Reflexões sobre sistema de pontos

27/10 - Reflexões sobre sistema de pontos

O sistema de pontos de forma geral

Antes de começar a dissertar um pouco sobre este sistema de pontos gostaria de dizer que concordo com o mesmo. Sei que existem sistemas de pontos para regulamentação das TNC, mas não tive contato com nenhum deles.

O que mais aprecio neste sistema de pontos é o facto de ser equilibrado. Ou seja, beneficia todos os aspetos necessários para uma classe profissional forte: formação base (teórica e prática, formação científica em saúde, experiência clínica e secundariamente a produção literária).

No entanto tenho falado com colegas que referem dúvidas e sentem injustiças com este sistema de pontos. Apesar de existirem sem dúvida injustiças é óbvio que é impossível criar um sistema de pontos perfeito que seja 1005 justo para todas as pessoas. De forma geral, parece-me, o sistema de pontos é justo e muito inteligente.

Vamos passar a abordar alguns possíveis problemas ou injustiças associadas ao sistema de pontos na regulamentação e possíveis formas de lidar com eles, se possível.

Problemas e possíveis injustiças do sistema de pontos na regulamentação das TNC

Antes de começar gostaria de salientar que as próximas linhas surgem de conversas pessoais e são reflexões sobre este sistema de pontos. Não pretendo de forma alguma ofender outros colegas que discordem dos meus pontos. Espero que possam servir de reflexão a todos os interessados e seria útil se pudessem participar na discussão e levantar novos problemas que não venham aqui referidos.

Pontos para profissionais de saúde

Caso o candidato seja licenciado recebe 3 pontos. Caso seja mestre ou doutorado recebe 4 pontos. Caso a licenciatura, mestrado ou doutoramento pertença à área da saúde então o candidato recebe 2 pontos extra.

Por exemplo, um licenciado em engenharia informática tem 3 pontos garantidos enquanto um mestre em radiofarmácia tem 6 pontos.

De forma geral concordo que se beneficie pessoas com maior nível de instrução, especialmente se essa formação pertencer a áreas da saúde.

No entanto as formações em saúde são díspares. Pensemos na formação cientifica necessária para a medicina chinesa. Na minha perspetiva a formação científica base devia ser focada em anatomia, fisiologia, patologia, química, bioquímica, farmacologia (dando especial atenção a interações farmacológicas) entre outras.

Um mestre em psicologia terá direito a receber 6 pontos mas qual a formação que ele tem em anatomia? bioquímica? química? Um enfermeiro tem mais noção de assepsia clinica que um psicólogo mas ambos recebem os mesmos pontos.

Não é um sistema perfeito mas de forma geral é benéfico que candidatos com formação prévia em saúde tenham mais pontos.

Quando pensamos sobre sistema de pontos a idade devia ser um posto. Será?

Os acupunturistas mais velhos não tem formações em saúde. Pelo menos a maioria não tem. Uma pequena minoria terá licenciaturas noutras áreas o que lhes poderá dar 3 pontos.

De resto os seus cursos base foram extremamente pobres. Cursos de fim de semana ou cursos por correspondência sem componentes práticas ou ilusões acerca de estágios clínicos. O que significa que perdem a possibilidade de ganhar 8 pontos associados à formação.

Em termos de prática clinica, aqueles que se inscreveram nas finanças, poderão demonstrar provas de trabalho há 10 anos ou mais e assim ganhar 4 pontos. Na presença de alguma publicação poderão ganhar mais 1 ou 2 pontos.

Ou seja, alguns dos acupunturistas mais velhos e influentes não tem pontuação suficiente para receber a certidão profissional definitiva. Alguns poderão não conseguir 8 pontos para se candidatarem à certificação profissional provisória.

Vários problemas surgem em consequência deste facto.

suponhamos que no plano de estudos define-se conhecimentos em anatomia, química, bioestatística, farmacologia, entre outros como necessários para se exercer a profissão. Estarão acupunturistas com 60 anos, sem vontade e capacidade para estudar matérias que lhes são completamente alheias, dispostos a fazer esse sacrifício? Será justo pedir-se-lhes este sacrifício? E se não, será justo discriminá-los face a todos os outros candidatos? Qual a fronteira entre bom senso na aplicação da lei e discriminação abusiva? E se a idade é um posto onde fica a pedra base que iniciou muitas das lutas e intrigas baseada na separação do trigo e do joio? A regulamentação era necessária para separar o trigo do joio mas isso não se aplica a acupunturistas com mais de 50 anos? E qual é a meta que se define e com que bases? 50 anos? 55 anos? 60 anos?

