Olá, caro(a) estudante! Como você está? Vamos iniciar uma nova etapa dos nossos estudos sobre este setor que tem um papel estratégico dentro de qualquer empresa. Com a missão de realizar um gerenciamento humanizado e assertivo dos colaboradores, o RH atua junto aos trabalhadores, media as suas relações com os gestores, com a própria empresa e, ainda, contribui de maneira decisiva para a tomada de decisões.
Baseados nos conhecimentos advindos, sobretudo, das Ciências Humanas e das Ciências Sociais Aplicadas, os instrumentos e as metodologias desenvolvidas pela disciplina têm como principal objetivo alinhar os recursos humanos que compõem os quadros da empresa às principais metas que ela deseja alcançar.
Nesta lição, iremos introduzir um tema muito atual e desafiador para as instituições como um todo: a coexistência de várias gerações. Você irá compreender o conceito de geração, identificar como elas surgem, conhecer a geração mais antiga presente nas empresas, refletir sobre suas principais características e analisar alguns de seus desafios.
Como futuro(a) técnico(a) em Administração, você, ao compreender as gerações que convivem no ambiente empresarial, estará apto(a) a contribuir para a gestão de conflitos e a promoção de um contexto de trabalho inclusivo.
Vamos começar olhando mais de perto este rico mosaico, com diferentes idades e comportamentos, que compõe a empresa? Vai ser muito bom ter você nesta jornada!
Ao analisar um dos aspectos da cultura contemporânea, a relação do homem com a produção escrita, Luís Milanesi descreve uma cena corriqueira e cheia de significados. Acompanhe-a comigo:
Na praça central de uma pequena cidade no interior do Brasil se pode observar, simultaneamente, ações que representam dois tempos históricos: os séculos XIX e XXI. De um lado, a Biblioteca Pública Municipal e, num banco do jardim, um garoto com o seu tablet. Distância física: 15 metros; distância temporal: um século (MILANESI, 2013, p. 61).
O autor, através do trecho apresentado, nos passa a informação de uma praça, que poderia ser a da sua cidade. De um lado temos um prédio público que guarda mais do que livros: abriga inúmeras ideias, tradições, histórias, personagens e vozes de muitas terras e tempos. Passar pela sua porta é como transpor um portal e encontrar o que a imprensa móvel, invenção do século XV, de Gutenberg, tornou possível: os livros impressos. Neles, a cada página, é possível tatear o papel e aspirar o perfume da memória que eles carregam.
Do lado de cá, o(a) leitor(a). Do lado de lá, o(a) autor(a). Entre eles(as), este artefato físico, retirado da estante, cujas folhas são passadas entre os dedos, uma a uma (as mais importantes, provavelmente, receberão um marcador de páginas), lidas ou “devoradas”, a depender do interesse do leitor(a). Depois, o livro será fechado, devolvido à prateleira e ao silêncio – à espera de um novo olhar curioso.
Na praça, a poucos metros dali, um menino manuseia um tablet. Ao alcance da mão, ele acessa incontáveis arquivos: livros, sites, blogs, vídeos, imagens, redes sociais. De uma forma instantânea, baixa textos, envia-os, copia, cola. Em meio a milhões de acessos, comentários e curtidas, ele olha, assiste, compartilha, comunica e parece entender o mundo através daquela tela. Um universo de lugares e de tempos sem fim cabem ali.
A praça descrita na narrativa de Milanesi é povoada também por outros personagens. Por ela, transitam pessoas das mais variadas histórias de vida, pertencentes a diferentes classes sociais, oriundas de diversas etnias, nascidas em datas bastante diferentes.
Como em um retrato da cidade, a praça é uma amostra da diversidade que caracteriza o mundo real. As diferenças estão presentes nas famílias, nas igrejas, nas empresas e nas instituições em geral. Ainda que tenhamos semelhanças e afinidades que nos unem e nos proporcionem a sensação de pertencimento, convivemos a todo o instante com a diversidade.
Você já vivenciou algum tipo de conflito de geração? Tem avós ou tios muito mais velhos? Ou eles foram pais ainda novos? Como eles são? Você percebe diferenças entre o comportamento das pessoas mais velhas e os seus/sua turma? Na escola ou na igreja elas também aparecem? Como os conflitos nestes contextos em que você vive são geridos?
As organizações vivenciam este encontro de semelhanças e diferenças. Lidar com ambas é desafiador em qualquer ambiente. Na empresa, aspectos como hierarquia, competição, cooperação e vaidade trazem ao convívio características bastante específicas. E são percebidos de formas distintas pelas diferentes gerações que compõem o universo de colaboradores.
