Paradoxo

Um paradoxo é algo que termina de um jeito totalmente contrário ao que esperávamos. Paradoxo vem do latim (paradoxum) e do grego (paradoxo). O prefixo “para” quer dizer contrário a, ou oposto de e o sufixo “doxa” quer dizer opinião. O paradoxo é uma proposição contrária à opinião comum. É o oposto do que alguém pensa ser a verdade. Representa, também, a ausência de nexo ou lógica. Declaração que se faz sobre as coisas que aparentemente implica alguma contradição, pois uma análise mais profunda faz desvanecê-la. 

Os “paradoxos de Zenão”, por exemplo, são exemplos experimentos mentais que funcionam descrevendo uma situação que nos parece corriqueira, para logo então mostrar que é impossível que as coisas aconteçam da maneira que geralmente acreditamos que aconteçam.  

Entre os diferentes tipos de paradoxos, destacamos: paradoxo lógico. Exemplo:  o paradoxo de Bureli-Forti – chamado do maior número ordinal; paradoxo semântico. Exemplo: paradoxo do mentiroso; paradoxo existencial. Encontra-se em autores de caráter religioso, como Santo Agostinho, Pascal, Kierkegaard e Unamuno. Não é anti-racional, mas pode ser pré-racional. (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura) 

Algumas frases que mostram o paradoxo: “Quanto mais damos, mais recebemos”; “O riso é uma coisa séria”; “O melhor improviso é aquele que é mais bem preparado”; “Quanto mais o ônibus demora, mais perto está de chegar”. 

Alguns aspectos do paradoxo:  

1) Se a filosofia é amor à sabedoria, não podemos restringi-la. A exclusão a priori de algum tema mostra o preconceito da época.  

2) Para Kierkegaard, na fé o máximo amor de si mesmo convive com o máximo temor de Deus. É um paradoxo, mas a fé é isso mesmo, um paradoxo.

3) A cinematografia faz de Frankenstein um ser com instinto de assassinar crianças, ações contrárias àquelas praticadas pelos seres humanos normais. No livro de Mary Shelley, ele é vegetariano, fala eloquentemente que quase convence o seu criador e o leitor de sua bondade intrínseca. O paradoxo está em ter certeza que conhecemos, mas raciocinamos com uma imagem falsa.

4) A afirmação de Sartre “o homem está condenado à liberdade” é um paradoxo, pois como pode a pessoa ter liberdade se ela está condenada a ela?

5) A Bem-Aventurança é anunciada por Jesus mediante um paradoxo. A Bem-Aventurança é uma declaração de bênção com base em uma virtude ou na boa sorte. A fórmula se inicia com "bem-aventurado aquele..." Com Jesus toma a forma de um paradoxo: a bem-aventurança não é proclamada em virtude de uma boa sorte, mas exatamente em virtude de uma má sorte: pobreza, fome, dor, perseguição.

Exemplos de Paradoxos 

Paradoxo da pedra. Pode Deus criar uma pedra tão pesada que ninguém, nem sequer Ele mesmo, a consiga levantar? À primeira vista, a resposta é positiva, pois sendo Deus onipotente, Ele tudo pode; assim, Deus pode criar tal pedra. Mas isto significa que Ele não pode levantar a pedra em questão. Logo, há algo que Deus não pode fazer, e a conclusão paradoxal segue-se de que Deus não é onipotente. Esse argumento é válido; consequentemente, a única maneira de rejeitar a conclusão é rejeitar uma das premissas (o que não é tarefa fácil).  

Paradoxo de mentiroso. Nome dado ao clássico sofisma "Eu minto", por referência ao lendário Epimênides (séc. IV a.C.), que diz: "Todos os cretenses mentem sempre; ora, ele é cretense; logo, mente. Conclusão: os cretenses não mentem. No entanto, se Epimênides diz a verdade, os cretenses mentem" etc. Logo, se Epimênides diz a verdade, está mentindo, e se mente diz a verdade. Fora da verdadeira conclusão lógica que se impõe e impede essa falsa regressão ao infinito ("não é verdade que os cretenses mentem sempre"), esse tipo de paradoxo é útil para distinguir a linguagem da metalinguagem, o que se diz e o fato de dizê-lo. (Japiassu, 2008) 

Paradoxo do cético. O cético radical duvida de tudo igualmente. Em particular, ele coloca todas as hipóteses, científicas ou não científicas, no mesmo nível. Por exemplo, é provável que ele classifique no mesmo grau a psicocinética (o movimento de objetos materiais provocados pela mente) junto com o princípio de conservação de energia. Como consequência, ele pede tolerância ou até apoio para especulações ou experimentos concernentes à psicocinética. Assim, na prática, o ceticismo radical pode encorajar a credulidade. (Bunge, 2002) 

Paradoxo do perdão. Se só as pessoas que merecem perdão devem ser perdoadas, então o perdão ou é injustificado, no caso de a pessoa não o merecer, ou é irrelevante, uma vez que se a pessoa merece perdão não há nada a perdoar. Logo, é impossível justificar o perdão para verdadeiros transgressores. No entanto, o perdão dos transgressores é frequentemente pedido e concedido e em alguns sistemas éticos chega a ser exigido que perdoemos os transgressores. (Blackburn, 1977) 

Bibliografia Consultada 

BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. 

BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang) 

ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Lisboa: Verbo, [s. d. p.] 

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

São Paulo, abril de 2014