Os acupunturistas mais antigos não tem formações científicas relevantes (isto pode observar-se na pobreza do curriculo científico nas atuais escolas de medicina chinesa e acupuntura do país), foram educados por professores ainda mais antigos e ligados a esoterismos fúteis.

Estes esoterismos e falta de formação científica são bem visíveis nos acupunturistas atuais. Basta ver as referências constantes a "energias" e outros conceitos religiosos que abundam na linguagem dos acupunturistas, nas formações das suas escolas e na própria lei de regulamentação.

Uma formação científica forte devia ser condição sine qua non para uma classe profissional da área da saúde. E não deveriam existir exceções! A idade não pode servir de desculpa para manutenção de ignorância e crenças esotérico-religiosas. Especialmente quando se pensa em formar uma classe profissional de saúde.

Obviamente que alguns acupunturistas mais antigos são bons. Mas uma parte relevante (pela minha experiência profissional) são categoricamente maus. Encontram-se ligados a esoterismos infantis com bruxedos, pêndulos, astrologias incas, associações de pontos de acupuntura com deuses gregos e/ou romanos e filosofias herméticas do antigo Egito!

Lembram-se de separar o trigo do joio?

Se acupunturistas mais antigos e influentes tiverem problemas com o sistema de pontos eles poderão levantar problemas e tentar contrariar o processo. Os mais antigos tem escolas com imensos alunos agregados, pertencem e dominam associações profissionais com alguma influência social. Ou seja, pelo seu poder mediático tem a capacidade de colocar os acupunturistas mais novos contra um sistema de pontos que é claramente bom. Fica a questão: uma maioria a servir interesses pessoais de uma minoria que se quer acima da lei?

Independentemente destas questões é verdade que não é justo colocar uma pessoa de 60 anos a estudar com uma pessoa de 23 anos. A mais nova tem mais capacidade, mais iniciativa e não se sentirá tão revoltada com a mudança de status social de grande acupunturista, diretor de escolas, fundador de associações, etc... para um simples candidato com prazos a cumprir caso deseje continuar na profissão.

Seria então mais justo dar um tempo maior a pessoas mais velhas para adaptação? Por exemplo a lei define que o candidato tem o dobro do tempo necessário para fazer a sua formação. Ou seja, se a comissão estipular que o aluno precisa de uma disciplina que demora um semestre o aluno tem efetivamente dois semestres para ganhar a cédula profissional definitiva. Poderíamos ampliar este prazo para acupunturistas mais velhos para 3 semestres por exemplo?

Dar mais tempo de adaptação aos mais velhos mas manter a lei idêntica para todos parece-me uma boa alternativa.

E deverão os mais novos opor-se a um sistema de pontos claramente bom porque o seu acupunturista favorito não foi discriminado em relação a ele? E será justo que muitos acupunturistas mais velhos que lutaram a favor de uma regulamentação sejam agora colocados fora da mesma? "Podes lutar pelo futuro mas não podes fazer parte do mesmo"?

E como se discrimina a idade dos profissionais? Pela sua idade ou pelo tempo de prática? A lógica geral é que os acupunturistas mais antigos são os que tem mais prática. Mas isto tanto pode não ser verdade como pode nem sequer ser valoroso.

Pode ter-se um acupunturista com mais de 60 anos mas menos de 5 anos de prática. Deverá ele ser beneficiado face a outro acupunturista de 40 anos de idade mas com mais de 10 anos de prática?

Sem problemas se pararmos de pensar sobre sistema de pontos

Creio que a maioria dos acupunturistas mais velhos tentarão não usar o sistema de pontos e procurar antes outra via: entrevistas e análise curricular. Para muitos este seria o caminho mais justo e fácil. Para outros acupunturistas que não podem seguir por esta via pode ser altamente discriminatório. Mas isso depende de fatores que não podemos ainda analisar: quem fará a revisão curricular? Baseados em quê? Estas interrogações geram ansiedade e algum medo por parte dos acupunturistas mais velhos. De qualquer forma é inegável que, apesar de bom, o sistema de pontos mexe com a segurança de muitos profissionais.

