Filosofia Cristã

O que é a Filosofia Cristã

A denominação de filosofia cristã, cujo problema central é a conciliação das exigências da razão humana com a revelação divina, nada mais é do que a filosofia que, influenciada pelo cristianismo, predominou no Ocidente, principalmente na Europa, no período que se estende do século I ao século XIV de nossa era. Compreende dois períodos distintos: a filosofia patrística (séc. I ao V) e a filosofia escolástica (séc. XI ao XIV).


Subsídios para uma Palestra

1. Introdução

O objetivo deste estudo é analisar as relações entre fé, razão e revelação explicadas tanto pela Filosofia Cristã como pelo Espiritismo. Sendo assim, o nosso roteiro segue os seguintes passos: conceito de filosofia, filosofia grega, Jesus e o cristianismo, filosofia cristã e Espiritismo.

2. O Conceito de Filosofia

A filosofia, tal qual surgiu na Grécia, mostra uma nova maneira de construir o conhecimento, distanciando-o do processo mitológico vigente até então. Partindo da dúvida, da crítica, do paradoxo, quer chegar à verdade das coisas. Nesse sentido, começa a indagar sobre a natureza e o papel do homem no universo, a imortalidade da alma, o destino versus livre-arbítrio etc.

Embora o termo filosofia comporte várias acepções, como por exemplo, filosofia da vida, filosofia de um povo, filosofia de trabalho, é preciso estar ciente de que a disciplina acadêmica que se intitula filosofia usa essa palavra num sentido estrito, que exclui de seu âmbito não só a concepção de vida da vovó e as disciplinas ascéticas dos monges tibetanos, mas também textos das filosofias milenares chinesa e hindu.

Se perguntarmos a dez físicos "o que é a física", eles responderão de forma parecida. O mesmo não acontece com a Filosofia. Por que? Porque para definirmos a Filosofia deveríamos vivenciá-la. De qualquer forma, a origem do conceito de filosofia está na sua própria estrutura verbal, ou seja, na junção das palavras gregas philos e sophia, que significam "amor à sabedoria". Filósofo é, pois, o amante da sabedoria. Mas o que é a sabedoria? É um termo que significa erudição, saber, ciência, prudência, moderação, temperança, sensatez, enfim um grande conhecimento.

3. Filosofia Grega

Em termos históricos, a filosofia grega caracteriza-se por três grandes períodos evolutivos:

a) período pré-socrático ou de formação: de Tales a Sócrates (século VI e V a. C.), em que predominam as questões cosmológicas;

b) período socrático ou de apogeu: Sócrates, Platão e Aristóteles (século IV a. C.), em que predominam as questões metafísicas;

c) período pós-socrático ou de decadência: de Aristóteles aos século I a. C. em que predominam as questões morais.

Salientemos, para efeito de nosso estudo, os contributos de Platão e de Aristóteles.

3.1. Platão (427-347 A. C.)

Segundo o Platonismo, a alma humana, quando vem a este mundo, traz implícita a reminiscência do mundo eterno onde viveu (Menon). É por isso que certas ideias lhe são inatas. Por virtude das idéias latentes, um escravo ignorante, por exemplo, responde com acerto a questões de geometria, se as perguntas forem bem dirigidas. A alma é imortal (Faidon), e pode elevar-se à felicidade da participação do Justo, do Belo e do Verdadeiro. Destas virtualidades da alma nascem as inspirações, e as inspirações podem elevar a mente ao contato com as Ideias sobrenaturais. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

Assim, para Platão, que criou a dialética, o processo de conhecimento se desenvolve por meio da passagem progressiva do mundo das sombras e aparências para o mundo das ideias e essências.

3.2. Aristóteles (384-322 A. C.)

A filosofia de Aristóteles (discípulo de Platão) caracterizava-se, antes de tudo, pelo seu realismo, pela sua observação fiel da natureza, pela sua objetividade científica, pelo seu rigor metodológico e pela unidade harmônica do seu sistema que constitui uma síntese orgânica e maravilhosa.

Apaixonado pela Biologia, dedicou inúmeros estudos à observação da Natureza e à classificação dos seres vivos. Tendo em vista a elaboração de uma visão científica da realidade, desenvolveu a Lógica para ser uma ferramenta básica do raciocínio. E com ela todos os silogismos para bem conduzir o pensamento.