Entender o que são estas gerações e identificar as suas características são passos importantes para o RH de qualquer empresa. Através deste conhecimento é possível lidar com os conflitos e estabelecer uma gestão que acolha a diversidade e potencialize as suas riquezas.
Vamos aprender mais sobre o assunto? O setor de RH de uma organização deve transitar entre aquele que manuseia o livro e o que segura o tablet, estabelecendo pontes entre eles e os seus respectivos universos. Estou sentado(a) em um banco, à sua espera. A qual geração você acha que pertenço?
Quando pensamos em pessoas de diferentes idades compartilhando um mesmo ambiente, seja ele familiar ou de trabalho, é comum que a imagem que venha a nossa mente seja aquela que mostra as diferenças, os desencontros e mesmo as desavenças entre esses personagens, não é mesmo?
Se a diferença etária entre eles for grande, aparentemente, mais acentuada ficará a distância. Se ela envolver a utilização de meios tecnológicos, nem se fala. Será que é exatamente assim? O encontro entre gerações é mesmo uma questão insolúvel (sem solução)? Como enfrentar o desafio de uma civilização que vê o crescente aumento da expectativa de vida, a permanência no mercado de trabalho de um contingente com idade mais avançada, gozando de boa saúde física e mental?
Para lidar com estas questões, existem alguns caminhos para a sociedade como um todo (com a criação de políticas públicas e de ações empreendidas por organizações civis) e para os setores específicos, como as empresas. O primeiro caminho é o da marginalização, ou seja, deixar o idoso à margem, de fora das decisões, do convívio produtivo e do trabalho. O segundo caminho é o da inclusão, que agrega, permite o pertencimento, ganha com a experiência e contribui para o desenvolvimento coletivo.
Esse assunto me lembrou uma situação de inclusão muito interessante que envolve o encontro de gerações, e vou trazer ela para você neste case. Envolve um personagem real, com quem tive a alegria de conviver: um ex-aluno do Ensino Médio, da pequena cidade de Itanhandu - Minas Gerais. Ele é publicitário e foi um dos diretores de uma campanha inesquecível e premiada.
Apesar de não ser um exemplo voltado para a inclusão dentro de uma empresa, essa situação nos faz compreender o quanto é importante conectar jovens e idosos. A ação desenvolvida aconteceu em uma escola de idiomas, que conectou via internet estudantes brasileiros com idosos de uma casa de repouso localizada em Chicago, nos Estados Unidos. Do lado de cá, alunos interessados em aprender e aperfeiçoar o inglês, do lado de lá, idosos que desejavam conversar, compartilhar sua experiência de vida, sua alegria de viver (e bastante empolgados com a utilização do meio digital).
Mediados pela tecnologia, duas gerações com idades bastante distantes, localizadas em diferentes extremos do continente americano, estabeleceram uma conexão muito profunda, que superou as primeiras expectativas da escola (o aperfeiçoamento do idioma) e transformou a vida dos vários personagens envolvidos: estudantes, idosos e toda a equipe (da escola de inglês, da agência de publicidade e da casa de repouso).
O projeto, que tem mais de um milhão de visualizações no Youtube, venceu o Festival de Cannes (o mais importante prêmio da publicidade mundial), na França, em 2014. E mostrou para o mundo como é possível e necessário que diferentes gerações se encontrem e compartilhem conhecimentos e afetos. Assista aqui: Speaking Exchange.
Identificar a existência das várias gerações, entender seus valores, reconhecer suas dificuldades são, na atualidade, condições essenciais para a gestão de conflitos e o desenvolvimento de um ambiente profissional saudável. Nas próximas lições, iremos conhecer e analisar as principais gerações surgidas a partir do século XX. Muitas delas estão presentes nas nossas famílias, nos nossos círculos sociais e, claro, nas empresas. Por isso, nesta etapa dos nossos estudos, precisamos trabalhar alguns conceitos fundamentais que irão permitir que você compreenda melhor o assunto.
Mas, afinal, o que podemos entender como geração, esta expressão tão utilizada na contemporaneidade?
Pode-se pensar e analisar o conceito de geração a partir de várias Ciências Humanas. Como ponto de partida, vamos utilizar no nosso estudo algumas das perspectivas trazidas pela Sociologia (ciência que estuda a sociedade, ou seja, o comportamento humano, suas relações com o meio e com as instituições).
