FLUXO GÊNICO

Este subprojeto tem o escopo de investigar o fluxo gênico entre aves de distintos fragmentos florestais. Para três espécies de aves mais representativas nas capturas com redes de neblina em pelo menos cinco fragmentos serão realizadas análises genéticas, com o intuito de correlacionar os níveis de fluxo gênico, correlacionando principalmente com a quantidade de vegetação e presença de corredores nas matrizes que separam estas áreas (Holderegger e Wagner 2008, Richardson et al. 2016).

Como marcadores serão utilizados loci de microssatélites que serão desenvolvidos para cada espécie. Para a seleção e padronização dos loci polimórficos, os produtos de PCR serão visualizados em géis de poliacrilamida e as genotipagens definitivas serão realizadas comercialmente em sequenciador automático utilizando-se primers marcados com fluorescência.

Parâmetros básicos de genética populacional serão estimados utilizando-se os softwares GENEPOP (Raymond e Rousset 1995) e FSTAT 2.9.3.2 (Goudet 1995). Para a análise de estruturação genético-populacional, será utilizado o software STRUCTURE (Pritchard et al. 2000). Ele infere sobre o número de populações (ou espécies) presentes numa amostra, buscando-se por clusters que maximizem os níveis de equilíbrio de HardyWeinberg, sendo cada população caracterizada por um conjunto de frequências alélicas em cada locus (Pritchard et al. 2000). 

Para avaliar a permeabilidade genética na paisagem serão avaliados os níveis de migração contemporânea através da detecção de migrantes de primeira geração com o software GENECLASS2 (Piry et al. 2004), que estima a probabilidade de cada genótipo multilocus pertencer à população na qual foi amostrado ou a outras populações, amostradas ou não.


Responsáveis: Mercival Francisco e Pedro Galetti.

Projeto relacionado

Título: Genética da paisagem em áreas do Centro de Endemismo Pernambuco (CEP)

Autores: Mariellen Cristine Costa e Mercival Roberto Francisco

RESUMO: As espécies de animais florestais do Centro de Endemismo Pernambuco (CEP) ocorrem em fragmentos de habitats pequenos e isolados (Pereira et al. 2014) e por isto podem ter as chances de extinção aumentadas devido aos efeitos da endogamia e à perda de adaptabilidade causada pela deriva genética (Frankham 2005). O principal efeito negativo da perda de variabilidade genética é a redução na fecundidade. Os níveis de fluxo gênico determinam os riscos de extinção por causas genéticas (Frankham 2010), uma vez que quando existe fluxo gênico recente, mesmo populações pequenas de espécies criticamente ameaçadas podem ser estáveis, não necessitando de manejo genético (Camargo et al. 2015). Neste sentido, a genética da paisagem é o campo de investigação que surgiu com intuito de avaliar como variáveis ambientais podem impactar o movimento dos organismos e como os componentes da paisagem podem moldar a conectividade funcional entre as populações (Manel et al. 2003, Richardson et al. 2016).
Alguns estudos têm evidenciado altos níveis de estruturação genética em Passeriformes das florestas Neotropicais, indicando baixo poder de dispersão (Francisco et al. 2007, Camargo et al. 2016), no entanto, pouco se sabe sobre os parâmetros que afetam a dispersão em ambientes fragmentados. Um importante parâmetro para o entendimento dos processos de extinção e para o planejamento da conservação em ambientes fragmentados é o "limiar de percolação", definido como a quantidade mínima de habitat necessária em uma determinada paisagem para que uma espécie seja capaz de  deslocar-se entre manchas (Metzger 2000). Apesar de diversos estudos terem abordado como as características da matriz explicam a ocorrência e a diversidade de espécies nos fragmentos (Garmendia et al. 2006, Boscolo & Metzger 2011), pouco se sabe sobre como os limiares de percolação afetam o fluxo gênico em aves neotropicais (Kozakiewicz et al. 2018).