Programas na TV, sites, cadernos especiais e assessorias de imprensa. O porto gera notícia, mas carece de jornalistas especializados
Nos últimos anos, um dos segmentos do Jornalismo que vem tendo maior espaço é o da cobertura portuária, principalmente na região da Baixada Santista, por conta da evolução do porto de Santos, que apenas em 2023, movimentou 173,3 milhões de toneladas de cargas, um recorde histórico para o maior complexo portuário brasileiro. Por conta disso, há a necessidade de se saber o que acontece ali, como é a movimentação e para onde vai toda essa carga, em meio aos navios gigantes e os diversos contêineres.
Bárbara Farias é repórter da editoria de Porto & Mar, do jornal A Tribuna, e conta que a cobertura é importantíssima para aproximar as pessoas do segmento, que para alguns, ainda é desconhecido.
No geral, todos os veículos de imprensa têm dado espaço ao porto de Santos, especialmente por causa de temas relevantes como o túnel Santos-Guarujá, Parque Valongo, obras da Avenida Perimetral da Margem Esquerda (Guarujá) e sucessivas visitas do atual ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, à região.
“Além dessas pautas prioritárias, a imprensa tem veiculado notícias sobre assuntos diversos, que variam da operação, passando pelos recordes de cargas movimentadas, à diversidade, ou seja, à presença cada vez maior de mulheres em cargos que historicamente eram ocupados somente por homens tanto no setor operacional quanto no administrativo. Há mulheres operando empilhadeiras nos terminais, atuando no cais, operando portêineres ou equipamentos de grande porte, por exemplo, e, também, há executivas”, comenta.
De acordo com a repórter, outro fator que influenciou no aumento da cobertura foi a troca da direção da APS. “O antecessor de Anderson Pomini (atual diretor-presidente da APS) raramente conversava com jornalistas durante toda a gestão dele, por exemplo. Além disso, acredito que comercialmente o porto seja rentável para as empresas jornalísticas”, explica.
Para ela, a cobertura jornalística é excelente, mas existe uma falta de entusiasmo do público. "Falta interesse em conhecer essa máquina potente e pujante que, direta ou indiretamente, afeta a vida de todos. Basicamente, só quem vive do porto se interessa pelo porto na nossa região", diz.
A jornalista acrescenta que A Tribuna promove discussões de temas relevantes do setor portuário promovendo summits e edições do Encontro Porto & Mar durante o ano todo, em busca de fomentar o intercâmbio entre os setores público e privado.
Outra mulher ligada ao complexo portuário é Natalie Nanini, jornalista e apresentadora do Porto & Negócios, que está na quarta temporada, exibido na Santa Cecília TV.
Primeira mulher a apresentar um programa voltado exclusivamente para o setor portuário na TV aberta, Natalie comenta que as coberturas jornalísticas do porto santista estão evoluindo por conta da postura dos terminais portuários, que vêm entendendo que o jornalismo é uma ferramenta preciosa, mostrando o papel social do complexo portuário.
"A cobertura é importante para fazer com que não só os players do mercado, que estão no segmento, quanto a comunidade impactada de alguma maneira, entendam de maneira clara, com informações corretas sobre tudo aquilo que está acontecendo", afirma.
Para a âncora, não faltam assuntos a serem abordados, mas a cobertura da imprensa pode melhorar, tendo em vista que Santos é responsável por um terço da balança comercial. Pela região, passa 30% da movimentação econômica do país, beneficiando não apenas Santos e Guarujá, mas toda a região. Atualmente, o porto é o maior polo de empregabilidade da Baixada Santista, com cerca de 33 mil profissionais empregados e tendência de crescimento nos próximos anos.
“Cabe à cobertura jornalística portuária falar sobre tudo aquilo que está acontecendo do ponto de vista de investimento em tecnologia e em obras importantes de mobilidade, mas é importante também que essa cobertura contribua para uma relação porto-cidade saudável", explica Natalie. Para a jornalista, o grande desafio da cobertura é fazer com que as pessoas entendam que o porto não é um vilão, mas sim, um parceiro de desenvolvimento.
Apesar dos milhões de reais que passam pelo setor portuário, faltam jornalistas especializados na área. Muitos têm dificuldade de compreender os assuntos voltados ao segmento, porque são mais técnicos, densos ou difíceis, exigindo mais do repórter. “Quando você se dispõe a encarar uma cobertura dessas você tem que fazer com que aquele tema seja acessível e compreendido pela sociedade. Precisa ter a humildade de buscar os especialistas portuários, que são os técnicos, para ter uma 'aulinha', nem que seja para traduzir a informação, que é importante aos moradores da região", afirma Natalie.