Vamos conhecer o que apontam Feixa e Leccardi (2010, p. 191, grifo nosso):
Sociologicamente, portanto, as gerações não surgem da cadência temporal estabelecida por uma sucessão de gerações biológicas. Em outras palavras: não há padronização do tempo para medir ou prognosticar seu ritmo. Do ponto de vista sociológico, uma geração pode ter dez anos, ou como aconteceu nas sociedades pré-modernas, vários séculos. Pode incluir uma pluralidade de gerações biográficas ou, como na história de muitas sociedades tradicionais, apresentar apenas uma geração sociológica. Elas cessam quando novos e grandes eventos históricos – ou, mais frequentemente, quando lentos e não catastróficos processos econômicos, políticos e de natureza cultural – tornam o sistema anterior e as experiências sociais a ela relacionadas sem significado.
O que, de maneira sintética, os autores estão dizendo?
Não é o tempo, que traz o nascimento e a morte de uma população, que determina o surgimento de uma nova geração. As gerações podem ser breves ou durar séculos.
As gerações surgem através de dois mecanismos:
Quando um grande e revolucionário evento histórico ocorre (menos comum).
Quando, como resultado de lentas, profundas e amplas transformações (culturais, políticas e econômicas), surge um novo sistema, inicia-se uma nova geração (mais comum).
Portanto, podemos entender que é o processo de mudança que produz uma geração – seja uma mudança muito abrupta (como a que é provocada por guerras ou revoluções), seja aquela resultante de uma transformação demorada e abrangente.
Bastante interessado nas gerações contemporâneas – e nas questões que elas envolvem –, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman chama a atenção para um equívoco muito frequente que aparece no senso comum: “As fronteiras que separam as gerações não são claramente definidas, não podem deixar de ser ambíguas e atravessadas e, definitivamente não podem ser ignoradas” (BAUMAN, 2007, p. 373, grifo nosso).
Você sabe o que o termo “senso comum” quer dizer?
O senso comum pode ser entendido como o modo de pensar da maioria, tomado para si pelo indivíduo; conjunto de saberes baseados nas experiências cotidianas e na tradição. Não foi testado, não passou pelo crivo analítico.
A partir da perspectiva de Bauman (2007), há alguns aspectos que são relevantes:
Quando uma nova geração surge, a outra (ou as outras) não desaparece de imediato. Diferentes gerações coexistem, convivendo em um mesmo tempo cronológico, formando o conjunto social de uma determinada época.
Quando formos analisar de uma forma mais ampla, é necessário lembrar que cada região do mundo tem seus aspectos específicos (como cultura, desenvolvimento econômico, organização social e política) e que eles irão influenciar no surgimento/desaparecimento das gerações.
Diante deste panorama, pode-se afirmar que, para organizações de variados campos, é essencial e estratégico compreender as características e dinâmicas das diversas gerações presentes na atualidade, desenvolvendo formas de gestão, serviços e produtos que estejam preparados para lidar com esta pluralidade geracional.
Embora haja divergências entre os especialistas quanto à nomenclatura, existe um certo consenso sobre as gerações que compuseram o contexto social a partir do século XX. Vamos conhecer uma delas?
Os chamados Veteranos ou Tradicionais são aqueles que nasceram antes e durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Foram muito marcados pelas grandes crises econômicas (como a Crise de 1929, conhecida por Grande Depressão, e a própria guerra). No caso brasileiro, esta geração cresceu durante o governo de Getúlio Vargas e ingressou no mercado de trabalho durante a Ditadura Militar (1964-1985).
Em função das experiências marcadas pelas dificuldades, procuram carreiras estáveis, sendo considerados mais rígidos, disciplinados, capazes de cumprir regras e prudentes com o dinheiro. Para esta geração, a família, o trabalho e a moral ocupam o centro de suas vidas. Bastante comprometidos com a empresa, costumam valorizar a hierarquia e a tradição, sendo estáveis e guiados por uma conduta ética.
Por colocar a carreira à frente dos ideais mais coletivos/ativistas, a geração que ficou conhecida como silenciosa, hoje, tem idade para se aposentar e distanciar-se no mercado de trabalho. No entanto, ainda há aqueles que permanecem atuando, pois veem na profissão uma parte muito significativa de suas vidas.
Normalmente muito experientes, prezam por uma rotina produtiva, obtêm satisfação com suas atividades, têm uma ótima comunicação interpessoal e são bastante pacientes. Este conjunto de características torna-os grandes mentores na empresa. Embora sejam mais lentos para lidar com as novas tecnologias, a pesquisa Nielsen (2016) aponta que a atenção dos Tradicionais também é atraída por elas (29% comem enquanto realizam atividades como utilizar o celular, assistir à TV ou ouvir rádio).
