâneas. Os meios de comunicação, principalmente a televisão, vêm nos acostumando a receber tudo mastigado, em curtas sínteses e com respostas fáceis. O acesso às redes eletrônicas também estimula a busca on-line da informação desejada. É uma situação nova no aprendizado. Todavia, a avidez por respostas rápidas, muitas vezes, leva-nos a conclusões previsíveis, a não aprofundar a significação dos resultados obtidos, a acumular mais quantidade do que qualidade de informação, que não chega a transformar-se em conhecimento efetivo.
Como podemos ver, estas são questões fundamentais da sociedade contemporânea, que provocam conflitos com pais, avós, professores e chefes, num desencontro de gerações que apresenta grandes diferenças entre si.
A virtualidade traz um mundo de sonhos que já existia no passado – através dos livros, do cinema, das divagações (imaginação) – mas, que tinham uma influência incomparavelmente menor sobre os sujeitos. Hoje, como afirmam Santos et al. (2017, p.4 [grifos nossos]) a fronteira entre o real e o virtual está cada vez mais difícil de ser estabelecida:
Mas se a vida no mundo virtual é fácil e bem-sucedida, muitas vezes a vida real é prejudicada pelo pouco desenvolvimento de competências nas relações interpessoais. Talvez daí venha o fascínio dos jovens por jogos fantasiosos, onde podem ser o que quiserem atrás de um monitor sem censura ou reprimenda: podem viver virtualmente aquilo que a realidade não os permite.
Portanto, mesmo que ainda estejamos diante de um fenômeno novo, é consenso entre os especialistas que a utilização das tecnologias, da internet e das redes sociais deve se dar de maneira ética, consciente e crítica. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBG, 2020) apresenta alguns alertas sobre o uso exagerado das tecnologias digitais por crianças. Vejamos:
dependência digital e uso problemático das mídias interativas;
problemas de saúde mental: irritabilidade, ansiedade e depressão;
transtornos do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH);
transtornos do sono;
transtornos de alimentação: sobrepeso/obesidade e anorexia/bulimia;
sedentarismo e falta da prática de exercícios;
transtornos da imagem corporal e da autoestima;
comportamentos autolesivos, indução e riscos de suicídio;
riscos da sexualidade, nudez, sexting, sextorsão, abuso sexual, estupro virtual;
aumento da violência, abusos e fatalidades;
problemas visuais, miopia e síndrome visual do computador;
problemas auditivos e perda auditiva induzida pelo ruído;
transtornos posturais e musculoesqueléticos.
É certo que a Geração Alpha terá uma grande desenvoltura com os recursos tecnológicos, inclusive no ambiente de trabalho. Diferentemente de alguns dos grupos que analisamos aqui, seus representantes possuirão uma formação extensa e não terão dificuldades em lidar com a implementação de novos sistemas e suas inovações. Ao que tudo indica, as questões que eles terão que enfrentar – e que serão desafiadoras também para o departamento de Recursos Humanos das organizações que irão contratá-los – são, sobretudo, de ordem socioemocional.
A chamada educação socioemocional prepara a pessoa para lidar com as suas emoções, possibilitando a construção de relações intrapessoais (consigo mesmo) e interpessoais (com o outros) mais saudáveis. Nela, o convívio com o outro, o contato presencial, a exposição a problemas cotidianos, a necessidade de encontrar soluções para as mais variadas situações, a vivência da derrota e da vitória, a frustração e a espera são exemplos de experiências que promovem o desenvolvimento integral do sujeito – desenvolvimento esse que pode ser bastante afetado pela hiperconexão.
Vamos conhecer as cinco competências socioemocionais, indicadas pelo CASEL (Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning), como necessárias para o desenvolvimento de identidades saudáveis?
Autoconhecimento: capacidade de conhecer as próprias emoções.
Autorregulação: habilidade de se automotivar, controlar impulsos, definir metas, planejar, organizar.
Consciência social: envolvimento com o próximo, empatia, respeito, aceitação da diversidade.
Tomada de decisão responsável: capacidade de fazer escolhas a partir de critérios morais e éticos.
Habilidades de relacionamento: capacidade de escuta ativa, comunicação clara e cooperação com o outro.
Não sabemos ao certo como a Geração Alpha irá se comportar no ambiente de trabalho. Como todas as outras, deverá manifestar suas próprias características positivas e enfrentar desafios diferentes das gerações que a antecederam. De todo modo, é preciso que a sociedade esteja atenta à formação de crianças, adolescentes e jovens para que, além de profissionais eficientes e bem-sucedidos, eles se tornem pessoas mentalmente saudáveis, socialmente responsáveis e com uma conduta humanista.
Chegamos ao término de mais um tema de nossos estudos. Nele, você conheceu o grupo mais atual a compor o mosaico de gerações da nossa sociedade: a Geração Alpha. No desenvolvimento da lição, você entendeu o cenário tecnológico do seu surgimento, identificou as habilidades que seus representantes apresentam, refletiu sobre as preocupações dos especialistas quanto aos exageros da exposição à informação e às telas, por fim, entendeu as perspectivas do panorama, ainda em formação, do ambiente de trabalho com a inserção destes profissionais.
Em nosso case, você assistiu a um apanhado dos principais desafios que os alphas enfrentam no seu desenvolvimento e aqueles com os quais poderão se deparar quando do início da sua vida profissional. Como futuro técnico em Administração, conhecer a atualíssima Geração Alpha irá ajudá-lo a compreender o comportamento deste grupo que em breve fará parte da empresa, reconhecendo as habilidades demonstradas e colaborando na condução de estratégias para auxiliar no enfrentamento das suas dificuldades.
Para encerrarmos esta lição, proponho que você, a partir da observação dos seus amigos, irmãos e primos, liste três benefícios que você observa na Geração Alpha e três de seus comportamentos que considera preocupantes. Depois, converse com os seus colegas de sala e veja se eles têm as mesmas percepções.
O departamento de Recursos Humanos das organizações, em breve, irá se deparar com a Geração Alpha nos seus quadros, por isso, é importante que os gestores – e também os futuros gestores – acompanhem os estudos recentes a respeito do tema e, desta forma, possam se inteirar das análises e propor estratégias de integração mais eficientes.
CAMBOIM, A. F. L.; BARROS, A.C.P. Relacionamento Mercadológico com os Cibernativos na Internet. In: Anais do XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste. São Paulo: Intercom, 2010.
CASEL - Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning. SEL Competences. Disponível em: https://casel.org/fundamentals-of-sel/. Acesso em: 6 set. 2023.
MCCRINDLE, M.; FELL, A. Generation Alpha: understanding our children and helping them thrive. McCrindle Research Pty Ltd, 2021.
MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, SP: Papirus. 2000.
SANTOS, A. F. G. et al. O Mundo das Gerações: características e oportunidades. Anais do 13º ENCITEC - Criar, Inovar, Empreender, 2017. Disponível em: https://www2.fag.edu.br/coopex/inscricao/arquivos/encitec/20170913-233903_arquivo.pdf. Acesso em: 6 set. 2023.
SBP. Sociedade Brasileira de Pediatria. SBP atualiza recomendações sobre saúde de crianças e adolescentes na era digital. Porto Alegre: SBP, 2020. Disponível em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/sbp-atualiza-recomendacoes-sobresaude-de-criancas-e-adolescentes-na-era-digital/. Acesso em: 6 set. 2023.