Ao contrário de Platão, dizia que é partindo da existência do ser, que devemos atingir a sua essência. Utiliza-se para isso o método indutivo, em que partindo da observação particular pensa em generalizar para o todo. (Cotrim, 1990, p. 128-131)

4. Jesus e o Cristianismo

Jesus Cristo (de Jesoûs, forma grega do hebraico Joxuá, contração de Jehoxuá, isto é, "Jeova ajuda ou é salvador", e de Cristo, do grego Christós, corresponde ao hebraico Moxiá, escolhido ou ungido) veio ao mundo numa manjedoura.

Contava trinta anos quando começou a pregar a "Boa Nova". Compreende a sua vida pública um pouco mais de três anos (27 a 30 da era cristã). Utilizou-se, na sua pregação, o apelo combinado à razão e ao sentimento, por meio de parábolas ilustrativas das verdades morais.

As duas regiões de sua pregação:

1) Galileia (Nazaré) - as cercanias do lago de Genesaré e as cidades por ele banhadas, e principalmente Cafarnaum, centro a atividade messiânica de Jesus;

2) Jerusalém - que visitou durante quatro vezes durante o seu apostolado e sempre por ocasião da Páscoa.

Na Galileia, percorrendo os campos, as aldeias e as cidades, Jesus anunciava às turbas que o seguem o Reino de Deus; é aí, também, que recruta os seus doze apóstolos e os prepara para serem as suas testemunhas. Ao mesmo tempo, vai realizando milagres.

Em Jerusalém, continuamente perseguido pela hostilidade dos fariseus (seita muito considerada e muito influente, que constituía a casta douta e ortodoxa do judaísmo), ataca a hipocrisia deles e esquiva-se às suas ciladas. Como prova de sua missão divina, apresenta-lhes a cura de um cego de nascença e a ressurreição de Lázaro. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

É justamente dessas pregações que os Evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João compõem os textos do Novo Testamento. Daí que surge o Cristianismo, ou seja, a religião monoteísta que coloca em primeiro plano a comunhão com Deus, o Pai, por intermédio de seu filho Jesus Cristo, Salvador da humanidade.

5. Filosofia Cristã

É a filosofia que, influenciada pelo cristianismo, predominou no Ocidente, principalmente na Europa, no período que vai do século I ao século XIV de nossa era.

Problema central: conciliar as exigências da razão com as perspectivas da fé na revelação.

A filosofia cristã divide-se em dois períodos:

5. 1. Patrística (SÉC. I A V)

Santo Agostinho (354-430), influenciado por Platão, é o pensador que mais se destaca nesse período.

Deixou formulado indicando o caminho para a sua solução - o problema das relações entre a Razão e Fé, que será o problema fundamental da escolástica medieval. Ao mesmo tempo demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Entretanto, defronta-se com um primeiro obstáculo no caminho da verdade: a dúvida cética, largamente explorada pelos acadêmicos. Como a superação dessa dúvida é condição fundamental para o estabelecimento de bases sólidas para o conhecimento racional, Santo Agostinho, antecipando o cogito cartesiano, apelará para as evidências primeiras do sujeito que existe, vive, pensa e duvida.

Em relação ao platonismo, o posicionamento de Santo Agostinho não é meramente passivo, pois o reinterpreta para conciliá-lo com os dogmas do cristianismo, convencido de que a verdade entrevista por Platão é a mesma que se manifesta plenamente na revelação cristã. Assim, apresenta uma nova versão da teoria das idéias, modificando-a em sentido cristão, para explicar a criação do mundo.

Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões não existem em um mundo à parte, como afirmava Platão, mas na própria mente ou sabedoria divina, conforme o testemunho da Bíblia. (Rezende, 1996, p. 77 e 78).

5.2. Escolástica (SÉC. XI A XV).

Santo Tomás de Aquino (1221-1274), influenciado por Aristóteles, é o pensador que mais se destaca na Escolástica.

Santo Tomás representa o apogeu da escolástica medieval na medida em que conseguiu estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação.

Há distinção, mas não oposição entre as verdades da razão e as da revelação, pois a razão humana é uma expressão imperfeita da razão divina, estando-lhe subordinada. Por isso o conteúdo das verdades reveladas pode estar acima da capacidade da razão natural, mas nunca pode ser contrário a ela. (Rezende, 1996, p. 81).

6. Bibliografia Consultada

COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia para uma Geração Consciente. Elementos da História do Pensamento Ocidental. 5. ed., São Paulo, Saraiva, 1990.

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d. p.

REZENDE, A. (Org.). Curso de Filosofia: para Professores e Alunos dos Cursos de Segundo Grau e de Graduação. 6. ed., Rio de Janeiro, Zahar, 1996.