Dogmatismo

O que é o Dogmatismo

Dogmatismo – Atitude do espírito que consiste em pensar e em se exprimir em função de dogmas, ou seja, de verdades consideradas definitivas, e que não podem ser sujeitas a discussão. (Legrand, 1982). Entre os gregos era a posição filosófica que se opunha ao ceticismo (exame, dúvida).


Subsídios para uma Palestra

1. Introdução

O dogmatismo está presente em muitos atos de nossa vida. Nosso propósito é refletir sobre o significado e a ocorrência do comportamento dogmático, a fim de nos afastarmos do erro, e conduzirmos o nosso pensamento para uma atitude crítica da realidade em que estivermos inseridos.

2. Conceito

Dogma – do grego dokein – significa opinião certa, decreto, axioma.

Dogma (religião) – É ponto fundamental e indiscutível de uma doutrina religiosa. No Cristianismo, chamam-se dogmas as verdades reveladas, propostas pela suprema autoridade da Igreja como artigos de fé, que devem ser aceitos por todos os seus membros. (Santos, 1965)

Dogma (pejorativamente) – Chamam-se dogmas todas e quaisquer afirmações que apenas expressam opinião, sem os necessários fundamentos, mas que são proclamados como verdades indiscutíveis. (Santos, 1965)

Dogmatismo – Atitude do espírito que consiste em pensar e em se exprimir em função de dogmas, ou seja, de verdades consideradas definitivas, e que não podem ser sujeitas a discussão. (Legrand, 1982). Entre os gregos era a posição filosófica que se opunha ao ceticismo (exame, dúvida).

Dogmática – Parte da teologia que tem por objeto a exposição dos dogmas.

3. Dogmas da Religião Católica

O Concílio Ecumênico, Assembleia de Bispos e principais dignitários da Igreja, sob a presidência papal, tem por objeto a formulação dos artigos de fé e moral (dogmas) com o caráter de infalibilidade. O Dogma da Infalibilidade Papal, o Dogma da Imaculada Conceição, o Dogma das Penas Eternas, o Dogma do Pecado Original etc. são alguns desses dogmas.

Dentre tais dogmas, o Dogma da Santíssima Trindade merece destaque especial. Segundo este dogma, há três pessoas em Deus: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. São distintas, iguais, e por consequência coeternas, isto é, igualmente eternas e consubstanciadas numa só e indivisível natureza. Cada uma destas três pessoas é realmente Deus. O Pai não tem princípio; o Filho é originado pelo Pai desde toda a eternidade; procede assim dele por geração, ou, como se dizia outrora, por gênese; o Espírito Santo procede do Pai e do Filho como de um só princípio. Entre estas três pessoas existe ordem de origem, mas não há nem subordinação nem dependência, nem prioridade de tempo ou de excelência. A palavra Trindade não se encontra no Novo Testamento, nem nos escritos dos padres apostólicos. Contudo, segundo os teólogos, o mistério estava arraigado na primitiva comunidade cristã, “como o demonstra a fórmula do Batismo”. Mais tarde, para combater a doutrina de Ário, que impugnava a divindade de Cristo, a Igreja declarou a consubstancialidade do Pai e do Filho no Concílio de Nicéia (325) e a divindade do Espírito Santo no Concílio de Constantinopla (381). (EDIPE, 1987)

Observação: não importa se a razão não consegue entender já que é um princípio aceito pela fé – e seu fundamento é a revelação divina.

4. Comportamento Dogmático

Bornheim, em Introdução ao Filosofar, estuda o comportamento dogmático. Quer saber como o homem passa de um estado pré-crítico para uma atitude crítica. O problema do autor consiste em analisar o que Husserl chama de “postura natural”, isto é, a concepção da realidade própria a este viver natural, metafisicamente ingênuo, desprovido de um sentido mais profundo de problematização. Husserl chama esta compreensão implícita do mundo de Generalthesis, de “tese geral”.

Dentro da postura dogmática esta “tese geral” nunca é posta em dúvida, e é exatamente por esta razão que pode ser denominada de dogmática. Nesse sentido, todas as atividades humanas, com exceção da filosófica, partem de uma tese geral, que deve ser aceita como premissa. Podemos por em dúvida alguns aspectos desta “tese geral” mas não a tese em si. De acordo com Husserl, mesmo a atividade científica, seja da natureza ou do espírito, se processa dentro do horizonte fundamentalmente ingênuo e dogmático da tese geral. O cientista pode duvidar de um ou outro ponto de sua ciência, contudo nunca põe em dúvida a totalidade do real, razão pela qual nenhuma ciência pode, com os seus próprios meios, justificar-se como ciência, e no momento em que o fizer assume uma tarefa própria da filosofia.

Esta tese geral gera segurança, porque não se lhe abre a perspectiva de problematizar. Por isso, a explosão da fé, em que basta apenas crer, sem saber muito porque se crê. É esta crença que torna o homem dogmático, esquecido de que terá de edificar a sua própria existência. Essa mesma crença gera também o preconceito e a falsa aparência da realidade. (1986, cap. III).

5. Filosofia da Negação

Como abandona o homem a postura dogmática para assumir a filosófica? Como passa de uma posição não crítica para uma atitude crítica?

O Mito da Caverna de Platão auxilia a nossa explicação. Nesse mito, Platão coloca alguns homens voltados para o fundo da caverna, de modo que só podem ver as suas próprias sombras. Eles estão como que acorrentados. Esse mundo das sombras seria o comportamento dogmático, ou seja, o mundo da aparente segurança, pois nada além daquilo pode vir a perturbar os pensamentos do ser humano. Acontece que por forças das circunstâncias, o homem é obrigado a buscar a luz (conhecimento). Mas buscar a luz não é tarefa fácil, pois terá de abandonar o mundo das sombras — que acarreta dor e risco: a dor por abandonar o bem preferido; o risco por se introduzir na incerteza.

Essa nova postura é entendida como um comportamento não dogmático. Mas, o que caracteriza essa mudança? Podemos vê-la sob dois ângulos: 1.º) mudança espontânea, pelo fato das crenças tradicionais se chocarem com as antagônicas e o indivíduo ser obrigado a fazer nova escolha; 2.º) mudança provocada, pelo fato do indivíduo procurar conscientemente um novo paradigma para a realidade em que está inserido. (Borheim, 1986, cap. IV e V)

6. Bibliografia Consultada

BORNHEIM, G. A. Introdução ao Filosofar - O Pensamento em Bases Existenciais. 7. ed., Rio de Janeiro, Globo, 1986.

EDIPE - Enciclopédia Didática de Informação e Pesquisa Educacional. 3. ed., São Paulo, Iracema, 1987.

LEGRAND, G. Dicionário de Filosofia. Lisboa, Edições 70, 1982.

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.