REINTRODUÇÕES DE ESPÉCIES NO CEP

As reintroduções de aves na natureza, meta deste subprojeto, seguirão as diretrizes da Instrução Normativa 179, de 25 de junho de 2008 (ICMBio), que normatiza os procedimentos para a soltura de animais silvestres para diferentes finalidades no Brasil; também serão consideradas as diretrizes especificadas no Guia para Reintroduções do Grupo de Especialistas em Reintroduções da IUCN. Juntos, estes documentos especificam os cuidados necessários que devem ser tomados com relação às áreas de soltura, seleção, preparação e cuidados com os animais a serem reintroduzidos, análises veterinárias necessárias e o monitoramento pós-soltura.

Com base em parâmetros a serem levantados sobre os fragmentos (tamanho, presença de caçadores, espécies ferais etc.) serão selecionadas áreas para as reintroduções do mutum-de-alagoas, do macuco e do papagaio chauá. O processo terá início com a soltura experimental de três casais de cada espécie, o que permitirá identificar a viabilidade das áreas para abrigar os animais e os tipos de ameaças que poderão enfrentar. Estes casais serão monitorados durante um ano e, se houver sucesso, mais dois casais serão reintroduzidos a cada ano ao longo de quatro anos, totalizando 11 casais de cada espécie. Serão construídos recintos de pré-soltura dentro da floresta, com apoio do Instituto de Preservação da Mata Atlântica (IPMA). Os animais serão transportados de avião diretamente da Fundação Crax, em Belo Horizonte, que já disponibilizou as aves, até Maceió, onde seguirão de carro até o viveiro de aclimatação. Ali as aves deverão ser novamente avaliadas e serão mantidas nestes viveiros por cerca de 90 dias, quando o processo de reintrodução será iniciado (ICMBio 2008).

Seguindo a Instrução Normativa, anteriormente às solturas serão realizados testes para verificar se os exemplares retêm memória inata de potenciais predadores e se mantiveram o instinto de fuga, mesmo após gerações em cativeiro e para verificar se as aves ainda guardam memória inata de frutos ornitocóricos encontrados na Mata Atlântica e se preservaram o instinto de ciscar o chão buscando por insetos, frutos e sementes. Estes testes serão importantes para escolha dos animais a serem soltos. Uma vez que respostas inatas têm origem genética, estas respostas comportamentais serão correlacionadas com os níveis de heterozigose dos indivíduos em loci de microssatélites.

Após as solturas os animais serão monitorados através do uso de rádio-transmissores e anilhas coloridas. Para os mutuns e macucos, que têm maior porte, serão utilizados transmissores que enviam cinco a seis coordenadas de localização por dia através de sinal de celular convertido em e-mails. Estes equipamentos serão instalados mochilas que serão carregadas pelos animais. A fixação dos transmissores será testada em cativeiro antes do uso na natureza. Para os papagaios, que são de menor porte, será utilizado o sistema de sinal VHF com detecção por antenas em campo, uma vez que estes animais não comportam o peso do equipamento com transmissão via sinal de celular.

Após as reintroduções serão analisados os números e as causas de mortes para mitigar a mortalidade em reintroduções futuras, serão estimadas as taxas de sobrevivência pós-soltura e serão estudados os padrões de deslocamento, dieta, áreas de vida, sobreposição de territórios e estrutura social para estimar a capacidade suporte da área, em época seca e chuvosa. Durante um período indeterminado, será disponibilizada alimentação suplementar aos animais reintroduzidos (ICMBio 2008).


Responsáveis: Luís Fábio Silveira e Mercival Francisco.