O sistema de pontos: as massas não contam

Das poucas conversas que tive ninguêm mostrou a mínima preocupação com uma massa de candidatos que existem. Sem cursos de saúde, com formações base muito fracas, sem horas de estágio representativas e sem grande experiência clinica. Muitos destes acupunturistas ou especialistas em medicina chinesa não vão ter pontos necessários para uma cédula provisória e dificilmente estarão preparados para enfrentar exames (que se presume exigentes) ou fazer apresentações convincentes frente a juris que lhes garantam cédulas provisórias ou definitivas.

Muitos poderão ter de fazer novos cursos tudo de novo. Muitos alunos de cursos de fim de semana que por falta de vontade de estudo, falta de dinheiro ou falta de tempo para lidarem com cursos a tempo inteiro terão de repensar o seu futuro imediato.

Mas até ao momento ninguêm fala nisso. Os mais poderosos estão mais preocupados em tentarem garantir os seus pontos (coisa que muitos não vão conseguir fazer) e só depois irão usar isto para ganharem pessoas nas suas fileiras se decidirem irem contra o sistema de pontos. Se chegarmos a esse ponto as massas vão contar e muito... pelo menos para alguns acupunturistas!

O sistema de pontos: profissionais de saúde saem beneficiados em relação aos profissionais da área

Já me referiram este problema e apesar de existirem algumas exceções, eu não concordo com o mesmo. Um licenciado em saúde tem 3 pontos. Um mestrado em saúde tem 4 pontos. Por serem graduações em saúde ainda recebem mais 2 pontos.

No entanto um acupunturista com formação base boa tem acesso a 4 pontos e com horas de estágio suficientes consegue mais 4 pontos. Ou seja uma boa formação na área garante 8 pontos. Na presença de prática clinica com 10 anos ou mais esse acupunturista chega aos 12 pontos. O dobro de pontos que um mestrado em saúde pode ter.

O sistema de pontos: corrupção dentro de associações

Ainda não falei com ninguêm sobre este problema mas é algo que decididamente poderá vir a acontecer. Poderão algumas associações deliberadamente aldrabar o curriculo académico ou profissional de associados de forma a ganharem mais "amigos" no mundo pós-regulamentação? Poderão alguns acupunturistas mais poderosos tentar algo mais surrealista neste campo? Vamos esperar para ver. A atenção que o estado dará ao processo de regulamentação e a transparência do processo serão essenciais para prevenir algo menos ético. De qualquer forma não tenho dúvidas que pequenas contribuições para currículos imaginários irão aparecer.

O sistema de pontos: sem pontos mas com equivalências

Pequenos problemas que não surgem quando se pensa no sistema de pontos de forma mais geral mas podem surgir quando pensamos em casos particulares. Lembro-me de ter alunos que estudavam em cursos de saúde e desistiram. Esses alunos não poderão ter pontos de uma licenciatura em saúde pois não terminaram o curso.

Mas suponhamos que as disciplinas pedidas pela comissão que analisa a sua candidatura (anatomia, por exemplo) já se encontra feita. Poderão não ter a cédula definitiva através dos sistema de pontos mas seria justo dar equivalência caso as disciplinas exigidas já tivessem sido concluídas com sucesso?

Conclusão sobre o sistema de pontos na regulamentação das TNC

É impossível criar um sistema que seja 100% justo e razoável para todos. Mesmo um sistema de pontos 100% justo seria muito contestado mal batesse contra os interesses de algum acupunturista mais poderoso! E isso seria quase certo acontecer.

Este sistema de pontos é excelente na medida que beneficia todos os aspetos necessários para a formação de uma classe profissional! Formação científica, formação base teórica e prática e experiência clinica.

No entanto existem incógnitas futuras que são importantes. O bom senso na aplicação da lei, o bom senso por parte dos candidatos e a forma como se podem deixar manipular por interesses pessoais que não os deles podem ser fatores de estresse no futuro!