“Falar de porto é fazer uma escolha. É um assunto técnico. Precisa ter em mente que precisa estudar o tempo todo, porque o universo portuário é muito amplo. Todos os veículos falam sobre ele ”, finaliza a editora do Porto & Negócios.
Essa área de cobertura teve um grande aumento, por conta de programas focados no segmento, que buscam trazer o dia a dia do complexo portuário. Alguns exemplos são o “Porto 360”, exibido na TV Tribuna, afiliada à Rede Globo, “Porto & Negócios”, na Santa Cecília TV, ou os programas “Porto Delas” e “Porto & Baixada”, da TV Thathi Band Litoral, afiliada à Rede Bandeirantes.
Além disso, a cobertura também é grande nos portais de notícia, por exemplo, como o jornal A Tribuna, seja impresso ou on-line, nos portais “BE News”, “Portogente” e até mesmo o site da Autoridade Portuária.
“O jornalista que cobre o porto tem a oportunidade de entrar no cais, conhecer o processo de embarque e desembarque de cargas no navio, equipamentos de última geração, de conhecer profissionais de atividades diversas, brasileiros e estrangeiros. Além disso, eventualmente, viaja a trabalho conhecendo outros portos e terminais do Brasil e do exterior. É um mundo fantástico! Eu recomendo”, finaliza Bárbara.
Clóvis Vasconcellos, jornalista com mais de 40 anos de experiência, hoje responsável pela assessoria de imprensa da Autoridade Portuária de Santos, considera que a cobertura jornalística ficou muito mais intensa no porto, especialmente de um ano para cá. Na opinião dele, ao não ser privatizado, como era o plano do Governo Federal anterior, o porto adotou uma nova política de transparência.
O jornalista diz que apesar de a cobertura ter evoluído consideravelmente, a presença de profissionais especializados ainda é deficitária para atender à demanda. Para o assessor, o complexo portuário é responsável pela segurança alimentar do planeta, visto que cerca de 52,3% do que o porto exporta vem do agronegócio, como soja, milho, café, açúcar, carne, uma pauta que interessa não apenas à região. Mas o porto oferece muito mais assuntos: “A pauta é praticamente infinita, então tem sempre muito o que fazer aqui na assessoria. Como somos pouquíssimos profissionais, nós cobrimos o que dá, cada um corre, joga em todas as posições. Não temos estrutura, a gente sai todo dia com a sensação que ficou muita coisa por fazer, mas também com a sensação de que fizemos boas coisas. Esse é um desafio que nós pegamos, nós herdamos quando entramos no porto há um ano. ”
“Temos que mostrar o impacto que o porto tem, não somente na vida de todos os moradores da Baixada Santista, mas do Brasil e do mundo. Isso é um processo, e nos estimula muito. Me dá muito prazer fazer essa tradução de temas muito técnicos”, diz.
Clóvis explica que, diferentemente do que possa parecer, oportunidades para jornalistas não faltam, o que faltam são profissionais especializados, para que a própria profissão continue expandindo no mesmo ritmo.
“Nos 60 terminais privados que atuam no porto de Santos, há sempre mercado de trabalho, porque os terminais são privados, não são órgãos públicos, como é a Autoridade Portuária. E eles sempre precisam de jornalistas especializados”, salientou Clóvis.
Um exemplo de oportunidade no horizonte do jornalismo portuário é um concurso aberto neste ano pela Autoridade Portuária de Santos. Dentre todas, uma das funções era a de jornalista, com salário de até R$ 8.116,76, fora benefícios, para uma jornada de 40 horas semanais.
Estudar o mundo portuário pode não somente surpreender, como pode ser fundamental a quem busca novas oportunidades no futuro. Além de conhecer os bastidores dos terminais e os trabalhadores de cada um dos setores, muitos deles estrangeiros, o jornalista pode ter contato com diferentes idiomas e culturas, conhecendo pessoas diferentes ou visitando os maiores terminais portuários espalhados pelo mundo.
Para se ter uma ideia, dos dez maiores portos do mundo, oito estão na China e, abaixo da linha do Equador, o mais importante do mundo é o porto de Santos. “Eu estive recentemente na China, conhecendo os portos daquele país. Então, quanto mais você se capacitar para entender o porto e a logística em geral, é um mercado de trabalho intenso. Quando eu falo em logística, eu falo em modal ferroviário, rodoviário, aéreo, hidroviário e o mundo do porto. Entender isso ajuda o jornalista a ter mais chances de conseguir emprego no futuro. Eu enxergo o futuro do jornalismo neste meio muito maior do que é hoje. É inevitável” concluiu Clóvis.
Vinícius Farias
repórter e editor
Pedro Mendes
repórter e editor
Maurício Massaro
repórter e editor