Publicações

Artigo: Recuperado após um gargalo extremo e salvo pelo manejo ex situ: Lições do mutum alagoano (Pauxi mitu [Linnaeus, 1766]; Aves, Galliformes, Cracidae) 

Autores: Mercival Roberto Francisco, Mariellen C. Costa, Roberto MA Azeredo, James GP Simpson, Thiago da Costa Dias, Alberto Fonseca, Fernando JM Pinto, Luís Fábio Silveira

https://doi.org/10.1002/zoo.21577 

RESUMO: Um debate central sobre a conservação da biodiversidade é se os orçamentos escassos devem ser investidos em táxons criticamente ameaçados ou naqueles com maiores chances de sobreviver devido ao tamanho maior da população. Abordar o destino de táxons extremamente afunilados é uma maneira ideal de testar essa ideia, mas os casos empíricos são surpreendentemente limitados. A reintrodução do extinto mutum alagoano (Pauxi mitu) por cientistas brasileiros em setembro de 2019 somados aos outros dois casos conhecidos de sobrevivência a gargalos de apenas dois ou três indivíduos. Exploramos as razões pelas quais essa espécie sobreviveu e relatamos como os investimentos para resgatar o mutum alagoano resultaram na proteção de muitos outros táxons, sugerindo que diante do dramático número de extinções esperadas para o Antropoceno, a integração deve prevalecer sobre um escolha.

Artigo: Recovering the Genetic Identity of an Extinct-in-the-Wild Species: The Puzzling Case of the Alagoas Curassow

Autores: Mariellen C. Costa, Paulo R. R. Oliveira Jr, Paulo V. Davanço, Crisley de Camargo, Natasha M. Laganaro, Roberto A. Azeredo, James Simpson, Luís Fábio Silveira, Mercival Roberto Francisco

https://doi.org/10.1371/journal.pone.0169636

RESUMO: The conservation of many endangered taxa relies on hybrid identification, and when hybrids become morphologically indistinguishable from the parental species, the use of molecular markers can assign individual admixture levels. Here, we present the puzzling case of the extinct in the wild Alagoas Curassow (Pauxi mitu), whose captive population descends from only three individuals. Hybridization with the Razor-billed Curassow (P. tuberosa) began more than eight generations ago, and admixture uncertainty affects the whole population. We applied an analysis framework that combined morphological diagnostic traits, Bayesian clustering analyses using 14 microsatellite loci, and mtDNA haplotypes to assess the ancestry of all individuals that were alive from 2008 to 2012. Simulated data revealed that our microsatellites could accurately assign an individual a hybrid origin until the second backcross generation, which permitted us to identify a pure group among the older, but still reproductive animals. No wild species has ever survived such a severe bottleneck, followed by hybridization, and studying the recovery capability of the selected pure Alagoas Curassow group might provide valuable insights into biological conservation theory.

Artigo: A suite of microsatellite markers for genetic management of captive cracids (Aves, Galliformes) 

Autores: M.C. Costa, C. Camargo, N.M. Laganaro, P.R.R. Oliveira Jr., P.V. Davanço, R.M.A. Azeredo, J.G.P. Simpson, L.F. Silveira, M.R. Francisco

http://dx.doi.org/10.4238/2014.November.27.14

RESUMO: Cracids are medium to large frugivorous birds that are endemic to the Neotropics. Because of deforestation and overhunting, many species are threatened. The conservation of several species has relied on captive breeding and reintroduction in the wild, but captive populations may be inbred. Microsatellite tools can permit the construction of genetic pedigrees to reduce inbreeding, but only a few loci are available for this group of birds. Here, we present 10 novel polymorphic microsatellite loci and the cross-amplification of these and of 10 additional loci available in the literature in a panel of 5 cracid species, including 3 species with high conservation concern. We provide the first polymorphic loci for the jacutinga, Aburria jacutinga (N = 8), and red-billed curassow, Crax blumenbachii (N = 9), and additional loci for bare-faced curassow, C. fasciolata (N = 8), Alagoas curassow, Pauxi mitu (N = 5), and razor-billed curassow, P. tuberosa (N = 5). The average number of alleles was 2.9 for A. jacutinga, 2.7 for C. blumenbachii, 3.5 for C. fasciolata, 2.6 for P. mitu, and 5.7 for P. tuberosa. The mean expected heterozygosities were 0.42, 0.40, 0.48, 0.37, and 0.59, respectively. The average probabilities that the set of loci would not exclude a pair of parents of an arbitrary offspring were 2.9% in A. jacutinga, 1% in C. blumenbachii, 0.5% in C. fasciolata, 0.4% in P. mitu, and 0.002% in P. tuberosa suggesting that these loci may be adequate for parentage analysis and to implement ex situ genetic management plans.