Mas e no contexto da empresa? Como manifestam-se as características comportamentais dos Veteranos? Quais são seus atributos e desafios? Embora seja uma tendência (não há um determinismo geracional), pode haver variações. Dito isto, podemos elencar (listar) algumas das características benéficas e outras que surgem como desafio. Vejamos:
Características positivas:
lealdade à empresa e à equipe;
ponderação nas intervenções e ações;
cumprimento de prazos e empenho no cumprimento de metas;
prudência nas decisões que podem oferecer riscos à empresa;
experiência de vida e disponibilidade para compartilhá-la com o grupo;
constância na produtividade.
Desafios:
insegurança para mudar de empresa (como quando surge uma oportunidade mais interessante) ou de setor/cidade dentro da própria organização;
dificuldade de enfrentar a hierarquia, mesmo quando embasado em dados e argumentos;
dificuldade em lidar com a mudança/adequação de políticas internas, de estratégias e de metas;
hesitação em inovar, experimentar novas condutas, abrir outros campos de atuação, diversificar investimentos, expandir;
resistência em aceitar perspectivas de colegas mais jovens, por considerá-los com pouca experiência;
dificuldade em lidar com oscilações do mercado, com mudanças nos quadros da empresa, com terceirização, com diferentes modalidades de trabalho (como home office).
Perceba que nenhuma característica é, por si só, “boa” ou “ruim”. Por exemplo, o respeito à hierarquia é importante para o desenvolvimento de relações respeitosas e cordiais no ambiente de trabalho. No entanto, ele não deve impedir que um colaborador manifeste sua discordância, suponhamos, no decorrer da elaboração de um projeto. No momento propício, de maneira fundamentada e com argumentos sólidos, as divergências devem ser apresentadas, independentemente da posição hierárquica. Perspectivas diferentes são essenciais para o desenvolvimento das relações e das instituições como um todo.
Assim como a pluralidade de opiniões deve ser respeitada para a conquista de um ambiente saudável, a diversidade de gerações também contribui para o fortalecimento da empresa. Equipes formadas por colaboradores de múltiplas idades e comportamentos, que se respeitam e estabelecem bons diálogos entre si, agregam competências e complementam-se, promovendo uma atmosfera organizacional enriquecedora e trazendo resultados mais robustos.
É possível – e até natural – que surjam conflitos. No entanto, uma gestão ativa e eficiente deve conhecer as gerações que compõem a organização, identificar as suas principais características e trabalhar de modo que as tensões sejam mediadas e as complementaridades sejam alcançadas. Nas próximas lições, vamos entender melhor como isto pode ser alcançado!
Caro(a) estudante, nesta lição, iniciamos um importante tema dos Recursos Humanos: as muitas gerações que compõem as organizações. Numa primeira etapa, você compreendeu o conceito de geração, identificou os principais aspectos que provocam o seu surgimento, conheceu os tradicionais ou veteranos, geração mais antiga a atuar nas empresas, identificou suas características mais positivas e também os desafios que ela enfrenta na atualidade.
Em nosso case, você conheceu a premiadíssima campanha da escola de inglês que, a partir da conexão entre diferentes gerações, promoveu uma experiência única no aprendizado de um idioma.
Como futuro(a) técnico(a) em Administração, o conhecimento acerca das muitas gerações que fazem parte de uma organização irá ajudá-lo(a) a ter uma visão mais ampla e menos preconceituosa a respeito da diversidade etária, podendo, ainda, colaborar na gestão de conflitos e na elaboração de estratégias inclusivas.
Para encerrarmos, trago a você um desafio: pesquise uma referência de profissional da geração dos veteranos ainda atuante no mercado (pode ser em qualquer área, como esporte, arte, pesquisa, gestão etc.). Depois, enumere cinco pontos que podemos aprender com ele(a).
Bom trabalho! E que os exemplos te inspirem!
BAUMAN, Z. Betweenus, the generations. In: LARROSA, J. (org.). On generations. On coexistence between generations. Barcelona: Fundació viure i conviure, 2007. p. 365-376.
FEIXA, C.; LECCARDI, C. O conceito de geração nas teorias sobre juventude. Revista Sociedade e Estado, v. 25, n. 2, p. 185-204, maio/ago. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/se/a/QLxWgzvYgW4bKzK3YWmbGjj/#. Acesso em: 29 ago. 2023.
MILANESI, L. Biblioteca. 3. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2013.
NIELSEN. Estilos de vida das gerações globais: quanto a idade influencia o nosso comportamento? 2016. Disponível em: https://www.nielsen.com/pt/insights/2016/estilos-de-vida-das-geracoes-globais-quanto-a-idade-influencia-nosso-comportamento/. Acesso em: 28 jul. 2023.