Artigo: Microsatellite markers for detecting hybrids between the extinct in the wild Alagoas Curassow (Pauxi mitu) and Razor-billed Curassow (P. tuberosa) (Aves, Galliformes)

Autores: Livia M. Sant’Ana Sousa, Natasha M. Laganaro, Crisley de Camargo, Paulo V. Davanço, Paulo R. R. de Oliveira Jr., Roberto M. A. Azeredo, Luís Fábio Silveira, Mercival R. Francisco

https://doi.org/10.1007/s12686-012-9763-x

RESUMO: The Alagoas Curassow, Pauxi mitu, is extinct in the wild since 2004, and one of the major challenges for its ex situ management is the introgression of alleles from Razor-billed Curassows, P. tuberosa, which occurred in the captive population without pedigree recordings. Here we describe 10 polymorphic microsatellite loci isolated from a P. tuberosa genomic library, nine of which amplified and were polymorphic in both species. Numbers of alleles per locus varied from 2 to 4 in P. mitu, and 2 to 16 in P. tuberosa. These loci will be useful for hybrids identification and for the implementation of an ex situ breeding plan based on the establishment of a pure population of P. mitu.

Projeto relacionado

Título: Monitoramento e ecologia espacial de uma população de mutum-de-Alagoas (Pauxi mitu) e macuco (Tinamus solitarius) reintroduzidas no nordeste brasileiro 

Autores: Thiago da Costa Dias, Luís Fábio Silveira e Mercival Francisco

RESUMO: O mutum-de-alagoas (Pauxi mitu) e o macuco (Tinamus solitarius) são dois componentes ameaçados de extinção da fauna da Floresta Tropical Atlântica. A partir de 2019, casais de mutum-de-alagoas foram reintroduzidos na RPPN Mata do Cedro no estado de Alagoas visando reestabelecer uma população viável da espécie, que foi extinta na natureza no final dos anos 70. Essas ações de reintrodução são fruto do projeto temático “Avaliação, Recuperação e Conservação da Fauna Ameaçada de Extinção do Centro de Endemismo Pernambuco”, aprovado pela FAPESP no ano de 2019, que ainda prevê a reintrodução de novos casais de mutum-de-alagoas e de macucos entre os anos de 2020 e 2022. O monitoramento pós-soltura é crucial para o sucesso do processo de reintrodução e ferramentas de rastreamento GPS, aliadas ao uso de SIG, vem se mostrando cada vez mais eficientes para esse tipo de tarefa. Dessa maneira, o objetivo deste trabalho é monitorar e investigar aspectos relacionados a ecologia espacial de populações de mutum-de-alagoas e macuco reintroduzidas na RPPN Mata do Cedro, em Rio Largo/AL, através do uso de mochilas-GPS. Para determinar a fidelidade dos indivíduos à área de soltura, os movimentos exploratórios dos animais serão analisados a partir da linearidade do movimento e da distância das geolocalizações para o recinto de soltura. A área de vida dos animais será analisada utilizando o Estimador de Densidade Kernel Autocorrelacionado. Os padrões de atividades serão investigados através das distâncias percorridas entre as geolocalizações. Por fim, a seleção de habitat será modelada utilizando uma Função de Seleção de Recurso e um mapa preditivo será gerado contendo áreas potenciais para reintrodução do mutum no Centro de Endemismo Pernambuco, área de distribuição geográfica histórica da espécie.